MAIS
UMA DE CINE 4D
João Amílcar Salgado
Muitos
programas radiofônicos ou de tevê usam gravações de gargalhadas para remendo de
humorismo sem graça. No folclore da Vila aconteceu isso e seu contrário. O
protagonista era o Zé das Gatas. Ele adorava filmes cômicos. Só que sua
gargalhada inestancável era um espetáculo à parte. Eu e minha turma resolvemos
fazer de seu riso uma estudantada. Pagávamos sua entrada não só para ouvi-lo,
mas para espicaçarmos seu tique incontrolável. Quando o fazíamos nas comédias,
tudo bem. Se o filme era um dramalhão a plateia protestava, pedindo silêncio,
que era impossível. Até que nos proibiram entrar com o Zé, quando o filme não
era humorístico.
As Gatas eram
duas irmãs brancas que adotaram uma criança negra, o José Borba, e o criaram
como filho mimado. Foram, portanto, pioneiras contra a discriminação racial. O
mesmo fez meu tio Demétrio que adotou meu querido primo, o Jair do Papai. Isso
explica por que o Zé das Gatas se sentia tão feliz, a ponto de não refrear as
gargalhadas. Em nossa farmácia, os amigos discutiam a origem das Gatas. Meu pai
explicou: são mulheres refinadas que fazem parte de hipotética descendência do
bandeirante Borba Gato. Se o Umberto Eco tivesse notícia disso tudo, ele
incluiria no enredo de O NOME DA ROSA (1980) a incontinência gargalhante do Zé
das Gatas.

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