João Amílcar Salgado

sábado, 30 de agosto de 2014

ANÁLISE DO DEBATE DOS PRESIDENCIÁVEIS EM 26-8-14
João Amílcar Salgado
Qual é o espectro ideológico dos aspirantes presidenciais que debateram na tv em 26-8-14? A petista Dilma, os ex-petistas Marina, Luciana e Eduardo, bem como o ex-brizolista Levy, poderiam ser taxados de mais ou menos esquerdistas. Aécio poderia ser considerado centrista e ficaria para o engraçado pastor Everaldo o rótulo de direitista.  Se isso é fato, tal  espectro deve ter sido decepcionante  para âncoras da extrema direita, como José Roberto Guzzo,  Reinaldo Azevedo e Arnaldo Jabor, que, diante de tais presidenciáveis, concluirão que o país lhes foi surdo, fazendo vã sua feroz doutrinação na mídia. Só lhes restará o apelo a militares eventualmente extremistas.
Afora esta curiosidade, minha apreciação é mais abrangente. Ao contemplar os candidatos e ao acompanhar o debate, de que gostei bastante, deixo de lado o rótulo ideológico simplificado, para explorar as características de nosso populismo esquerdista – que vem atropelando com folga aquele insignificante e desnorteado esquerdismo residual, sobrevivente à ditadura.
Tenho vários amigos hoje partidários do Aécio. Quase todos vinham expressando feroz condenação ao bolsa-família. Quase todos, completavam o veemente anátema por apelidá-lo darwinisticamente de bolsa-preguiça. E não é que tais amigos estão sendo obrigados a engolir o Aécio anunciando não só manter como expandir o bolsa-família? Se Dilma vê Fernado Henrique em Aécio, Tancredo veria a UDN na tucanagem.
Eu era admirador de Mário Covas e acreditava em sua lisura, tanto que, com as denuncias contra seus auxiliares, subornados no metrô dele, sugiro reabrir o caso das mortes de Ulisses e Severo. Minha hipótese é que Covas teve suspeitas do que aprontavam e pediu a Ulisses e Severo para investigar. Deviam estar investigando quando morreram. Como covista, acompanhei a criação do PSDB, ao lado do Buduca (Carlos Becker), e cheguei a ajudar na UFMG o início da administração  do prefeito Pimenta. Neste início, os tucanos eram socialistas democráticos. Acabaram stripers neoliberais. Cardoso enganou Habermas e Mitterand, mas não enganou Florestan.
Por outro lado, fiz parte, junto com Dario Tavares e outros, da preparação dos governos estadual e federal de Tancredo, que nunca deixou de ser getulista de esquerda, apesar de incompatibilizado com Brizola. Ele admirava nossas inovações na faculdade de medicina, apoiou nossa greve em plena ditadura e essa afinidade foi fator de sua entrada na Campanha das Diretas. Tais inovações em educação e saúde  seriam aproveitadas nacionalmente, caso houvesse a posse e o governo Tancredo Neves. Estão escondendo isso do Aécio? 
Acontece que os governos federais, a partir de Sarney, Color e Itamar, primaram pelo desmonte de cada uma de nossas conquistas e impediram a sustentação da inovação mineira.  Sarnei, trêmulo diante da prepotência de Margareth Thatcher e de Ronald Reagan, passou a fazer o contrário de tudo o que Tancredo ia fazer, particularmente favorecendo as universidades católicas em detrimento das federais. Itamar, que, por pressão de denúncias mineiras, acabou com o corrupto Conselho Federal de Educação, quando voltou a Minas para ser governador, teve atitude oposta para com o Conselho Estadual de Educação – e o resultado é o horripilante desastre que aí está, de uma escola de medicina a cada esquina e a importação emergencial de médicos. 
Tudo isso tornou ininterrupto o sucateamento das universidades públicas, o corte orçamentário e o rebaixamento salarial, transformando os hospitais universitários em caricaturas assistenciais. Agora mesmo está acontecendo aquilo que seria antes impensável: a USP está leiloando seus excelentes hospitais universitários.  Mas o principal malefício foi o vilipêndio da educação e da saúde, convertidas em covil de gente gananciosa, obcecada com o lucro a qualquer custo, sob o comando perverso de apedeutas encastelados em organizações crescentemente milionárias, ornadas com quase todas as características do crime organizado.
As perspectivas mundiais pareciam melhores após Bush. Logo tudo voltou a piorar e hoje estamos assistindo crimes e mais crimes contra a humanidade, principalmente indizíveis atrocidades contra as crianças.  Já a América do Sul, antes infelicitada pelo triste trio neoliberal Menem-Fujimore-Henrique Cardoso, viu emergir, em reação, o trio populista Evo-Chaves-Lula. Ambos os trios exibem, em comum, olímpica indiferença pela saúde e pela educação. Seus sequazes acharam de bom tom mostrar que acompanham a tendência mundial. Se Thatcher foi copiada na Alemanha por Angela Merkel, os daqui inventaram a versão esquerdo-populista do neo-tatcherismo de Merkel com o trio Dilma-Kirchner-Bachelet, todas três descendentes próximas de europeus. Cristina, como num tango, se inspira em quem mais odeia (Thatcher); já Bachelet rima com Pinochet enquanto Dilma é uma sinhá-braba modernosa. Mas há os radicais que querem que tais mulheres sejam substituídas por versões indígenas sul-americanas. Já que o trio Evo-Lula-Chaves é fortemente indígena, o Brasil, como líder, se antecipa com Marina.
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sábado, 23 de agosto de 2014

Ceprocamp em Campinas, em 28-8-14, 19:00

Nepomuceno guarda invejável tradição educacional, que transborda pelas cidades vizinhas e alcança Belo Horizonte, Ouro Preto, Viçosa, chegando até as cidades paulistas de São Paulo, São Carlos, Ribeirão Preto e Campinas. Ambrosina Castelar, nossa querida Zizina, é a nepomucenense adotiva que ora lança seu livro A PESQUISA E A TECNOLOGIA NA FORMAÇÃO DOCENTE (Ceprocamp, Campinas, 28-8-14, 19:00). Estaremos virtualmente ali presentes, entre os que aplaudirão entusiasticamente a autora, Aplauso não apenas à obra tão importante nestes momentos decisivos para o Brasil. Aplauso também à inteligência, à cultura e à simpatia dessa notável mulher.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

UTILIDADES OPORTUNAS  DA COPA:

1 - QUEREMOS QUE A SEGURANÇA PREPARADA PARA A FIFA SEJA MANTIDA AGORA PARA O POVO

2 - QUEREMOS NÃO SÓ A DEMISSÃO DO FELIPÃO, MAS TAMBÉM A DEMISSÃO DE TODA A CÚPULA DA CBF
BOLINHO DE ESPINAFRE COM OVO – IGUARIA NEPOMUCENENSE
Leila Lobo Faria Salgado
Cleusa Lourenço
Evangelina Salgado
1. Um molho de espinafre picado como couve
2. Cebolinha e salsinha picadas como couve
3. Uma cebola ralada
4. Um ovo
5. Uma pitada de pó-royal
6. Uma xícara de queijo ralado
7. Uma xícara de farinha de trigo
8. Pimenta malagueta, se quiser
9. Misturar tudo

10. Retirar a mistura com uma colher, colocando separadamente cada colherada  para fritar em óleo não muito quente

segunda-feira, 7 de julho de 2014

GUILHERME CABRAL


Os familiares e amigos do Prof. Dr. Guilherme Cabral Filho estamos em profundo pesar por seu falecimento. Sendo o mais eminente neurocirurgião de Minas, nasceu sulmineiro de Muzambinho e se fez uma das mais proeminentes figuras do distinto clã Vieira da Silva – Ferreira de Brito, povoador da região. Além de pertencer ao mesmo clã, me liguei a ele desde os primeiros dias na Faculdade. Ele tinha sido o primeiro no vestibular do ano anterior e veio ser meu monitor de histologia, ao lado de Ângelo Machado. Logo me juntei a ele, ao Marcos de Mares Guia e ao Emir Soares na aprendizagem da língua alemã. Depois de sua volta da Alemanha, fomos, pela vida toda, colegas de docência na UFMG. Num carnaval não muito distante, a Leila (muito amiga da Solange, sua esposa) e eu fomos passear em sua fazenda, com um grupo de companheiros, em convivência inesquecível. Tenho certeza de que a Sociedade Brasileira de Neurocirurgia vai fazer-lhe a mais justa e a melhor das homenagens. 

terça-feira, 1 de julho de 2014

CATAÇÃO  DE  RISCO

João Vinícius Salgado
João Amílcar Salgado

Na cidade sulmineira de Nepomuceno, logo após a ditadura Vargas, a tensão política ficou alta. Era a conseqüência natural do entusiasmo pela redemocratização. Assim se reuniram as condições para que um dentista, Sílvio Veiga, e um farmacêutico, João Salgado Filho, caracterizassem uma entidade clínica: a CATAÇÃO-DE-RISCO. 
O Sílvio Veiga entrou de cheio na disputa eleitoral, dirigindo o jornal 29 de Outubro. Dirigia também o serviço de alto-falante onde o locutor era o Nadinho-do-Sô-Bem. O Nadinho leu: - Soubemos que o delegado Júlio Lima andou dizendo que nosso  serviço de alto-falante é bobagem, já que a prefeitura de Nepomuceno é um abacaxi. Nosso diretor, dr. Sílvio Veiga,  responde que, se é abacaxi, deve ser um muito doce, porque o dr. Rubem Ribeiro chupou esse abacaxi durante  quinze anos e não largou um minuto
Depois dessas e outras, o Sílvio chega à farmácia do Salgado e diz estar alarmado com ele próprio. Não conseguia andar sem evitar pisar nos riscos do passeio. O farmacêutico deu-lhe um frasco com drágeas de complexo de vitamina B (remédio em moda), dizendo que, depois da medicação e das eleições, o aguerrido odontólogo estaria ótimo. Quinze dias depois, o Sílvio voltou, porque a coisa piorou. Agora era o  contrário: só conseguia caminhar se fosse catando os riscos para pisar neles. 
- Salgado, você já leu em algum livro sobre estes sintomas, que será o que eu tenho?  - Já li sim, se você começou catando os riscos  para evitar pisá-los e agora os está catando, exatamente para pisá-los, o diagnóstico está completo! -  E que doença é essa? - Já foi muito estudada e não é grave, chama-se CATAÇÃO-DE-RISCO, cada um de nós, alguma vez na vida,  já catou risco – continue com a vitamina...
Tempos depois, o filho do farmacêutico, então estudante de medicina, acompanhava sua tia em  consulta ao professor Lucas Machado.  - Que a senhorita sente?  - Ah doutor, estou numa catação de risco danada! - O quê?!..., a senhorita está no quê?!... 
E o estudante teve de dar uma aula ao consagrado mestre sobre a endemia nepomucenense.  Ele ouviu de olhos arregalados, achou tudo interessantíssimo e acabou recordando que a expressão não lhe era estranha. De fato, tinha várias clientes nepomucenenses.
O Sílvio Veiga, depois de ter parado de catar risco, perguntou onde o Salgado lera sobre catação-de-risco. O farmacêutico, que era um tremendo humorista, disse que nada ainda havia sido publicado e nem o nome da doença constava de livro ou revista. Mas, para provar que aquilo não era pura invenção, citou o caso mais impressionante de catação-de-risco de que tivera notícia. Ocorreu no consultório do Dr. Matias de Vilhena, que foi o maior clínico de São Paulo e era campanhense.
Um homem chegou para consultar porque, dia e noite, parecia ter um passarinho dentro do ouvido. O minucioso exame revelou que não havia lesão, nem no ouvido, nem no cérebro. Mesmo assim, o hábil médico disse que ia operá-lo e deu-lhe um remédio para dormir.  Quando o paciente acordou,  o doutor estava com um passarinho na mão e lhe disse: Agora o senhor está livre deste bichinho!
Para surpresa do próprio Dr. Vilhena, o homem ficou de fato completamente curado.  Passados cinco anos, o clínico encontrou, por acaso, o ex-cliente e, por ser muito escrupuloso, sentiu necessidade de revelar seu truque. Contou-lhe que aquilo fora simulado. Resultado: o passarinho voltou a cantar no ouvido do pobre coitado...
            Recentemente o filme MELHOR IMPOSSÍVEL ganhou o Oscar, exibindo vergonhoso plágio, pois o ator Jack Nicholson vive ali personagem atormentada por quadro literal de catação-de-risco. Pelo enredo, ele é um novaiorquino que se vale da catação para blindar o coração contra a ternura.  Diante disso, o eminente cirurgião e clínico José Maria Veiga Azzi, sobrinho do Sílvio, e os presentes autores, neto e filho do farmacêutico, estão estudando como entrar com processo de direito autoral contra os produtores da fita.
Mais recentemente, também, o Guga, tenista brasileiro campeão do mundo, apareceu no vídeo evitando pisar nos riscos da quadra, ao sair de um jogo. Tal catação-de-risco explica a inconstância de seu desempenho E não é a primeira vez que nossa gente é remedada, pois no filme O ÜLTIMO TANGO EM PARIS, o ator Marlon Brando comete outro plágio, desta vez contra o Passata, pretenso tanguista nepomucenense, que muitos anos antes de Brando, viveu, no cabaré Montanhês, a cena final da fita.  Nossa querida cidade não pode continuar tolerando isso.
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O primeiro autor é mestre pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e doutor pela Universidade de São Paulo, em neurociências,  e  o segundo  é professor titular de Clínica Médica e pesquisador em História da Medicina da UFMG.  

sábado, 10 de maio de 2014

DOUTORA ADRIANA OLIVEIRA VILELA

Nesta 6ª feira, 9-5-14, em memorável defesa de tese de doutorado, na Escola de Engenharia da UFMG, foi aprovada a Adriana Oliveira Vilela, filha do querido casal Ramilc - Maria Helena. Tive a enorme satisfação de estar presente, ao lado de familiares, amigos, estagiários e docentes, não só por ser acontecimento que faz transbordar de orgulho qualquer nepomucenense, mas pela oportunidade de apreciar como a Adriana se sairia em tão alto desafio. Deve ter sido muito raro que uma moça tão linda, ainda mais de aparência adolescente, tenha protagonizado uma etapa final de doutoramento, ainda mais em engenharia. E, para aumentar a excepcionalidade do fato, sua tese é também rara, tanto no mundo acadêmico como empresarial. Trata de inovação tecnológica para os fornos de carbonização, desenvolvida não em laboratório universitário, mas nas dependências de uma empresa privada. É o momento, pois, em que a universidade e a empresa de abrem uma para a outra, sem qualquer transgressão da independência e da liberdade de cada qual. Por mais de uma evidência, estamos diante de uma invenção destinada a repercussão internacional, inclusive por sua validade ecológica. Quem lucra com isso é o país, que necessita disso: saltar sobre variados e sucessivos fossos tecnológicos. Estão igualmente de parabéns os habilitados especialistas da banca examinadora, que souberam reconhecer esta afortunada convergência entre pertinaz dedicação e reiterada criatividade. Mil felicitações à Adriana e a seus familiares.