O DESAGRAVO GENÔMICO AOS GENEALOGISTAS
João
Amílcar Salgado
Os historiadores
costumam-se dividir em quatro categorias: 1) os narradores, 2) os biógrafos, 3)
os genealogistas e 4) os intérpretes. Estes últimos costumam desdenhar os
demais, mas desprezam em particular os genealogistas, causa de atritos e
mágoas. Esta verificação é de especial importância em culturas totêmicas, como
em Minas Gerais, onde ignorar parentescos pode levar a vieses graves. Assim os
intérpretes em Minas se acomodam considerando genealogias sem confessá-lo.
Com
o advento do método de DNA para documentar parentesco, inclusive remontando a
milhares de anos, os paleontrópologos surgem como genealogistas
ultracientíficos, que, para profundo despeito dos historiadores-intérpretes,
estão aí para desagravar os humilhados e ofendidos. O mais pitoresco dessa
reviravolta é que os intérpretes posavam de mais científicos do que os demais,
por manipularem métodos tomados emprestados da sociologia, da psicologia e da
economia. Ora, tais ciências são inexatas em comparação à precisão bioquímica
da antropogenética. Assim, os genealogistas, escudados pelos novíssimos irmãos,
se sentem tão ultracientíficos quanto estes.
Nesta contenda entram como
mediadores os médicos-historiadores. É que pesquisadores em história egressos
da medicina têm percorrido as quatro categorias sem qualquer preconceito. Sua
desinibição decorre de provirem de território científico clássico, do qual,
aliás, emergiu a genética. Por outro lado, sempre compareceram como adeptos de uma
quinta categoria afim, a dos memorialistas, na qual é célebre o médico Axel
Munthe e o maior entre nós é justamente o mineiro, médico e historiador da
medicina Pedro Nava. Assim tudo
resultará numa conciliação geral, isenta de quaisquer esnobismos.
[TEMA APRESENTADO NO
CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA MEDICINA, EM SALVADOR, 2003]
ANEXAS FOTOS DO
RETRATO IMAGINÁRIO DE ADÃO POR ESTUDO DE DNA, AXEL MUNTHE E PEDRO NAVA