João Amílcar Salgado

sábado, 16 de julho de 2022

 


ANESTESISTA ESTUPRADOR

João Amílcar Salgado

Em 1886, Robert Louis Stevenson, notável escritor escocês, que não era médico, publicou o STRANGE CASE OF DR. JEKYLL AND MR HYDE, traduzido como O MÉDICO E O MONSTRO, popular no mundo, inclusive no cinema. Como historiador da medicina e por isso muito ligado a Edimburgo, cidade natal de Robert, estudo casos horripilantes ocorridos de fato e que o devem ter inspirado. O tema igual ou análogo prosseguiu através de personagens, entre outros, como DOUTOR KILDARE (1961) e O INCRÍVEL HULK (2008). Em 2002 foi descoberto que o médico Eugênio Chipkevitch,  ucraniano de família refugiada da União Soviética e diplomado pela USP, era um estuprador pedófilo em série, que estuprou dezenas de jovens pacientes, todos masculinos, sendo condenado a 114 anos de prisão. Em 2006 foi descoberto que o médico Roger Abdelmassih, paulista, diplomado pela UNICAMP, era um estuprador em série, violentador de incontáveis mulheres, que o procuravam por ser aclamado astro da obstetrícia avançada, sendo condenado a 180 anos de prisão. Em 2020, foi descoberto que o médico Giovanni Quintella Bezerra, fluminense, diplomado pelo Centro Universitário de Volta Redonda, anestesista obstétrico do Hospital da Mulher Heloneida Sudart, de São João de Meriti, estuprou um número ainda sendo levantado de parturientes anestesiadas, sendo que seus crimes, em série, não seriam revelados, caso não tivesse sido filmado adrede por telefone celular..

            Na UFMG, em 1971, a tentativa de sistematizar equipes mínimas de médicos para cidades do interior foi anulada por ingerência da associação dos anestesistas. Da inovação do ensino de 1975 constava a disciplina de técnica cirúrgica-e-anestésica. Até hoje não é ministrada a parte do ensino da anestesia, por dois motivos inacreditáveis: o coordenador designado reconheceu que desprezava a anestesia e não se dava bem com os anestesistas. Num dos esforços para resolver a questão, foi convocado o decano dos anestesistas, o notável Cristiano Alvim Pena, sumidade na área. Nada conseguiu e foi até ridicularizado. Pedi-lhe que aproveitássemos o que foi reunido e debatido e daí escrevêssemos um livro sobre a fascinante história da anestesia em Minas e no Brasil. O livro foi abortado porque o Cristiano exigiu eliminar os aspectos indecorosos de nossa crônica anestésica, censura que não aceitei.

 

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