João Amílcar Salgado

sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

 


MEU NAMORO COM A CIRURGIA TORÁCICA

João Amílcar Salgado

Ainda estudante de medicina, salvei a vida do Braz, menino meu conterrâneo e parente, que estava sendo tratado de tuberculose, mas não melhorava. Pedi a sua tia que   o trouxesse a nossa pensão, na rua Pernambuco, e logo mostrei seu caso aos professores Luiz Andrés e Javert, que identificaram uma imagem metálica no seu pulmão. O adolescente era aprendiz na sapataria do Jaime do Sobém e ali se usava ficar com os ilhoses na boca, antes de aplicados ao sapato. Aspirou um - e estava feito o diagnóstico. Ficara tão fraco que o o estudante Edward Tonelli ofereceu seu sangue, logo transfundido pela doutora Teresa Sebastião. A puberdade refreada ocorreu em dias e ele logo estava ótimo.

No meu 6º ano, chega dos EUA o Cid Filgueiras que me fez seu auxiliar favorito. Bênção do alto que me fez conhecê-lo e muito logo era como meu irmão, inclusive por sermos ex-meninos-prodígios. Ele chegava num pequeno carro inglês, um prefect, e íamos para um centro cirúrgico qualquer. Casos esquivados dos demais cirurgiões eram empurrados para ele, que os enfrentava não só devotadamente, mas com ágil e elegante habilidade. Dizia: vou  fazer de você o maior cirurgião pulmonar. Eu respondia: já sou um médico irrecuperavelmente polivalente. Foi nosso campeão em esôfago-curto. Mostrou-me um minúsculo prematuro e disse: vou lutar como um leão para salvá-lo. Tive que ir a um plantão e quando voltei ele estava no quarto dos internos, deitado na minha cama e meu travesseiro estava ensopado de lágrimas: não salvara o bebê! Aquele travesseiro era a prova cabal de que eu era o amigo que jamais teve. Outro caso foi o do estudante que operamos de bronquiectasia e ficamos a manhã toda na sala cirúrgica. Afinal, na recuperação imediata, a equipe me disse: agora é só com você. Fiquei aspirando a copiosa secreção, dia e noite, por duas semanas. Ele ficou ótimo e hoje é um dos meus grandes amigos.

Compete com o Cid em minha admiração a dupla José Sílvio / Overholt. Em 1955 e em 1966, diplomaram-se na UFMG dois gigantescos cirurgiões brasileiros,  José Sílvio Resende e Wilson Abrantes, diamantes forjados entre o ocaso da hegemonia franco-alemã e o advento da influência anglo-saxônica.  O Zé quis restringir-se à pneumologia, mas logo já dominava qualquer área. Sua incomensurável cultura médica, construída em continuidade harmoniosa com admirável cultura geral, em que o biombo de irrevogável modéstia não conseguiu ocultar o historiador, o beletrista, o orador, o humorista, o líder (formador de gerações de notáveis discípulos, entre eles quatro colegas meus de turma: Marcelo Ferreira, Luiz A. Luciano, Ernesto Lentz e Gilberto Lino), o músico (consangüíneo de Abel Ferreira, conviva de Goiá), o pescador e o sertanista.

O André Esteves de Lima, da turma de 52, que galgou alto prestígio nos EUA, foi elogiado por Richard Overholt, espantado com seu perfeito domínio anatômico. Respondeu que ele ficaria mil vezes mais impressionado com o Zé Sílvio. O maior cirurgião torácico da América imediatamente abriu uma vaga excepcional no seu serviço de Boston, para ter o prazer de contar com o Zé, que por questões pessoais não foi. Overholt hoje é conhecido como o iniciador da guerra médica contra o tabaco, resultante de sua experiência com o tumor pulmonar. Ele ficara célebre como o primeiro a fazer uma pulmonectomia direita para tratar esse tumor, mas acabou confessando que eliminou mais tumores combatendo o tabaco do que com o bisturi.

 

sábado, 25 de janeiro de 2025

 


ENVENENAMENTO POR ARSÊNICO E POR AMIANTO

João Amílcar Salgado

Passei a infância em meio ao arsênico e a outros venenos usados na farmácia e na agricultura. Um de nossos brinquedos era rodar a manivela da “máquina de tirar formiga”, que soprava o arsênico nos formigueiros. Cada nome eu procurava na biblioteca de meu pai e com 12 anos eu já podia dar aula de química. Falei ao padre William, na aula de tomismo: “Esse santo que o senhor citou, São Boaventura, foi ele que descobriu como isolar um veneno, o arsênio; santo pode fazer isso?” Ele deu uma gargalhada dizendo: “Essa eu não sabia!...” Mas o uso do arsênio bruto já era dominado pelas civilizações anteriores e com ele foram envenenadas personalidades históricas. Que isso tem a ver com Minas?  A maioria das captações de água das primeiras cidades mineiras e de muitas outras fornecia água de arsênico da mineração para os habitantes. Mais ainda, uma fábrica de arsênico foi instalada em Passagem de Mariana, pelos ingleses. Isso nas próprias margens do histórico Ribeirão do Carmo, onde foi achado o primeiro ouro, o preto. O serviçal da fábrica era apelidado de péla-saco, pois o arsênico depilava seu escroto. A canga ou itabirito é que continha arsênio e nela se faiscava o ouro. Ora, a canga é muito esponjosa e assim geradora de inúmeros olhos dágua, inclusive minas dágua para beber. Diante disso, seria correto captar água do rio das Velhas para Belo Horizonte? Os técnicos da época responderam: “Quem sabe disso? Ninguém, então vamos captar...”

Já o amianto, foi e ainda é um escândalo total. Os donos do negócio sabiam que seria proibido. Trataram de vendê-lo como modernidade para encanamento aos ingênuos prefeitos. Até hoje esses canos estão sob as ruas de cidades de todo o país, chegando a mais de 50 no Ceará, várias também no estado de S. Paulo e também em Nepomuceno. O maior perigo do amianto é inalatório e assim deve ter comprometido o pulmão dos operários que instalaram os canos e de todos os que os manipularem para reparos, inclusive ao eliminá-los. Quem quer beber dessa água? Minha família, por exemplo, vive o drama de consumir uma água assim, que veio para substituir a água que tão generosamente tínhamos oferecido à cidade. A antiga captação da Vila Esméria era de água mineral puríssima, que hoje ainda pode ser bebida na Mina Evangelina, completamente gratuita.

terça-feira, 21 de janeiro de 2025

 


AMEAÇAS SOFRIDAS

João Amílcar Salgado

A notícia, nos EUA, de tentativa de assassinar Trump e do assassinato de um chefão de plano de saúde teve sequência, no Brasil, na notícia de tentativa de assassinar o presidente Lula e no sucesso do filme sobre o assassinato de Rubens Paiva, estrelado pelo nepomucenense honorário Selton Melo, Isso tudo me fez lembrar ameaças que sofri na ditadura. Em um debate sobre a inovação do ensino da medicina na UFMG, fiz um comentário pelo qual fui metralhado por vários colegas, inclusive alguns diletos amigos. Eu disse que as inovações nunca dão certo, porque não são propostas por clínicos; os proponentes costumam ser psiquiatras, pedagogos, sanitaristas ou legistas, que acabam dizendo aos clínicos o que, como e quando devem ensinar. Depois eu soube que um legista meu ex-aluno confessou que tinha porte de arma e que, se ouvisse outra vez esta minha declaração, não poderia se conter e eu seria alvejado. Isso foi falado numa reunião de legistas e um deles, que era confesso idólatra de Hitler, neo-guru do próprio, pediu a primazia de atirar antes dele. Outra ameaça que sofri na ditadura foi de outro ex-aluno que era belga e era auxiliar de tortura no DOPS. Ele foi o principal redator de uma lista de inimigos do governo, que deviam ser assassinados, caso o general Sílvio Frota assumisse os rumos do regime. Eu estava na lista. Infelizmente, estudantes fanáticos, desequilibrados ou financeiramente carentes eram recrutados para funções de “arapongas” e de “cachorros”, bem como outras missões criminosas.

Mais tarde, protestei junto ao CRM pela censura que seu antiético diretor me fez, impedindo a publicação de um texto meu. Mas exigi que meu protesto fosse levado ao colegiado. O diretor era tremendo mau-caráter. Em vez de encaminhar minha comunicação diretamente ao colegiado, pediu o parecer daquele citado legista. Este não apenas engavetou a coisa, mas vasculhou os arquivos e “inventou” um débito meu, que, corrigido, somou certa importância. Procurei dois conselheiros, Valênio e Ajax, para que anulassem a cobrança. Ambos me advertiram: “esse cara é perigoso, faça o pagamento e finja que nada estranho aconteceu”. Fiz.

Note-se que um dos fundadores do atual IML-MG, logo após a Revolução de 30, foi o primo de minha mãe, o nepomucenense Oscar Negrão de Lima, catedrático de Medicina Legal da UFMG. Sua biografia foi escrita por meu querido amigo, legista e historiador Cristobaldo Mota, inclusive com subsídios que carinhosamente lhe forneci.

 


domingo, 19 de janeiro de 2025

 

HOMENAGEM A SEBASTIÃO LOPES PEREIRA

João Amílcar Salgado

A competição pelo ENEM (1998) e pelo SISU (2010), acaba trazendo à internete uma espécie de olimpíada de redação, de matemática e de ciências. Isso me faz homenagear meu queridíssimo amigo e colega, desde o exame vestibular, Sebastião Lopes Pereira. Eu disse dele: soberano tanto no vernáculo como na clínica geral, na pediatria e na anestesia. Conheci-o no “cursinho do Guerra”, quando ficou famoso por vencer um desafio de gramática feito pelo filólogo Hilton Cardoso, cujo prêmio era um cafezinho. Nasceu na mineiríssima cidade de Coimbra, sobrenome do fundador Manoel, vizinha a Viçosa. A Coimbra sertaneja tem, pois, um filho cujos atributos intelectuais impõem necessária relação com a tradição culta acumulada às margens do luso Mondego. Após o vestibular, indiquei-o para meu substituto como professor de redação no curso pré-médico, criado por nós no diretório acadêmico. Ele ali foi uma das estrelas do esplêndido corpo docente, tendo a seu lado, Ângelo Machado, Marcos dos Mares Guia, Armando Gil, Lineu Freire Maia e Jáder Siqueira, cujos QIs somados chegavam a perto do mil. Esse nosso cursinho – público, democrático e destinado aos vestibulandos sem recursos - causava inveja não só ao José Guerra Pinto Coelho, mas ao Mário de Oliveira, donos dos cursinhos privados de então, ambos meus enaltecidos professores no Colégio Estadual.

O interesse pela medicina e pela objetividade levou o Sebastião inicialmente para a clínica pediátrica, quando foi interno no Hospital São Vicente, ao lado do José Costa Val, do João Cândido dos Santos e da Penha Campos. A seguir, adicionou a seu preparo a ciência e a técnica da anestesia, aproveitando sua especial afinidade pela farmacologia. Exerceu-a ao lado de grande amigo comum, Erivaldo Couto, da turma e 1959 de nossa Faculdade, no Hospital Sara Kubitschek e no Hospital Maria de Lourdes Drummond, ao mesmo ttempo em que  atendia pediatria no sistema estadual de saúde. Nisso fez parte de minha inspiração para a proposta da equipe mínima de três médicos para cidades do interior, na qual o pediatra acumula a anestesia.

O petequista Sebastião se casou com a Célia Azevedo, bisneta do Coronel Manoel Alves de Azevedo, o legendário Mané Marreco da fazenda Ariadnópolis, em Campo do Meio, próxima a Nepomuceno - daí minha alegria de, sendo parente dela, ser contraparente do Tião. Estudo a legenda do Marreco, de quem meu avô João de Abreu Salgado era compadre e de cujas duas esposas era consanguíneo.  Por outro lado, para além de Ferreiras de Brito e de Azevedos, estudo as ascendências de qualquer Lopes e qualquer Pereira do mundo. Tenho dados que remetem os Pereira à família real e os Lopes a nada menos que Miguel de Montaigne, com quem, aliás, o Sebastião Lopes tem muitos pontos em comum.

 

 

 

 

 

quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

 


COLÉGIO DOS SONHOS

João Amílcar Salgado

            Aproveitando o Enem e as competições de redação, de matemática e outras ora noticiados, lembro que, em meu curso de pedagogia na Ufmg, o professor de administração escolar, o excelente Ennes Moreira, propôs um trabalho desafiador: se você fosse criar um colégio, qual seria seu projeto? Propus um colégio em que não houvesse mais que treze alunos por professor, em que não houvesse aula teórica e no qual o aluno cumpriria atividade pela manhã e pela tarde. Cada docente teria dedicação exclusiva e receberia 150% do salário pago pelo melhor colégio já existente. Haveria completo equipamento esportivo, inclusive piscina e ciclismo; completas instalações para aprendizagem culinária e completo ambulatório médico-odontológico. Todas as decisões seriam feitas em assembleia paritária de docentes, estudantes e funcionários, a qual elegeria o diretor e equipe, sem reeleição. O professor observou que a proposta o surpreendeu pela audácia, mas disse que eu teria de cobrar uma mensalidade altíssima e inviável. Respondi que não estava pensando em colégio lucrativo, mas público. Isso exigiria um pressuposto, no âmbito nacional, de sistemas de educação, saúde e transporte gratuitos para todos – não sendo impedida a opção das mesmas disposições no âmbito privado. Isso era uma aplicação ao ensino médio do que propúnhamos para o ensino superior, especificamente para o da medicina. Frequentava esse curso um colega que não conseguia disfarçar sua função de serviçal de informação da ditadura vigente, então início da década de 70 do século 20. Perguntou se poderia levar consigo uma cópia da proposta.  Respondi que a fornecia com o maior prazer e estava pronto para discuti-la em qualquer lugar com quaisquer interessados.

            Ainda sobre o Enem, esta é a oportunidade de homenagear meu querido colega de turma na medicina, Sebastião Lopes Pereira, a seguir.

            Anexo: fotos referentes a 3 dos primeiros educandários mineiros

terça-feira, 14 de janeiro de 2025

 

CANA VERDE NA TEVÊ E NAS TELONAS

João Amílcar Salgado

Um trio caipira de Cana Verde é campeão do mineirês na internete, com muito humor. Chegou a ser tema do programa Fantástico da tevê e alcança até o cinema, junto a Maurício de Souza, em CHICO BENTO E A GOIABEIRA MARAVIOSA. Os três são o Gustavo Almeida Freire, apelidado de "Gustavo Tubarão", 25 anos, Sebastiao Fernandes Filho, com o apelido de "Tião Bruto Sistemático", 71 anos, e Isaac Duarte Ferreira, mais conhecido como "Isaac Amendoim", 11 anos. O povo de Cana Verde é o mesmo povo da Vila da outra banda da fazenda Congonhal, assim como metade de Campo Belo. O linguajar dessa gente já foi expresso por mim em meu livro O RISO DOURADO DA VILA (2004, 2020), também com humor. Nessa perspectiva é mais uma das inúmeras evidências de que somos habitantes do “umbigo do mundo”.

 

domingo, 12 de janeiro de 2025

 


PADRE-MÉDICO CARLOS VALADARES DE VASCONCELOS

João Amílcar Salgado

Hoje faço uma homenagem a um de meus grandes amigos, meu ex-aluno padre e médico Carlos Valadares. Anualmente ele celebrava a missa dos cadáveres, tradicional na UFMG. Após o ofício ele vinha beber o delicioso capucino da Leila no Centro de Memória. Disse-lhe que mais um ofício lhe cabia: uma aula de história da medicina sobre ser padre e ser médico. Pediu tempo para prepará-la. Ele saiu-se muito bem, comovendo a todos. Iniciou confessando que escondeu dos colegas, por bastante tempo, sua condição de padre, mesmo assim sofreu búlingue. Contou toda sua interessantíssima vida, especialmente sua atuação no pronto-socorro, junto às famílias dos atendidos. E encerrou com a passagem evangélica em que Jesus é questionado e hostilizado em sua cidade de Nazaré.

            O episódio aparece em Marcos, Mateus e Lucas. Este último, talvez por ser médico, inclui o aforismo “médico, cura-te a ti mesmo” que teria sido proferido pelos questionadores, enquanto Jesus retruca com outro aforismo de que “ninguém consegue ser profeta em sua própria terra”, exemplificando com os casos de dois profetas. Os mais hostis vinham alegando que não fez ali as curas que fez em Carfanaum e o expulsam da cidade. E mais: o arrastam até o alto do monte e quase o arremessam dali. Jesus se esgueira e escapa.

            O padre-médico Carlos comenta que o médico e o sacerdote têm de estar preparados para a ingratidão e todas as demais incompreensões. E acrescentou: concordo com o João Amílcar em que este evangelho é notável por definir o lado social da medicina, quando Jesus começa por citar o profeta Isaías, mostrando que a saúde é muito mais ampla do que a cura individual. Além de Jesus, Isaías fez de Francisco de Assis, Bento de Núrcia e o querido padre Carlos seus diletos discípulos neste conceito.

 

sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

 


JIMMY CARTER E HEINZ KISSINGER

João Amílcar Salgado

Desembarquei em João Pessoa para falar aos estudantes e, no aeroporto, o Jaime Scherby disse que ”por pouco, não me apresentaria a Rosalynn Carter, mas mesmo assim você  alcançou o suco de pitanga que preparamos pra ela; ela e você não são os mais fanáticos por este suco?”. Nessa época, agentes dos EUA me vigiaram em minha viagem a Puebla, no México. Havia uma inquietação direitista com a desenvoltura à esquerda de Jimmy Carter. Forjaram até a “Operación Marielitos” com migrantes cubanos, para sabotar o namoro pacifista Carter-Castro. Carter, contudo, repreendeu Geisel pela truculência ditatorial e em seguida deu asilo a Brizola, Este foi expulso do Uruguai, provavelmente por trama de Kissinger.

O alemão Heinz Kissinger parece que no fundo menosprezava a mentalidade ianque, atrevendo-se a  reorientar seu conservadorismo de faroeste. Antes de perceber-lhe o sinistro perfil, me interessei pelo sobrenome, por significar beijoqueiro (kisser ou kissinger), referido ao inseto barbeiro (kissing bug), objeto de minhas pesquisas. Coincide que Kissinger dizia usar o sexo como inspiração diplomática, inclusive em Paris na ocasião da paz no Vietnã. Outra novidade é o uso do segredo em diplomacia, em paralelo à espionagem, pelo qual pode ter tido envolvimento em Watergate.  Usou também o futebol como instrumento diplomático. Teve vertiginosa atuação junto a Mao Tse Tung, Zhou Enlai (personagem de Malraux), Le Duc To, entre israelitas e palestinos e na guerra-fria. Como premiado Nobel (1973), tem sido poupado da verdade histórica, mas hoje o vemos como inominável criminoso de guerra, pelas ditaduras no Chile, no Camboja e no Uruguai (1973), pela invasão indonésia do Timor (1975) e outros horripilantes ardis. Foi desde então que o uruguaio Mujica, extraordinária figura humana, foi torturado por 12 anos. Diante do crescente gigantismo chinês, muitos passarão a acusá-lo de seu causador, desde quando em 1971 visitou secretamente a China. Pousou o Air Force One no Paquistão e dali foi a Pequim.  Fez dezenas de outras visitas, participando de banquetes com mais de uma geração de líderes do país. No início, despistou os anticomunistas dos EUA e os antiamericanos russos e chineses, sem que nada vazasse.

Em uma roda com chamados “cientistas políticos”, em 2012, me perguntaram se eu sabia como foi a primeira conversa entre Kissinger e Mao, já que a versão do primeiro no livro ON CHINA (2011) pode não ser crível. Respondi que não sabia, mas tinha para mim o provável pensamento de Mao. O desabusado guerrilheiro considerou que os chineses inventaram o jogo de xadrez e competia aos inventores formular uma jogada vencedora, não diplomática mas econômica, tremendamente eficaz, um xeque-mate – implodindo o capitalismo por dentro. E isso aconteceu.

 

 

quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

 


WALTER SALLES JR & FERNANDA TORRES

João Amílcar Salgado

            Um drama vivido pelas celebridades é que sua notoriedade impacta negativamente nos filhos. Mesmo sem o estímulo específico, estes se sentem na automática obrigação de herdeiros também do talento paterno ou materno. Pior se homônimos.  Assim muitos indagam pela celebridade de algum filho de Darwin, de Freud, de Chaplin ou de Einstein. No caso do filme AINDA ESTOU AQUI, além da presença de sulmineiros, temos duas pessoas que são CELEBRIDADES FILHAS DE CELEBRIDADES. São a Fernanda e o Walter. A Fernanda é tão celebridade como sua mãe, na mesma área, e com o requinte de ser homônima e de disputar o mesmo prêmio, distante 2 décadas, e com o mesmo diretor.

            Walter Jr é celebridade mundial em direção cinematográfica e é economista e comunicador, filho do homônimo pai Walter, celebridade em finanças e no pioneirismo da exploração do nióbio mineiro. Walter pai foi advogado, banqueiro, diplomata e ministro, afinal comandante de uma das maiores fortunas do mundo, sendo que Walter filho é o terceiro cineasta mais rico, atrás apenas de George Lucas e Steven Spielberg.

            Na história da ciência, o caso mais conhecido de celebridade filha de celebridade é o de Irene Curie filha de Maria Curie: a 2ª descobriu o radium, com Nobel de química e Nobel de física, e a 1ª descobriu a radiatividade artificial, com Nobel de química. Ambas estiveram em Minas, em 1926.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2025


 

WALTER SALLES JR E SELTON MELLO – O BRILHO DO SUL DE MINAS

João Amílcar Salgado

            O filme brasileiro AINDA ESTOU AQUI alcança aplauso internacional, quando a atriz Fernanda Torres é premiada em Hollywood. Coincide que o diretor do filme, Walter Salles Jr., e o ator principal, Selton Mello, são nascidos de famílias sulmineiras. Nepomuceno deve orgulhar-se de que tais famílias guardem parentesco com gente tradicional de nossa  comunidade.