João Amílcar Salgado

quinta-feira, 30 de novembro de 2023

 


A FAZENDA DA LAGOA

E SUA VERDADEIRA HISTÓRIA

João Amílcar Salgado

O casarão da Fazenda da Lagoa deve ter sido construído entre o final do século 18 e o início do 19, pelo capitão Manoel Joaquim da Costa Vale, meu tetravô. O casarão era chamado de Sobradinho e a fazenda era enorme, maior ainda se somada às suas fazendas do Sapé Grande, do Ribeirão São João e às vastas propriedades do genro Antônio José de Lima, o Casaquinha. O capitão possuía diversas outras fazendas, não só em cidades vizinhas, mas no Triangulo Mineiro e no noroeste paulista, além de outras barganhadas ou transferidas a diversos parentes. Parece também que ocultava arrobas de ouro sob o morro situado na margem oposta da lagoa, de modo a ser vigiado das janelas. A demolição do casarão e da sede da fazenda da Santa Cruz, erguida em 1823 pelo Casaquinha, é lamentada por todos os estudiosos da história da Vila. Na ilustração vê-se a majestosa casa retratada pela talentosa artista nepomucenense Alicemara Silva, em 1989, com o acréscimo imaginário da lagoa.

O casarão foi vendido a vários donos e foi até escola (nela foi alfabetizado o Didi do Restaurante). Os sucessivos proprietários, por desconhecerem sua verdadeira história, geralmente consideram o casarão como tendo pertencido, desde o início, a seu respectivo ramo familiar.  A Fazenda da Lagoa consta de meus livros NEPOMUCENO – SÍNTESE HISTÓRICA (2013), O RISO DOURADO DA VILA (2020), do livro do Lomez sobre a ferrovia de Três Pontas, do livro do Arthur Campos sobre a família Ribeiro de Oliveira Costa, da publicação de Firmino Costa sobre a família Costa Vale e das publicações do Projeto Compartilhar na internete. Breve será publicado o livro das irmãs Evangelina e Licínia Alves Vilela sobre sua família, que inclui os trisavós Manoel Joaquim e Casaquinha. Uma lista de descendentes e admiradores de Manoel Joaquim Costa está sendo elaborada, com o objetivo de conseguir a restauração integral do casarão, inclusive da própria lagoa. Muitas adesões são esperadas.

 

quarta-feira, 29 de novembro de 2023

 


A LUTA CONTRA O AGROVENENO

João Amílcar Salgado

Como professor titular de Clínica Médica da UFMG e principalmente, por longos anos, professor de semiologia médica, fui talvez o primeiro a denunciar a indústria e o abuso do agroveneno no Brasil. Um de meus brinquedos de infância era rodar a turbina da máquina de tirar formiga que inoculava arsênico em nossos formigueiros. Tratei inúmeros casos de intoxicação em todas as suas variantes. Verifiquei que os médicos eram propositalmente desinformados sobre o assunto. Contabilizei intoxicados tratados como neuróticos.  Fui coorientador de meu primo Ronan Vieira, intensivista  da Unicamp, que fez a primeira tese sobre cuidado intensivo de intoxicados. Ele e eu éramos do agronegócio e, portanto, com isenta autoridade técnica nesta área. Um de meus amigos de juventude formou-se na Ufla e, logo a trabalho, pegou o apelido de Blenco. Interpelei-o e ele respondeu: “é triste, mas sou bem pago para intoxicar o máximo de gente possível...” Nessa época houve a primeira denúncia nacional de intoxicação intencional de toda uma comunidade indígena com agroveneno. Nos últimos quatro anos 1629 agrovenenos foram liberados em 1158 dias no Brasil, ou seja, mais de um por dia. A intimidação que o agronegócio impõe aos políticos, inclusive ao atual governo, significa uma tragédia.

 

segunda-feira, 27 de novembro de 2023

 


O FIO DE BARBA MAIS CÉLEBRE DA VILA

João Amílcar Salgado

“Dou por garantia o fio de minha barba” traduz a honradez antiga nos negócios. O homem honrado puxa um fio de barba e o entrega a outrem, significando, com o gesto, a garantia de qualquer penhor. Quinca Lima era um desses homens de bem. Sendo um dos antigos ricaços da Vila, se mostrou raro empreendedor e resolveu erguer um grande armazém para os produtos de suas terras e de seus parentes. Os que assim protegiam seus produtos recebiam apenas a anotação respectiva sem qualquer garantia expressa. Uma pessoa de outra família pediu para armazenar pequena porção, recebeu o recibo e perguntou a garantia. O dono do armazém arrancou um fio de barba e o entregou ao surpreso beneficiado. Este espertalhão então passou a arquitetar um golpe terrível. Começou a oferecer a terceiros o serviço, mas os produtos eram armazenados em seu nome. Quando foi alcançada a lotação máxima, tudo foi incendiado. O dono, em nome do fio de barba indenizou tudo com a quase totalidade de seus bens. Seus descendentes, meus primos queridos, nada herdaram e vivem com dificuldades até hoje. Pediram-me, entretanto, que escrevesse sobre o fato. É desnecessário dizer que não houve investigação e ninguém foi punido.

NOTA  O silo poderia ser uma versão mais rústica desse da ilustração

quinta-feira, 23 de novembro de 2023

 


 JOSÉ AFRANIO VILELA – 1º DESCENDENTE DE NEPOMUCENENSE A SER MINISTRO DO PODER JUDICIÁRIO

João Amílcar Salgado

A cidade de Nepomuceno encontra-se festiva neste dia 22/11/23 pela posse de José Afrânio Vilela  como ministro do Superior Tribunal de Justiça. Trata-se do 1º descendente de nepomucenense a ser guindado a tão alto cargo da magistratura.  Meu primo Afrânio honra nossa gente Alves Vilela com sua brilhante e meteórica carreira e certamente será cada vez mais aplaudido, a partir de tão distinto posto. Minha mãe, Evangelina Alves Vilela Salgado, em particular, certamente o abençoa do alto da memória de nossa família, iniciada com o casal Antônio Vilela Frazão e Eufrásia Brant Ribeiro Vilela.  Nossos mais efusivos cumprimentos ao empossado e aos queridíssimos membros de sua família imediata.

segunda-feira, 13 de novembro de 2023

 

NAPOLEOA

João Amílcar Salgado

Na Inglaterra, me apresentaram um médico vestido de maneira estranha e com o cabelo em desalinho. Era legista e quis saber minha opinião sobre a ética de um seu procedimento médico-legal. Na conversa, ele se aproximou muito de mim e seu odor era muito ruim. O colega que o apresentou a nosso grupo percebeu a coisa e foi direto ao ponto: “doutor você não tomou banho hoje.” Ele não se perturbou e respondeu com leve sorriso: “hoje não, na verdade não tomo banho há vários meses”. Quando ele saiu, o colega disse que a esposa dele era linda, um mulherão. No dia seguinte, lá estava o legista e perguntamos se sua esposa não exigia dele o banho. E ele, com o mesmo sorriso, retrucou: “é o contrário, ela é que me proíbe o banho!...” Não me lembro do nome dele, mas o apelidei de marido da napoleoa.  Napoleão, dois meses antes de regressar das batalhas, exigia que a Josefina deixasse de tomar banho.

sábado, 11 de novembro de 2023

 


FRANCISCO PAULO BILICO É UM ESCRITOR DA MELHOR TRADIÇAO MINEIRA

João Amílcar Salgado

Seu livro CONHECIMENTOS PRÁTICOS DE TERCEIROS (2020) é um prolongamento de sua primeira obra A INFLUÊNCIA DA LUA E OS MACETES DO CAMPO, escrita, a partir de 1998, quando foi entrevistado pelo notável jornalista José Hamilton Ribeiro, para o Globo Rural. Esses conhecimentos se prolongam em dois volumes de causos e reflexões adicionais.

Acabam sendo uma homenagem do filho ao sábio pai, o famigerado Zé Bilico, cujo perfil consta de meu livro O RISO DOURADO DA VILA (2020). Quando encontrei  o Zé, o Paulo e o Hamilton, fiquei muito feliz de, por meio deles,  rastrear a RIBEIRADA mineira. Nessa ocasião eu escrevia sobre a biografia do descobridor Carlos Chagas, nascido próximo do Zé, cujo Ribeiro era dali.  Tanto quanto pelo sobrenome, me identifiquei com os Bilicos, quando falamos de galo capão, moinho dagua, laranja natal, doce-de-mamão-macho, mangarito, jacatupé, jacarandá-rosa e o universo do café. Acabei diplomado como lavourista (cafeicultor), depois de ser testado, com perguntas capciosas, em pleno cafezal. Ali, na serra, o Zé me disse: “o doutor é lavourista da beira do Rio Grande; aqui no alto a água escorrendo prá cá vai pro São Francisco e prá lá vai pro Grande, onde dá melhor café”. E derramou um copo cá e um copo lá - para a aula ser prática.

O Xico Paulo é diplomado em filosofia, mas, em vez de Sócrates ou Descartes, seu guru mesmo é o Zé. Um de seus textos filosóficos se intitula FILOSOFANDO NA MAIONESE. Exemplo de suas lembranças é o CASO DA GALINHA CHOCA. O Zé e o Onofre, marido da sobrinha Anita, foram a uma fazenda comprar gado. O dono ofereceu um café na sombra do alpendre. A dona vem com uma galinha. O Zé se apressa em dizer: ”ó minha senhora, num mata não, num mata não, porque não podemos esperar o almoço”. Ela retrucou: “não, sô Izé, essa aqui é galinha choca, que tô levano prá tirá o chôco, mas se o sinh|ô quisé isperá, pego outra e mato”. O Zé, sem graça, finalizou: “muito obrigado, já tamo indo embora”

Na belíssima festa do congado em Itapecerica estávamos numa pizzaria e o relógio marcava uma hora da madrugada. A Leila comentou: “a essa hora o sêo Zé Bilico deve estar roncando”. Do nada, ele passa na rua pitando seu cigarro. O Zé Hamilton perguntou: “ seo Zé  cê não acha que fumar prejudica?”. Ele concorda: “acho sim, olha só minha calça como está toda furadinha, isso é fagulha de pito”.

quinta-feira, 9 de novembro de 2023

 





PIONEIRISMO DE MINAS TAMBÉM EM MEDICINAS RADIOLÓGICA E NUCLEAR

Além dos pioneirismos na nanoscopia e na oftalmologia, Minas também se sobressai nas medicinas radiológica e nuclear. Na cidade de Formiga, onde ainda não havia luz elétrica, o incrível clínico José Carlos Ferreira Pires leu a notícia da descoberta do raio-x e escreveu para o descobridor, pedindo que lhe enviasse a invenção. Assim, meses depois da descoberta, em 1896, chega a ampola à cidade mineira. Foi uma das primeiras, no mundo, utilizadas em atendimento clínico, e a primeira em condições rurais. Em Itamarandiba, MG, menor que Formiga, o incrível francês Afonso Pavie recebeu também, em 1911, um dos primeiros aparelhos radiológicos usados em clínica no Brasil. Pavie foi também o primeiro a prescrever pomada de Radium no país. O polímata juizforano Antônio da Silva Melo foi o primeiro pesquisador mundial a demonstrar o efeito adverso da radiatividade, em 1914 - e absurdamente não recebeu o Nobel. O Instituto do Radium, em 1922, em Belo Horizonte, foi o primeiro das Américas, sendo Eduardo Borges da Costa seu fundador e Mário Goulart Pena, o primeiro curieterapeuta continental. A atual UFMG recebeu Marie Curie e Irene Curie em 1926 e recebeu também Robert Oppenheimer em 1948. A mesma universidade é a primeira no país a criar um laboratório de Medicina Nuclear, organizado por Oromar Moreira, que permitiu o primeiro tratamento de hipertireoidismo com iodo radiativo e o primeiro mapeamento radiativo da tiroide, no Brasil, efetivados por João Amílcar Salgado, Ibraim Heneine e Viriato Magalhães.

O notável professor Francisco de Assis Magalhães Gomes, depois de ter trazido Oppenheimer à atual UFMG, criou, em 1952, o Instituto de Pesquisas Radiativas, que foi expropriado pela ditadura em 1972. Minas tinha rica reserva de urânio e, a seu lado no Espirito Santo, havia areias de tório, as quais deveriam ser pesquisadas pelo Instituto. Paradoxalmente o urânio mineiro foi, a seguir, atribuído à USP e o tório capixaba à UFMG. Os cientistas de tais centros deveriam desenvolver duas bombas atômicas brasileiras, uma de urânio e outra de tório. Oppenheimer chegou aqui já como ativista antinuclear. Magalhães Gomes e Carlos Chagas Filho ajudaram João Paulo II a anistiar Galileu, em 1992.

quarta-feira, 8 de novembro de 2023

 


O PRIMEIRO NANOSCÓPIO MUNDIAL É MINEIRO

João Amílcar Salgado

O primeiro nanoscópio mundial, produzido pela UFMG, está sendo adquirido pela Alemanha, em 7/11/23, fruto de 18 anos de pesquisa, coroada com publicação na revista NATURE. Vencedor de uma corrida internacional, possibilita a visualização e manipulação de matéria molecular e atômica. Nesta data, também, foi anunciado em Petrolina, PE, o potencial revolucionário de nanobolhas de ozônio para sanear esgoto.

O primeiro oftalmologista do Ocidente foi o médico e papa português Pedro Rabelo, parente dos Rabelos de Minas, que em cerca de 1250 escreveu o texto SOBRE OS OLHOS. Este genial alquimista deve ter lido o árabe Alhazen, outro sábio genial, autor do livro TESOURO ÓPTICO de cerca de 1020. Os primeiros bandeirantes com perda da visão devem ter usado o quartzo e o berilo de Minas como pedra-de-ler, tradição de famílias judaicas - e assim puderam ainda faiscar. Minas Gerais é, pois, pioneira na óptica desde tais cristais, passando pela primazia nacional em oftalmologia, oftalmoscopia (inclusive oftalmoscopia veterinária), citoscopia, gastroscopia, estrasbismo, lentes de contato, cerâmicas perioculares, correções refrativas e diversas outras invenções cirúrgicas. Da endoscopia digestiva, participei como estagiário do inventor Rudolf Schindler e quando o Celso Afonso de Oliveira e eu criamos o estadiamento da úlcera péptica. Pela microscopia eletrônica, Washington Tafuri descobriu a neurossecreção autonômica. Nas ciências aplicadas da citologia, neuro-histologia e astronomia, Minas tem igual projeção internacional.

 A oftalmologia brasileira iniciou-se com os mineiros Anastácio Abreu (este pioneiro também em anestesia geral) e Hilário de Gouveia. Prosseguiu com outros mineiros: Penido Burnier, Hilton Rocha, Nassim Calixto, Donato Valle, Amélio Bonfiglioli, Hélio Faria, Raul Soares, Geraldo Queiroga, Eduardo Soares, Henderson Almeida, Emir Soares, Emílio Castelar, Lúcio Almeida, Caio Manso, Roberto Abdalla, Valênio Perez, Paulo Ferrara, Joel Bodeon, Marcelo Costa, Ricardo Guimarães e outros. O nanoscópio acaba sendo esplendorosa adição a tão persistente brilho.