João Amílcar Salgado

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

 


PENITENCIO-ME DE LAMENTÁVEL OMISSÃO

João Amílcar Salgado

            Publiquei sobre as historiadoras do Sul de Minas e enumerei apenas 4. São em maior número, mas uma querida amiga foi omitida, imperdoavelmente. Trata-se de Eneiva Gláucia Souza Franco e seria grave injustiça deixá-la fora daquele grupo ilustre. Devo a ela o imenso favor de me ter colocado em contato com minha estimadíssima prima Maria José de Pádua Duca, inesquecível educadora e poetisa. Gláucia é a principal historiadora da cidade de Campestre. Ficou conhecida pelo livro PEDRO JOSÉ MUNIZ – HISTORIA, GENEALOGIA E MEMÓRIAS, em 2001, e publicou recentemente o tão aguardado MEMÓRIAS DE CAMPESTRE (2022, 2v).

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

 


EMINENTES HISTORIADORAS DO SUL DE MINAS

João Amílcar Salgado

O Sul de Minas prima por ter mulheres eminentes como historiadoras, sem as quais nossa crônica secular seria bem menos rica. Desejo tecer loas a quatro delas: Denise Garcia, Angela Lagoa, Sílvia Buttros e Celeste Noviello cujas investigações têm sido de valor inestimável para mim.

Quando fui informado pelo ilustre e enciclopédico odontólogo João Menezes Neto - querido garcia-frade de minha infância e juventude - de que sua prima Denise, de Campo Belo, publicaria um livro sobre essa gente legendária, me exultei. E ela escreveu uma obra já clássica: OS GARCIA FRADES (1990). Acrescento que, entre seus familiares, admiro o completo ortopedista Edson Neves e o célebre anatomista Otaviano Neves.

Quando fui informado por meu douto e meticuloso mestre Romeu Caiafa de que sua colega e prima Angela Lagoa estava levantando tudo sobre os Ferreira de Brito trespontanos, passei a aguardar os resultados com incontida ansiedade, os quais me chegaram como dádiva valiosíssima. O Romeu me indicou outra colega e prima à mesma altura, Sílvia Buttros, que, entre tantas preciosidades, retirou das sombras o fantástico Salvador Furtado de Mendonça, os peculiares Prados da Escaramuça e os surpreendentes Fleming sulmineiros - entre eles o Sílvio Fleming, meu colega nos maristas. Tive o privilégio de ser professor de seu irmão, meu amigo e excelente psiquiatra Wagner Buttros.

Já a Celeste Noviello  me foi apresentada por seu irmão Maurício, meu ex-aluno, colega de docência na UFMG e também ex-interno marista. Seu domínio é a história de São Gonçalo do Sapucaí - onde encontramos um estudante inconfidente e um barão assassinado por um médico, mas principalmente é o lugar umbilical dos queridíssimos pai e irmãos Ibraim de Carvalho. Esta condição singular a entroniza no alto da historiografia desta Minas, que são muitas.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

 QUE AGRADÁVEL NOTÍCIA!!!!!

Do primo Manoel Jacy Vilela Lima
para mim, 6/2/23,
Boa noite primo,
de um paciente,angolano que operei, ganhei de presente um fruto do imbuzeiro, como é conhecido em Angola o Baobá, Fiz algumas mudas com as sementes e um imbuzeiro está na fazenda em Tombos. Felizmente livre deo geadas, mas os animais adoram as folhas e o coitado é perseguido
[PRETO, NÃO ANGOLANO]

domingo, 5 de fevereiro de 2023

 


A LEGENDA DE MEU BAOBÁ PROSSEGUE

João Amílcar Salgado

     Antoine de Saint-Exupéry, aviador e pensador francês, escreveu o livro O PEQUENO PRÍNCIPE, em 1943, em plena segunda guerra mundial. Na década seguinte, o livro fez sucesso no Brasil e foi através dele que muita gente ficou sabendo que existia uma árvore chamada baobá. Eu era bibliotecário do diretório estudantil do curso médico e tive de adquirir múltiplos exemplares do pequeno livro, que nos traz esta parábola poética e filosófica. Outro autor de sucesso então era Jorge Amado e ele nos revelou o universo afro. Neste, Jorge fez brilhar Pierre Verger, fotógrafo e etnógrafo francês, que adotou a Bahia como pátria, inclusive a religião dos orixás. Outro que adotou essa crença foi o seleto poeta e compositor Vinícius de Moraes.  

            Quando criei o Centro de Memória da Medicina de Minas Gerais, passei a procurar um consultor em medicina afro. Encontrei o Geraldo André da Silva e perguntei-lhe que seria necessário para tal função. Ele foi direto: faça este Centro me enviar à África. Ele foi e ficou estagiando com um sacerdote da mais pura religião angolana. Quando voltava, perguntou que devia trazer para mim, como agradecimento. Fui direto: uma muda de baobá. Quando ele chegou, tremi de emoção, ao receber a muda de uns 30 cm. Era inacreditável:  mas André, é proibido entrar no avião com isso! De fato, ainda lá, foi avisado da proibição. Voltou a seu guru, que lhe arranjara a muda. Este disse: eu encantei a muda, já está encantada, pode levar ao doutor que ele a vai receber. A muda passa por um fiscal na entrada do avião, que não a vê. Viaja no colo do portador, sem que ninguém da tripulação e dos passageiros a perceba. E desce em Belo Horizonte do mesmo modo. Coloquei-a sobre o cimento de meu quintal e, quando olho, a raiz já havia penetrado o cimento. Havia crescido mais do que eu esperava. Para levar a Nepomuceno, foi necessária uma caminhonete. Mandei o motorista ajeitar a muda na carroceria e, quando chego, ele tinha esqueletizado a árvore, alegando que era para ela suportar o vento...  Pensei: agora ela está morta... Mesmo na certeza de que estava perdida, plantei-a carinhosamente. E não estava morta. Encantada, está lá, cada vez maior, sob as bençãos de meus ancestrais angolanos e do Padre Vítor.

***

Há dois anos tivemos terrível geada e o baobá morreu, talvez atingido também por um raio. Dei a triste notícia ao André e ele pareceu engolir em seco, mas perguntou a data. Exclamou: “Então isso coincidiu com a morte de meu mestre lá na África”. A seguir me consolou: “Espera aí, o espírito dele acaba de me dizer que brotará”. Continua encantado, rebrotou agora, depois da chuvarada. Vejam as fotos.

 

segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

 


YANOMAMIs & PRESBITERIANOS

João Amílcar Salgado

Em meus livros  “O RISO DOURADO DA VILA” (2020), “NEPOMUCENO – SÍNTESE HISTÓRICA” (2013) e na monografia “OS ALVES VILELA E OS VILELA” (2021), teço altos elogios aos presbiterianos. Grande decepção sofri diante do escândalo do pastor Milton Ribeiro (28/3/22) e agora deparo, na imprensa, com estarrecedora notícia, infinitamente pior. O governo anterior transferiu R$ 872 milhões à Missão Caiuá, uma ONG presbiteriana - para que cuidasse de indígenas.  Com o lema “A serviço do índio para a glória de Deus”, a Missão gastou R$ 52 milhões destinados ao povo Yanomami, só em 2022, alugando aeronaves de garimpeiros   A missão é composta da Igreja Presbiteriana do Brasil, a Igreja Presbiteriana Independente do Brasil e a Igreja Indígena Presbiteriana no Brasil.  Entre as causas da atual inaceitável tragédia padecida pelos Yanomamis são apontados o abandono deliberado sobretudo das crianças, o garimpo criminoso com intoxicação por mercúrio, o estupro de suas mulheres, a ocupação impiedosa de suas terras, o desmatamento, o incêndio proposital e a corrupção dominante. Diante disso estamos aguardando o posicionamento oficial dos presbiterianos nos EUA, no Brasil e em nossa região.

 

terça-feira, 24 de janeiro de 2023

 


MANDEMBO, O CAFÉ E O ADAUTO

João Amílcar Salgado

Além de estar na história da medicina pelo primeiro procedimento extracorpóreo brasileiro, o Adauto Barbosa Lima foi pioneiro no café de cerrado e no café irrigado.  A fazenda de sua família chama-se Mandembo. MANDEMBO, TRUMBUCA, MINDURI e GUAXUPÉ são localidades de nossa redondeza, que receberam de nossos indígenas o nome das abelhas nativas predominantes em cada qual. O sul de Minas é conhecido como paraíso do mel silvestre, desde Antonil (1681). Pois bem, o Mandembo ficou conhecido pelo café finíssimo. Mesmo assim, o Adauto quis irrigá-lo e os fazendeiros iam lá ver para crer. Já para o café de cerrado, ele nos procurou. Trouxe técnicos aqui e disseram que o melhor lugar da Vila para a novidade na cafeicultura era nosso cerrado. Ofereceu preço excepcional e, se não quiséssemos vender, deveríamos plantar, que ele assessorava. De fato, deu-nos ótimo produto. Esse nosso planalto foi cobiçado também para base aérea e para rodovia. Fomos procurados pela FAB porque estavam com um projeto para a região. Ficaram de voltar e não voltaram. Já a rodovia passaria por ali rumo a Três Pontas e dali a Boa Esperança. O Aureliano exigiu que passasse por Santana da Vargem e foi então pior, porque atravessou outra de nossa área, no atual trajeto.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2023


 


LEMBRANÇAS PERMANENTES DE MEU PRIMO ADAUTO

João Amílcar Salgado

Espero que alguém da família escreva um livro sobre os BARBOSA LIMA. Até lá, me antecipo relatando minha convivência com essa gente querida. Menciono de início a viúva dona Sinhaninha (Ana), nossa vizinha de frente que, quando nasci, a toda hora atravessava a rua para me aconchegar em seu colo. Mais tarde, lá vinha ela com papéis para que eu conferisse números, justificando: “tenho absoluta confiança na aritmética desse menino”. Tão rica! e nunca me pagou pela contabilidade... Mais tarde, me chamava para fazer-lhe um exame clÍnico e dizia o mesmo de minha medicina. Quando estudei os Vilelas conclui que ela era uma Vilela autêntica e brilhante. Como pioneira empresária feminina, foi êmula da Sinhá Junqueira. Todos os Vilela-Barbosa são raça inteligentíssima. Seu filho José também me fazia de consultor em mercado de grãos e gado. Já o Vavico foi meu padrinho e guru. Se tivesse curso superior, seria sumidade acadêmica, simplesmente enciclopédico. Deixou seu jipe 54 para mim, mas o Renato disse que precisava dele.  E as filhas Chiquita, Tiana e Odete eram como irmãs de minha mãe, aliás primas pelo Lima e pelo Vilela. O Odilon, por sua vez, era sósia físico e psíquico do tio Lela.

A primeira lembrança que tenho do Adauto foi em 1946, quando ele, seu primo Oscarsinho (Resende Negrão de Lima), meu tio Aprígio e o Alberto Sarquis se reuniram em nossa farmácia para planejar a formatura dos quatro, naquele ano. Outra lembrança foi quando o jovem médico montou seu cavalo de raça em nossa porta. O cavalo, que estava vadio, empinou e o Zé Piraquara o sofreou pela barbela. Mais uma: ele chegou num carrão luxuoso e os frequentadores da farmácia ficaram estatelados de ver que, no banco de trás, vinha um bezerro chiquésimo, presente de riquíssimo fazendeiro, grato pelo atendimento da filha. Certo dia, no colégio marista varginhense, fui chamado do internato para requintado almoço com meu tio, a dona Sinhaninha e o Adauto, este chegado de Nova Iorque. Quando fundamos o jornal O ELO, ele nos fez derramado elogio e prometeu colocar tudo num texto, que não nos chegou. Em um aniversário em BH, o Sebastião Sampaio, catedrático da USP, disse que estava encantado com minha prosa, mais ainda porque meu modo de falar era idêntico ao de grande amigo dele. Eu disse que não precisava dizer quem era, “seu amigo é o Adauto Barbosa e a semelhança vem de que somos primos”. Ele então me deu um caloroso abraço. Outro colega dessa mesma turma de 46 estava na diretoria da faculdade da UFMG, apaniguado da ditadura - era o Tancredo Furtado. No Clube Pinheiros, em São Paulo, ele  bate papo com o Adauto e o Oscarzinho, dizendo-se angustiado com a pressão do general Campello para que neutralizasse os subversivos locais. Afirmou que um estudo pela técnica Delphi revelara que os mais ameaçadores cérebros da UFMG eram da medicina: Angelo Machado, Marcos Mares Guia e João Amílcar. Seu problema era que os dois primeiros foram para o ICB e o último ficou na faculdade, mas era o mais terrível. Os primos Adauto e Oscar danaram a rir: “Tancredo, deixe de ser bobo, fique tranquilo, o João é nosso primo, não tem nada de perigoso, muito pelo contrário!...”