João Amílcar Salgado

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

ÊNIO CARDILLO VIEIRA
O BAETÓFILO POR EXCELÊNCIA
João Amílcar Salgado
Em meu livro de memórias O RISO DOURADO DA VILA (2003), relato como conheci o Ênio: Se no primeiro ano médico o diretório acadêmico estava precariamente localizado no porão do prédio antigo (onde também começou o laboratório e a biblioteca criados por Baeta Viana), logo a seguir foi transferido para o andar superior do prédio em frente, do outro lado da avenida.  Lembro-me de subir as escadas e encontrar ali o Ênio Cardillo Vieira - logo depois meu monitor de bioquímica, na época fascinado pela vitamina A - que estava ali como membro do diretório estudantil, recebendo os formulários e retratos para nossas carteiras de estudante
O Ênio participou, portanto, do grupo que revolucionou a atividade estudantil, movimento contaminador de todo o resto do ensino superior em Minas. Em 2011, a propósito do centenário da Faculdade, foram convidados os componentes desse grupo para falar sobre tudo o que aconteceu, no curso de História da Medicina. Falaram  Ângelo Machado,  Jota Dângelo, José Gaetani, Wilson Abrantes,  Ely Bonini,   Márcio Vasconcelos Pinheiro,  Antônio Firmato,  Geraldo Caldeira e  João Uchoa Figueiró. O Ênio não quis falar mas estava presente em todos as apresentações e era citado várias vezes. Assim acabou falando depois de cada colega e a sua foi uma espécie de aula longitudinal ao longo do semestre. O lado de ativista estudantil não cessou com a formatura e o Ênio passou a usar este pendor inicialmente no grupo dirigente do Umuarama, antigo clube de médicos, e posteriormente na Academia Mineira de Medicina.
Sobre seu ativismo estudantil, o próprio Enio diz: Minha gestão foi de março de 1954 a março de 1955. Márcio Pinheiro elegeu-se, então, e foi Presidente do DA até novembro ou outubro de 1955. Isto porque houve uma reforma do estatuto do DA e a eleição passou a ocorrer no fim do ano, em vez do início do ano. Em fins de 1955, João Virgílio Figueiró foi eleito. Foi durante sua gestão que ocorreu a greve por um representante na Congregação. Ely Bonini foi o executor da greve. Razão da mudança: Quando a eleição era em março, o Presidente já pegava o DA com pouco dinheiro porque o repasse da Faculdade de Medicina ocorria no início do ano. A eleição no fim do ano permitiria que o novo presidente pudesse dispor da verba do ano.
O sul-mineiro areadense Ênio pertence à linhagem dos Vieira, gente ilustre em Minas, mais ainda no sul de Minas, e em mais de uma universidade. Provavelmente ligados aos Vieira do jesuíta Antônio Vieira e do humanista Couto de Magalhães, enriquecem a medicina mineira desde Vieira Couto, Vieira Matos, Antônio José Vieira de Carvalho, Antonio José Vieira de Menezes e Arnaldo Vieira de Carvalho, seja em Diamantina, seja em Vila Rica, seja em São Paulo, até os dias atuais, com Caio Manso Carvalho, Ronan Vieira, Filadelfo Siqueira, Álvaro Vasconcelos, Guilherme Cabral e (modéstia à parte) João Amílcar Salgado. Ao sul de Minas essa gente chegou, por meio de, entre outros, Francisco Vieira da Silva, oriundo da freguesia lusa de São João de Brito, termo de Guimarães, arcebispado de Braga.
 Ênio Cardillo Vieira foi para os EUA e de lá voltou com fino acabamento naquela disciplina saudável peculiar aos melhores cientistas. Essa disciplina se chama método, ou melhor, atitude científica. Aqui, ele, Eurico Alvarenga Figueiredo, Giovani Gazzinelli, Marcos Mares Guia, Carlos Ribeiro Diniz, Wilson Teixeira Beraldo, João Batista Veiga Sales, José Leal Prado, José Moura Gonçalves, Armando Neves e outros baetófilos (apelido dado no meio universitário aos discípulos de Baeta Viana) deram continuidade  à formidável obra do mestre. Observando o conjunto de tão sobrelevados discípulos não é possível deixar de notar quantos e quais são sul-mineiros. Dois destes fizeram contribuições históricas: Beraldo, de Silvianópolis, é co-autor da segunda maior descoberta biocientífica do país, a da bradicinina; Veiga Sales, de Lavras-Nepomuceno, é co-autor de fundamental desenvolvimento na química do DNA.
Por mais eminentes que os discípulos diretamente bioquímicos tenham sido, seria diminuir o mestre e eles próprios se não são citados os discípulos fora da bioquímica. Carlos Pinheiro Chagas (patologia, mais colega que discípulo),  João Galizzi (semiologia), Romeu Cançado (terapêutica), J.B. Greco e Antonio de Oliveira Lima (alergia), J. Benjamim Soares (análises clínicas), José Feldman (tisiologia), Nassim Calixto da Silveira (oftalmologia), Oscar Resende Lima e Flávio Neves (psiquiatria e música), Adauto Barbosa Lima (cardiologia),  Aprígio Abreu Salgado (epidemiologia), José Henrique da Mata Machado (ortopedia), Ivo Pitangui (cirurgia plástica), Tancredo Furtado (dermatologia), Carlos Pinheiro Chagas e Edgar Godoi Mata Machado (política), bem como Ageo Pio So e Marcos de Mares Guia (indústria). Todos eles levaram para além da bioquímica e a numerosos discípulos de terceira e quarta geração a mesma atitude cientifica baetiana.
Em nosso curso de História da Medicina, Ênio Cardilho Vieira ministrou conferências  sobre a evolução do conceito de radicais livres e sobre o desenvolvimento de animais experimentais isentos de micróbios. Demais, tem colaborado em nosso esforço de coligir dois acervos: a genealogia cientifica dos grandes mestres mineiros, no seu caso Baeta Viana, e aforismos  inesquecíveis dos mesmos. 
Independentemente da admiração a tais figuras tutelares, eu próprio como historiador não deixo de fazer críticas a Baeta Viana, como as contidas em capítulo do livro NOS SERTÕES DE GUIMARÃES ROSA (2011) editado por Carlos Alberto Corrêa Sales. Por outro lado, no livro ENSINO DA MEDICINA EM MINAS GERAIS E NO BRASIL (2013), encontra-se ampla documentação levantada por mim sobre a incomparável obra pedagógica e científica de Baeta Viana. A coleção de frases deste mestre começa por esta: O aluno deve ser a cobaia de si mesmo. Outra também muito lembrada: Dizem que o brasileiro tem complexo de inferioridade; ora, ele não tem complexo nenhum: é inferior mesmo! Para se conhecer a coleção completa cumpre aguardar a lista de Ênio Cardillo.



ÁLVARO VIEIRA DE VASCONCELOS PEREIRA
ENCICLOPÉDICO GINECOBSTETRA , NADADOR EMÉRITO E HISTORIADOR ORAL DO SUL DE MINAS E DA MEDICINA
João Amílcar Salgado
            O Álvaro era quartanista quando entrei no curso médico em 1955 e me lembro de sua figura exaltada, em meio à agitação da greve comandada, entre outros, por seu carismático colega de turma Marcio Vasconcelos Pinheiro. Trabalhei ou convivi com outros dos formandos de 57, que aqui aproveito para homenagear: Alberto Paolucci, Aníbal Lamego, Carlos Maletta, Célio Menicucci, Celso Affonso, Evaldo Furtado, Fernando Moreira, Francisco Laender, Geraldo Lustosa, Haroldo Lopes, Hélio Osório, Hugo Brandão, Hugo Pereira Resende, Idalmo Duarte, José Carlos Lanna, Manoel Firmato, Márcio Castro Silva, Múcio de Paula, Murilo Cotta, Noel Moreira, Tereza Sebastião e Vítor Coronho.
            Na ginecobstetrícia fui aluno de Rubens Monteiro de Barros, Hermínio Pinto e Iracema Baccarini. Já com Clovis Salgado trabalhei quando ele foi diretor da Faculdade.       Quando escrevi sobre esses docentes  necessitei do imenso repositório de informações do Álvaro, todas orais. Quanto mais dados me fornecia, mais me espantava de que não tenha escrito portentosa monografia sobre a especialidade em Minas. De fato, o Álvaro esteve na intimidade de cada avanço conquistado por Minas nesta área, especialmente a colposcopia, a citologia vaginal e a contracepção. Sabe tudo sobre as competições entre pessoas e serviços, inclusive alguns escândalos.
No final toda conversa derivava sobre os Vieiras. Minha amizade ao Álvaro foi estreitada exatamente pelo fato de que é meu quase conterrâneo, pois nasceu em Areado, muito próxima a Nepomuceno. Isso quer dizer que ele é um “biscoiteiro”, apelido que os nascidos em Areado (famosa por seus biscoitos) recebiam no colégio marista em Varginha. Confirmando isso tudo, ele então me revelou ser parente, pelo lado Vieira, de vários amigos em comum. São personagens surpreendentemente Vieiras, mostrando que este clã semelha verdadeira rede de poder em Minas e além de Minas. São Vieiras os médicos também areadenses Ênio Cardillo Vieira e Caio Manso Vieira de Carvalho, além de Filadelfo Siqueira (Divisa Nova), Guilherme Cabral Filho (de Muzambinho) e eu próprio.
            Pela espantosa consanguinidade sulmineira, os Vieiras se escondem em muitos sobrenomes: Abreu, Adelindes, Amaral, Arantes, Araújo, Azevedo, Bottrel, Brito, Carvalho, Castro, Costa Rodrigues, Couto, Dutra, Faria Belo, Faria Neves, Fernandes de Paula, Ferreira,  Freire, Garcia, Junqueira, Magalhães, Meimberg, Mesquita, Moura Ribeiro, Pereira, Prado Lima, Quintino, Salgado, Silva Mendes, Souza, Souza Diniz, Souza Silveira, Teixeira, Vasconcelos, Vilela, Vinhas de Castro e Xavier Mesquita. Isso é melhor visto pela figura anexa.
            O Álvaro é casado com a campeã de natação Alice Braga Pereira, minha grande amiga e assídua parceira não só nos passeios da academia de medicina mas na internete, onde faz transparecer sua grande cultura.
O Álvaro, depois de longa conversa sobre nosso parentesco, me advertiu: orgulho-me não só dos Vieiras, mas de ser primo do  jurista André Faria Pereira e da embaixatriz e escultora sulmineira Maria de Lourdes Alves Martins Faria.
André Faria, como procurador do Distrito Federal, usou de sua influencia junto a Osvaldo Aranha, então ministro da justiça do governo provisório de 1930, para dar início à criação da OAB. Já a campanhense Maria Martins é uma das mulheres mais ilustres da cultura mineira. Teve alucinante vida internacional, chegando a ser apontada como amante de Mussolini e de ter encantado Mao Tsé Tung.  




CAIO MANSO VIEIRA DE CARVALHO
 Excepcional oftalmologista nas medicinas humana e veterinária

João Amílcar Salgado

            Caio Manso Vieira Franco de Carvalho foi o primeiro veterinário a propor o exame de fundo de olho do animal vivo como método diagnóstico corrente. Só essa façanha já o coloca na história da medicina veterinária brasileira e mundial. No tempo em que tais pesquisas repercutiram, Belo Horizonte era o maior centro oftalmológico do Brasil, sob a liderança de Hilton Rocha, que, então,  arrebanhou o Caio para sua equipe.  E foi assim que três eminentes sul-mineiros – Nassim Calixto da Silveira, Manso e Rocha – passaram a dominar o estudo do fundo de olho no país, com notória projeção internacional.
            Aluno prodigioso em todos os cursos que frequentou, o alfeno-areadense Caio Manso percebeu a necessidade de se graduar também em medicina humana e, ao ser diplomado como tal, em 1972, na mesma Universidade Federal de Minas Gerais, em que já era professor titular, cumpriu um desejo de juventude. Ao abraçar o lado humano de sua primeira profissão de médico veterinário (desde 1947), alega apenas ter-se filiado ao poeta latino Terêncio Varrão, que disse: HOMO SUM – HUMANI NIHIL A ME ALIENUM PUTO (Sou homem – nada humano me é estranho). E, ao citá-lo em latim, sempre enfatiza o PUTO, entre irado e cômico.
Esta versatilidade horizontal inter-profissional já era prenunciada desde que foi jovem perito da polícia técnica, ao mesmo tempo que líder estudantil (e até pichador pró-democracia) no fim da ditadura Vargas. Ao lado de José Bento Teixeira Sales, subiu pela União Colegial até as instâncias nacionais da União Nacional dos Estudantes. Se não amasse tanto a docência e a ciência, teria feito carreira política, prenunciada por sua facilidade para falar e convencer, seja como ativista na juventude, seja como orador da turma, desde a escola inicial à universidade, seja ainda como paraninfo em diversas formaturas.
Finalmente, transformou-se em raro exemplo de distinto profissional e acatado docente nas duas medicinas, condição na qual se fez polivalente orientador de pós-graduandos em ambas.  Não contente com isso, levou seu dinamismo para fora dos muros acadêmicos, quer no consultório particular, quer em suas fazendas, quer ainda em empresa de produtos veterinários.  Sendo uma de suas fazendas província de cristal de rocha, ele ofereceu, para expormos no Centro de Memória da Medicina de Minas Gerais, belo bloco de quartzo. A peça aqui permanecerá em homenagem aos subsídios preciosos com que presenteou nosso acervo. Um destes é a frase de Richter, que sugeriu para divisa do Centro, de cujo colegiado é membro: AS RECORDAÇÕES SÃO O ÚNICO PARAÍSO DO QUAL NÃO PODEMOS SER EXPULSOS.
Seu  legado não se limita a ciência, cristais e frases, pois lá esta ela,  a majestosa árvore que plantou em área da ex-fazenda da Gameleira (depois Escola de Veterinária e Parque de Exposições, quando ali foi diretor do Parque e do Serviço de Produção Animal). Deve continuar preservada, inclusive com a necessária placa identificadora. Já nos áureos tempos do Hospital São Geraldo, houve ali, em pequena sala, um debate nada oftalmológico: enquanto Emir Soares defendia o gado pardo suíço (espionado por ele na Europa, junto com as lentes de contato), Manso elogiava o holandês. Eu fingia ser o juiz, mas, entre tais máquinas leiteiras, acabei optando pela nostalgia vermelha do caracu de minha infância. Daí surgiu interessantíssimo projeto a ser assessorado por Caio Manso, que nunca teve início, e que poderia ter culminado com a determinação do genoma caracu, no rastro do selecionador paulista Alfredo Penteado.
            E o Caio é, ele próprio, um homem de raça. Traz consigo heranças temperamentais e intelectuais de conhecidas linhagens do Sul de Minas: Manso, Franco, Monteiro, Carvalho e Vieira – freqüentadas por médicos, educadores, fundadores de cidades, usineiros de açúcar e até fundador de polícia. Enquanto os Francos, Carvalhos e Monteiros já comparecem a mais de um livro, os Vieiras merecem livro só deles, eis que as principais universidades do Sudeste recebem seu brilho.  Fora de Minas Gerais, exemplifico com Ronan José Vieira, o notável intensivista da Universidade Estadual de Campinas, e, em nossa própria Universidade, ao primeiro relance, cito Ênio Cardillo Vieira, Álvaro Vieira de Vasconcelos, Philadelpho Siqueira e Guilherme Cabral.
A história sulmineira os inclui em vários belos cometimentos, que não se vergam ao contrapeso de poucas peripécias controversas.  Quando jovem, seus familiares comentavam que saíra teimoso como o pai (um dos herdeiros da sesmaria do Campo Redondo). Certo dia os dois temperamentos idênticos se chocaram e o pai desabafou: este rapazote é teimoso demais!   Caio então respondeu de pronto: DIZEM QUE SOU TEIMOSO / MAS COMO NÃO SER TAMBÉM / SE O PINTO JÁ SAI DO OVO / COM A PINTA QUE O GALO TEM?
            Sobre as duas medicinas, recebi forte lição nos EUA. Ao chegar à escola médica da Universidade Estadual de Michigan (com a qual Caio também intercambiou) deparei com o nome FACULDADE DE MEDICINA HUMANA. Perguntei a meu amigo Robert Match por que aquele qualificativo HUMANA. Ele explicou: a universidade se iniciara por pioneira FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA e o respeito à história da instituição obrigava ao uso daquele adjetivo para designar a faculdade menos antiga. Por seu lado, Manso pode mostrar-se feroz como zeloso das coisas de Minas. Recentemente provou de um queijo que criticou ao fabricante, dizendo-o indigno da reputação de nossos laticínios. Foi então desafiado a fazê-lo melhor. Como, entre  os melhores técnicos no âmbito lácteo, havia vários  ex-alunos seus, hoje o fabricante se orgulha de ter queijo, manteiga e doce-de-leite simplesmente inigualáveis.
            Em nosso curso de História da Medicina, Caio ministrou inesquecível preleção sobre sua saga em torno da fundoscopia canina, recheada de suas inestimáveis contribuições à ciência, entre as quais quatro doenças cuja descrição foi o primeiro a fazer entre nós: a febre catarral maligna em bovino (virose de que o ovino é portador-são), a fascíola hepática (em colaboração com Bogliolo), a dermatofilose, todas em bovino, e a brucelose suína.   Ficou devendo duas outras aulas, que vem adiando porque alega querê-las repletas de erudição. Uma é sobre a contribuição da anatomia veterinária  à medicina e à arte, quando pretende inclusive deter-se em Leonardo da Vinci, que, inicialmente proibido de dissecar o corpo humano, dominou a anatomia símia.  Outra conferência, prometida há mais tempo ainda, trata da vida e da obra de esquerdista suíço de origem espanhola, o jacobino João Paulo Marat, em especial de sua produção científica, nomeadamente sobre óptica e a influência desta sobre Goethe, no âmbito da teoria das cores. O oftalmologista Marat não discriminava entre cuidar de gente e tratar de bicho.
            Caio Manso é um tremendo e intransigente detalhista, virtude que responde pelo substancioso legado que deixa à ciência de Minas e do mundo, mas que o fez privar-nos até agora destoutras demonstrações de seu saber e cultura.

O autor é professor titular de Clínica Médica e pesquisador em História da Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. Ver os perfis semelhantes sobre Eurico Figueiredo, Carlos Diniz, Wilson Beraldo, Veiga Sales,  Armando Neves, Filadelfo Siqueira,  Guilherme Cabral e vários dos demais citados


segunda-feira, 21 de setembro de 2015

FUNDAÇÃO CLÓVIS SALGADO: MINEIRÃO E FUNDAÇÃO ME LEMBRAM MUTILAÇÃO
João Amílcar Salgado
Em setembro de 2015  Belo Horizonte comemora  os 50 anos do Mineirão e os 45 anos da Fundação Clóvis Salgado
1960 foi o último ano de meu curso de medicina e também o último ano do governo JK. O novo prédio da faculdade era para ser inaugurado pelo Juscelino no começo desse ano, quando ele proferiria a aula magna de abertura dos cursos da hoje UFMG.  O dinheiro para o prédio foi desviado para o término de Brasília e assim JK só inaugurou o auditório, ficando o resto da obra ainda em andaimes. Gilberto Lino Vieira era o presidente do diretório acadêmico e eu era seu braço direito. Fomos procurados pelo prefeito Jorge Carone para que os estudantes enxertassem na aula inaugural as assinaturas do governador Bias Fortes e do presidente Kubitschek, autorizando a criação do Mineirão. Concordamos e a coisa aconteceu.
Hoje lamento essa irresponsabilidade. Nenhuma dessas pessoas citadas tinha o direito de mutilar a cidade universitária, com tal decisão. O grande dirigente esportivo Francisco de Castro Cortes já vinha lutando pelo futuro Mineirão e sua proposta era localiza-lo onde hoje é o bairro Belvedere e o BH Shopping. Assim, a área original do campus universitário sofreu sua principal amputação, embora não a única. O trecho contíguo da avenida Antonio Carlos e quase todas as atuais áreas limítrofes da UFMG foram “invadidos” com argumentos injustificáveis, semelhantes aos usados para abocanhar o enorme território do Mineirão.
Igualmente infelizes e criminosas foram as sucessivas mutilações da área reservada ao Parque Municipal. A principal delas foi um quarteirão inteiro ocupado pela faculdade federal de Medicina e entidades da saúde, mas inclui um hipermercado e o outro lado do rio Arrudas. O teatro municipal que substituísse o antigo teatro e cine Metrópole foi improvisado como Teatro Francisco Nunes, mas o definitivo, projeto de Niemeyer, ficou só nos alicerces e no porão. Foi nesse porão que nosso Jarbas Juarez, recém-chegado de Nepomuceno, recebeu sua primeira aula de Guignard.  Desde 1940, a cantora Lia Salgado, esposa de Clóvis Salgado, sonhava em exibir seu talento no palco desse teatro, que seria depois denominado Palácio das Artes. Mais uma vez o dinheiro consumido por Brasília não permitiu a dispendiosa edificação e o trio Lia-JK-Israel Pinheiro arquivou o requinte de Niemeyer e exigiu do engenheiro Hélio Ferreira Pinto a simplificação do projeto.
Em acréscimo a esses fatos lamentáveis, há mais um neste aniversário. As comemorações  não fazem a devida referencia a personagens  de mérito desse segmento da  história mineira.  Em ambos os casos, seria oportuno lembra-las, desde, entre vários outros, o professor Camilo Fonseca, que plantou com altíssima competência a grama do estádio, até os fascinantes maestros Sérgio Magnani e Luiz Aguiar, sendo este meu ex-colega do curso de Filosofia.

NOTA. No hotel São Paulo, da família Cortes, os nepomucenenses eram sempre carinhosamente recebidos.

domingo, 6 de setembro de 2015

MINEIRÃO E FUNDAÇÃO ME LEMBRAM MUTILAÇÃO
João Amílcar Salgado
Em setembro de 2015  Belo Horizonte comemora  os 50 anos do Mineirão e os 45 anos da Fundação Clóvis Salgado
1960 foi o último ano de meu curso de medicina e também o último ano do governo JK. O novo prédio da faculdade era para ser inaugurado pelo Juscelino no começo desse ano, quando ele proferiria a aula magna de abertura dos cursos da hoje UFMG.  O dinheiro para o prédio foi desviado para o término de Brasília e assim JK só inaugurou o auditório, ficando o resto da obra ainda em andaimes. Gilberto Lino Vieira era o presidente do diretório acadêmico e eu era seu braço direito. Fomos procurados pelo prefeito Jorge Carone para que os estudantes enxertassem na aula inaugural as assinaturas do governador Bias Fortes e do presidente Kubitschek, autorizando a criação do Mineirão. Concordamos e a coisa aconteceu.
Hoje lamento essa irresponsabilidade. Nenhuma dessas pessoas citadas tinha o direito de mutilar a cidade universitária, com tal decisão. O grande dirigente esportivo Francisco de Castro Cortes já vinha lutando pelo futuro Mineirão e sua proposta era localiza-lo onde hoje é o bairro Belvedere e o BH Shopping. Assim, a área original do campus universitário sofreu sua principal amputação, embora não a única. O trecho contíguo da avenida Antonio Carlos e quase todas as atuais áreas limítrofes da UFMG foram “invadidos” com argumentos injustificáveis, semelhantes aos usados para abocanhar o enorme território do Mineirão.
Igualmente infelizes e criminosas foram as sucessivas mutilações da área reservada ao Parque Municipal. A principal delas foi um quarteirão inteiro ocupado pela faculdade federal de Medicina e entidades da saúde, mas inclui um hipermercado e o outro lado do rio Arrudas. O teatro municipal que substituísse o antigo teatro e cine Metrópole foi improvisado como Teatro Francisco Nunes, mas o definitivo, projeto de Niemeyer, ficou só nos alicerces e no porão. Foi nesse porão que nosso Jarbas Juarez, recém-chegado de Nepomuceno, recebeu sua primeira aula de Guignard.  Desde 1940, a cantora Lia Salgado, esposa de Clóvis Salgado, sonhava em exibir seu talento no palco desse teatro, que seria depois denominado Palácio das Artes. Mais uma vez o dinheiro consumido por Brasília não permitiu a dispendiosa edificação e o trio Lia-JK-Israel Pinheiro arquivou o requinte de Niemeyer e exigiu do engenheiro Hélio Ferreira Pinto a simplificação do projeto.
Em acréscimo a esses fatos lamentáveis, há mais um neste aniversário. As comemorações  não fazem a devida referencia a personagens  de mérito desse segmento da  história mineira.  Em ambos os casos, seria oportuno lembra-las, desde, entre vários outros, o professor Camilo Fonseca, que plantou com altíssima competência a grama do estádio, até os fascinantes maestros Sérgio Magnani e Luiz Aguiar, sendo este meu ex-colega do curso de Filosofia.


NOTA. No hotel São Paulo, da família Cortes, os nepomucenenses eram sempre carinhosamente recebidos.

domingo, 30 de agosto de 2015

ANOS 60 SEGUNDO CID VELOSO

Cid Veloso, ex-reitor da UFMG e ex-diretor da Faculdade de Medicina e do Hospital das Clínicas da UFMG lança o livro ANOS 60 - OS MOVIMENTOS QUE MUDARAM O MUNDO (2015).
 O tema é muito oportuno e o autor o vê de um ângulo abrangente, principalmente a partir de sua rica vivência. Esse movimento, em Minas, levou à primeira e única eleição direta do reitor, por voto direto e paritário de docentes, funcionários e estudantes. O reitor eleito foi exatamente o autor do livro, Cid Veloso. 
Isso tudo contrasta gritantemente com o descalabro atual no ensino médico e nos hospitais universitários.
Anexo, um texto que escrevi nos 30 anos da invasão da Faculdade.

RARO CASO EM QUE O BRASIL NÃO IMITOU O PRIMEIRO MUNDO
João Amílcar Salgado
            Fato da maior importância histórica é que, na agitação estudantil de 1968, que varreu o mundo inteiro, se aponta a ocupação da Sorbonne pelos estudantes rebelados, em 3-5-68, como o episódio central na Europa. Pois bem, no mesmo dia 3-5-68, ocorreu a ocupação da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais pelos estudantes rebelados. Além de coincidentes, os dois episódios apresentam uma diferença fundamental, que atesta muito maior heroísmo no lado brasileiro. Enquanto na França o regime político era uma democracia, no Brasil os estudantes estavam enfrentando a violência e a crueldade de feroz ditadura.
3 DE MAIO DE 1968 NA FRANÇA.
No pátio da Sorbonne realiza-se a reunião de estudantes que exigem o acesso aos anfiteatros. O reitor, Jean Roche, quebrando uma regra secular, chama a polícia para entrar nas instalações universitárias. A polícia interrompe a reunião, expulsa os estudantes e fecha as instalações. Vários alunos são ali detidos. Muitos outros são detidos nessa noite em manifestações no Quartier Latin, onde é levantada a primeira barricada, no Boulevard Saint-Michel.
3 DE MAIO DE 1968 EM BELO HORIZONTE.
A Faculdade de Medicina da UFMG é tomada pelos estudantes. O diretor Oscar Versiani Caldeira, num ímpeto de pusilanimidade e ódio, autoriza a polícia a cercar e invadir o prédio. Isso ocorre em 3 de maio de 1968. É o mesmo dia em que, na França, a Sorbonne foi ocupada pelos estudantes. O diretor transtornado, em contraste com a atitude pró-estudantes dos diretores das demais Faculdades, autorizou a entrada das forças de repressão para desalojar os alunos. Só não houve resultado sangrento em virtude da intermediação de três heróicos docentes: Amílcar Vianna Martins, José de Noronha Peres e Carlos Ribeiro Diniz. Assim, a revolução estudantil de 1968, que, de modo inédito, explodiu, quase simultaneamente, em vários países: França (Sorbonne), EUA, México (Tlateloco), Alemanha e Brasil, teve em Belo Horizonte esse episódio digno de um livro exclusivo. E os nomes desses três desassombrados cientistas devem ser lembrados com todo o carinho, por não terem medido conseqüências, no instante em que, sem vacilação, decidiram posicionar-se ao lado da juventude conflagrada. E o ex-expedicionário Amílcar Martins – ali, esguio, determinado e grave, em meio ao gás lacrimogêneo, aos estilhaços de vidro e ao som de tosses, gritos e bombas – se via no segundo campo de batalha, depois do primeiro, na Itália. Sim, era-lhe o mesmo teatro de luta, apesar da distância de décadas, pois o inimigo, sem dúvida, era também o mesmo: o redivivo cadáver do nazi-fascismo!
AMÍLCAR VIANA MARTINS
Em 1979, eu estava na cidade de Puebla, México e fui honrado pelos estudantes de medicina mexicanos com o convite para ver um documentário sobre o MASSACRE DE TLATELOCO, ocorrido nesta cidade em 2-10-68, pouco antes das Olimpíadas de 68, em que a repressão armada matou centenas de pessoas e feriu outras mais. A ditadura vigente no Brasil não permitiu que esse documentário fosse visto pelos brasileiros. Este episódio deve sempre ser lembrado juntamente com os episódios da Sorbonne e de nossa Faculdade de Medicina. Em Puebla, no debate com líderes daquele movimento, relatei o episodio da Faculdade. O padre e poeta Ernesto Cardenal, ao falar, ressaltou minha observação comparativa entre as democracias da França e do México e a ditadura brasileira.
BELO HORIZONTE

CARLOS RIBEIRO DINIZ

ELENA PONIATOWSKA

JOSÉ NORONHA PERES

AJAX PINTO FERREIRA
PARIS


Ver o livro NOITE DE TLATELOLCO da escritora mexicana Elena Poniatowska e ANOS 60 – OS MOVIMENTOS QUE MUDARAM O MUNDO, de Cid Veloso, ex-reitor da UFMG e ex-diretor da Faculdade de Medicina da UFMG. Ajax Pinto Ferreira, médico e professor da UFMG, preso na invasão da Faculdade, ministrou emocionada aula no curso de História da Medicina  em 2008, nos 40 anos do episódio. 

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

JOSÉ GOMES VIEIRA NÃO SERÁ ESQUECIDO
João Amílcar Salgado
José Gomes Vieira foi consultor de medicina mediúnica do Centro de Memória da Medicina de Minas Gerais. Depois do falecimento de Chico Xavier ele era o último dos primeiros verdadeiros seguidores dele. Era da sala e da cozinha do grande líder espirita, desde os tempos em que este ainda não era celebridade. O Zé Gomes era altissimamente qualificado em duas áreas. Foi dos melhores técnicos em refrigeração em Minas e dominava integralmente cada parágrafo de qualquer livro de Xavier. Sua memória de tais textos parecia uma espécie de psicografia transversal de toda a colossal obra. Em qualquer debate dos historiadores da medicina, era hábito que se pedisse ao Gomes que lembrasse um trecho do Chico que se aplicava ao tema em pauta. Era hora de santa, prazerosa e consubstanciada contribuição desse verdadeiro sacerdote do espiritualismo. No território propriamente da medicina mediúnica, ele se opunha àqueles que praticavam curas cruentas. Dizia que nisso estava sendo ortodoxo na defesa do aforisma de seu mestre Chico, segundo o qual o espírito, sendo espírito, não necessita verter sangue em cirurgias espirituais.
Em sua penúltima internação, estava muito mal e na certeza de que não ia sobreviver, invocou os espíritos de Chico Xavier e de Bezerra de Menezes. Logo os reconheceu sorridentes ao pé de seu leito e havia um de óculos não identificado, na penumbra, atrás dos dois. Os visitantes disseram-lhe que ele não ia dessa vez, pois ainda tinha uma missão por cumprir. Acrescentei que o de óculos era eu, pois, pela hora em que o fato se deu, eu estava na casa de minha prima Zulmira, pedindo-lhe um serviço espiritual pela recuperação do Zé. Este era muito sagaz e ficou eufórico: esse episódio indica que conseguimos fazê-lo espírita! Respondi: não, nada disso, eu estava ali por amizade, é que, por um grande amigo como você, topo perfórmances em qualquer plano.
NOTA: O Centro de Memória contou com consultores em história das medicinas não convencionais: mediúnica, afromineira, indígena e orientais.

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segunda-feira, 24 de agosto de 2015

PEÃO DE BARRETOS – QUE NEPOMUCENO TEM COM ISSO?
João Amílcar Salgado
Nestes dias de agosto de 2015, ocorre a festa do peão de boiadeiro da cidade de Barretos, SP.  Que Nepomuceno tem com isso? Tem muito a ver, pois Barretos foi fundada por nepomucenenses.  Mariana de Souza Monteiro (terceira desse nome) nasceu na Fazenda da Lagoa em Nepomuceno, em 1829, casou-se com Francisco Angelo Rodrigues Airão, nascido na cidade de Campanha, e o casal foi para o sertão do Rio Pardo entre São Paulo, Minas e Mato Grosso. Seus descendentes, conhecidos como a família ÂNGELO, são considerados edificadores de Barretos.  Tios, irmãos e primos de Mariana foram para ali também, de tal maneira que cidades não só Barretos, mas Mococa, Casa Branca, Franca e Igarapava só surgiram quando as famílias Souza Monteiro Costa, Garcia, Junqueira Diniz, Figueiredo e Lima saem da região de Nepomuceno, Três Pontas, Coqueiral Boa Esperança, Carmo da Cachoeira, Lavras e Campanha para se transformarem em colonizadores e civilizadores daquele sertão. Infelizmente nesse deslocamento perpetraram mais um dos diversos genocídios indígenas de nossa história. Por outro lado, é importante que o povo de Nepomuceno saiba desses acontecimentos, principalmente os descendentes do capitão Vicente Ferreira da Costa (tio de Mariana) que compõem a família Costa Ribeiro Lima  e também os das demais famílias citadas.

            Quando se fala em gado dessa região, outra família originária daqui se tornou legendária. É a família Maia, que muitos pensam ser exclusivamente de Boa Esperança, de Guapé ou de Passos, mas é originária da Trumbuca e do Esmeril.  O sobrenome deixou de ser usado na Vila para evitar falar no parentesco com o bandoleiro Urias Maia. Aqui a família conserva mais o sobrenome Barbosa de Oliveira, dos Barbosa de Coqueiral, além de outros sobrenomes de gente da Trumbuca. Os que são Maia, em Nepomuceno, na Trumbuca e em Coqueiral, hoje devem orgulhar-se, entre outros, de dois Maias de grande fama: Nelson Freire Maia, um dos maiores pianistas do mundo, e Tião Maia, que muitos garantem ter sido o verdadeiro Rei do Gado e também inspirador da célebre moda de viola. Tião Maia estava para ser morto pelos militares em 1964, por ser muito amigo de João Goulart, e, antes que o encontrassem, levou toda sua fortuna para a Austrália. Lá ficou conhecido nacionalmente. Espertalhões quiseram tomar-lhe o dinheiro em Las Vegas, EUA, e ele, fingindo ser um caipirão australiano, enganou a todos – e essa sua façanha teria inspirado o filme CROCODILO DUNDEE (1986). Vejam o filme aqui.
CROCODILO

TIÃO MAIA

domingo, 16 de agosto de 2015

VACINAÇÃO ANTI-PÓLIO, QUE NEPOMUCENO TEM COM ISSO?
     No Brasil a transmissão da paralisia infantil foi interrompida em 1991. Para essa histórica vitória houve a contribuição fundamental de um notável médico nepomucenense e  infectologista pediátrico de projeção internacional, Edward Tonelli. Contemplado com os mais altos títulos da UFMG, da Academia de Medicina e do Rotary, Edward, ao lado de mais dois outros pediatras mineiros, Archimedes Theodoro e Elmo Perez, fez com que o Brasil relembrasse a façanha saneadora de Osvaldo Cruz, acontecida noventa anos antes.  A partir da vitória sobre a varíola em 1980 e sobre a paralisia infantil em 1991, o Brasil passa a ser considerado exemplo de luta contra infecções por vírus, vanguarda confirmada com o êxito do programa brasileiro contra a AIDS. Se o país vem fracassando na assistência médica, nas imunizações tem continuado vitorioso. Isso se deve a médicos extraordinários como os citados, aos quais podemos reunir José Geraldo Leite Ribeiro, atual maior autoridade nacional em vacinas. Se lembrarmos que José Geraldo  é de Três Corações, concluímos que o sul de MINAS entra nesse grupo de quatro seletos especialistas com a metade deles, um nepomucenense e um tricordiano, sendo este, além disso, ligado por parentesco aos Ribeiros de Nepomuceno.

            Também na história da paralisia infantil no Brasil figura uma nepomucenense. Trata-se da Mariana Santos, nossa querida Marianinha do Zé Dingo. Ela sofreu poliomielite, doença que causou pânico na Vila e trauma à menina de quatro anos, que era muito bonita. Todas as consequências de sua paralisia ela própria relata no  livro TRAJETÓRIAS DE MINHA VIDA (2015), o qual tem importância tanto como depoimento humano, como parte da história da cidade e ainda por ser uma página da historia da medicina brasileira. Na década de 40 do século 20 o único tratamento que lhe foi possível foi balneoterapia em São Lourenço. Ali ela foi orientada pelo especialista Lutero Vargas, filho do então ditador do Brasil, Getúlio Vargas. O ortopedista Lutero  havia regressado da Alemanha onde estudara especialmente essa doença e disse à família: essa menina é a paciente mais graciosa que já examinei, mas nem eu nem nenhum médico da Europa pode devolver-lhe os movimentos. A Marianinha continua linda mulher aos 80 anos, tanto quanto Ana Paula, sua jovem neta.
EDWARD TONELLI

MARIANA SANTOS