A USP GLORIOSA, CULPADA E VÍTIMA
João Amílcar Salgado
Um escândalo de festa-de-formatura sacode a USP. Tenho assinalado
que esta magnífica instituição exibe participação gloriosa, mas também
lamentável, diante do extremismo conservador. Por exemplo, se a Faculdade de
Direito tem bela trajetória em favor da liberdade e da democracia, o legista
falsário Harry Shibata, adulterador da causa da morte de assassinados pela
ditadura, recebia ordens de docentes da cúpula da Faculdade de Medicina, os
mesmos que apoiaram a cassação de colegas pelo AI5. Mesmo assim, a universidade
é majoritariamente respeitável, sobretudo pela Carta aos Brasileiros, de 1977,
lida por Goffredo da Silva Telles Junior, no território livre do Largo de São
Francisco. Nela, ele denunciava a ditadura vigente e exigia o estado de direito,
além da Assembleia Constituinte - conclamação renovada recentemente contra
reiteradas ameaças antidemocráticas.
Demais, esta grande universidade, patrimônio de todos nós, tem
sido vítima de estelionatários, como a estudante de medicina Alícia Veiga.
Outro, é Hélio Angotti Neto, um oftalmologista olavista, que tem a desfaçatez de propor uma
bioética derivada do terraplanismo - e vem explorando duvidosa ligação com a
USP. Com tal bagagem, foi guindado, no Ministério da Saúde, a Diretor do
Departamento de Gestão da Educação na Saúde e, pior, promovido a Secretário de
Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos. Pergunto: como o olavismo
terraplanista poderia contribuir para a ciência, a tecnologia, a pedagogia e os
insumos estratégicos na saúde, exceto se for para agigantar ainda mais a
tragédia pandêmica? Outra pergunta, qual
foi a banca examinadora que lhe concedeu o doutorado? Curiosamente, tais cargos
foram cogitados para premiar Carlos Roberto Martins, que às vezes usa também o
nome de Carlos Wizard, seu colega no gabinete ministerial paralelo, criado para
negar a vacina e traficar terapia criminosa. Os escândalos de tal gabinete e da
Prevent-Senior são a ponta do iceberg responsável por espantosa parte das 700
mil vidas perdidas. Mais espantoso e
inaceitavelmente vergonhoso é o comportamento da corporação médica, composta de
incontáveis angottis, ostensivos ou enrustidos.
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