João Amílcar Salgado

quarta-feira, 29 de novembro de 2023

 


A LUTA CONTRA O AGROVENENO

João Amílcar Salgado

Como professor titular de Clínica Médica da UFMG e principalmente, por longos anos, professor de semiologia médica, fui talvez o primeiro a denunciar a indústria e o abuso do agroveneno no Brasil. Um de meus brinquedos de infância era rodar a turbina da máquina de tirar formiga que inoculava arsênico em nossos formigueiros. Tratei inúmeros casos de intoxicação em todas as suas variantes. Verifiquei que os médicos eram propositalmente desinformados sobre o assunto. Contabilizei intoxicados tratados como neuróticos.  Fui coorientador de meu primo Ronan Vieira, intensivista  da Unicamp, que fez a primeira tese sobre cuidado intensivo de intoxicados. Ele e eu éramos do agronegócio e, portanto, com isenta autoridade técnica nesta área. Um de meus amigos de juventude formou-se na Ufla e, logo a trabalho, pegou o apelido de Blenco. Interpelei-o e ele respondeu: “é triste, mas sou bem pago para intoxicar o máximo de gente possível...” Nessa época houve a primeira denúncia nacional de intoxicação intencional de toda uma comunidade indígena com agroveneno. Nos últimos quatro anos 1629 agrovenenos foram liberados em 1158 dias no Brasil, ou seja, mais de um por dia. A intimidação que o agronegócio impõe aos políticos, inclusive ao atual governo, significa uma tragédia.

 

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