João Amílcar Salgado

sábado, 2 de agosto de 2025

 

MAIS UMA DE CINE 4D

João Amílcar Salgado

Muitos programas radiofônicos ou de tevê usam gravações de gargalhadas para remendo de humorismo sem graça. No folclore da Vila aconteceu isso e seu contrário. O protagonista era o Zé das Gatas. Ele adorava filmes cômicos. Só que sua gargalhada inestancável era um espetáculo à parte. Eu e minha turma resolvemos fazer de seu riso uma estudantada. Pagávamos sua entrada não só para ouvi-lo, mas para espicaçarmos seu tique incontrolável. Quando o fazíamos nas comédias, tudo bem. Se o filme era um dramalhão a plateia protestava, pedindo silêncio, que era impossível. Até que nos proibiram entrar com o Zé, quando o filme não era humorístico.

As Gatas eram duas irmãs brancas que adotaram uma criança negra, o José Borba, e o criaram como filho mimado. Foram, portanto, pioneiras contra a discriminação racial. O mesmo fez meu tio Demétrio que adotou meu querido primo, o Jair do Papai. Isso explica por que o Zé das Gatas se sentia tão feliz, a ponto de não refrear as gargalhadas. Em nossa farmácia, os amigos discutiam a origem das Gatas. Meu pai explicou: são mulheres refinadas que fazem parte de hipotética descendência do bandeirante Borba Gato.  Se o  Umberto Eco tivesse notícia disso tudo, ele incluiria no enredo de O NOME DA ROSA (1980) a incontinência gargalhante do Zé das Gatas.

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