João Amílcar Salgado

domingo, 23 de maio de 2021

 MARCIO GARCIA VILELA - EMINENTE NEPOMUCENENSE

JOÃO AMÍLCAR SALGADO


Na meninice e juventude o Márcio Garcia Vilela era chamado por nós de Marcinho do Soneca. Era colega de escola da Neusa e seu irmão Marcelo era colega do Lívio. A tia Bebete era a professora do primeiro primário e chegou a nossa casa dizendo que o Marcinho do Soneca e o Carlinhos do Salgadinho (Joaquim Carlos Salgado) eram os mais inteligentes entre os que ela alfabetizou. À noite, na roda da farmácia, meu pai relatou essa opinião ao Soneca e ele enxugou os olhos, enquanto era abraçado pelos demais.  Na família todos diziam que o João Vilela, o Soneca e eu éramos três Vilelas, um o retrato do outro. Concordo plenamente.

Como sempre acontecia, os pirralhos do primeiro ano se apaixonavam pela dona Bebete, tal o carisma e a meiguice da mestra. No caso do Marcinho, ele tinha aula de manhã e à tarde já chegava à residência da dona Bebete, para “continuar a aula”. Na segunda vez, a mãe, a querida dona Niquinha (Antônia Garcia), foi junto para saber se aquilo podia acontecer e ouviu que o menino era “da família”.  Depois disso, à tarde, vários alunos ficavam por ali, no gostoso escritório, para enorme prazer de minha tia. Quando terminou o ginásio, o Marcinho me escreveu uma carta revelando seus planos e pediu minha opinião. Incentivei-o bastante e disse-lhe que, pela redação, ele seria um grande escritor. Sempre foi elogiado por seus discursos, por suas aulas universitárias e por sua elegância.  Após diplomar-se em direito em 1963, topei com ele e perguntei: como vai o jurista? Ele respondeu que faria concurso para embaixador. Parece que foi desviado para a política pelo Aureliano Chaves, que tinha alto apreço pelos udenistas de Nepomuceno. Surpreendentemente, da política ele se desviou para as finanças e se tornou banqueiro. Com o falecimento dos pais, os filhos Márcio e Marcelo deixaram de frequentar a Vila. A fazenda do Soneca, o Bom Jardim, mesmo nome da primeira fazenda dos Alves Vilela, era primorosa e vizinha da nossa. O Zé Gama era outro vizinho e me disse que os herdeiros pensavam em vende-la - e eu deveria me candidatar. Sua venda, entretanto, foi decidida às pressas e eu só soube depois.

O Marcinho casou-se com uma prima, dele e minha - a encantadora Maria Helena. A sogra é a Mariinha do Chico Lima, denominação usada por minha mãe, aquela que aparece na primeira página de meu livro O RISO DOURADO DA VILA (2003). O sogro é o médico Ernesto Maciel, homem inteligentíssimo e humorista finíssimo. O competente cardiologista Flávio, irmão da Maria Helena, foi meu aluno e residente. O Gu (Gustavo), neto do Flávio, é muito amigo de meus netos João Mateus e Fernanda.

 O Márcio, em BH, era vizinho e, tal como eu, freguês do divertidíssimo bate-papo do médico areadense Caio Manso. Pedi a este para confirmar se o Márcio estava ou não escrevendo suas aguardadas memórias. A resposta foi: parece que ele começou, mas parou...  Foi uma perda para nós todos.


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