A SERRA DO CURRAL E A MEMÓRIA DA
MEDICINA
João Amílcar Salgado
Duas
edificações na Serra do Curral são importantes tanto para a memória da medicina,
como para a memória da política brasileira: o HOSPITAL DA BALEIA e o INSTITUTO
HILTON ROCHA. Depois do Manifesto dos Mineiros, fator do enfraquecimento da
ditadura Vargas, houve a inauguração do moderno Hospital da Baleia, em 1944, liderada
pelo antigetulista Baeta Viana, a quem Valadares quis constranger, trazendo o
próprio Getúlio para a solenidade. Com isso Viana não pôde fazer do ato mais um
manifesto. Depois, durante a ditadura de 64, o governador Rondon Pacheco advertiu
o oftalmologista Hilton de que seu Instituto não poderia ser localizado na
Serra do Curral. Este veto foi transposto pelo general Golbery, que era cliente
e amigo do médico. O Centro de Memória da Medicina de MG solicitou a demolição
do Instituto, após a constituinte.
Outro
acontecimento foi em 1959, quando os estudantes de medicina protestaram contra
a nomeação, feita por JK, de Roberto Campos, apelidado de Bob Fields,
para embaixador em Washington. Isso tem a ver com a Serra do Curral, porque
Campos e Lucas Lopes estavam envolvidos com a mineradora Hanna na exploração do
seu minério. O irmão de Lucas, o médico Hélio Lopes, era um dos ilustres
historiadores do Centro de Memória, bem como o odontólogo Ciro Gomide,
estudioso da biografia de Hilton Rocha. Ambos enriqueceram a documentação do
Centro sobre JK, Hilton Rocha e o movimento estudantil. Já sobre o Hospital da
Baleia, o Centro contou com José Sílvio Resende, que, além de ser o maior
cirurgião torácico do país, era autorizado tisiologista. biógrafo de Henrique
Marques Lisboa e estudioso da iniciativa daquele hospital. Por minha vez,
estudo a ligação entre Baeta Viana e João Batista Veiga Sales, sendo este o
mais notável de seus discípulos, coincidentemente herdeiro da fazenda Taquaril.
Todo esse acervo mostra muito bem quão poderosas e persistentes têm sido as
ameaças à ecologia da Serra do Curral.
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