João Amílcar Salgado

domingo, 28 de maio de 2023

 



A AGRESSÃO A VINÍCIUS JR SE SOMA A TRAGÉDIAS

João Amílcar Salgado

            O fascínio que a Espanha exerce sobre o resto da Europa e do mundo é composto de ingredientes incrivelmente belos e de episódios incrivelmente trágicos. O que aconteceu ao extraordinário craque Vinícius Jr é uma tragédia espanhola exemplar.  De Fernando Cortez e da Inquisição a Francisco Franco e à Guernica, sobreleva o fratricídio inaugural de Afonso 6º. De Aranjuez à Lenda do Beijo sobreleva a sedução (ambígua, por francesa), de Carmen e do Bolero. Ambíguos também são a devoção morena, gitana e flamenca. A tourada, contra touros bravos negros, simboliza ibéricos nórdicos a sangrar dominadores bérberes, também negros. Uivar contra Vinícius Jr é gritar olé contra os ancestrais do magnífico atleta. Fui educado no culto, entre outros, a Salamanca, Cervantes, Teresa d´Ávila, João da Cruz, José de Anchieta, Cajal, Jimenez Diaz, Marañon, Rodrigo Vidre, Albéniz, Velázquez, Goya, Picasso e (espanhol adotivo) Hemingway. Tenho ascendentes galegos, sevilhanos e castelhanos, o que me autoriza a exprimir o mais entranhado asco por aqueles que, em vez de honrados antirracistas, se esbaldam em crime hediondo e reiterado contra os que supõem indefesos. Heróico Vinícius, imponha o silêncio aos vociferantes, recitando o “SONHO IMPOSSÍVEL”.

https://youtu.be/XduuNoqwE3w

 

 

segunda-feira, 22 de maio de 2023

 


VINÍCIUS JÚNIOR – HERÓI BRASILEIRO

João Amílcar Salgado

Desde a antiguidade, se sabe que um mestiço produto de dominador e dominado (ou um cativo excepcionalmente liberto), é o mais eficiente repressor de escravos ou de qualquer dominado – é a síndrome do capitão-do-mato. Muitos racistas (brutais ou refinados ou disfarçados) exibem esta síndrome. Ontem, 21/5/23, tivemos o caso da cidade de Valência, na Espanha, que nos faz lembrar tal síndrome. Esta cidade era de população europeia, mas foi dominada por árabes melanodérmicos do ano de 711 até 1238 e assim ficou com a população miscegenada. Um bando de “capitães-do-mato”, emerso dos arcanos genéticos ibéricos, ofendeu o nosso Vinícius.

 

 

sábado, 20 de maio de 2023

 



ANTÔNIO LÍVIO SALGADO

João Amílcar Salgado

Antônio Lívio Salgado é o somatório feliz do humor crítico de Vilelas e Salgados Seu humor crítico é tão extremo que me levou a defini-lo como o menino-prodígio que concluiu não valer a pena ser prodígio, ou melhor, que ficou com preguiça de continuar sendo prodígio. Com três anos, ele dava show diário na farmácia de seu pai. Era um menino muito vivo e falante, loiro então. O Sargado pedia uma a uma, e ele não errava qualquer capital do mundo.  Agora conte aquela história do Pedro Malasartes. Agora recite “Você sabe de onde eu venho”. E o menino, com o rompante de orador choroso, herdado de seu lado Correa Lima, recitava o poema musicado em CANÇÃO DO EXPEDICIONÁRIO  (www.youtube.com/watch?v=jykf9-egoaA). Eram dias alegres, logo após a 2ª guerra e as pessoas faziam roda para ver o menino ganhar na dama ou no xadrez de qualquer marmanjo, além de peripécias no futebol e no víspora. Seu nome não seria Lívio, mas Asdrúbal. Seu pai pretendia insistir com nomes cartagineses aos filhos.  A mãe Vange achou estranho, mas aceitou mudar para o nome latino Lívio. O Gingin, esposo da Teresa, prima da Vange, aproveitou para dar o nome Asdrúbal a seu filho e tudo ficou em família.

            O João Salgado falece muito jovem, aos 47 anos. Em meio ao pranto geral, o tio Tito levou o menino para o quintal. Mas ele próprio soluçava e ensopava de lágrimas a roupa do sobrinho. A cidade inteira cercou o Lívio de carinho, principalmente seus colegas na escola, amigos pela vida toda. A foto anexa mostra todos eles. Em sua formatura no ginásio, cheguei às pressas de Belo Horizonte, pois ele me aguardava para retocar seu discurso de orador da turma. A Maria da Tiana, nossa querida cozinheira, fritou-lhe em homenagem uma pratada de lambaris. O Lívio exagerou na quantidade ingerida e agi como médico para permitir que o discurso fosse lido sem sustos.  

            Para o curso científico, inscrevi-o para o colégio Estadual e ele ultrapassou o temido exame com impressionante facilidade e calma. Veio morar na pensão da rua Paraíba, onde proseava, entre outros, com o vestibulando Valter Caixeta, depois famoso endocrinologista. O professor suiço Marcel Debrot descobriu que aquele caipira era capaz de conversar com ele em francês e perguntou como aprendera. O Lívio respondeu que ele e o tio Moacir receberam aulas que dei durante o ginasial na Vila. Isso lhe foi útil na França. E coincidiu que sua esposa, Maria do Carmo Barbosa, além de médica, é também excelente professora de francês. No Estadual foi colega do Boris Feldman e contemporâneo da Elke Maravilha, participantes da célebre geração que inaugurou o prédio de Niemeyer. Este prédio foi projetado para que JK obtivesse dos formandos de 1954 aceitá-lo como paraninfo no centenário do célebre ex-Liceu Mineiro. Ironicamente, o Lívio estudou ali, lugar onde antes foi o batalhão em que cumpriu pena um tenente, por ter agredido seu avô em Três Pontas, em 1934.

            Antonio Lívio brilhou no vestibular de engenharia, na UFMG, conquistando o 2º lugar. Fez um curso também brilhante e participou da bela iniciativa dos universitários em qualificar os eletricistas de ofício, mostrando-se excelente e querido instrutor. Candidatou-se a orador da turma, mas preparou um discurso tão emotivo, homenageando o pai, que lhe embargou a voz.  Os colegas aprovaram o discurso exceto o orador e, numa rara decisão, exigiram que o segundo colocado fundisse o primoroso discurso do Lívio com o dele. Fez estágio na Petrobrás, em Salvador, e ali fez vários amigos, um deles o engenheiro de petróleo Alfeu Valença, irmão do notável compositor e cantor Alceu Valença. O pernambucano Alfeu contava seus causos de sua cidade Garanhuns e o Lívio os da Vila. O simpático jovem apreciava tanto o anedotário do Lívio que não resistiu à tentação de conhecer aquela improvável cidade. E de fato na visita que nos fez concluiu que a realidade local era incomparável. Alfeu foi superintendente da Bacia de Campos e presidente da Petrobrás.

            O Lívio fez carreira na CEMIG, onde chegou a dirigente, sendo que na presidência de Carlos Eloy Guimarães, atuou com status de diretor.  Carlos Eloy me confidenciou: seu irmão foi o mais rígido superintendente que tivemos e, como tal, causou reclamações contra seu excessivo zelo ético. A tais queixas a presidência respondeu, não com seu afastamento, mas apontando-o  como exemplo a ser seguido por todos e permanentemente. Disso o Lívio extraiu, depois de aposentado, sua permanente crítica à corrupção hoje generalizada.

            Mas a melhor parte da vida desse mineiro típico -  e nepomucenense irreversível - aconteceu em sua vida de aposentado. Isto porque o enxadrista, o matemático, o competente engenheiro e o severo administrador foram substituídos pelo agrônomo amador. Saudoso dos pomares de seu pai, fez do seu um prolongamento daqueles. Todas as divisas internas e externas de sua fazenda são feitas de amoreiras vivas, em homenagem às trazidas por seu pai de Barbacena, fornecidas pelo sericicultor Amílcar Savassi. Com isso o lugar, já repleto de passarinhos, multiplicou por dez o alarido da avifauna.  E mais: Antônio Lívio ostenta o título de cultivador emérito do mangarito, reintroduzido por ele como iguaria da Vila, em colaboração com o verdureiro Zacarias das 3 Barras, o último a conservá-lo entre nós.

 

sexta-feira, 5 de maio de 2023

 



AS VACINAS PARA HPV E PARA HEPATITES

João Amílcar Salgado

Até 1963, reconhecia-se como hepatite apenas a infecção benigna hoje denominada hepatite A, para ser distinguida das hepatites graves, denominadas B, descoberta por Baruch Bloomberg naquele ano, e a C, descoberta em 1989, por Charles Rice, Harvey Alter e Michael Houghton. A vacina para hepatite B foi elaborada de 1982 a 1986, a da hepatite A em 1991 e a da hepatite C é prevista para 2023. Paralelamente, em 1983, Harald Hausen descobriu a relação entre o HPV e o tumor do colo uterino - e, em 1991, a vacina para o HPV foi descoberta por um australiano, Ian Frazer, e um chinês, Jian Zhou. Zhou faleceu coincidentemente de hepatite, em 1999. A vacina de Frazer & Zhou inaugurou a prevenção de câncer por meio de vacina.

Acrescento que ainda estudante ouvi de um professor que a hepatite infecciosa é assim denominada para distingui-la das hepatopatias tóxicas. Observei que devia ser chamada de hepatite comum, porque hepatites infecciosas eram também, por exemplo, a da febre amarela, a esquistossomótica e a leishmaniótica.

[ESTA MENSAGEM É ENVIADA PARA CORRIGIR A AUSÊNCIA DA VACINA PARA HPV NA CRONOLOGIA ANTES PUBLICADA E PARA HOMENAGEAR OS CIENTISTAS DO HPV E DAS HEPATITES]

domingo, 23 de abril de 2023

 


JOSÉ JUNQUEIRA E RODOLFO VALENTINO

João Amílcar Salgado

Em 1922, as moças de Nepomuceno consideravam os jovens José Junqueira e João Salgado os galãs da cidade. A Julinda, irmã do Zé era verdadeira miss e namorava o João. Este romance causava ciúmes, mas o Sargado era poeta e fez para ela a seguinte quadra: “EU SOU UM NAUTA PERDIDO, / NUM MAR JUNCADO DE ESCOLHOS, / VAGANDO DESILUDIDO, / À LUZ DE TEUS LINDOS OLHOS!” Vê-se que o verbo juncar era recado aos enciumados. Foi neste clima que passa o filme TANGO e a população da Vila não tem dúvidas: o astro é alguém fingindo ser o Zé Junqueira. Hoje pela internete é possível assistir o mesmo filme. E também o filme sonoro que repete aquele, bem como os dados da vida do famosíssimo ator RODOLFO VALENTINO

https://youtu.be/C4ELzf0u7Q8

https://youtu.be/oFcraniRJH0

https://youtu.be/zRVdmdSU4mc

quinta-feira, 20 de abril de 2023

 


AS VACINAS E A ESPERANÇA

João Amílcar Salgado

Agora é a hora de perguntar por aquelas vacinas que são velhas promessas: hanseníase, malária, sífilis, doença de Chagas, riquétsia, príon, helmintíases e neoplasmas. Desde o século 19, cada vacina que aparecia era motivo de esperança para todos os males, mas os insucessos foram frequentes. O próprio Carlos Chagas deve ter acreditado que a vacina contra a doença descoberta por ele, em 1909, seria logo possível, já que 3 anos antes, seu auxiliar Alcides Godoy descobrira a vacina do carbúnculo. A primeira tentativa foi de Émile Brumpt. Com a tecnologia genômica, as esperanças hoje renascem.

Eu próprio convivi com esta questão, na tripanossomose, na esquistossomose, na gripe, na estrongiloidose e na leishmaniose, acompanhando os esforços, no âmbito das imunizações em geral, de José Noronha Peres, John Enders, Albert Sabin, Zigman Brener, Humberto Menezes, Mauricio Martins Rodrigues, Israel e Ruth Nussenzweig, Luiz Hidelbrando, Henrique da Rocha Lima, José Lemos Monteiro, Geraldo Chaia, César Barros Vieira, José Teubner, Archimedes Theodoro, José Geraldo Ribeiro, Edward Tonelli, Elmo Peres, Giovanni Gazzinelli, Samuel Pessoa, Paulo Magalhães e Wilson Mayrink. Enquanto isso, acompanhei também as erradicações, sem vacina, da malária no Brasil (vale do rio Grande-Paraná, que repetiu a vitória contra o anófeles gambiae) e, em outros países, recentemente na China. Faço homenagem especial a dois Josés, notáveis cientistas mineiros: José Lemos Monteiro, mártir da ciência, e José Noronha Peres, o primeiro brasileiro a desenvolver, na epidemia de 1957, uma vacina antigripal.

 

Na atual pandemia devemos louvar a maravilhosa descoberta da tecnologia mRNA e lamentar a monumental ignorância dos detratores das vacinas em geral.

domingo, 16 de abril de 2023

 


VACINA IGUALITÁRIA PARA A GRIPE

João Amílcar Salgado

Acabei de receber a vacina atualizada contra gripe. Paguei pela vacina tetra, enquanto a gratuita é tri. Reservar a tetra para quem pode pagar é incompatível com as tão elogiadas propostas igualitárias do atual governo.  Tenho certeza de que isso será corrigido logo. Em O RISO DOURADO DA VILA (2020) descrevo como a gripe pandêmica de 1918 chegou à Vila e matou meu bisavô José Augusto Ribeiro de Oliveira Costa, enquanto minha mãe, com 11 anos, que dormia no quarto ao lado, teve forma muito branda da infecção. Escrevi o capítulo inicial do livro DOENÇAS INFECCIOSAS NA INFANCIA (1987) de autoria do brilhantíssimo nepomucenense Edvard Tonelli, o maior infectologista pediátrico do país, de renome internacional. Ali traço a longa história das infecções que vitimaram a humanidade e me refiro àquela pandemia, semelhante à da covide. Os epidemiologistas estão colecionando os casos daqueles que poderiam estar vivos, se tivessem tomado a vacina anti-covide. A maioria não teve acesso a ela, mas tanto os que impediram tal acesso, como  os que impediram familiares de serem protegidos e também os que disseminaram “fake news” contra a vacina, devem ser acusados de gravíssimo crime.