João Amílcar Salgado

sábado, 29 de junho de 2024

 


ADÉLIA PRADO, LEDA CAPORALI E ADÉLIA SALES

João Amílcar Salgado

A excelente ginecologista, mastologista, prosadora e poeta Leda Caporali é docente da UFMG e membra do colegiado do Centro de Memória da Medicina de MG. Pronunciou várias aulas, sempre aplaudidas, no curso de História da Medicina e é personagem de meu livro O RISO DOURADO DA VILA (2020). Seu perfil estudantil está no livro de Carlos Epifânio Queiroz REMINISCÊNCIAS DA TURMA DE MÉDICOS DE 1959 DA UFMG (sd). Em seu depoimento para o Carlos, ela revelou ter sido colega de Adélia Prado, quando dividia com ela o assento e a merendeira, nas aulas do ensino primário. Confessou que nessa época a poetisa era a Leda e não a Adélia. O despertar literário desta pode ter sido influenciado por tal circunstância. Mais tarde, em 2011, a Leda me procurou para saber a razão pela qual eu indicara a Adélia Prado como conferencista oficial do centenário de nossa faculdade. Respondi que de fato a diretoria me pedira uma lista de oradores para a solenidade. Na lista havia vários nomes e apenas o de uma mulher, Adélia Sales, também de nosso colegiado, com inestimável serviço à história da medicina mineira, especialmente por sua intimidade com seu pai Pedro Sales e com Pedro Nava. Na hora de apontar o escolhido, alguém disse: “ninguém aqui sabe quem é Adélia Sales, está claro que houve um erro de anotação e a sugerida só pode ser a Adélia Prado”. Quando recebeu o convite, esta estranhou, mas aceitou. Graças a seu talento, não deixou de abrilhantar a comemoração. Agora, em 26/6/24, Adélia Prado foi brindada com o PRÊMIO CAMÕES deste ano, o mais alto laurel do idioma luso.

 

domingo, 23 de junho de 2024

 



XICO BUARQUE E CELESTE ARANTES

Joáo Amílcar Salgado

Pedro Nava foi quem primeiro deu ênfase ao patrimônio genealógico mineiro com o livro BAÚ DE OSSOS (1972) e Xico Buarque o reenfatizou quando cantou “0 meu pai era paulista, meu avô pernambucano, meu bisavô mineiro, meu tataravô baiano”. Pedro Vidigal documentou esse bisavô mineiro em OS ANTEPASSADOS (1980). Já Celeste ARANTES, mãe do Pelé, complementa essa valorização genealógica, inscrevendo-a na arte mundialmente aclamada de seu filho. Trata-se de mulher sul-mineira 4 vezes fidalga: é de 3 Corações, procede das alturas, mãe de um rei e consanguínea de um Duque. Não bastante, tem parentesco com Ivonne de Arantes. esposa do rival em talento do Xico, o ubaense Ari Barroso.

Os Arantes no Brasil se originam do luso Antônio Marques de Arantes, que nasceu, em 1738, em São Salvador, na Comarca de Vieira, Braga, Portugal, e faleceu em Aiuruoca, MG, em 1801 (seus pais:  Domingos de Arantes e Josefa Marques). Mais remotamente Amtônio é originário de um esconderijo anti-mouro chamado “Entre o Homem e o Cávado”. Nasceu de família que deve ter chegado ali da Galiza, sendo de mescla goda e celta. Em Formiga, MG, houve a união dos Arantes com os Farias Belos, da qual nasceram a mãe do Duque de Caxias, Mariana Cândida Faria Belo, e Sabina Madalena Faria Belo, casada com Estêvão de Abreu Salgado, dono das Águas Verdes.

terça-feira, 18 de junho de 2024

 

SANGUE É QUESTÃO DE SOBERANIA NACIONAL E ESTÁ NO ÍNTIMO MAIS PROFUNDO DA ÉTICA MÉDICA

 

Carlos Amílcar Salgado participa da luta para aperfeiçoar a sistemática nacional de transfusão de sangue. Agora no Recife, o Brasil intensifica a polÍtica de sangue como questão de soberania nacional e questão primeira da ética médica. Dentro do atual esforço concentrado, o país culminará com a nacionalização total da respectiva tecnologia.


sexta-feira, 14 de junho de 2024

 


JOÃO SEBASTIÃO E ARI ANTUNES – a Vila não pode esquecê-los.

João Amílcar Salgado

Eu tinha 17 anos e me preparava para o vestibular. Então houve uma conversa, em nossa farmácia, sobre as pessoas da Vila que lamentavelmente não tiveram oportunidade de prosseguir depois do grupo escolar.  Em dado momento o Ari Antunes disse que os três homens mais inteligentes da cidade eram Joões: o João Vilela, o João Salgado e o João Sebastião. Alguém acrescentou: “está faltando um que não é João, é o Ari”. Acho que este foi um dos dias mais felizes de sua vida. O Ari misturava uma velocíssima agilidade mental com uma incrível habilidade manual. Um receptor de rádio, um sapato zero km ou qualquer geringonça ele desmontava e os punha muitas vezes mais aperfeiçoados. Um dia ele pegou um relógio vagabundo e o transformou em automático.

 O Zé Sebastião, por sua vez, chegou a se achar tão inteligente como o João Sebastião, seu irmão. Infelizmente não era. O Zé tinha chegado de São Paulo, donde trouxera um omega de luxo, não automático. Ele falou que, se o Ari conseguira, ele faria com que aquela máquina perfeita ficasse automática. “Não faça isso”, todos disseram. Aí é que o Zé enfezou e a desmontou. O Lazinho Mendonça, seu auxiliar ainda menino, mexeu nas peças e na recontagem faltava uma. O Zé tentou recompor aquela joia, não conseguiu e começou a passar mal. A dona Linda pediu socorro ao Ari, que remontou o relógio e a máquina ficou melhor do que antes, mas sem a pecinha perdida. O João Salgado relatou isso à fábrica na Suíça e os técnicos de lá convidaram o Ari para repetir o conserto na Europa. Ele não foi porque sua esposa estava grávida. Pelos anos afora, a fábrica não conseguiu esclarecer o show do Ari.

Já o João Sebastião morreu aos 19 anos de apendicite supurada, embora operado pelo maior cirurgião de Minas, Borges da Costa. Faltou luz e nada pôde ser feito. Antes, o João, o Dr. Décio e outros foram ao Baeta Viana pedir para estagiar com o mestre, que era o maior cientista do Brasil.  “Quem aqui lê alemão?”, perguntou o Baeta. Ninguém. Ele emendou: “voltem quando souberem; e pela minha experiencia vão levar de um a três anos”. Apenas uma semana depois, o João Sebastião voltou. O Baeta não acreditou, mas teve de acreditar quando o jovem pegou um livro da estante ali atrás, traduziu o título e ia lendo o prefácio.  O João desapareceu do laboratório, o cientista mandou procurá-lo e lhe relataram a morte daquele gênio que o Brasil perdeu.

FOTO DO JOÃO SEBASTIÃO

quinta-feira, 13 de junho de 2024

 

MACHADO DE ASSIS EM INGLÊS TRADUZIDO POR UMA TRADUTORA BRASILEIRA

Posthumous Memoirs of Brás Cubas (translated also as Epitaph of a Small Winner), the ghost of a decadent and disagreeable aristocrat decides to write his memoir. He dedicates it to the worms gnawing at his corpse and, in 160 brief chapters, tells of his failed romances and halfhearted political ambitions, serves up harebrained philosophies, and complains with gusto from the depths of his grave. Wildly imaginative, wickedly witty, and ahead of its time, the novel has been compared to the work of everyone from Cervantes to Sterne to Joyce to Nabokov to Borges to Calvino, and has influenced generations of writers around the world.

This new English translation is the first to include extensive notes providing crucial historical and cultural context and also includes excerpts from previous versions of the novel never before published in English. KINDLE 2021

quarta-feira, 12 de junho de 2024

 

PRISÃO POR ATAQUES RACISTAS CONTRA VINI JR

10/6/24 (Redação Terra)

Três torcedores do Valencia foram condenados pela Justiça espanhola nesta segunda-feira, 10, por ataques racistas ao atacante brasileiro do Real Madrid, Vini Jr., durante jogo no ano passado. Eles foram sentenciados a oito meses de prisão, além de ficarem dois anos sem entrar em estádios de futebol e pagar multas. O presidente de La Liga, Javier Tebas, comemorou a sentença: "É uma ótima notícia para a luta contra o racismo na Espanha, pois repara os danos sofridos por Vinicius Jr. e envia uma mensagem clara para aquelas pessoas que vão a um estádio de futebol para insultar que a Liga irá detectar, denunciar, e haverá consequências penais para eles", afirmou, em comunicado ao jornal Marca.

 

DO MANOEL JACY PARA O JOÃO AMÍLCAR

Oi primo, boa tarde

Essa sua postagem sobre racismo no futebol me fez lembrar de um jogo do meu querido Galo x Cruzeiro. Antes o Cruzeiro tinha feito um jogo pela Libertadores em um desses países da América do Sul, onde os torcedores além de vaiar o jogador Tinga, imitavam macaco com gestos e vozes do animal, cena deprimente. Antes de iniciar o jogo, a torcida do Galão da Massa pegou no pé do Tinga e até ensaiou vozes racista, fiquei gelado, sabendo que a multidão tem comportamento de manada e infantilizada.

Eis que o Ronaldinho, vendo a situação, foi até onde o Tinga estava e o abraçou e foram abraçados rodar o campo, cumprimentando a torcida e daí foram só aplausos. ficou até bonito a mudança de atitude Fiquei aliviado. Salve e VIVA o Ronaldinho, pessoa maravilhosa. Ah ia me esquecendo: o Galo ganhou o jogo.

DO JOÃO AO MANOEL: ESTE REGISTRO GANHA IMPORTANCIA DAQUI EM DIANTE, PARABENS, ABRAÇÃO

segunda-feira, 10 de junho de 2024

 


TORCEDORES DO VALENCIA SÃO CONDENADOS À PRISÃO POR ATAQUES RACISTAS CONTRA VINI JR

10/6/24  (Redação Terra)

Três torcedores do Valencia foram condenados pela Justiça espanhola nesta segunda-feira, 10, por ataques racistas ao atacante brasileiro do Real Madrid, Vini Jr., durante jogo no ano passado. Eles foram sentenciados a oito meses de prisão, além de ficarem dois anos sem entrar em estádios de futebol e pagar multas. O presidente de La Liga, Javier Tebas, comemorou a sentença: "É uma ótima notícia para a luta contra o racismo na Espanha, pois repara os danos sofridos por Vinicius Jr. e envia uma mensagem clara para aquelas pessoas que vão a um estádio de futebol para insultar que a Liga irá detectar, denunciar, e haverá consequências penais para eles", afirmou, em comunicado ao jornal Marca.

sexta-feira, 7 de junho de 2024

 


APLAUSO A CARMEN E CLÁUDIA

João Amílcar Salgado

A mineira ministra Carmen Lúcia Antunes Rocha tomou posse como presidenta do Supremo Tribunal Eleitoral. Coincide que outra mulher, Cláudia Sheinbaum, de ideias e carreira similares, acaba de ser eleita a primeira presidenta do México, sendo que este país e o Brasil são as duas maiores nações da América Ibérica. Ambas estão diante de desafios nada tranquilizadores. O maior deles é a avassaladora expansão da comunicação coletiva, pervasiva em tudo, principalmente depois do reforço da inteligência artificial, cujos limites técnicos e éticos são desconhecidos. Como principais armas, as recém-eleitas prometem a denúncia também inteligente e o combate implacável contra a falsidade. A mendacidade dissimulada e o discurso de ódio estão a serviço dos piores interesses – e serão cada vez mais ferozes se o Brasil se aproximar do 7º PIB mundial.  Para isso será necessária criatividade infinita.

            Carnen Lúcia foi minha contemporânea na pós-graduação da UFMG, exatamente quando um grupo brilhante de docentes do direito buscava implantar sólido e respeitadíssimo direcionamento na área. Os Antunes lusos e brasileiros são figuras de projeção em muitas vertentes do saber e das artes. Sou ligado a eles desde a infância, pela amizade ao genial artista Jarbas Juarez Antunes, documentada em meu livro O RISO DOURADO DA VILA (2020). Inesquecíveis são seu tio Eurico César, fino humorista, e seu irmão Joaquim (Bembém), pioneiro documentarista ecológico.  Outro seu irmão, Júlio Bolivar, meu colega no ginásio, se casou com minha irmã Maria e me deu queridíssimos sobrinhos e sobrinhos-netos. Na medicina, dois fraternos amigos: o prefeito de Diamantina, João Antunes, colega de turma dos nepomucenenses Adauto, Alberto, Aprígio e Oscarzinho, que muito me ajudou na pesquisa da doença de Chagas, e meu próprio colega de turma Armando Gil, prodigioso discípulo de Baeta Viana.

segunda-feira, 3 de junho de 2024

 



NEPOMUCENO E OS GAÚCHOS

João Amílcar Salgado

Fiz uma conferência em Florianópolis e meus amigos da universidade federal de lá ficaram surpresos e emocionados, quando pedi que arranjassem minha visita à comunidade açoriana. Justifiquei: “sou descendente de açorianos vindos para Nepomuceno”.  Hoje acompanhamos a tragédia de Porto Alegre, cidade que começou, em 1752, com a chegada de 60 casais açorianos, sendo seu primeiro nome Porto dos Casais. Quando mudaram o nome para Porto Alegre, talvez não considerassem que os casais estavam ali provisoriamente, mas quiseram ficar em definitivo. Sim, depois da dificílima viagem, aquilo ali era um alegre paraíso: alimentavam-se, com o mínimo esforço, de pato, peixe e camarão da lagoa em frente. Entre os casais encaminhados ao sul, havia, por exemplo, Garcias e Corrêas, primos dos nossos.

A viagem até aqui significava dias e dias incrivelmente angustiados, em veleiros sucedâneos de barcos negreiros, de higiene e alimentação péssimas, principalmente para as mulheres, confinadas no porão, onde só entravam o capelão e o capitão. Adoeciam quase todos de diarreia, tosse e dermatoses, sendo o escorbuto o pior mal. Pelo menos dois navios naufragaram. Apesar do mundão de terras, as famílias, em vez de premiadas com sesmarias, recebiam sítios, onde deviam plantar trigo, cevada, hortaliças, uva e outras frutas, além de criar ovelha. Uma fruta era a laranja serra-dágua então chamada “da ilha” ou “ilhoa”.  O trigo não deu certo e passaram para o tabaco, o queijo, o boi e o porco, além das aves, como ocorreu aqui na Vila. A renda maior provinha do couro, da banha e do queijo. 

A diáspora açoriano-madeirense envolveu a suposição de que seus habitantes, descendentes de colonos ibéricos e flamengos, estavam pré-adaptados ao trópico. O encaminhamento ao sul era resultado do Tratado de Madrid (1750), conquistado pelo habilíssimo diplomata brasileiro Alexandre de Gusmão, que afastou a linha de Tordesilhas rumo aos Andes. Ele é irmão do também genial Bartolomeu de Gusmão, pioneiro aeronauta. Os migrantes vieram, também, para a reposição populacional do planejado massacre das reduções guaranis-jesuíticas (7 Povos), perpetrado, aliás, por bandeirantes, genocidas, dos quais descende gente da Vila, inclusive eu.