João Amílcar Salgado

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

 


O LAND-ROVER DO PASSATA

João Amílcar Salgado

A Vila foi considerada a terra do jipe, não só pela adesão do povo a este veículo,  como substituto do cavalo, mas pelo sucesso, aqui e fora,  da capota-de-jipe inventada pelo genial nepomucenense Dito Capoteiro (Benedito Barbosa). No auge do jipe, qualquer filho de fazendeiro fazia sucesso com as moças, levando-as para uma vortinha. O maior desejo do jovem Passata era fazer o mesmo, sonho algo distante. Mas um milagre o bafejou, pois seu pai, o Luiz Barbeiro, se tornou cabo eleitoral do Ademar de Barros. Este magnata mandou um caminhão de enxadas destinadas a fisgar eleitores e, para melhor distribuí-las, veio com elas uma maravilha. Era um jipe inglês chamado lendirrôve, que a Vila inteira passou a comparar com o jipe comum. O Passata ficou embriagado desta vez de felicidade. As mães passaram a gritar: tirem as crianças da rua que ele ainda não sabe dirigir!  E as pessoas vinham vê-lo aparecendo pelas esquinas, aos arrancos e guinadas. Lutando com as marchas daquela novidade, ele próprio não conseguia apreciar os apreciadores.

            Exatamente nesse dia a prefeitura abriu um buraco bem grande na esquina entre o grupo-escolar e a santa-casa. Estávamos dormindo e fomos despertados por enorme barulho. Era o lendirrôve com a metade dianteira emborcada. Os passantes vieram acudir  eventuais feridos. O Passata, que devia estar ao volante, não estava. No banco dianteiro direito estava a Curujinha, apenas de calcinha e sutiã, mas, em vez de exibir algum trauma, ressonava.  Tempos depois, recrutamos apanhadores de café, e quem era um destes? A Curujinha. Perguntei a ela se se lembrava do lendirrôve. E ela, com um suspiro saudoso: “eu se alembro, uai!...”

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