João Amílcar Salgado

sábado, 21 de janeiro de 2023

 


A USP GLORIOSA, CULPADA E VÍTIMA

João Amílcar Salgado

Um escândalo de festa-de-formatura sacode a USP. Tenho assinalado que esta magnífica instituição exibe participação gloriosa, mas também lamentável, diante do extremismo conservador. Por exemplo, se a Faculdade de Direito tem bela trajetória em favor da liberdade e da democracia, o legista falsário Harry Shibata, adulterador da causa da morte de assassinados pela ditadura, recebia ordens de docentes da cúpula da Faculdade de Medicina, os mesmos que apoiaram a cassação de colegas pelo AI5. Mesmo assim, a universidade é majoritariamente respeitável, sobretudo pela Carta aos Brasileiros, de 1977, lida por Goffredo da Silva Telles Junior, no território livre do Largo de São Francisco. Nela, ele denunciava a ditadura vigente e exigia o estado de direito, além da Assembleia Constituinte - conclamação renovada recentemente contra reiteradas ameaças antidemocráticas.

Demais, esta grande universidade, patrimônio de todos nós, tem sido vítima de estelionatários, como a estudante de medicina Alícia Veiga. Outro, é Hélio Angotti Neto, um oftalmologista olavista, que tem a desfaçatez de propor uma bioética derivada do terraplanismo - e vem explorando duvidosa ligação com a USP. Com tal bagagem, foi guindado, no Ministério da Saúde, a Diretor do Departamento de Gestão da Educação na Saúde e, pior, promovido a Secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos. Pergunto: como o olavismo terraplanista poderia contribuir para a ciência, a tecnologia, a pedagogia e os insumos estratégicos na saúde, exceto se for para agigantar ainda mais a tragédia pandêmica?  Outra pergunta, qual foi a banca examinadora que lhe concedeu o doutorado? Curiosamente, tais cargos foram cogitados para premiar Carlos Roberto Martins, que às vezes usa também o nome de Carlos Wizard, seu colega no gabinete ministerial paralelo, criado para negar a vacina e traficar terapia criminosa. Os escândalos de tal gabinete e da Prevent-Senior são a ponta do iceberg responsável por espantosa parte das 700 mil vidas perdidas.  Mais espantoso e inaceitavelmente vergonhoso é o comportamento da corporação médica, composta de incontáveis angottis, ostensivos ou enrustidos.

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