João Amílcar Salgado

sábado, 31 de julho de 2021

 


SIMONE BILES CATOU RISCO

João Amílcar Salgado

            O caso mais recente e mais estrondoso de catação-de-risco acaba de ser protagonizado (29/7/21) pela maravilhosa atleta olímpica Simone Biles. Ela alegou não estar ok.   Com isso, abandonou a prova final de ginástica por equipes, nas  Olimpíadas de Tóquio. A catação-de-risco foi caracterizada em Nepomuceno em 1946 pelo farmaceutico João Salgado Filho e pelo dentista Sílvio Veiga Lima, referendada pelos médicos Décio Lourenção, Alberto Sarquis e Rubem Ribeiro. Foi  publicada na  revista CASOS CLÍNICOS EM PSIQUIATRIA, em 2003, a convite do professor Maurício Viotti. Tal artigo foi transcrito  como um dos capítulos da edição do livro de João Salgado Filho OLHOS NEGROS (2016). A catação-de-risco alcançou o plano internacional, quando apareceu em tres filmes: MELHOR É IMPOSSÍVEL (1998), O AVIADOR (2004) E TOC TOC (2017), dirigidos respectivamente por James Brooks, Matin Scorcese e Vicente Villanueva. No primeiro, o ator é Jack Niclholson, no segundo é Leonardo diCaprio e no terceiro é um grupo de notáveis artistas. O termo TOC significa Transtorno Obsessivo-Compulsivo, que passou a uso comum, a partir da adoçao generalizada, neste século, da classificação psiquiátrica do DSM (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders) dos EUA.  Leonardo confessou que decidiu encarnar o catador-de-risco Howard Hughes, que realmente existiu, porque ele próprio sempre catou risco. Outras personalidades como o cantor Roberto Carlos e o inventor Nicola Tesla aparecem na mídia como portadores desse transtorno. No esporte dois casos antes de Biles foram o do tenista Guga (2008) e a catação-de-risco coletiva da seleção brasileira na derrota para a Alemanha por 7 a 1, no Mineirão, em 2014. Ígualmente é atribuível à catação-de-risco o fracasso de outros favoritos nas competições esportivas mais acirradas.

quarta-feira, 28 de julho de 2021

 


PARA A QUERIDA E LINDA SOBRINHA MICHELLE 27/7/21

 

 

A Michele me pergunta sobre os artistas de sua parentalha. Respondo o seguinte. Você, que é a artista mais promissora do macramê,  está mergulhada em plena tradição artística, tanto da família Salgado como da famÍlia Vilela. Meu pai foi poeta, contista e humorista.  A mãe dele, minha avó Chanica (Emerenciana Ferreira de Castro Salgado) foi a primeira professora de trabalhos manuais no grupo escolar Cel. Joaquim Ribeiro. A aluna dela Maria Tagliaferri Vilela dizia maravilhas da arte dela nos bordados e nos doces.  Nossa tia Rute, filha dela, era exímia bordadeira: procure com a Ana Maria Salgado exemplos de bordados dela.  Minha avó Amélia Vilela, mãe da sua bisavó Vange, era craque no bilro e a filha  no crochê. Sua avó Ia era craque no tricô. A Helenice deve ter bilro da vó Amélia. Aqui em casa temos o João Vinícius que é desenhista e músico, enquanto sua filha Fernanda prenuncia uma artista polivalente.  Na família Antunes não podemos esquecer que a Alzira (Zizi), tia do Vavá, fazia as melhores camisas sociais dos políticos na capital Rio de Janeiro. O Ari e o Zequinha, irmãos dela, eram artesãos finíssimos.  O Eurico, outo irmão, e o sobrinho Jacy eram artistas em confeitos e quitandas. O Jarbas ou Binha se consagrou nacionalmente no desenho, na pintura, na escultura e no cartum.

terça-feira, 27 de julho de 2021

 

MANOEL JACY VILELA E AS FRUTAS QUE CATÁVAMOS

João Amílcar Salgado

 



RECEBI DO MANOEL JACY VILELA O SEGUINTE COMENTÁRIO

EM NEPOMUCENO TEM, TANTO ÁREA DE CERRADO COMO DE CULTURA (A PARTE MONTANHOSA). E AS TERRAS DE CERRADO SÃO HOJE, DIFERENTEMENTE DO PASSADO, AS PREFERIDAS E MAIS VALORIZADAS PELOS AGRICULTORES. ACONTECE QUE O USO, INTENSO E GENERALIZADO DAS TERRAS DO CERRADO, EXTINGUIU OU QUASE ALGUMAS PRECIOSIDADES DA TERRA E QUE PERMANECEM NA MINHA DOCE MEMÓRIA DE INFÂNCIA E DE MOLEQUE, QUE FUI. AS GABIROBAS, O CAJÚ RASTEIRO, O MARMELINHO, O ARAÇÁ RASTEIRO E ATÉ O MAROLO NÃO EXISTEM MAIS. TENHO TENTADO FAZER MUDA DE GABIROBA, MAS NÃO CONSIGO A FRUTA. NA INTERNETE TEM DISPONÍVEL, MAS QUERIA A DE LÁ. NO QUE CHAMÁVAMOS RETIRO DO TITO SALGADO, HOJE TERRENO DO LÍVIO, EU COLHIA UMAS GABIROBAS AMARELAS ENORMES E DE UMA DOÇURA SEM IGUAL. SE NO SEU TERRENO AINDA SOBROU ALGUMA GABIROBA, POR FAVOR GUARDE UMAS SEMENTES PRA MIM. HOJE 60% DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA DO PAÍS VEM DO CERRADO. O ALISSOM PAULINELLI AS TRANSFORMOU NAS TERRAS MAIS PRODUTIVAS DO MUNDO. O RETORNO É DIFÍCIL.  DEVEMOS CUIDAR PARA PRESERVAR O QUE RESTA. PELO MENOS ISSO. VAMOS LANÇAR A CAMPANHA: SALVE AS FRUTAS DO CERRADO QUE EXISTIAM EM NEPOMUCENO. ABRAÇOS.

 

Respondi ao querido primo, ex-aluno, professor da UFMG e, principalmente, excepcional cirurgião, com as seguintes palavras.

O cerrado da Vila serviu no passado não só à caça mas como manancial de barbatimão para curtir o couro do cervo e como fonte de alimento. Nós mesmos ainda vendíamos caminhões de barbatimão para os curtumes de Juiz de Fora. Catá gabiroba foi também meu esporte e de minha turma a cada ano. E também as frutas que você lembrou, às quais acrescento o coquinho cagão, o articum também cagão, melão de S Caetano, milho de grilo e o tomatinho que matava a sede dos catadores. Não tínhamos coragem de comer fruta-de-lobo, apesar de seu inebriante perfume. Por acréscimo, chupávamos cana e comíamos bananas das touceiras furtivas. Ainda criança alcancei nosos coqueiros numerosos, exterminados pelo Batista Correa, primo de minha mãe, que ia pedir para derrubar o palmito, de que era fanático. O Vavico me disse que, além do coqueiro comum, era numeroso o coqueiro macaúba e a juçara, ao lado do pé de pinhão (araucária). Na região o marolo que foi pejorativo aos estudantes dorenses e trespontanos, migrou para Paraguaçu, Eloi Mendes e principalmente Machado onde se vende a muda. Devem ser plantadas mudas macho e fêmea. Os funcionários do Internato Rural me abasteciam com o marolo do alto sertão. O João Veiga me confessou que infelizmente o Jonas seu pai desmatou várias áreas, na venda de lenha para a Belgo Mineira. Esta e os guseiros foram os primeiros inimigos do cerrado mineiro. Tentei fazer um pomar de mirtáceas, frutas-símbolo do Sul de Minas, ao lado do mel de abelhas nativas. A ferrovia disseminou a abelha europeia, que chegou para ficar na Vila, fornecido por Jonas Gama, Rui Salgado e Ana Paula Salgado, mas as originais persistem pelo menos no nome de lugares: Trumbuca, Mandembo, Minduri e Guaxupé. Tenho pé de gabiroba, araçá e grumixama, mas fracassei no marolo e no cambuí. O maior fruticultor da Vila foi meu pai, descendente de Antônio José Rabelo Campos, aquele que plantou as primeiras uvas da região, no Parreiral, em Tres Pontas. Hoje o maior da região é o José Custódio de Carvalho, de Perdões, pai do Albertino Carvalho, dono do Pastel de Fubá, próximo à ponte do Rio Grande, km 685 (foto). Transmito a você o convite que ele me fez.  Vamos a seu pomar para homenageá-lo, degustar pomos e adquirir mudas.

 

 

         

 

segunda-feira, 19 de julho de 2021

 

ÂNGELA MERKEL E AS INUNDAÇÕES NA ALEMANHA

 !

Merkel declarou o seguinte: "É uma situação surreal e fantasmagórica. Diria até que o idioma alemão tem dificuldade em encontrar palavras para descrever a devastação que foi causada".

Comentário do Apolo Lisboa, protetor do nosso Rio das Velhas:

Os administradores mundiais são, em sua maioria economicistas, por formação nas universidades e força do poder econômico. Assim, priorizam as questões da gestão econômica e ignoram que a base da Economia é a Ecologia. Quando tratam a questão ambiental se remetem a uma visão da química do carbono e outros gases, fugindo da compreensão do condicionamento/determinação exercidos pelas demandas sociais, das políticas setoriais e da realidade física, quimica, biológica e todas as interações dos ecossistemas. Assim, não se percebe o clima e o ciclo hidrológico como questão também humana, não juntam as pontas. Não se enxerga o desmatamento na base do agronegócio e a crise hidro-ambiental que envolve a matriz alimentar dos mais de 07 (sete) bilhões de seres humanos, com foco em proteínas animais e muito desperdício, com demanda por irrigação tornada insustentável, erosão e perda de solo agrícola, expansão constante da fronteira agrícola e uso crescente de agrotóxicos e outros.

Assim, o desmatamento generalizado, a terrível monocultura que nega a essencialidade da biodiversidade no equilíbrio natural, a ocupação humana de áreas com função ambiental precipta como as áreas úmidas, a canalização de córregos urbanos após ocupação indevida de suas áreas ciliares com edificações e ruas que geram repercussões sistêmicas, confundindo cabeças formadas na visão disjuntiva da disciplinaridade acadêmica, incapaz de perceber a complexidade dos fenômenos somente apreendidos por meio da transdisciplinaridade. São acontecimentos que colocam dirigentes de alguns países europeus perplexos e revelam a falência dos conhecimentos da engenharia civil tradicional e das decisões políticas que insistem em tratar separadamente questões sistêmicas absolutamente integradas espacialmente, tematicamente, politicamente, economicamente, e por aí vai. Em suma: uma questão de metodologia científica e da construção permanente de uma nova mentalidade na Terra. Precisamos mudar, e faz séculos!

domingo, 18 de julho de 2021

 


PADRE JOSÉ DOMINGUES – UM NEPOMUCENENSE ADOTIVO INJUSTIÇADO NÃO SÓ EM VIDA, MAS EM SUA MORTE E ATÉ EM NOSSOS DIAS

João Amílcar Salgado

O Padre José foi pároco da Vila de 1917 a 1930. Era visto com a colher de pedreiro no meio dos operários que erguiam as paredes da matriz, acima dos alicerces cravados pelo Cônego Pedro Macário de Almeida. Igualmente era visto em prolongadas partidas de xadrez com o João Salgado, o Lela, o Juca Azzi, o Alfredo Unes e os demais que fundaram o Clube de Xadrez (depois Clube Nepomuceno). À tarde ele vinha cavalgando seu vagaroso burro, a percorrer as ruas ainda de terra de seus paroquianos. Quando foi eletrificada a cidade, todos ficaram felizes, menos o burro. No meio do caminho as luzes se acendiam e o animal empacava. O Padre José não titubeou: prosseguiu em seu passeio diário, mas antes vendava os olhos do inteligente asno, que sabia o caminho de cor.

O arcebispo da Capital sofria de paranoia contra os protestantes, os espíritas e os maçons.  Alguém teria denunciado o Padre José como maçon. O arcebispo era ignorante em História, pois deveria saber que houve vários ilustres sacerdotes que conciliaram o catolicismo com a maçonaria. Mesmo sem comprovação da denúncia, veio a ordem para levar o virtuoso e queridíssimo vigário para o hospício Raul Soares – sobrepondo-se à autoridade do bispo Ferrão, advertido de que, se obstasse, seria arrolado também como maçon. Para a internação psiquiátrica, a alegação era que só mesmo um padre doido poderia ser também maçon.

Para que essa narrativa não ficasse sob brumas lendárias, procurei nos arquivos do Instituto Raul Soares o prontuário de José Domingues. Um antigo funcionário lembrou que o papelório de religiosos talvez tenha sido recolhido ao arquivo diocesano, onde nada consegui. Nessa época, pesquisávamos no Instituto outros importantes documentos, como os referentes a Luz del Fuego, Agripa Vasconcelos e Lot Mansur.

Felício Assunção se ofereceu para acompanhar o Padre José ao hospício. A Dinica me disse que seu pai viajou chorando às escondidas, inconformado com a crueldade daquele banimento. O admirável Felício superava a todos aqueles enxadristas na imensa afeição ao santo Padre José. 

 

terça-feira, 13 de julho de 2021

 


ZEBEDEU E ELIAS MURAD

João Amílcar Salgado

A ligação entre o Zebedeu (José Monteiro Lima Costa) e o professor de química José Elias Murad começou em 1954, quando o primeiro chegou à Capital como bancário e o segundo era morador da tradicional República Nepomuceno da rua Tomé de Souza 1340. Murad era um tremendo humorista e quando conheceu o Bedeu ficou seu fã pelo resto da vida, a começar pelo espetacular episódio do cabo do guarda-chuva.  O Zebedeu é lembrado agora, em 11/7/21, por sua incrível semelhança com o craque Kane, da seleção inglesa, vice-campeã da Europa. Ele era de inteligência acima da média e disputou o título de nepomucenense mais espirituoso de todos os tempos. Ouviu de mim que o Murad era de uma didática sem igual. Daí resolveu aproveitar sua amizade com o catedrático para aprender química, ideia que agradou tanto o docente que este o levava em animada conversa para as aulas no Colégio Estadual - e o punha entre os alunos. Estes se divertiam demais com as tiradas do improvisado colega. O ponto máximo dessa aventura foi quando o Murad perguntou ao aluno mais estudioso: “Qual sábio disse que nada se perde, nada se cria, tudo se transforma - foi Platão ou Lavoisier?” Nosso querido sabichão da Vila imediatamente levantou a mão. O mestre arregalou os olhos e ouviu dele: “Não foi o Platão e nem esse outro, quem inventou isso foi a dona da pensão onde eu moro: qualquer resto nos pratos do almoço e do jantar não se perde e tudo se transforma num mexidão terrive!”

            Na semana santa de 1955, o Murad ofereceu carona em seu carrão a mim e ao Zebedeu. A estrada Fernão Dias ainda era de terra e passava de cidade em cidade. Em S. Antônio do Amparo, paramos na melhor lanchonete e o pastel era tentador. O Bedeu deu uma mordida gostosa, mas danou a fingir espirrar, dizendo: “Nossa Senhora, vou resfriar, esse pastel só tem ar quente e mais nada!” O dono pegou um facão e gritou: “Repete isso aí, sêo atrevido!” Nessas circunstâncias, o Murad foi mil vezes mais diplomata do que didata, quando amansou o homem e ainda pagou dobrado por nossos pasteis.

Quando chegávamos à Vila, o professor tentava ensinar química nuclear ao bunda-vermelha. Disse que “a bomba mais forte da história é a bomba atômica - ela é atômica, porque é feita com átomos de urânio e átomo é a menor coisa que existe”. O bancário gritou: “Estacione aqui que vou chegar a pé!, prá mim chega! - tenha vergonha, professor Murad, o senhor querendo me pregar uma mentirona dessa de Americano, achando que vou acreditar que a menor coisa do mundo explode o maior estrondo do mundo! – tenha a santa paciência!”

 

[APERITIVO PARA O LANÇAMENTO DE O RISO DOURADO DA VILA 2ª ED, BREVE]

domingo, 4 de julho de 2021

 

ANTONIO SÉRGIO BUENO E AS VÍSCERAS DE NAVA

João Amílcar Salgado

Antônio Sérgio Bueno nasceu em São Gotardo, cidade fundada por gente de Nepomuceno. É ilustre professor de literatura da UFMG e, em 1997, ficou famoso por seu livro VÍSCERAS DA MEMÓRIA, resultado de suas conversas com Pedro Nava. Antes ele já era referência para a chegada da arte moderna a BH, com as obras O MODERNISMO EM BELO HORIZONTE (1982) e AFFONSO ÁVILA (1997) - acontecimento realçado nas memórias de Nava. Os médicos Agripa Vasconcelos, Paulo Pinheiro Chagas, Pedro Nava e João Guimarães Rosa, bem como o farmacêutico Carlos Drummond, estão na temática de Bueno e daí sua aproximação com o Centro de Memória da Medicina de Minas Gerais, sendo que Affonso Ávila já havia aí participado do estudo sobre a doença do Aleijadinho. Fortes laços resultaram desse nosso convívio e a admiração de todos por Antônio Sérgio passou de unânime a cada vez maior. Sugiro o vídeo anexo para confirmação do valor excepcional deste raro ensaísta.

https://youtu.be/xW-JvI5FHnE