QUEM FOI TRUMP?
Quando vi e
ouvi o Trump pela primeira vez, minha reação foi lembrar-me do Reagan. Enquanto
este era sósia do nepomucenense Passata, Trump me evocou o Maluco Beleza.
Errei quando o supus apenas uma figura engraçada, mas logo percebi nele algo de
sinistro e ameaçador. Bem antes, em 1986,
eu estava nos EUA e, em conversa com um grande cientista, ouvi dele: Peço
a você desculpas por termos esta desastrada figura do Reagan como presidente;
ele é perigosíssimo, pode
acabar com a humanidade inteira; é muito mais perigoso que o
Nixon. Tenho vergonha de termos eleito esses dois bandidos para presidentes. Um
terceiro foi eleito em 2016.
Minha infância
foi vivida em plena 2ª guerra mundial e testemunhei a torcida de meu pai pela
derrota do nazismo. O italiano Ambrosio Tagliaferri dizia que nossa farmácia
era o Comando Aliado da Vila, onde todos tinham notícia das batalhas.
Meu pai admirava muito Franklin Roosevelt, garantindo que ele foi decisivo na
derrota de Hitler. Mais tarde, os assassinatos de John (1963) e Bob Kennedy
(1968) e de Luther King (1968), me mostraram a verdadeira realidade ianque. Esses
acontecimentos, somados à derrota norte-americana no Vietnã (1975), ao ataque
às Torres Gêmeas (2001) e à invasão do Capitólio (6-1-1921) hoje me levam a
retomar os estudos históricos, que comecei, ainda na universidade, sobre o
assassinato de Lincoln (1865).
Meu foco é a
contradição entre, de um lado, a ideologia libertária e igualitária da DECLARAÇÃO
DE INDEPENDÊNCIA DOS EUA (1776) e, de outro, a tríplice nódoa 1) da manutenção
da escravidão, 2) do genocídio indígena e 3) da diplomacia do big stick
contra os ibero-americanos. A melhor referência a esse persistente beco-sem-saída
foi feita por um brasileiro, Monteiro Lobato, no livro O PRESIDENTE NEGRO
(1926), em que prevê um negro como presidente dos EUA, profecia antecipada com
Barack Obama (2009-2017). Obama, por sinal, nasceu por influência da admiração
de sua mãe pelo ator brasileiro Breno Melo. Em 1980, em viagem aos EUA,
procurei dados dos estudos que, em Houston, comparavam as taxas diferenciais de
natalidade do país. Quase indignados, os pesquisadores responderam-me que eram
estudos sigilosos.
Muitos definem
o Trump como um extremista, negacionista e isolacionista, que usou muito bem a
comunicação coletiva, inclusive as fake news, para o DISCURSO DO ÓDIO.
Esta será uma definição imprecisa, se não for especificado o que significa esse
tal de discurso do ódio. A especificação consiste em que todo extremista
só será bom extremista se conseguir empurrar para o extremo oposto todas as
demais pessoas. Exatamente o apelo ao ÓDIO vem a ser o instrumento adequado
para assim constranger os que não participam de sua turma. Para espanto dos
historiadores, esse fenômeno obrigou o trumpismo a rotular de esquerdistas e
comunistas, desde o Partido Democrata, inclusive Joe Biden e Kamala Harris, os políticos
social-democratas europeus, especialmente Emmanuel Macron e Angela Merkel, até os
maiores magnatas do mundo, como George Soros, Bill Gates, Larry Page, Mark
Zuckerberg, Jack Dorsey e Elon Musk. Nesta lista seria inevitável incluir a
maior parte dos 614 bilionários dos EUA e a totalidade dos 456 bilionários da
China. Aliás, alguém tem de dizer ao Trump que o atual gigantismo da China, tão
temido por ele, foi ingenuamente iniciado e propiciado por Nixon e Reagan, dois
presidentes conhecidos pelo fanatismo anticomunista.