CRIME DE MORTE NA SAÚDE
João Amílcar Salgado
Em
2009 fui um dos primeiros a contestar a criação dos cursos de biomedicina no
Brasil. Divulguei uma advertência contra a criação desse absurdo na UFMG. Dizia
então: “A biomedicina é uma grilagem ocupacional. Acabamos de tomar
conhecimento pela televisão de triste e inacreditável notícia: A UFMG ESTÁ
CRIANDO UM CURSO DE BIOMEDICINA! Se for verdadeira e se a diretoria da Faculdade
de Medicina e sua Congregação nada fizeram contra tamanha leviandade, então a
memória da instituição e das pessoas omissas estará irreversivelmente manchada.
Isso se aplica igualmente à Associação Médica de Minas Gerais, ao Conselho
Regional de Medicina, ao Sindicato dos Médicos e à Academia Mineira de Medicina
– extensivamente a cada um e a todos os respectivos membros.” Diante disso, os proponentes esperaram a
poeira baixar e, com o acovardamento do diretor Xico Pena, tal curso foi criado,
em 2010, na Faculdade de Farmácia da UFMG e outros tantos pelo país afora.
Restou
que minha advertência hoje equivale a melancólica profecia de lesões e mortes cometidas
por egressos instigados ao exercício ilegal da medicina. Exemplo é uma morte
que deveria ser abafada, mas chegou ao noticiário. Foi o assassinato da jovem
Iris Martins cometido pela biomédica Lorena Marcondes, em Divinópolis, em
8/5/23. A imprensa assinalou que o
Conselho Regional de Biomedicina admitiu que sabia, há mais de um ano, que a criminosa
trabalhava com procedimentos proibidos e confirmou que, apesar de constatar o
exercício ilegal da medicina, os fiscais não tomaram nenhuma atitude efetiva
para coibi-lo.
Como
historiador da medicina, afirmo que o exercício da medicina por não-médicos
sempre ocorreu em locais carentes de médicos ou com médico inacessível. Os
profissionais habilitados eram substituídos por boticários, barbeiros,
dentistas, veterinários, fisioterapeutas, esteticistas e curandeiros, com algum
ou nenhum treinamento. A autonomia da indústria de cosméticos, as novas
tecnologias, a população crescente de idosos sadios, a valorização da beleza feminina
e masculina, os procedimentos anti-obesidade, o transplante de cabelo e outros novos procedimentos
de cirurgia plástica multiplicaram as “trambiclínicas”, gambiarras mais do que
improvisadas, desprovidas de gente e recursos apropriados. Obviamente, desgraças
como a descrita continuarão acontecendo, sendo ocultada a maioria.
Os
cursos de biomedicina foram criados antes da indecorosa liberação total da
criação de cursos de medicina no Brasil e países vizinhos. Ora, depois destes aqueles
perderam o sentido. Cumpriria, pois, aos ministérios da educação, da saúde e do
planejamento a missão óbvia de disciplinar este fundamental setor profissional,
por exemplo transformando os cursos já existentes de biomedicina em cursos decentes
de medicina e reciclando seus egressos.
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