A
LUTA CONTRA O AGROVENENO
João Amílcar Salgado
Como professor
titular de Clínica Médica da UFMG e principalmente, por longos anos, professor
de semiologia médica, fui talvez o primeiro a denunciar a indústria e o abuso
do agroveneno no Brasil. Um de meus brinquedos de infância era rodar a turbina
da máquina de tirar formiga que inoculava arsênico em nossos formigueiros.
Tratei inúmeros casos de intoxicação em todas as suas variantes. Verifiquei que
os médicos eram propositalmente desinformados sobre o assunto. Contabilizei
intoxicados tratados como neuróticos. Fui coorientador de meu primo Ronan Vieira,
intensivista da Unicamp, que fez a
primeira tese sobre cuidado intensivo de intoxicados. Ele e eu éramos do
agronegócio e, portanto, com isenta autoridade técnica nesta área. Um de meus
amigos de juventude formou-se na Ufla e, logo a trabalho, pegou o apelido de
Blenco. Interpelei-o e ele respondeu: “é triste, mas sou bem pago para
intoxicar o máximo de gente possível...” Nessa época houve a primeira denúncia
nacional de intoxicação intencional de toda uma comunidade indígena com
agroveneno. Nos últimos quatro anos 1629 agrovenenos foram liberados em 1158
dias no Brasil, ou seja, mais de um por dia. A intimidação que o agronegócio
impõe aos políticos, inclusive ao atual governo, significa uma tragédia.
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