João Amílcar Salgado

sábado, 27 de março de 2021

 


ENCONTRO NO RIO EM 1975

Em 1975 houve um encontro no hotel Sheraton, ao qual fui indicado provavelmente mais pela implantação do cuidado progressivo na Ufmg, menos pela mudança curricular, que se iniciava naquele ano. Logo na abertura, percebi que os demais convidados pisavam em ovos de medo da ditadura. Concluí que, se o objetivo era melhoria dos hospitais de ensino, nada sairia dali. Logo notaram minha desenvoltura com a riqueza de dados, na defesa do que propunha. O Carlos Gentile de Melo se entusiasmou comigo e começamos a fazer dupla nos debates.  Na hora de preparar as conclusões, foi inevitável que me elegessem relator de um dos grupos. Ninguém prestou atenção no que redigi e, quando li, quase todos discordaram, alegando que aquilo desagradaria ao governo e não era pensamento do grupo. O coordenador determinou que no cafezinho aparássemos as divergências e aleguei que não estava com paciência para tanto e era melhor que o grupo escolhesse outro relator. Enquanto se reuniram, fiquei no cafezinho. No dia seguinte seria feita a votação do relatório comum aos grupos. Depois do almoço fui-me despedir, alegando que não poderia ficar, por causa de um compromisso. O coordenador pediu ao Gentile que me convencesse a ficar. Respondi que havia o risco de que eu entrasse em atrito com meu principal contestador, “aquele senhor ali; por sinal, em que faculdade ele é professor?” O Gentile sorrindo disse que ele não era professor, estava ali pelo prestígio que tinha com os militares. “Mas, na área da saúde, o que ele é?” Meu amigo pigarreou e disse: “bem, ele é o superintendente do laboratório que fabrica o Leite de Rosas, mas gosta de ser tratado como médico”. Fui definitivo: “depois dessa, é que vou embora mesmo”.  Estava presente ali o Hélio Aguinaga pai do homem mais bonito do Brasil, Pedro, amante de Maria Callas e da Liza Minelli. O Hélio me perguntou se eu era sobrinho do Clóvis Salgado, respondi que era parente e discípulo. Acrescentou que seus dois maiores amigos eram mineiros: o Clovis e o Tancredo Neves - e este o induziu a educar o Pedrinho no colégio Santo Antônio de São João del Rei. Combinamos que eu o entrevistaria sobre a escola Ana Neri, mas isso não foi possível.

Pouco tempo depois, o Gentile me telefonou e disse que, no jantar, o general Severino Sombra estava atrás de mim. “Ele queria me prender?” “Não, pelo contrário, ele queria contratar você para assumir a diretoria da faculdade dele, seu salário será enorme!”. O mais curioso é que o Severino, mais que o Gentile, foi com quem gostei de conversar nos intervalos. Descobrimos que ambos éramos fãs de duas figuras sensacionais. Ele era cliente e amigo pessoal do polígrafo mineiro Antônio da Silva Melo e conhecia tudo sobre Teilhard de Chardin. Concluí que o primeiro teria influído para que fundasse uma faculdade a ser orientada pelo próprio, mas Melo falecera dois anos antes. Assim a faculdade de Vassouras ficou órfã e virou uma piada. Ficou famosa como faculdade de fim-de-semana.

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