MANOEL JACY VILELA E AS FRUTAS QUE CATÁVAMOS
João Amílcar Salgado
RECEBI DO MANOEL JACY VILELA O
SEGUINTE COMENTÁRIO
EM NEPOMUCENO TEM, TANTO ÁREA DE
CERRADO COMO DE CULTURA (A PARTE MONTANHOSA). E AS TERRAS DE CERRADO SÃO HOJE,
DIFERENTEMENTE DO PASSADO, AS PREFERIDAS E MAIS VALORIZADAS PELOS AGRICULTORES.
ACONTECE QUE O USO, INTENSO E GENERALIZADO DAS TERRAS DO CERRADO, EXTINGUIU
OU QUASE ALGUMAS PRECIOSIDADES DA TERRA E QUE PERMANECEM NA MINHA DOCE
MEMÓRIA DE INFÂNCIA E DE MOLEQUE, QUE FUI. AS GABIROBAS, O CAJÚ RASTEIRO,
O MARMELINHO, O ARAÇÁ RASTEIRO E ATÉ O MAROLO NÃO EXISTEM MAIS. TENHO
TENTADO FAZER MUDA DE GABIROBA, MAS NÃO CONSIGO A FRUTA. NA INTERNETE TEM DISPONÍVEL,
MAS QUERIA A DE LÁ. NO QUE CHAMÁVAMOS RETIRO DO TITO SALGADO, HOJE TERRENO DO
LÍVIO, EU COLHIA UMAS GABIROBAS AMARELAS ENORMES E DE UMA DOÇURA SEM IGUAL. SE
NO SEU TERRENO AINDA SOBROU ALGUMA GABIROBA, POR FAVOR GUARDE UMAS
SEMENTES PRA MIM. HOJE 60% DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA DO PAÍS VEM DO CERRADO. O
ALISSOM PAULINELLI AS TRANSFORMOU NAS TERRAS MAIS PRODUTIVAS DO MUNDO. O RETORNO
É DIFÍCIL. DEVEMOS CUIDAR PARA PRESERVAR
O QUE RESTA. PELO MENOS ISSO. VAMOS LANÇAR A CAMPANHA: SALVE AS FRUTAS DO
CERRADO QUE EXISTIAM EM NEPOMUCENO. ABRAÇOS.
Respondi ao querido primo, ex-aluno,
professor da UFMG e, principalmente, excepcional cirurgião, com as seguintes
palavras.
O cerrado da Vila serviu no passado
não só à caça mas como manancial de barbatimão para curtir o couro do cervo
e como fonte de alimento. Nós mesmos ainda vendíamos caminhões de barbatimão
para os curtumes de Juiz de Fora. Catá gabiroba foi também meu
esporte e de minha turma a cada ano. E também as frutas que você lembrou, às
quais acrescento o coquinho cagão, o articum também cagão, melão de S Caetano,
milho de grilo e o tomatinho que matava a sede dos catadores. Não tínhamos
coragem de comer fruta-de-lobo, apesar de seu inebriante perfume. Por acréscimo,
chupávamos cana e comíamos bananas das touceiras furtivas. Ainda criança
alcancei nosos coqueiros numerosos, exterminados pelo Batista Correa, primo de
minha mãe, que ia pedir para derrubar o palmito, de que era fanático. O Vavico
me disse que, além do coqueiro comum, era numeroso o coqueiro macaúba e a
juçara, ao lado do pé de pinhão (araucária). Na região o marolo que foi
pejorativo aos estudantes dorenses e trespontanos, migrou para Paraguaçu, Eloi
Mendes e principalmente Machado onde se vende a muda. Devem ser plantadas mudas
macho e fêmea. Os funcionários do Internato Rural me abasteciam com o marolo do
alto sertão. O João Veiga me confessou que infelizmente o Jonas seu pai
desmatou várias áreas, na venda de lenha para a Belgo Mineira. Esta e os
guseiros foram os primeiros inimigos do cerrado mineiro. Tentei fazer um pomar
de mirtáceas, frutas-símbolo do Sul de Minas, ao lado do mel de abelhas
nativas. A ferrovia disseminou a abelha europeia, que chegou para ficar na Vila,
fornecido por Jonas Gama, Rui Salgado e Ana Paula Salgado, mas as originais
persistem pelo menos no nome de lugares: Trumbuca, Mandembo, Minduri e Guaxupé.
Tenho pé de gabiroba, araçá e grumixama, mas fracassei no marolo e no cambuí. O
maior fruticultor da Vila foi meu pai, descendente de Antônio José Rabelo
Campos, aquele que plantou as primeiras uvas da região, no Parreiral, em Tres
Pontas. Hoje o maior da região é o José Custódio de Carvalho, de Perdões, pai
do Albertino Carvalho, dono do Pastel de Fubá, próximo à ponte do Rio Grande,
km 685 (foto). Transmito a você o convite que ele me fez. Vamos a seu pomar para homenageá-lo, degustar
pomos e adquirir mudas.
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