João Amílcar Salgado

terça-feira, 26 de agosto de 2025

 


NEPOMUCENO E BARRETOS

João Amílcar Salgado

        A região de Barretos era território dos índios caiapós que sofreram genocídio cometido pelos primeiros bandeirantes. Os índios coroados ocuparam seu espaço e sofreram genocídio igual. Em Nepomuceno, meu tetravô Manuel Joaquim da Costa Valle sabendo de área ficada devoluta e sendo dono de uma fortuna incalculável, mandou gente de sua família para ocupar parte das glebas. Sua neta Mariana de Souza Monteiro (terceira desse nome) nasceu na Fazenda da Lagoa em Nepomuceno, em 1829, casou-se com Francisco Angelo Rodrigues Airão, nascido na cidade de Campanha, e o casal foi para o sertão do Rio Pardo entre São Paulo, Minas e Mato Grosso. A fazenda que fundaram ali deu origem â cidade de Barretos.

segunda-feira, 18 de agosto de 2025

 


OS CHINESES TROCAM O CHÁ PELO CAFÉ OU BEBERÃO AMBOS?

João Amílcar Salgado

Houve um encontro internacional de ensino da medicina no Othon Palace, coordenado pelo meu notável ex-aluno Antônio Cândido de Carvalho, o Cancando.   Este eminente sulmineiro fez questão de servir um café finíssimo. O líder do ensino médico de Xangai provou e quis saber que coisa deliciosa era aquela. O Cancando me chamou para explicar-lhe, ressaltando que eu era cafeicultor. Ele então profetizou que a bebida concorreria com o chá em seu país.  Tempo depois foi noticiado que o consumo de café na China e na Índia está em forte crescimento junto à juventude urbana. A melhora das condições de vida em ambos os países causou o maior consumo do próprio chá e também do café. Se isso continuar acontecendo, os cafeicultores brasileiros seremos agraciados com incalculáveis milhões de novos adeptos de nossa bebida.

            Nos EUA aconteceu conversa semelhante, quando me pediram para falar ali do café de minha região. Fui muito franco ao afirmar que o seu país paga um preço alto por um café fino que não sabe consumir. E garanti que, quando aprendessem a beber aquela maravilha, o consumo que já é alto será muitas vezes multiplicado.

            Bem antes desse evento internacional, esteve entre nós, o cientista prêmio Nobel Alfred Gilman, autor clássico de farmacologia, quando se mostrou fã da nossa cachaça e de nosso café. Perguntei se tinha provado o nosso guaraná. “Vou provar urgentemente”, respondeu. Resumo dessa prosa: ele me convidou para escrever um capítulo sobre café, guaraná e cachaça na próxima edição de seu livro. Perguntaram-me, depois, sobre o capítulo e respondi que o convite tinha sido uma brincadeira.

quinta-feira, 7 de agosto de 2025

 



AINDA OUTRA DO 4D ANTECIPADO DA VILA

João Amílcar Salgado

Os filmes do Roy Rogers faziam mais sucesso na Vila por duas razões: somos fãs de cavalos e o ator era idêntico ao Marcly Vilela.  Qualquer pronúncia em inglês era anepomucenada: ele era o “Rói Roja” e seu cavalo palomino Trigger era “ou Tigre ou Trigue”. Grande emoção de todos foi quando o Trigger desamarrou o herói sequestrado pelos bandidos. O Guda era filho do Massaud, muito feliz por saber que seu caçula era companheiro inseparável dos filhos do Sargado. Pois bem, saímos da fita, o Guda veio conosco e perguntou: “Amirca, cê tem uma corda aí na sua casa? Cê vai me amarrá nesse poste, quí o trigue vem me desamarrá”. Amarramos o Guda e ficamos esperando. Como o cavalo não veio, fomos desamarrar o amigo. Ele ficou uma fera: “Me deixa aqui!!!”. Entrei e deixei o Zeca e o Marracarça vigiando o Guda: “Ele vai acabá durmino e aí cês sorta ele”. Os dois acabaram deitando no degrau e dormiram. Passava da meia noite, quando o Joca, irmão do Guda, vem vindo e encontra os três meninos dormindo, sendo que seu irmão dormia dependurado.

domingo, 3 de agosto de 2025

 


MARCELO GUIMARÃES – PARA ELE O PRÓ-ÁLCOOL SERIA OUTRO

João Amílcar Salgado

Entre as dezenas de ilustres Marcelos Guimarães existentes pelo Brasil, há um cuja memória deve ser preservada por todos nós. Aposentou-se da Petrobrás e foi morar num sítio em Mateus Leme. Ali inventou um mini-alambique supersimples capaz de produzir álcool ou cachaça com a pior cana-de-açúcar disponível. Eu disse a ele que um funileiro de Barbacena tinha tido a mesma ideia e ele respondeu: “então isso prova que o funileiro e eu achamos o rumo certo”.  Os pais do nosso motor a álcool são Stumpt e Vidal. Marcelo, porém, queria o álcool produzido em chácaras e sítios, como o dele, não só para uso próprio, mas a ser vendido livremente na beira das estradas. Isso causaria uma reforma agrária automática. Marcamos uma audiência com o recém-eleito presidente Lula e este disse: “Marcelão, vamos fazer esta revolução mais adiante, se eu fizer isso logo agora, as petroleiras me botam pra correr”. Importante, o sindicalista metalúrgico e o sindicalista petroleiro, também genial inventor, foram amigos fraternais do nepomucenense Luiz Fernando Maia.

sábado, 2 de agosto de 2025

 

MAIS UMA DE CINE 4D

João Amílcar Salgado

Muitos programas radiofônicos ou de tevê usam gravações de gargalhadas para remendo de humorismo sem graça. No folclore da Vila aconteceu isso e seu contrário. O protagonista era o Zé das Gatas. Ele adorava filmes cômicos. Só que sua gargalhada inestancável era um espetáculo à parte. Eu e minha turma resolvemos fazer de seu riso uma estudantada. Pagávamos sua entrada não só para ouvi-lo, mas para espicaçarmos seu tique incontrolável. Quando o fazíamos nas comédias, tudo bem. Se o filme era um dramalhão a plateia protestava, pedindo silêncio, que era impossível. Até que nos proibiram entrar com o Zé, quando o filme não era humorístico.

As Gatas eram duas irmãs brancas que adotaram uma criança negra, o José Borba, e o criaram como filho mimado. Foram, portanto, pioneiras contra a discriminação racial. O mesmo fez meu tio Demétrio que adotou meu querido primo, o Jair do Papai. Isso explica por que o Zé das Gatas se sentia tão feliz, a ponto de não refrear as gargalhadas. Em nossa farmácia, os amigos discutiam a origem das Gatas. Meu pai explicou: são mulheres refinadas que fazem parte de hipotética descendência do bandeirante Borba Gato.  Se o  Umberto Eco tivesse notícia disso tudo, ele incluiria no enredo de O NOME DA ROSA (1980) a incontinência gargalhante do Zé das Gatas.