João Amílcar Salgado

sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

 


JIMMY CARTER E HEINZ KISSINGER

João Amílcar Salgado

Desembarquei em João Pessoa para falar aos estudantes e, no aeroporto, o Jaime Scherby disse que ”por pouco, não me apresentaria a Rosalynn Carter, mas mesmo assim você  alcançou o suco de pitanga que preparamos pra ela; ela e você não são os mais fanáticos por este suco?”. Nessa época, agentes dos EUA me vigiaram em minha viagem a Puebla, no México. Havia uma inquietação direitista com a desenvoltura à esquerda de Jimmy Carter. Forjaram até a “Operación Marielitos” com migrantes cubanos, para sabotar o namoro pacifista Carter-Castro. Carter, contudo, repreendeu Geisel pela truculência ditatorial e em seguida deu asilo a Brizola, Este foi expulso do Uruguai, provavelmente por trama de Kissinger.

O alemão Heinz Kissinger parece que no fundo menosprezava a mentalidade ianque, atrevendo-se a  reorientar seu conservadorismo de faroeste. Antes de perceber-lhe o sinistro perfil, me interessei pelo sobrenome, por significar beijoqueiro (kisser ou kissinger), referido ao inseto barbeiro (kissing bug), objeto de minhas pesquisas. Coincide que Kissinger dizia usar o sexo como inspiração diplomática, inclusive em Paris na ocasião da paz no Vietnã. Outra novidade é o uso do segredo em diplomacia, em paralelo à espionagem, pelo qual pode ter tido envolvimento em Watergate.  Usou também o futebol como instrumento diplomático. Teve vertiginosa atuação junto a Mao Tse Tung, Zhou Enlai (personagem de Malraux), Le Duc To, entre israelitas e palestinos e na guerra-fria. Como premiado Nobel (1973), tem sido poupado da verdade histórica, mas hoje o vemos como inominável criminoso de guerra, pelas ditaduras no Chile, no Camboja e no Uruguai (1973), pela invasão indonésia do Timor (1975) e outros horripilantes ardis. Foi desde então que o uruguaio Mujica, extraordinária figura humana, foi torturado por 12 anos. Diante do crescente gigantismo chinês, muitos passarão a acusá-lo de seu causador, desde quando em 1971 visitou secretamente a China. Pousou o Air Force One no Paquistão e dali foi a Pequim.  Fez dezenas de outras visitas, participando de banquetes com mais de uma geração de líderes do país. No início, despistou os anticomunistas dos EUA e os antiamericanos russos e chineses, sem que nada vazasse.

Em uma roda com chamados “cientistas políticos”, em 2012, me perguntaram se eu sabia como foi a primeira conversa entre Kissinger e Mao, já que a versão do primeiro no livro ON CHINA (2011) pode não ser crível. Respondi que não sabia, mas tinha para mim o provável pensamento de Mao. O desabusado guerrilheiro considerou que os chineses inventaram o jogo de xadrez e competia aos inventores formular uma jogada vencedora, não diplomática mas econômica, tremendamente eficaz, um xeque-mate – implodindo o capitalismo por dentro. E isso aconteceu.

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário