os vilelaS e os
Alves vilelaS
João Amílcar Salgado

FAZENDA DO ENGENHO DO BOM JARDIM DA MATA
DO RIO JACARÉ de ANTÔNIO VILELA FRAZÃO
SUMARIO: ORIGEM DOS VILELAS –
VILELAS FORA DE MINAS – VILELAS MINEIROS DE SERRANOS – VILELAS MINEIROS DE
SANTANA DE JACARÉ – O MADEIRAME DE QUELUZ – ALVES VILELAS DE NEPOMUCENO E
ITUIUTABA – COMENTÁRIOS – O TESTAMENTO DE VILELA FRAZÃO - OS 80 ANOS DE CLIMAR
VILELA PAIVA – CLYDE ALVES VILELA – MARIA TAGLIAFERRI E OS VILELAS LIMAS –
CENTENÁRIO DE EVANGELINA VILELA SALGADO – DISCURSO DE EVÓDIO VILELA – MÁRCIA
SOUZA ALMEIDA – MARTA NAIR MONTEIRO – ANTONIO GUILHERME E JOSÉ GUILHERME VILELA
– QUINTETO DA MEMÓRIA VILELA - JOÃO
AMÍLCAR (VILELA) SALGADO – MENSAGEM DE
AFRÂNIO VILELA – MENSAGEM DE JOÃO BATISTA VILELA
ORIGEM DOS VILELAS
No sul de Minas Gerais há duas famílias Vilela, uma
proveniente de Serranos, antigo distrito de Aiuruoca, e outra proveniente de
Santana do Jacaré, ex-distrito de Candeias. Curiosamente os Vilelas de Serranos
se deslocaram na direção dos Vilelas de Santana do Jacaré, de tal maneira que
bem cedo se casaram entre si e continuam a fazê-lo até hoje. Podemos mesmo
dizer que muitos Vilelas de Boa Esperança, Nepomuceno, Três Pontas, Coqueiral,
Carmo da Cachoeira, Candeias e Campo Belo devem ser considerados Vilela &
Vilela, ou seja, oriundos de ambas as linhagens. Meus dois filhos, Carlos
Amílcar Salgado e João Vinícius Salgado são exemplos de Vilela & Vilela. Daí
é natural que se queira saber se essa gente era ou não parente em Portugal, já
que vêm da mesma região norte, entre Porto e Braga. O primeiro Vilela de
Serranos, Domingos Villela, nasceu na freguesia de Santa Maria das Palmeiras,
próximo a Braga, cerca de 1708, enquanto o primeiro Vilela de Santana de
Jacaré, Antônio Villela, nasceu na freguesia de São Martinho de Frazão
(Penafiel), bispado do Porto, em (?)1739, em Portugal. Em favor de que o sobrenome
Vilela possa ser eventualmente toponímico, sabe-se que a localidade Vilela é
uma freguesia que compõe o município de
Paredes, hoje na área metropolitana da cidade do Porto.

Se os Vilelas são gente ilustre em Minas e no Brasil,
não o são tanto assim na história de Portugal, onde é raro o sobrenome Vilela,
nenhum com título de nobreza. Há Vilelas que alegam estar localizado na Espanha,
em Navarra, o lado nobre dos Vilelas. Referem-se a Terçal Perez de Villela,
conde de Monjaraz, que, na época manoelina, deixou um filho luso, Justo Vaz de
Villela. Terçal veio a Portugal para
selar tratados com Manoel I, que o convidou para conselheiro durante as grandes
navegações, em virtude de sua inteligência e habilidade política. Seu filho
nascido luso, Justo Vaz de Vilela, o sucedeu na função, pelo que o brasão de
armas e títulos navarros foram confirmados como lusitanos pelo rei Manoel e por
João III em 1547.
A palavra
Vilela foi e é nome de lugar, freqüente na Galiza e em Portugal - por exemplo,
o distrito de Vilela de Arcos de Valdevez - com o significado de diminutivo de
vila, constante de documentos desde o século X. O mesmo acontece com a palavra
Villèle na França (condato de Villèle), Como sobrenome, aparece inicialmente
acompanhado da preposição de : De Vilela. A primeira pessoa de sobrenome Vilela
com referência direta na história lusa é Rodrigo Anes Villela, já sem a
preposição de, e sem data indicada,
citado na publicação DESCOBRIMENTOS PORTUGUESES.
O Vilela seguinte é o padre Gaspar Villela, que nasceu
em Aviz, distrito de Portalegre (Alentejo), em 1524, e foi missionário no
Oriente. Talvez tenha sido o primeiro ocidental a percorrer extensivamente todo
o Japão, lá ficando por muitos anos, a ponto de escrever dissertações em língua
japonesa. De acordo com a tradição de inteligência e cultura, bem como de
inclinação para historiadores, entre os Vilelas, Gaspar Villela escreveu uma
HISTÓRIA DA VIDA DOS SANTOS e deixou precioso acervo de cartas. Faleceu no ano
de 1571, em Goa, onde certamente conviveu com três portugueses célebres: o
poeta Luís de Camões, o escritor Fernão Mendes Pinto e o médico Garcia de Orta.
Estamos estudando possível relacionamento direto ou indireto entre Gaspar
Vilela e os jesuítas, especialmente com o luso Simão Rodrigues e o basco São
Francisco Xavier. Por outro lado, é possível que Gaspar Vilela, de alguma
forma, tenha inspirado o padre que figura como intérprete no romance XÓGUM
(1975), de James Clavell.
VILELAS FORA DE MINAS

Já no Brasil há um Vilela com títulos nobres, não só
de visconde mas de marquês: Francisco Barbosa Vilela, nascido no Rio de pai
luso (de igual nome, nascido em Braga). Ficou com o sobrenosme sempre oculto
pela pomposa designação de marquês de Paranaguá; foi matemático e poeta e
ocupou vários ministérios imperiais. O Vilela brasileiro, entretanto, mais
conhecido não é o marquês e igualmente não é mineiro: é o senador e usineiro
alagoano Teotônio Brandão Vilela, herói da chamada campanha das Diretas-Já, que
levou à redemocratização do país, depois de vinte anos de ditadura militar. É
irmão de Avelar Brandão Vilela, também um nome nacional por ter sido cardeal
primaz do Brasil. Quando conheci a médica Rosana Vilela, filha de Teotônio,
disse-lhe que ela se parecia com as moças Vilelas de Nepomuceno. Ela, que é
minha amiga e como eu se dedica à pedagogia médica, respondeu dizendo que seu
tio Avelar lhe havia dito que os Vilelas brasileiros eram todos uma única
família. Seu irmão Teotônio Vilela Filho foi eleito senador e governador de
Alagoas. Há Vilelas em
outros Estados nordestinos. È provável que o advogado,
jornalista e escritor pernambucano, Joaquim Carneiro Vilela, pertença ao tronco
dos alagoanos. Os mais numerosos fora de
Minas são aqueles nativos de Estados vizinhos a Minas, quase sempre ligados à
diáspora de sulmineiros. São assinalados no Rio, São Paulo, Goiás e vale do rio
Paraná. No Rio, o Vilela mais ilustre é o cientista Eurico Vilela, amigo
fraternal do descobridor Carlos Chagas e concunhado de outro amigo fraterno Samuel Libânio. É digno
de nota haver em Goiás uma cidade chamada Mineiros, da qual duas das famílias
principais são Vilela (à qual pertence o deputado federal Leandro Vilela) e
Carrijo, e que desse Estado foi governador o político Luiz Alberto Maguito
Vilela, cujo trisavô, José Manoel Vilela, fundador da cidade de Jataí, GO, é
sulmineiro da cidade de Coqueiral, vizinha a Nepomuceno.
GALERIA DE VILELAS MINEIROS

Sobressaem aí, de início, os
educadores. Há dois reitores de importantes universidades: Evaldo Vilela
(Viçosa, federal) e Suely Vilela (São Paulo, estadual), seguidos de dirigentes
educacionais Marta Nair, Marcia Souza, Maria Salgado, Iracema Lima e Zélia
Lima. Um secretário de Estado e escritor acadêmico: Márcio Vilela. Três
juristas: João Batista Vilela, Afrânio Vilela e José Guilherme Vilela. Dois
altos cientistas agronômicos: o citado Evaldo e Edilson Paiva. E, para coroar,
quatro artistas: o ficicionista Luiz Vilela, o teatrólogo Gabriel Vilela, o
violonista Ivan Vilela e a apresentadora Valéria Monteiro. Proximamente esta galeria
será completada com os Vilelas da área da saúde, saudáveis competidores dos
citados e demais Vilelas agrônomos.
VILELAS MINEIROS DE SERRANOS: VILELAS FIALHOS
E VILELAS GARCIAS
O primeiro Vilela de Serranos, Domingos Vilela, é neto
de João Vilela, morador na localidade de Galego da freguesia de Santa Maria das
Palmeiras, e filho de Custódio Vilela, da mesma freguesia. Custódio casou-se
ali mesmo com Felícia Cerqueira, em 1707, e dali Domingos, filho do casal,
migrou para o Brasil. Um irmão de Domingos, André Vilela Cerqueira, migrou para
Guaratinguetá, São Paulo, casou-se aí, em 1753, na família Fialho, mas seus
filhos, os Vilelas Fialhos, vieram para Minas Gerais na direção de seus primos.
Vale lembrar que em Guaratinguetá era pároco o padre José Alves Vilela, que, em
1743, foi o primeiro a relatar o encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida.
Dele ora estudamos a relação com os Vilelas Fialhos.
Já Domingos Vilela, casou-se, na mesma época de seu
irmão, com Maria do Espírito Santo Garcia, filha de Júlia Maria da Caridade,
uma das irmãs ilhoas, que vieram da ilha do Faial para Minas Gerais. Júlia
casou-se na freguesia de Rio das Mortes Pequeno, pertencente a São João del
Rei, com Diogo Garcia, também ilhéu, em 1724, e a filha Maria nasceu na mesma
localidade, mas foi morar com o marido Domingos Vilela em Serranos, onde
tiveram onze filhos que chegaram à idade adulta. Quatro destes permaneceram em
Serranos, dois na atual cidade de Natércia, uma (Mariana) em Carmo da
Cachoeira, e quatro (José, Maria, Teresa e Ana) na região compreendida por Boa
Esperança, Campos Gerais, Coqueiral, Carmo do Rio Claro, Três Pontas e
Nepomuceno, todas, na época, localidades pertencentes a Lavras. Dos
descendentes destes últimos cinco é que vieram os principais entrelaçamentos
com os descendentes dos Vilelas de Santana de Jacaré.
O texto básico para o estudo dos Vilelas de Serranos
foi escrito pelo monsenhor José do Patrocínio Lefort, completado por José
Guimarães. O rastreamento dos descendentes de André e Domingos Vilela (isto é,
os Vilelas Fialhos e os Garcias Vilelas) é dificultado pelos numerosos membros
da família que não conservaram o sobrenome Vilela, sendo mais difíceis casos
como o do sub-ramo de sobrenome Corrêa. São descendentes que não conservam os
sobrenomes Garcia ou Vilela, mas integram a numerosa prole do padre Manuel
Gonçalves Corrêa (que, embora Garcia, recebeu, por exigência de Júlia Maria da
Caridade, o sobrenome Gonçalves Corrêa, em homenagem ao avô materno). Muitos de
tal prole matrimoniaram com primos Vilelas, por exemplo nas cidades de Formiga,
Itapecerica e Nepomuceno.
VILELAS MINEIROS DE SANTANA DO JACARÉ:
VILELA FRAZÃO, VILELA CARRIJO E ALVES VILELA

A família Vilela Frazão está incluída pelos
linhagistas na Genealogia Paulistana, no capítulo dos Horta/Gago. Os Horta, no
Brasil, se originam com Baltazar Nunes de Horta, da cidade de Setúbal,
Portugal, especificamente com a neta deste Catarina de Figueiredo Horta,
falecida em 1621 em São Paulo, e que tinha, nos ascendentes, os sobrenomes
Carvalho, Alves, Gonçalves, Salema, Correia, Andrade, Ferreira, Magro e Soares.
Catarina Horta casou-se com Pascoal Ribeiro e depois com Rafael de Oliveira Gago. Os Vilela Frazão
provêm dos filhos do primeiro casamento, pois Antônio Vilela Frazão veio de
Portugal e, em Minas, se casou com Eufrásia Pires Brant Ribeiro, de família
fundadora de São João del-Rei.
Nesta linhagem há dois casos em que os filhos ficaram
com o sobrenome Vilela da mãe - a começar pelo primeiro deles Antônio Vilela,
cujo pai era Antônio Velho Porto e a mãe era Maria João (Vilela). Antônio
Vilela (Frazão) casou-se em
Minas Gerais com Eufrásia de Jesus Maria Pires Ribeiro, filha
do sargento-mor Manoel Pires Ribeiro, de S.J. Del Rei, e de Jacinta Maria
Caldeira Brant. Eufrásia é neta de Ambrósio Caldeira Brant, importante na
guerra dos Emboabas, e sobrinha do legendário contratador Felisberto Caldeira
Brant. Além disso, os ascendentes
paulistas de Eufrásia, como já dito, são Horta e Gago. Já o lado Ribeiro de
Eufrásia tem ligação com os Ribeiro da Silva e os Ribeiro de Oliveira Pena, da
fazenda do Salto, onde foi batizada.
A filha de Antônio Vilela, Joana Francisca Rosa
Vilela, casou-se, em 1801, com Manoel Alves Carrijo, cujos filhos passaram a
ter o sobrenome Alves Vilela, sendo o Alves tirado do pai e o Vilela da mãe.
Assim, os Alves Vilelas são de fato Vilelas Carrijos. Essa preferência pelo
sobrenome materno pode ser explicada quando este for denotativo de
cristão-velho, que assim ganha preferência em comparação com o sobrenome
paterno, eventualmente denotativo de cristão-novo. Dessas observações se deduz
que há descendentes de Antônio Vilela que não são Alves nem Carrijo, bem assim
há Carrijos que não são Vilelas, se forem descendentes unilaterais de irmãos de
Manoel Alves Carrijo (um deles é Antônio Alves Carrijo que com ele adquiriu sesmarias
vizinhas a Vilela Frazão). E há os Vilelas que assinam apenas Frazão,
descendentes de outra filha de Antônio Vilela Frazão, Páscoa Angélica de Jesus
Vilela, que se casou com Alexandre Gonçalves de Oliveira, fixados
principalmente em Formiga.
Já os descendentes de Joana Francisca Rosa Vilela, os Alves
Vilelas, se fixaram em
Campo Belo, Cristais, Candeias, Ituiutaba e Nepomuceno. Vale
lembrar que Felisberto (Alves Carrejo), um irmão de Manoel Alves Carrijo é considerado
fundador de Uberlândia e três irmãos Alves Vilelas são co-fundadores de
Ituiutaba. Vilela e Carrijo são sobrenomes históricos na região da cidade de
Mineiros em Goiás. O
sobrenome Carrijo, de si corruptela de Carrillo, sofreu mudança para Carrejo no
Triangulo e em Goiás.
Antônio Vilela chegou das proximidades da cidade do
Porto para a região centro-mineira de Congonhas do Campo, mas acabou vindo para
o sul da província e encontrou já estabelecidos aqui os Vilelas de Serranos.
Para distinguir o recém-chegado dos demais, este passou a ser cognominado de
Frazão, derivado de sua localidade natal, e é assim que se auto-denomina em seu
testamento. Faleceu em 1813. Casou-se em família importante de São João del
Rei. Assim, Antônio Vilela Frazão, que deve ter migrado por ambição mineradora,
se viu entregue à agropecuária, inclusive a agro-indústria de açúcar e cachaça,
sem contudo deixar de ser proprietário de lavras no Rio Paraopeba [ver seu
testamento já divulgado na internet].
Algo semelhante aconteceu ao patriarca de Serranos, Domingos Vilela. As férteis
terras sulmineiras, antes desprezadas por mineradores do norte de Portugal,
passaram a ser valorizadas para a agropecuária no final do século 18, como
resultado da chegada e da expansão de agricultores açorianos, sendo esta
facilitada pelo extermínio de quilombos e o genocídio de quilombolas.
Tudo indica que Antônio Vilela Frazão não abandonou a
mineração de ouro pois fez seu primogênito homônimo ocupar terras no vale do
rio Pará de modo semelhante às que ocupara no vale do rio Jacaré. Esta região
ficou conhecida como Pará dos Vilela e ali a família teve várias fazendas, uma
delas a fazenda Aurora, onde João Guimarães Rosa, muito amigo dos Vilela,
situou o conto SARAPALHA. As terras dos Frazão correspondem a áreas depois
situadas nas cidades de Itaguara, Cláudio, Carmópolis e Itaúna. A família
Frazão também se deslocou para Paracatu, logo após a fama do ouro ali
disponível.
Os quadros a seguir permitem uma visão geral da gente
Vilela Frazão.


