ZEBEDEU
E ELIAS MURAD
João Amílcar Salgado
A
ligação entre o Zebedeu (José Monteiro Lima Costa) e o professor de química José
Elias Murad começou em 1954, quando o primeiro chegou à Capital como bancário e
o segundo era morador da tradicional República Nepomuceno da rua Tomé de
Souza 1340. Murad era um tremendo humorista e quando conheceu o Bedeu ficou seu
fã pelo resto da vida, a começar pelo espetacular episódio do cabo do
guarda-chuva. O Zebedeu é lembrado agora,
em 11/7/21, por sua incrível semelhança com o craque Kane, da seleção inglesa,
vice-campeã da Europa. Ele era de inteligência acima da média e disputou o
título de nepomucenense mais espirituoso de todos os tempos. Ouviu de mim que o
Murad era de uma didática sem igual. Daí resolveu aproveitar sua amizade com o catedrático
para aprender química, ideia que agradou tanto o docente que este o levava em
animada conversa para as aulas no Colégio Estadual - e o punha entre os alunos.
Estes se divertiam demais com as tiradas do improvisado colega. O ponto máximo
dessa aventura foi quando o Murad perguntou ao aluno mais estudioso: “Qual
sábio disse que nada se perde, nada se cria, tudo se transforma - foi Platão ou
Lavoisier?” Nosso querido sabichão da Vila imediatamente levantou a mão. O mestre
arregalou os olhos e ouviu dele: “Não foi o Platão e nem esse outro, quem
inventou isso foi a dona da pensão onde eu moro: qualquer resto nos pratos do
almoço e do jantar não se perde e tudo se transforma num mexidão terrive!”
Na semana santa de 1955, o Murad
ofereceu carona em seu carrão a mim e ao Zebedeu. A estrada Fernão Dias ainda
era de terra e passava de cidade em cidade. Em S. Antônio do Amparo, paramos na
melhor lanchonete e o pastel era tentador. O Bedeu deu uma mordida gostosa, mas
danou a fingir espirrar, dizendo: “Nossa Senhora, vou resfriar, esse pastel só
tem ar quente e mais nada!” O dono pegou um facão e gritou: “Repete isso aí,
sêo atrevido!” Nessas circunstâncias, o Murad foi mil vezes mais diplomata do
que didata, quando amansou o homem e ainda pagou dobrado por nossos pasteis.
Quando
chegávamos à Vila, o professor tentava ensinar química nuclear ao
bunda-vermelha. Disse que “a bomba mais forte da história é a bomba atômica - ela
é atômica, porque é feita com átomos de urânio e átomo é a menor coisa que
existe”. O bancário gritou: “Estacione aqui que vou chegar a pé!, prá mim
chega! - tenha vergonha, professor Murad, o senhor querendo me pregar uma mentirona
dessa de Americano, achando que vou acreditar que a menor coisa do mundo
explode o maior estrondo do mundo! – tenha a santa paciência!”
[APERITIVO PARA O
LANÇAMENTO DE O RISO DOURADO DA VILA 2ª ED, BREVE]
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