JOÃO
SEBASTIÃO E ARI ANTUNES – a Vila não pode esquecê-los.
João Amílcar Salgado
Eu
tinha 17 anos e me preparava para o vestibular. Então houve uma conversa, em
nossa farmácia, sobre as pessoas da Vila que lamentavelmente não tiveram
oportunidade de prosseguir depois do grupo escolar. Em dado momento o Ari Antunes disse que os
três homens mais inteligentes da cidade eram Joões: o João Vilela, o João
Salgado e o João Sebastião. Alguém acrescentou: “está faltando um que não é
João, é o Ari”. Acho que este foi um dos dias mais felizes de sua vida. O Ari
misturava uma velocíssima agilidade mental com uma incrível habilidade manual.
Um receptor de rádio, um sapato zero km ou qualquer geringonça ele desmontava e
os punha muitas vezes mais aperfeiçoados. Um dia ele pegou um relógio vagabundo
e o transformou em automático.
O Zé Sebastião, por sua vez, chegou a se achar
tão inteligente como o João Sebastião, seu irmão. Infelizmente não era. O Zé
tinha chegado de São Paulo, donde trouxera um omega de luxo, não automático.
Ele falou que, se o Ari conseguira, ele faria com que aquela máquina perfeita ficasse
automática. “Não faça isso”, todos disseram. Aí é que o Zé enfezou e a
desmontou. O Lazinho Mendonça, seu auxiliar ainda menino, mexeu nas peças e na
recontagem faltava uma. O Zé tentou recompor aquela joia, não conseguiu e
começou a passar mal. A dona Linda pediu socorro ao Ari, que remontou o relógio
e a máquina ficou melhor do que antes, mas sem a pecinha perdida. O João
Salgado relatou isso à fábrica na Suíça e os técnicos de lá convidaram o Ari
para repetir o conserto na Europa. Ele não foi porque sua esposa estava
grávida. Pelos anos afora, a fábrica não conseguiu esclarecer o show do Ari.
Já
o João Sebastião morreu aos 19 anos de apendicite supurada, embora operado pelo
maior cirurgião de Minas, Borges da Costa. Faltou luz e nada pôde ser feito. Antes,
o João, o Dr. Décio e outros foram ao Baeta Viana pedir para estagiar com o
mestre, que era o maior cientista do Brasil.
“Quem aqui lê alemão?”, perguntou o Baeta. Ninguém. Ele emendou: “voltem
quando souberem; e pela minha experiencia vão levar de um a três anos”. Apenas uma
semana depois, o João Sebastião voltou. O Baeta não acreditou, mas teve de
acreditar quando o jovem pegou um livro da estante ali atrás, traduziu o título
e ia lendo o prefácio. O João
desapareceu do laboratório, o cientista mandou procurá-lo e lhe relataram a
morte daquele gênio que o Brasil perdeu.
FOTO DO JOÃO SEBASTIÃO
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