João Amílcar Salgado

quinta-feira, 10 de abril de 2014

DOMINGOS DA SILVA GANDRA
Foi o mais radicalmente autêntico em nosso grupo

João Amílcar Salgado
            Quando o reitor Marcelo Vasconcelos Coelho criou, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o Núcleo de Assessoramento Pedagógico da Faculdade de Medicina, no final de 1971 (com trabalhos iniciados em março de 1972), ele não sabia que estava dando origem a uma realização histórica no ensino superior no Brasil e também singular no mundo. Domingos da Silva Gandra chegou ali, naquele grupo multidisciplinar, como representante do Departamento de Ciências Sociais da universidade e logo passou a ser admirado e respeitado entre os demais. Logo nos falou de sua pesquisa sobre o preconceito anti-lepra (dois anos antes defendera a tese A LEPRA – INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO FENÔNMEO SOCIAL DA ESTIGMATIZAÇÃO, 1970) e sobre o educador argentino Juan Cesar Garcia, seu amigo pessoal, apontado por ele como a maior autoridade mundial em ensino médico.
          Tal equipe contou com a participação, entre outros, do psicólogo Célio Garcia, do dentista Eugênio Vilaça Mendes, da psicóloga Marília Mata-Machado, da socióloga Celeste Carvalho, da pedagoga Ceres Ribeiro e do médico Aloisio Sales Cunha. A livre troca de idéias entre todos e o Domingos me fez concluir que seríamos um grupo original, capaz de transformar o ensino, mesmo sob a ditadura vigente. É claro que éramos vigiados pelos dedos-duros espalhados por toda a universidade, mas não tivemos maiores obstáculos por duas razões: fomos específicos na questão do ensino e contávamos com as costas largas do reitor Marcelo Coelho. Esse trabalho, do modo como foi desenvolvido, revelou-se único em vários aspectos e está bem documentado em livros: SITUAÇÃO DO ENSINO DA MEDICINA NA UFMG (levantamento inicial, 1972), DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DO ENSINO DE MEDICINA  NA UFMG – RELATO DE PESQUISA (1973), O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO CURRICULAR EM EDUCAÇÃO MÉDICA NA UFMG (1976) e ENSINO DA MEDICINA NO BRASIL E EM MINAS GERAIS (2013).
            A proposta era simples: 1) fazer um diagnóstico do ensino, usando metodologia que permitisse resultados comparáveis a investigações já realizadas ou em andamento, no Brasil e no mundo; e 2) manter total independência da reforma da educação superior, imposta em 1968 pela ditadura. Com os resultados concluídos até 1974, aprovou-se que, em vez de submetidos a órgãos decisórios, os dados subsidiariam mudança educacional decidida democraticamente. Para que a ditadura não inviabilizasse iniciativa tão ousada, Gandra, apoiado em suas relações com peritos da Organização Panamericana de Saúde, órgão da Organização Mundial de Saúde (OPAS-OMS), consultou-a sobre possíveis assessores desta agência para esse processo decisório. A OPAS aceitou enviar o peruano Carlos A. Vidal, competente, mas muito cauteloso diante das circunstâncias. Foi então que fomos claros: aceitamos também o Vidal, mas queríamos nada menos do que Juan César Garcia. Houve a tentativa de negar o pedido, mas advertimos que, se isso acontecesse, denunciaríamos a agencia por submissão à ditadura. E o que parecia impossível aconteceu. Garcia, vetado pela CIA, veio. Ele ponderou que a metodologia adotada pela OPAS-OMS era de seminário restrito e de caráter apenas consultivo. Respondemos que o seminário programado era irrestrito, aberto a docentes, estudantes e funcionários, além de paritário entre estes e de caráter decisório. Garcia, sendo quem era, concordou por conta própria. Disso resultaria a eleição direta e paritária para diretor da faculdade e a eleição direta e paritária para reitor, sendo que a primeira arrastou Tancredo Neves para a campanha das “diretas-já”.
            Vale ressaltar que a OPAS-OMS antes nos enviara o chileno Manuel Bobenrieth para um seminário realizado em 1969, preparatório da implantação do cuidado progressivo do paciente no hospital das clínicas da faculdade, de que resultou o primeiro CTI em modelo completo do país, em 1971. As discussões do seminário afinal subsidiaram a mudança educacional iniciada a seguir, de tal modo que foram duas presenças convergentes e felizes para a UFMG, a de Bobenrieth e a de César Garcia. Bobenrieth trabalhou também na Espanha e Vidal na Argentina. Garcia e Gandra faleceram demasiado cedo.
            No México, em convenção da ALAFEM, em 1979, indiquei aos cubanos Juan Cesar Garcia para assessorar a reforma de seu ensino médico, e este parece ter sido seu último trabalho. Nesse encontro, representantes de outros países me perguntaram por que não indiquei o Domingos Gandra. Respondi que a ditadura brasileira não o perdoaria. A seguir Gandra fez parte da banca examinadora de meu doutorado. Propus defender uma tese sem nenhuma referencia bibliográfica, intitulada CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA RELAÇÃO ENTRE REALIDADE DE SAÚDE E ENSINO MÉDICO (1981). O colegiado da pós-graduação duvidou que fosse possível compor uma banca que concordasse com isso e seus membros ficaram na expectativa de que a tese fosse rejeitada. Mas a banca ficou composta por Domingos Gandra, Oder José dos Santos, José Geraldo Dângelo e Carlos Ribeiro Diniz, sendo orientador Luiz de Paula Castro. Nas últimas cadeiras do auditório, excepcionalmente repleto, viam-se componentes do Serviço Nacional de Informações da universidade. Uns eram notórios e outros causaram surpresa, como um docente que era coronel-médico da polícia militar e que compareceu de uniforme militar. E essa banca, desafiando o arbítrio, não só aprovou a tese, como aplaudiu sua originalidade e a classificou de histórica.
            A última mas não a menor participação de Domingos Gandra nesta audaciosa experiência pedagógica foi participar do ensino de semiologia médica do novo currículo. Vários de nossa equipe de inovadores esperavam  que ele fosse expulso do ambiente hospitalar, por se intrometer ali, onde insistia em questionar, junto a estudantes, docentes e funcionários, aspectos antropológicos da relação médico-paciente. Foi exatamente o contrário que aconteceu. Tornou-se acatado e admirado e, mais que isso, vários professores, funcionários e estudantes pediram-lhe marcar hora para conversa em separado, na qual ele acabava sendo uma espécie de guru ou conselheiro e até terapeuta.
            O professor João Galizzi vinha sendo desafiado a escrever um manual de SEMIOLOGIA MÉDICA, que tinha tudo para ser obra magna, segundo opinião unânime. Dizía-se que seria uma espécie de continuidade fiel ao livro clássico de Francisco de Castro. Infelizmente o livro não foi finalizado. De qualquer modo, naquele ambiente de inovação, sua equipe se entusiasmou com a obra e vários chegaram a esboçar os capítulos que escolheram. Não sei se Domingos Gandra chegou a rascunhar o seu. Só sei que seria um texto verdadeiramente original, admirável e permanente.
O autor é professor titular de Clínica Médica e pesquisador em História da Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais


ADELMAR CADAR
Este homem realizou algo maravilhoso em favor dos médicos
João Amílcar Salgado
            Adelmar é belorizontino e diplomado na turma de 1951 de médicos da UFMG. Além de excelente otorrinolaringologista, ele é turfista, atleticano e escritor humorístico. Em seu livro DIÁRIO DE UM MÉDICO (1998), entre outras preciosidades, há o registro da história do hipódromo de Belo Horizonte e do Clube Atlético Mineiro.
            A turma de 51 foi rica de médicos competentes: Aspásia de Oliveira Pires, Delcides de Oliveira Baumgratz, Délio Menicucci, Evandro Cunha Melo, Helênio Enéas Coutinho, João José Kingma, José Fernal Bicalho, José Monteiro Magalhães, José Rodin Peret, José Urbano Figueiredo, Milton Machado, Milton Pimenta Figueiredo, Nelson Salomé, Nívia Nohmi, Pedro Cardoso, Washington Tafuri e Wilson Mayrink. Destes, além de Adelmar, convivi de perto com Delcides, Helênio, Kingma, Fernal, José Monteiro, Peret, Salomé, Nívia, Tafuri e Mayrink, sendo que o irmão de Urbano, de nome Antônio, casou-se com minha tia Cotinha Salgado.
            Adelmar foi o terceiro presidente do Jocquey (1979-82) na sequência de gestões que sucederam ao célebre José Maria Alkimin. Curiosamente um de seus vice-diretores chamava-se Amilcare de Carolis. Colaboraram com sua administração Aécio Cunha, Camilo Teixeira da Costa, Celso Azevedo, Fábio Fonseca, Israel Pinheiro Filho e José Maria Magalhães. O hipódromo chegou a 250 cocheiras e integrou a Comissão Nacional dos Criadores do Cavalo Nacional de turfe. As instalações da vila hípica eram adequadas e muito higiênicas, inclusive piscina para os animais. Certo dia encontrei-me com o Cadar e disse que meus filhos queriam ver os cavalos de perto. Respondeu: leve-os e serão recebidos com honra: designarei um amarra-cachorro ou melhor um amarra-cavalo para ficar a manhã inteira com  suas crianças.
               Ao falar do time do Atlético, ele sentencia, medicamente: Não existe atleticano sadio: são todos doentes e incuráveis. O clube foi o primeiro da capital em 1908 (três anos antes da escola médica que diplomaria Cadar). Por essa época, o afluxo de imigrantes sírio-libaneses fez surgir o Esporte Sírio Horizontino, que teve o mérito de em 1922 iniciar o confronto interestadual, hospedando seu irmão paulista, o Sírio Paulista, para jogar com o campeão América. O goleiro dos visitantes era Athiê Jorge Cury, mais tarde presidente do Santos de Pelé. Já o presidente do Horizontino era Antônio Cadar, pai do Adelmar, que impressionou os paulistas, em banquete no Grande Hotel, quando pediu a seu amigo Pedro Aleixo para saudá-los.  Com a extinção do Horizontino, a torcida se transferiu ao Atlético, acompanhando seu principal craque, Said Paulo Arges, além dos atletas Eduardo Abras, Paulo Cury e Mauro Patrus. Said formou com Jairo de Almeida e o estudante de medicina Mário de Castro o Trio Maldito de atacantes temidos por qualquer adversário.
Famílias sírio-libanesas mineiras passam a ser identificadas com o Atlético. O sócio número um é João Salomão, primo da mãe de Cadar,  Rosinha Salum. Os Kalil, Cury, Simão, Patrus, Lasmar, Kumaira,  Hadad e outros participam da direção do clube. De minha parte, trabalhei ao lado do ortopedista Abdo Arges Kalil no hospital da previdência estadual, enquanto Aziz Abras foi sócio de Francisco Lima Filho, meu parente, e Paulo Cury foi craque universitário, ao lado de meu primo Marcly Vilela, em Alfenas. A propósito, Maurício Kalil, meu querido colega de turma e um dos melhores humoristas que conheci, me confidenciou que os Kalil são metade gente do deserto e metade descendentes de Gengis Kahnm, e que o Arnaldo Elian procede das fraldas do monte Ararat.
Este preâmbulo é para mostrar as condições que Adelmar Cadar reuniu para  dirigir, com extrema audácia, o Boletim do Centro de Estudos do Inamps. Ele se reuniu com o excelente administrador em saúde José Luiz Verçosa para discutir como bem utilizar a novíssima gráfica do então INAMPS (Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social). Ouviram o citado professor Arnaldo Elian e concluíram que bastava pedir ajuda ao clínico e cientista Luiz de Paula Castro.  Este, com sua equipe, cuidaria de rechear o boletim da instituição com textos de atualização médica de alta qualidade. O Luiz nos pediu as atualizações e como já as publicávamos num modesto boletim dirigido aos professores de medicina mineiros, fizemos a contraproposta de transformá-lo  em bem cuidado periódico. Os textos em inglês seriam traduzidos por estudantes de medicina pagos pela fundação Kellogg, a partir de dois periódicos: THE MEDICAL LETTER e DRUG AND THERAPEUTICS BULLETIN. Cadar, o principal responsável, disse: a indústria farmacêutica manda no governo, vai pressionar e até pedir minha demissão, mas até que enfim vamos fazer algo que contraria a mentirada de sua propaganda. Como as publicações originais eram dos EUA e da Inglaterra e a referida fundação estava envolvida, a indústria farmacêutica teve dificuldade em agir contra Cadar.
O The Medical Letter On Drugs And Therapeutics é um boletim bissemanal criado em 1958 por Arthur Kallet e Harold Aaron, ligada à União dos Consumidores nos EUA, também editado em francês e italiano. Foi por, certo tempo, traduzida ao espanhol e, graças a Adelmar Cadar, ao português. O Drug and Therapeutics Bulletin é publicado mensalmente, desde 1962, pelos especialistas do British Medical Journal. Hoje ambos estão na internete. Nosso BOLETIM DE MEDICAMENTOS E TERAPÊUTICA foi uma seleção desses dois boletins e distribuído mensalmente a todos os médicos mineiros, por meio do endereço fornecido pelo Conselho Regional de Medicina. O que a indústria farmacêutica, na ditadura, não conseguiu diretamente o novo governador Newton Cardoso, na abertura democrática, obteve, certamente por pressão dela. Em 1987 seus auxiliares nos comunicaram que a gráfica passou a seu controle. Pedimos que prosseguissem publicando o boletim sob a direção de Cadar. Disseram que, ao contrário, cada número teria de ser aprovado pela cúpula do governo estadual e Cadar seria substituído por um médico-político, para nós totalmente alheio aos mínimos aspectos científicos da medicina. Foi assim que findou o Boletim.
Houve um vão clamor dos médicos, principalmente os atuantes no interior, que já estavam dependentes das atualizações seguras, por quatro anos. Adelmar Cadar, o herói dessa notável façanha, merece as mais altas homenagens de nossa autêntica medicina, que, graças a homens tão bravos como ele, talvez subsista a tanta ignorância e a tão desrespeitoso cinismo.

O autor é professor titular de Clínica Médica e pesquisador em História da Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais

sábado, 18 de janeiro de 2014

IZAO CARNEIRO SOARES
Erudito e romântico cultor da história da medicina
            O médico Izao Carneiro Soares é exemplo definitivo da eficácia dos congressos de historia da medicina promovidos anualmente desde 1997. Sem isso não teríamos possibilidade de sequer ficarmos sabendo da existência e das atividades desta notável figura da medicina brasileira. Ele criou em Ribeirão Preto, SP, o museu Abrahão Brickmann e o Instituto Homeopático François Lamasson. Logo em nossos primeiros encontros percebemos nele a satisfação de verificar  a ausencia de preconceito dos historiadores da medicina para com a homeopatia. Ao contrário, observou que nosso apreço é igual por todas as correntes da medicina, senso lato. De sua parte também ele conquistou a todos por sua erudição e por sua alma de artista. Só de ser homeopata, esperantista e museólogo seu perfil romântico está plenamente confessado. Seu trabalho sobre a biografia e a autobiografia de  Samuel Hahnemann é consulta obrigatória para qualquer estudioso da medicina européia do século 19. Teve acesso a preciosos documentos e visitou cada lugar da vida do fundador dessa corrente homeopática, que sempre deve ser estudada em comparação com outras correntes homeopáticas, sobretudo as não-européias. 
Outro dote deste homem incomum é o musical. Sua voz de cantor é similar à de Nelson Gonçalves, sendo fã incondicional de Noel Rosa. Em 1910, em Patos, MG, ele homenageou os cem anos do ex-estudante de medicina Noel, que sendo Rosa, tem parentes em Minas. O genial sambista chegou a morar com uma tia em Belo Horizonte, onde tentou curar sua tuberculose, que o matou aos 27 anos.
Isao nos propôs um estudo do possível parentesco  entre Noel Rosa e João Guimarães Rosa, sendo que Noel começou a estudar medicina no ano seguinte à formatura de João em 1930. Ouçam o doutor Isao cantando um samba de Noel, composto sob inflencia do curso de anatomia, no qual mistura artérias e veias:


quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

BODAS DE OURO DE PEDRINHO E IVANILDE
O Zé Dingo era um alfaiate popular em Nepomuceno pelo seu fraseado brincalhão. Hoje é frequentemente lembrado por causa de dois de seus filhos: a Mariana e o Pedrinho. A Mariana teve poliomielite, doença que causou pânico na Vila e trauma à menina de quatro anos, que era muito bonita. Todas as consequências de sua paralisia ela própria relata em livro que tem importância tanto como depoimento humano, como parte da história da cidade e ainda por ser uma página da historia da medicina brasileira. Enquanto a Mariana herdou as habilidades do pai em confecções de tecido, tornando-se reconhecida pioneira da alta costura em Belo Horizonte, o Pedrinho herdou dele o senso de humor, que refinou com intensa hilaridade e pela memória de fatos, paisagem e tipos nepomucenenses.
A alcunha Dingo integra a lista de apelidos curiosos de Nepomuceno. Parece que o povo preferiu chama-lo assim porque, sendo filho do Joaquim Inácio da Silva, foi registrado com o sobrenome Santos da mãe (Mariana Umbelino dos Santos), ficando com o nome formal de José dos Santos. Na Vila devia haver vários josés dos santos, então foi mais prático tratar o jovem de Dingo. O estudo de sua ascendência permite verificar que poderia receber os sobrenomes Prado, Anastácio, Barbosa ou Vilela. As terras nepomucenenses, após a eliminação dos quilombos, chegaram a ser virtualmente concedidas à família Prado, como recompensa oferecida pelo governo da província pela missão cumprida. Os Prado, entretanto, só se interessavam por lavras de ouro e rapidamente se desfizeram do gigantesco latifúndio.
A esposa do Zé Dingo era a Felicinha, queridíssima por toda a gente da Vila. Seu nome era Felícia Alcântara, filha do casal Pedro e Filomena Vital e a mãe desta era a dona Claudina, que o povo tratava por Sá Colodina.  Filomena é irmã da Maria Bárbara, que veio a casar-se com o ex-ourives Manoel Cardoso, daí resultando a estimada família dos Cardoso. Manoel foi trazido de Campo Belo pelos campobelenses capitão Menezes e Conego Menezes. Estes o guindaram de ourives a tabelião. Nos limites entre Nepomuceno e Campo Belo já preexistia um ramo dos Cardoso, que resultaria na abastada descendência dos Cardoso Garcia.  
Já o Pedrinho se casou com a Ivanilde, que, por celestial coincidência, descende de Ribeiros de Entre-Rios de Minas, mostrando que a guapa moçada do casal (Tamara, José, Marcos, Ariadne e Ivana) é consanguínea dos Ribeiro, dos Lima e dos Costa da Vila. Assim como a Mariana se tornou escritora, o Pedrinho poderia também ser autor de um livro, o qual seria precioso acervo do famoso humorismo nepomucenense. Seus primos José Ramilc Vilela e Maria Ilcram Vilela estão dispostos a digitalizar seu anedotário, com o apoio entusiasmado da bela e inteligente Ana Paula, filha da Mariana.

Em 15-12-13 deu-se a inesquecível festa das bodas-de-ouro de Pedro e Ivanilde, evento transbordante de emoção e de confraternização, atestadas pela foto anexa.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

LANÇADO EM PALMAS, TOCANTINS, O LIVRO ENSINO DA MEDICINA NO BRASIL E EM MINAS GERAIS - NO 18º  CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTORIA DA MEDICINA.
O CONGRESSO DESTE ANO (6 a 9-11) FOI REALIZADO EM PALMAS, ENTRE OUTRAS RAZÕES, PELO FATO DE QUE NA CIDADE DE PORTO NACIONAL, VIZINHA A PALMAS, ACONTECEU A MAIS NOTÁVEL EXPERIENCIA DE MEDICINA COMUNITÁRIA DO BRASIL, GRAÇAS AO CASAL EDUARDO E HELOÍSA MANZANO.

            Os dois venerandos heróis compareceram a um emocionado encontro com os historiadores da medicina de todo o pais. Os congressistas tiveram oportunidade não só de ouvir deles sua façanha, como de visitar o local onde esta se deu.  O livro ENSINO DA MEDICINA NO BRASIL E EM MINAS GERAIS, de João Amílcar Salgado, mostra que a crise atual da saúde entre nós, poderia ter sido evitada se o exemplo do casal Manzano tivesse sido amplamente seguido.

            Por outro lado, a presença de tais historiadores no jovem Estado do Tocantins, acaba sendo simbólica, como um apelo a que a  seriedade e a lucidez sejam retomadas, conforme já presentes no passado da medicina e da saúde, no país. Esta região, composta de contingentes de todos os confins da nação, está pujante de promessas de que ali se desenvolva, com harmonia e paz, os fundamentos de um país futuro - tão sonhado e tão merecido pela grande maioria brasileira..

sábado, 19 de outubro de 2013


NO DIA DO MÉDICO DIA 18-10-13 FOI LANÇADO O LIVRO ENSINO DA MEDICINA NO BRASIL E EM MINAS GERAIS DO CONHECIDO ESPECIALISTA EM PEDAGOGIA MÉDICA JOÃO AMÍLCAR SALGADO DA UFMG. O LIVRO ESTÁ DISPONÍVEL NAS LOJAS DA COOPMED E NA COOPMED VIRTUAL

sábado, 24 de agosto de 2013

JOÃO GALIZZI
Retilíneo em ciência e ética; paladino da melhor relação médico-paciente

João Amílcar Salgado
João Galizzi, Romeu Cançado e J. B. Greco estão definitivamente na história da medicina brasileira como líderes dos discípulos que passaram, a partir do final da década de 30, a aplicar na clínica médica os princípios científicos de seu mestre, o bioquímico Baeta Viana.  Esta corrente representou um salto de qualidade na assistência médica, não só em Minas mas no Brasil, inclusive com a pioneira interiorização da tecnologia laboratorial simplificada.  Galizzi foi catedrático de Clínica Propedêutica na Faculdade de Medicina da UFMG, onde suas lições de Semiologia Médica, ministrada com o auxílio de seguidores fieis, formou multiplicadores docentes e não-docentes, em sucessivas gerações,  todos testemunhas de que nessa disciplina foi recebida a estrutura nuclear de suas reconhecidas competências.
Essa capacitação nuclear foi depois estudada na busca de critérios de avaliação educacional para além da prova-de-múltipla-escolha - e que fossem coerentes com a inovação educacional implantada em 1975. Daí surgiram os requisitos da relação estudante-paciente efetiva e do conceito de realidade curricular. De tudo isso se concluiu que o curso anual ministrado pela equipe do professor João Galizzi foi a principal trincheira de qualidade que evitou a derrocada completa do ensino de cinco anos, adotado de 1965 a 1975.  Afinal se determinou que do período formal de cinco anos resultava um sofrível currículo real de menos de dois anos.
            Tais estudos só foram feitos pela disponibilidade de subsídios coligidos por  gente da equipe do professor João Galizzi. Foi um grupo coeso que, acrescido de outros entusiastas, se constituiu em raro aglomerado de clínicos interessados em pedagogia médica. Esse fato merece ênfase, pois o ensino da medicina vinha sendo monopolizado por vários especialistas, com notória ausência de internistas, o que não passou de grave erro. No caso, sanitaristas, psiquiatras, legistas e pedagogos-não-médicos cederam lugar a clínicos e cirurgiões, logo transformados em coordenadores do processo de desenvolvimento curricular, entre 1972-85. Essa experiencia influenciou toda a educação médica brasileira, sendo considerada uma das quatro vanguardas internacionais no ensino pós-flexneriano.
Outra característica marcante da equipe galizzeana foi o intercâmbio com centros de ciência médica no país e principalmente estrangeiros.  O deslocamento de seus integrantes teve a peculiaridade multilateral de buscar indistintamente fontes inovadoras,  no ensino, na pesquisa e na clínica, tais como na Grã-Bretanha, França, Alemanha, Espanha, Estados Unidos, Canadá, África do Sul, países vizinhos da América do Sul, México e Cuba. Sou testemunha do prazer inexcedível que um pai pode sentir, quando, no Hospital Royal Free de Londres, nosso Galizzi ouviu as melhores referencias a João Galizzi Filho, externadas por Sheila Sherlock, a maior hepatologista do mundo. Não foram elogios de conveniência, pois seu filho retornou ao Brasil para ser o maior hepatologista brasileiro. A propósito, lembro que o professor Derek P. Jewell nos convidou para participar de uma reunião clínica. No final me perguntou como era o ensino em nossa faculdade, pois já estava impressionado com os Galizzi, pai e filho, e agora também, na discussão daquele caso, com mais dois:  Luiz de Paula Castro e eu.
A produção científica ligada a João Galizzi também é amplamente sabida. Em sua Cadeira veio trabalhar o gastrenterologista alemão Rudolf Schindler, a maior autoridade mundial em endoscopia digestiva alta e criador do gastroscópio flexível. Em conseqüência, o grupo de cientistas que no Hospital das Clínicas hoje pesquisa a úlcera péptica e doenças correlatas é líder no Brasil e reconhecido internacionalmente. Por outro lado, foi em seu Serviço que se fez estudo completo  da primeira doente descrita da doença de Chagas, reencontrada em 1961, o qual integra seleto conjunto de contribuições ao conhecimento da patologia regional brasileira. Ao mesmo tempo, um sonho de João Galizzi e de sua equipe deixou de ser realizado: a redação daquele que seria o melhor livro de Semiologia Médica do país foi interrompida nos capítulos iniciais. O perfeccionismo do mestre causou a suspensão do projeto.
Demais, no meio universitário brasileiro, João Galizzi foi por décadas respeitadíssima referência no rigor da linguagem médica e na estrita observância ética, seja no ensino e na pesquisa, seja na atenção clínica. Assim, este cavalheiresco artífice da melhor relação médico-paciente, este campeão da compostura profissional - além de co-fundador de associação de classe e de associação especializada - foi o milagroso conciliador entre o ceticismo metódico derivado de Baeta Viana e a mais permanente tradição hipocrática, sendo que desta extraiu surpreendente e popular didática aforismática.  Conciliação que, na devoção à música, se repetiu entre Wagner e Bach, no que, aliás, foi honrosamente precedido por Schweitzer.

Finalmente cumpre dizer que, por trás do varão clássico tão querido de estudantes e colegas, sempre foi possível percebê-lo curioso de sua circunstância existencial. Esta fez dele o homem culto incapaz de esconder o entrechoque da ascendência luso-mineira com a herança greco-latina – ainda mais com a obrigação de ser herói, ao lado de Aleijadinho, da cidade de Congonhas. Tal inquietude fez também dele uma das influências decisivas na criação e no enriquecimento do Centro de Memória da Medicina de Minas Gerais, a última mas não a menos importante das irradiações de sua invulgar personalidade.