O LAND-ROVER DO PASSATA
João Amílcar Salgado
A
Vila foi considerada a terra do jipe, não só pela adesão do povo a este veículo, como substituto do cavalo, mas pelo sucesso,
aqui e fora, da capota-de-jipe inventada
pelo genial nepomucenense Dito Capoteiro (Benedito Barbosa). No auge do jipe,
qualquer filho de fazendeiro fazia sucesso com as moças, levando-as para uma
vortinha. O maior desejo do jovem Passata era fazer o mesmo, sonho algo
distante. Mas um milagre o bafejou, pois seu pai, o Luiz Barbeiro, se tornou
cabo eleitoral do Ademar de Barros. Este magnata mandou um caminhão de enxadas destinadas
a fisgar eleitores e, para melhor distribuí-las, veio com elas uma maravilha.
Era um jipe inglês chamado lendirrôve, que a Vila inteira passou a comparar com
o jipe comum. O Passata ficou embriagado desta vez de felicidade. As mães
passaram a gritar: tirem as crianças da rua que ele ainda não sabe dirigir! E as pessoas vinham vê-lo aparecendo pelas
esquinas, aos arrancos e guinadas. Lutando com as marchas daquela novidade, ele
próprio não conseguia apreciar os apreciadores.
Exatamente nesse dia a prefeitura abriu um buraco bem
grande na esquina entre o grupo-escolar e a santa-casa. Estávamos dormindo e
fomos despertados por enorme barulho. Era o lendirrôve com a metade dianteira emborcada.
Os passantes vieram acudir eventuais
feridos. O Passata, que devia estar ao volante, não estava. No banco dianteiro
direito estava a Curujinha, apenas de calcinha e sutiã, mas, em vez de exibir
algum trauma, ressonava. Tempos depois, recrutamos
apanhadores de café, e quem era um destes? A Curujinha. Perguntei a ela se se
lembrava do lendirrôve. E ela, com um suspiro saudoso: “eu se alembro, uai!...”
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