João Amílcar Salgado

segunda-feira, 24 de outubro de 2022

 


TRIPLO TRIUNFO DE GANDHI SOBRE CHURCHILL

João Amílcar Salgado

 

Há sete anos, publiquei a seguinte comemoração intitulada DUPLO TRIUNFO DE GANDHI SOBRE CHURCHILL: “No livro O Riso Dourado Da Vila (2003, 2020), narro que meu pai, na época da guerra mundial, me fez admirador de Churchill e que mais tarde, ao ler sobre a vida de Ghandi, passei a desprezar Churchill, porque este se recusara a receber este líder defensor da independência da Índia. Simplesmente alegou que nada tinha a falar com um faquir semi-nu. Não muito tempo depois o arrogante político teve de aceitar a independência pela qual o pacifista lutava. Hoje, 14-3-2015, Ghandi completa seu triunfo sobre Churchill, pois nesta data é inaugurada no centro de Londres a estátua de Ghandi, bem perto da estátua em homenagem a Churchill.  Meu regozijo pelo fato me obriga a homenagear meu pai, que me fez entrar indiretamente neste enredo, e a homenagear os que tiveram a iniciativa da estátua, num momento histórico em que se faz urgente exaltar a grandeza da doutrina da não-violência, difundida mundialmente por Ghandi.” Hoje, 24-10-2022, faço nova comemoração, pois acaba de acontecer um terceiro triunfo de Ghandi sobre Churchill, com a eleição de Rishi Sunak, de origem indiana, para primeiro-ministro britânico.

 

 

 

 

domingo, 23 de outubro de 2022

 


EXAME NACIONAL DE RESIDÊNCIA (ENARE): COSMÉTICA INFELIZ

João Amílcar Salgado

Sou Ex-Coordenador de Pedagogia Médica da UFMG (disciplina obrigatória na pós-graduação da área profissional médica), Ex-Consultor CFE/CAPES para credenciamento de cursos de pós-graduação e Ex-Consultor OPS/OMS para o Cadastro Nacional de Escolas Médicas. Fiz parte e fui relator da primeira comissão para implantar a residência médica na UFMG, em 1971, depois de participar da implantação da residência médica no Departamento de Clínica Médica, no mesmo ano. 

Como historiador da medicina, apresentei várias vezes nas instancias referidas, o histórico da residência médica. Desde sempre, distingui a residência médica original, vitoriana, romântica, monástica, celibatária e liberal – da residência de consumo, do pós-guerra-mundial: mão-de-obra barata, assalariada, de mercado, de demanda e vigente nos EUA, donde passou a modelo para o mundo. Em minha tese de doutorado, caracterizei o fenômeno das muletas sucessivas, pelo qual cada etapa da educação passa a ser muleta da etapa anterior. De 1971 a 1984, a demanda de médicos qualificados fez concentrar na residência médica a esperança de que se tornasse uma muleta definitiva das precariedades da graduação. De 1984 até hoje esse tamponamento pedagógico não só não resolveu as precariedades crescentes, como culmina agora, em 2020-22, com a muleta máxima, aberração das aberrações anteriores, ou seja, a criação do exame nacional de residência médica.

Nos próprios EUA, o fenômeno da muleta educacional é, sem esse nome, congênito à inovação flexneriana de Johns Hopkins do ensino da medicina, a partir de 1876. A seguir foi estendido conceitualmente ao sistema educacional amplo por Linus Pauling, com base em sua experiência de docente ginasial. As “muletas sucessivas” podem ser referidas de modo menos duro, pelo conceito pedagógico de não-terminalidade das etapas, correlato ao fenômeno pelo qual cada etapa, em vez de terminal, é travestida de etapa iniciática à subsequente. A única vez que concordei com meu mestre Hilton Rocha, em pedagogia, foi quando ele espinafrou o coronel Newton Sucupira, na institucionalização equívoca da pós-graduação, durante a ditadura. Sucupira não pôde reagir, porque Hilton era oculista do general Golbery. A explosão dos cursos comerciais de medicina - com a diplomação de milhares de profissionais inseguros e o consequente colapso assistencial - só poderia resultar em uma confessada degringolada, representada pelo exame nacional de residência. Trata-se de desesperada tentativa de remendar o irremendável.

Apontem-me alguém do MEC que possa falar algo sobre isso. Talvez aqueles pastores ora processados por grossa corrupção?

sábado, 15 de outubro de 2022

 


HOMENAGEM AO ZICO LOURENÇONI

João Amílcar Salgado

Ainda em referência à família Lourençoni, presto aqui uma homenagem ao Zico, que disputou com seu irmão Luiz Lourençoni (meu tio e padrinho) o posto de maior amigo de meu pai. Excepcional administrador rural, escapava da lida para chegar a nossa farmácia e procurar alguém que o enfrentasse no jogo de dama. Na falta de um adulto, me chamava e dizia: “Cuidado! não me desmoralize como da outra vez!”. Seus contendores de fato eram o Alfredo Unes e o Zequinha Antunes. No fim das férias, o Vander me diz: “não compre o bilhete do ônibus, meu pai quer te convidar para irmos em nosso carro pra Belo Horizonte, ele falou que quer ir batendo papo com esse menino”. A viagem era porque o sobrinho Décio tinha marcado um check-up para ele. Durante o trajeto, ele me perguntou tudo sobre tudo. Pensei: este fazendeiro merecia ter chegado à universidade! Sua amizade por meu pai e seu carinho por mim deixaram marcas muito saudosas e muito profundas.

Esta foto foi-me ofertada pela grande amiga Teresa do Deca. O Joãozinho Meneis e ela moravam vizinhos na rua Nova (rua de cima ou João Inácio) e eram meus inesgotáveis historiadores comparsas.  Perguntei a ela se tinha foto do Felipe Capelo e família. Ela garantiu que tinha vários pacotes de fotos e me daria todos de presente. Por enquanto, me adiantou esta. Aí está provado que o casamento de Lourençonis com Salgados resultou em gente muito bonita. Onde estão os pacotes?

terça-feira, 4 de outubro de 2022

 LIÇÃO ANTI-RADICAL

João Amílcar Salgado


Fato muito curioso para os nepomucenenses aconteceu na eleição de 2/10/22. A família Lourençoni teve dois de seus parentes disputando o governo de dois Estados: Onix Lourençoni, no Rio Grande do Sul, e Renato Casagrande, no Espírito Santo. E é ainda mais curiosa a ideologia oposta de ambos: Ônix é direitista e Renato é esquerdista. Em meu livro O RISO DOURADO DA VILA, ora lançado em 2ª edição, descrevo a ONOMATOMANCIA NEPOMUCENENSE, que é o hábito de nossa gente de ver em qualquer um o sósia de outro. No caso dos dois candidatos, o dentista e historiador de memória genial, João Menezes Neto, apontou que Ônix e Renato eram coincidentemente sósias de dois irmãos Lourençoni: respectivamente Nivaldo e Nilson.  Esta é uma lição que nossa cidade dá ao Brasil, contra a polarização política.

 

NOSSA VILA E OS DOIS CENTENÁRIOS DA INDEPENDÊNCIA

João Amílcar Salgado



        Hoje, 30/9/22, finda o mês dos 200 anos de nossa Independência, que comemorei lançando a 2ª edição de “O RISO DOURADO DA VILA”.  Carlos Amílcar teve a feliz ideia de fazer o lançamento, entre várias boas opções, no ótimo ESPAÇO SANTÉ CASARÃO. Coincide que este prédio se liga à comemoração, em Nepomuceno, dos 100 anos da Independencia, descrita no livro. Na festa do centenário na Vila, se envolveram o dono deste palacete, minha mãe e meu avô. O dono Antenor Barbosa, ilustre farmacêutico por Ouro Preto, compareceu ao Rio, e na exposição comemorativa foi premiado com a criação do medicamento SANALGINA. Minha mãe, com apenas 15 anos, também foi ao Rio e se maravilhou com a festança. Já meu avô, o educador João de Abreu Salgado, então diretor do Grupo Escolar Coronel Joaquim Ribeiro, e o pároco padre José Domingues comandaram a comemoração municipal, minuciosamente transcrita em meu livro “NEPOMUCENO – SÍNTESE HISTÓRICA”.

Em “O RISO DOURADO” lembro que minha mãe, Evangelina Alves Vilela (Vange, futura nora de Salgado) e sua prima Antonieta Correa Lima (Caixinha) ficaram hospedadas em luxuoso hotel carioca. As jovens não conheciam a luz elétrica. O gerente alertou-as para não deixar de apagar a luz durante a noite. Como apagar a luz?  Ambas subiram num móvel e ficaram soprando a lâmpada. Cansadas de tanto soprar, afinal pediram ajuda.

segunda-feira, 15 de agosto de 2022

 


MANIFESTO CONTRA O SAQUE AO ACERVO ARTÍSTICO E HISTÓRICO DE MINAS GERAIS

 

Os participantes do Congresso Mineiro de História da Medicina, realizado em Barbacena, de 14 a 16 de agosto de 2004, bem como historiadores e estudantes do Centro de Memória da Medicina de Minas Gerais, por sua maioria, aprovam o seguinte manifesto sobre o contínuo saque ao acervo artístico e histórico do Estado de Minas Gerais.

Minas Gerais foi e continua sendo origem de invejável conjunto de bens artísticos e históricos, dignos do maior zelo por parte não só dos mineiros, mas dos brasileiros em geral. Desgraçadamente, desde o esboço deste crescente tesouro, a cultura mineira vem sendo vítima de contínuo saque, que já se estende por três séculos.  A triste crônica de tal agressão não deixa dúvida de que a ostensiva impunidade quer dos saqueadores, quer dos cúmplices locais, é responsável por sua perpetração contínua e crescente. Autoridades maiores a quem deveria caber o mais desvelado cuidado vêm demonstrando tal e tão cínica omissão ao longo do tempo que lhes cabe clara parcela de cumplicidade. Tamanha vilania clama por medidas objetivas e eficazes e, por meio deste manifesto, estamos desafiando os órgãos governamentais, as instituições não-governamentais e a sociedade em geral a que dêem às futuras gerações uma resposta condigna. E que esta esteja à altura do incomensurável patrimônio atingido, que soma à insubstituível porção já dilapidada, a valiosíssima fração que resta em flagrante perigo.

            As tímidas medidas, esboçadas de tempos em tempos, estão eivadas de evidências de que a complacência para com os criminosos prosseguirá.  Tratá-los como meros contraventores, em vez de autores de gravíssimo crime, é o pior sinal. Chamar eufemisticamente o traficante de marchand e o receptador de colecionador é a contraprova da cumplicidade oficial. Reduzir o conjunto desejável de medidas enérgicas à conscientização das pessoas é flagrante ingenuidade, principalmente agora quando medidas eficazes em favor do turismo cultural e ecológico estão em andamento. Apoiamos plenamente tanto o turismo como tudo que vise à consciência coletiva  do valor de nossos bens históricos, artísticos e paisagísticos.  Mas isso não dispensa e, ao contrário, exige a vigilância cada vez mais sofisticada dos mesmos, pois sua exposição estará multiplicada tanto quanto a cobiça sobre eles, com o inevitável uso de métodos criminosos peculiares ao crime organizado.  Os saqueadores são imunes à conscientização e só são contidos pela certeza de que a impunidade será substituída por punições severas e incontornáveis.

Em relação às obras de Aleijadinho ou de artistas de mesmo nível, a lei já deveria ter proibido a comercialização, com seu imediato recolhimento aos museus públicos mineiros.  O catálogo com minuciosa descrição de cada uma, mesmo das de autenticidade duvidosa, deveria ser de elaboração oficial, estar na internet e sem o anonimato dos atuais depositários.  Assim como a televisão e a demais imprensa divulga telefones para devolução voluntária de peças desviadas, os atuais depositários deveriam receber prazo para a entrega ao governo de seus aleijadinhos e congêneres. Os profetas de Congonhas já deveriam ter sido resguardados contra qualquer deterioração e isso já deveria ter sido realizado desde quando foram feitos os moldes ora recolhidos à UFMG.

            Trair os interesses da cultura mineira com medidas de marketing, que encubram providências firmes e efetivas, é crime tão grave quanto aquele que fingem combater.  Até aqui, tecnocratas da cultura, historiadores, mestrandos, doutorandos e consulentes em geral não sofrem qualquer controle e foi inevitável que começassem a aparecer nos noticiários como membros de quadrilhas capazes não só de saquear bens, mas de sua danificação irreversível. O esbulho de bens culturais é terrivelmente semelhante à devastação de nossas florestas, ou seja, encontram-se submetidos à mais cruel e sórdida das tolerâncias.

Solicitamos aos Senhores Presidente da República, Governador do Estado de Minas Gerais, Ministro da Cultura e Secretário de Estado da Cultura que se manifestem oficialmente diante de cada questão acima mencionada

 

 

 

O ESCANDALO DA COLEÇÃO DE ARTE


João Amílcar Salgado

O escândalo da coleção de arte do romeno Jean Boghici é a oportunidade para se discutir a questão dos mercadores de obras artísticas. Boghici, de morador de rua, chegou a milionário nesse negócio. Aproveitou muito bem sua incrível capacidade para se aproximar de intelectuais em evidência, usufruindo de seu prestígio. Sua valiosíssima coleção foi mal armazenada e com isso artistas de enorme importância tiveram suas obras destruídas, perdidas ou alienadas a estrangeiros. Diante disso, repetimos aqui um protesto que jamais causou qualquer incomodo aos criminosos da arte, muito semelhantes aos criminosos ambientais, quase sempre acumpliciados a burocratas igualmente vis. O padre Simões de Ouro Preto (cônego José Feliciano da Costa Simões, pároco do Pilar), meu amigo, deve ser consagrado como o maior inimigo desses vendilhões. Chegou a ser preso em S. Paulo, quando se aproximava de um figurão receptador. Importantes autoridades em autenticação artística, como o notável Márcio Jardim e a brilhante Miriam Ribeiro de Oliveira, sofreram em suas garras.

[Na postagem seguinte, leiam nosso protesto]