João Amílcar Salgado

terça-feira, 8 de novembro de 2022

 



FEMINICÍDIO EM 1437

            Em texto anterior falei de Linus Pauling e do caso de Coqueiral. Aproveito para relatar um feminicídio ocorrido há quase 600 anos, em março de 1437. Tal escândalo faz parte da história de um dos ramos de minha família. João Gonçalves Gomide, de volta de expedição real, soube da traição da esposa. Teve um acesso de fúria e assassinou Leonor Vaz de Albuquerque, bisneta do rei D. Diniz, com quem era casado, sendo genitores dos órfãos Isabel, Gonçalo, Lopo e Tereza. Isabel é mãe de Afonso de Albuquerque, vice-rei da Índia e temido entre os chineses como “Leão dos Mares”. O marido feminicida foi degolado em praça pública, em Évora, e os filhos foram proibidos de assinar o sobrenome Gomide, substituído pelo Albuquerque materno. Quem viajar a Lisboa deve visitar a mansão da família Gomide-Albuquerque, hoje museu Saramago.

            Pedro Álvares Cabral pertence ao tronco Gomide e pode ter sido comandante por influência de Afonso. Conforme Marcos Figueiredo, teve seu Álvares abreviado para Alves, subsistente nos Alves Vilela, Alves Carrilho, Alves Figueiredo, Alves Taveira, Alves Garcia, Alves Coutinho e outros, no Sul de Minas. Camões faria Afonso herói de Os Lusíadas, mas o substituiu por Vasco da Gama, por causa do episódio na família. Há quem indique ser a palavra Gomide derivada de Goldschmidt ou Goldsmith (ourives), neste caso pertencente à macro-linhagem Ferreira-Mendo-Meir.

            Em Nepomuceno, são Gomide os descendentes do casal Joaquim Alves Vilela e Amélia Ribeiro de Oliveira Costa (Correa Lima pela mãe).  Joaquim (Major Quinca) é filho (único do lado Vilela e meio irmão dos do lado Cardoso) de Laura Gomide. Assim, os Gomide da Vila são os Cardoso Vilela, Vilela Teixeira, Vilela Correa, Vilela Salgado  e parte dos Vilela Lima.

Em 20/9/2000 o jornalista Antônio Pimenta Neves assassinou a também jornalista Sandra Gomide - feminicídio clamorosamente impune e o segundo célebre, em séculos, na família Gomide.

quinta-feira, 3 de novembro de 2022

 


LINUS PAULING – SOU FÃ DELE DESDE VESTIBULANDO

João Amílcar Salgado

Citei o Pauling a propósito de meu conceito de muletas sucessivas em educação. Quero complementar com os demais dados de minha admiração por ele, por sinal ligada ao mundo farmacêutico. Para começar, ele e eu somos filhos de farmacêuticos. Fiz um estudo de importantes clínicos, cirurgiões e cientistas filhos de farmacêuticos ou que foram ex-aprendizes de farmácia. Muito do que aconteceu ao Pauling atribuo a isso. Por outro lado, fui aluno de química do farmacêutico Elias Murad, que, como eu, foi aluno dos maristas em Varginha e se formou médico na UFMG, no final de meu primeiro ano ali. Enquanto foi meu professor no Colégio Estadual e sextanista de medicina, morou na célebre República Nepomuceno da rua Tomé de Souza. Quando publicou seu livro didático de química, deduzi que ele nos trouxe a experiencia de Pauling como docente pré-universitário nos EUA. A partir daí acompanhei as façanhas do genial cientista ianque. Quando soube que Robert Oppenheimer veio parar em Belo Horizonte e verifiquei que ele trabalhou com Pauling, fiquei maravilhado. Ambos se tornaram pacifistas, mas se distanciaram, porque este desconfiou que o colega se apaixonara por sua esposa, Ava Helen. E não é que fato semelhante tinha acontecido aqui em Coqueiral, quando um compadre se apaixonou pela mulher do outro, mas neste caso foi morto. E coincidentemente este último era farmacêutico. Uma de minhas maiores alegrias ocorreu em 1962, quando Pauling recebeu um segundo prêmio Nobel. Recebeu antes o de química, em 1954 (exatamente em meu ano de vestibulando), e o segundo foi da paz. Ele teve um final de vida infeliz, pois uma indústria farmacêutica explorou sua perturbação senil, para fazer dele mero balconista de vitamina C.

 [Ver meus textos sobre filhos de farmacêuticos e sobre Oppenheimer em Minas.]

segunda-feira, 24 de outubro de 2022

 


TRIPLO TRIUNFO DE GANDHI SOBRE CHURCHILL

João Amílcar Salgado

 

Há sete anos, publiquei a seguinte comemoração intitulada DUPLO TRIUNFO DE GANDHI SOBRE CHURCHILL: “No livro O Riso Dourado Da Vila (2003, 2020), narro que meu pai, na época da guerra mundial, me fez admirador de Churchill e que mais tarde, ao ler sobre a vida de Ghandi, passei a desprezar Churchill, porque este se recusara a receber este líder defensor da independência da Índia. Simplesmente alegou que nada tinha a falar com um faquir semi-nu. Não muito tempo depois o arrogante político teve de aceitar a independência pela qual o pacifista lutava. Hoje, 14-3-2015, Ghandi completa seu triunfo sobre Churchill, pois nesta data é inaugurada no centro de Londres a estátua de Ghandi, bem perto da estátua em homenagem a Churchill.  Meu regozijo pelo fato me obriga a homenagear meu pai, que me fez entrar indiretamente neste enredo, e a homenagear os que tiveram a iniciativa da estátua, num momento histórico em que se faz urgente exaltar a grandeza da doutrina da não-violência, difundida mundialmente por Ghandi.” Hoje, 24-10-2022, faço nova comemoração, pois acaba de acontecer um terceiro triunfo de Ghandi sobre Churchill, com a eleição de Rishi Sunak, de origem indiana, para primeiro-ministro britânico.

 

 

 

 

domingo, 23 de outubro de 2022

 


EXAME NACIONAL DE RESIDÊNCIA (ENARE): COSMÉTICA INFELIZ

João Amílcar Salgado

Sou Ex-Coordenador de Pedagogia Médica da UFMG (disciplina obrigatória na pós-graduação da área profissional médica), Ex-Consultor CFE/CAPES para credenciamento de cursos de pós-graduação e Ex-Consultor OPS/OMS para o Cadastro Nacional de Escolas Médicas. Fiz parte e fui relator da primeira comissão para implantar a residência médica na UFMG, em 1971, depois de participar da implantação da residência médica no Departamento de Clínica Médica, no mesmo ano. 

Como historiador da medicina, apresentei várias vezes nas instancias referidas, o histórico da residência médica. Desde sempre, distingui a residência médica original, vitoriana, romântica, monástica, celibatária e liberal – da residência de consumo, do pós-guerra-mundial: mão-de-obra barata, assalariada, de mercado, de demanda e vigente nos EUA, donde passou a modelo para o mundo. Em minha tese de doutorado, caracterizei o fenômeno das muletas sucessivas, pelo qual cada etapa da educação passa a ser muleta da etapa anterior. De 1971 a 1984, a demanda de médicos qualificados fez concentrar na residência médica a esperança de que se tornasse uma muleta definitiva das precariedades da graduação. De 1984 até hoje esse tamponamento pedagógico não só não resolveu as precariedades crescentes, como culmina agora, em 2020-22, com a muleta máxima, aberração das aberrações anteriores, ou seja, a criação do exame nacional de residência médica.

Nos próprios EUA, o fenômeno da muleta educacional é, sem esse nome, congênito à inovação flexneriana de Johns Hopkins do ensino da medicina, a partir de 1876. A seguir foi estendido conceitualmente ao sistema educacional amplo por Linus Pauling, com base em sua experiência de docente ginasial. As “muletas sucessivas” podem ser referidas de modo menos duro, pelo conceito pedagógico de não-terminalidade das etapas, correlato ao fenômeno pelo qual cada etapa, em vez de terminal, é travestida de etapa iniciática à subsequente. A única vez que concordei com meu mestre Hilton Rocha, em pedagogia, foi quando ele espinafrou o coronel Newton Sucupira, na institucionalização equívoca da pós-graduação, durante a ditadura. Sucupira não pôde reagir, porque Hilton era oculista do general Golbery. A explosão dos cursos comerciais de medicina - com a diplomação de milhares de profissionais inseguros e o consequente colapso assistencial - só poderia resultar em uma confessada degringolada, representada pelo exame nacional de residência. Trata-se de desesperada tentativa de remendar o irremendável.

Apontem-me alguém do MEC que possa falar algo sobre isso. Talvez aqueles pastores ora processados por grossa corrupção?

sábado, 15 de outubro de 2022

 


HOMENAGEM AO ZICO LOURENÇONI

João Amílcar Salgado

Ainda em referência à família Lourençoni, presto aqui uma homenagem ao Zico, que disputou com seu irmão Luiz Lourençoni (meu tio e padrinho) o posto de maior amigo de meu pai. Excepcional administrador rural, escapava da lida para chegar a nossa farmácia e procurar alguém que o enfrentasse no jogo de dama. Na falta de um adulto, me chamava e dizia: “Cuidado! não me desmoralize como da outra vez!”. Seus contendores de fato eram o Alfredo Unes e o Zequinha Antunes. No fim das férias, o Vander me diz: “não compre o bilhete do ônibus, meu pai quer te convidar para irmos em nosso carro pra Belo Horizonte, ele falou que quer ir batendo papo com esse menino”. A viagem era porque o sobrinho Décio tinha marcado um check-up para ele. Durante o trajeto, ele me perguntou tudo sobre tudo. Pensei: este fazendeiro merecia ter chegado à universidade! Sua amizade por meu pai e seu carinho por mim deixaram marcas muito saudosas e muito profundas.

Esta foto foi-me ofertada pela grande amiga Teresa do Deca. O Joãozinho Meneis e ela moravam vizinhos na rua Nova (rua de cima ou João Inácio) e eram meus inesgotáveis historiadores comparsas.  Perguntei a ela se tinha foto do Felipe Capelo e família. Ela garantiu que tinha vários pacotes de fotos e me daria todos de presente. Por enquanto, me adiantou esta. Aí está provado que o casamento de Lourençonis com Salgados resultou em gente muito bonita. Onde estão os pacotes?

terça-feira, 4 de outubro de 2022

 LIÇÃO ANTI-RADICAL

João Amílcar Salgado


Fato muito curioso para os nepomucenenses aconteceu na eleição de 2/10/22. A família Lourençoni teve dois de seus parentes disputando o governo de dois Estados: Onix Lourençoni, no Rio Grande do Sul, e Renato Casagrande, no Espírito Santo. E é ainda mais curiosa a ideologia oposta de ambos: Ônix é direitista e Renato é esquerdista. Em meu livro O RISO DOURADO DA VILA, ora lançado em 2ª edição, descrevo a ONOMATOMANCIA NEPOMUCENENSE, que é o hábito de nossa gente de ver em qualquer um o sósia de outro. No caso dos dois candidatos, o dentista e historiador de memória genial, João Menezes Neto, apontou que Ônix e Renato eram coincidentemente sósias de dois irmãos Lourençoni: respectivamente Nivaldo e Nilson.  Esta é uma lição que nossa cidade dá ao Brasil, contra a polarização política.

 

NOSSA VILA E OS DOIS CENTENÁRIOS DA INDEPENDÊNCIA

João Amílcar Salgado



        Hoje, 30/9/22, finda o mês dos 200 anos de nossa Independência, que comemorei lançando a 2ª edição de “O RISO DOURADO DA VILA”.  Carlos Amílcar teve a feliz ideia de fazer o lançamento, entre várias boas opções, no ótimo ESPAÇO SANTÉ CASARÃO. Coincide que este prédio se liga à comemoração, em Nepomuceno, dos 100 anos da Independencia, descrita no livro. Na festa do centenário na Vila, se envolveram o dono deste palacete, minha mãe e meu avô. O dono Antenor Barbosa, ilustre farmacêutico por Ouro Preto, compareceu ao Rio, e na exposição comemorativa foi premiado com a criação do medicamento SANALGINA. Minha mãe, com apenas 15 anos, também foi ao Rio e se maravilhou com a festança. Já meu avô, o educador João de Abreu Salgado, então diretor do Grupo Escolar Coronel Joaquim Ribeiro, e o pároco padre José Domingues comandaram a comemoração municipal, minuciosamente transcrita em meu livro “NEPOMUCENO – SÍNTESE HISTÓRICA”.

Em “O RISO DOURADO” lembro que minha mãe, Evangelina Alves Vilela (Vange, futura nora de Salgado) e sua prima Antonieta Correa Lima (Caixinha) ficaram hospedadas em luxuoso hotel carioca. As jovens não conheciam a luz elétrica. O gerente alertou-as para não deixar de apagar a luz durante a noite. Como apagar a luz?  Ambas subiram num móvel e ficaram soprando a lâmpada. Cansadas de tanto soprar, afinal pediram ajuda.