AS ELEIÇÕES NO
CFM E A TRIFURCAÇÃO CORPORATIVA
João Amílcar Salgado
Na década de
50 do século 20 foi efetivada a separação das corporações profissionais
brasileiras em associações, conselhos e sindicatos. A única corporação que continuou atuando de
forma unificada foi a Ordem dos Advogados e se atribui a este fato o prestígio
político e moral que a OAB ostenta conservar e que as demais perderam. Fiz
minuciosa pesquisa sobre as razões pelas quais a corporação médica tão
facilmente abriu mão do prestígio assegurado, justamente quando governava o
país um médico, JK, e outro médico, Clóvis Salgado, era seu Ministro da
Educação. Ambos sofriam feroz oposição da UDN, partido da quase totalidade dos
médicos – situação análoga à polarização atual, entre negacionistas dominantes
e a relativa minoria de fiéis à ciência. JK chegou a ser expulso da Associação
Médica de MG.
A trifurcação
corporativa em SINDICATO, que cuida dos direitos, em CONSELHO, que cuida dos
deveres, e em ASSOCIAÇÃO, que cuida das demais prerrogativas, decorre
diretamente da ganância crescente da medicina de consumo, causa de danos irreparáveis,
quer ao interesse dos próprios médicos, quer ao das comunidades a que governo e
profissionais devem servir.
Como mostrei
em texto anterior, o projeto de Tancredo Neves para a saúde e a educação foi
substituído, sob Sarnei, pelo favorecimento privado. Isso causou imediata
avalanche de faculdades de fim-de-semana, a cada esquina e ainda em grotões
e países vizinhos - aureamente
financiadas por famílias ávidas de filhos-doutores. Os médicos assim produzidos
só poderiam ser clinicamente inseguros, receitadores pelo Google. Compreensivelmente
optaram por escapar da insegurança pela fresta do rápido enriquecimento financeiro,
alcançado através de criativos artifícios. Surgiu então a paradoxal junção
entre o baixo-clero clínico, simbolizado na Doutora Cloroquina, e o
alto-clero financeiro, exemplificado no quarto homem mais rico do país.