JIMMY CARTER E HEINZ KISSINGER
João
Amílcar Salgado
Desembarquei
em João Pessoa para falar aos estudantes e, no aeroporto, o Jaime Scherby disse
que ”por pouco, não me apresentaria a Rosalynn Carter, mas mesmo assim
você alcançou o suco de pitanga que
preparamos pra ela; ela e você não são os mais fanáticos por este suco?”. Nessa
época, agentes dos EUA me vigiaram em minha viagem a Puebla, no México. Havia
uma inquietação direitista com a desenvoltura à esquerda de Jimmy Carter.
Forjaram até a “Operación Marielitos” com migrantes cubanos, para sabotar o
namoro pacifista Carter-Castro. Carter, contudo, repreendeu Geisel pela
truculência ditatorial e em seguida deu asilo a Brizola, Este foi expulso do
Uruguai, provavelmente por trama de Kissinger.
O alemão
Heinz Kissinger parece que no fundo menosprezava a mentalidade ianque,
atrevendo-se a reorientar seu
conservadorismo de faroeste. Antes de perceber-lhe o sinistro perfil, me
interessei pelo sobrenome, por significar beijoqueiro (kisser ou kissinger),
referido ao inseto barbeiro (kissing bug), objeto de minhas pesquisas. Coincide
que Kissinger dizia usar o sexo como inspiração diplomática, inclusive em Paris
na ocasião da paz no Vietnã. Outra novidade é o uso do segredo em diplomacia,
em paralelo à espionagem, pelo qual pode ter tido envolvimento em
Watergate. Usou também o futebol como
instrumento diplomático. Teve vertiginosa atuação junto a Mao Tse Tung, Zhou
Enlai (personagem de Malraux), Le Duc To, entre israelitas e palestinos e na
guerra-fria. Como premiado Nobel (1973), tem sido poupado da verdade histórica,
mas hoje o vemos como inominável criminoso de guerra, pelas ditaduras no Chile,
no Camboja e no Uruguai (1973), pela invasão indonésia do Timor (1975) e outros
horripilantes ardis. Foi desde então que o uruguaio Mujica, extraordinária
figura humana, foi torturado por 12 anos. Diante do crescente gigantismo
chinês, muitos passarão a acusá-lo de seu causador, desde quando em 1971
visitou secretamente a China. Pousou o Air Force One no Paquistão e dali foi a
Pequim. Fez dezenas de outras visitas,
participando de banquetes com mais de uma geração de líderes do país. No
início, despistou os anticomunistas dos EUA e os antiamericanos russos e
chineses, sem que nada vazasse.
Em uma roda
com chamados “cientistas políticos”, em 2012, me perguntaram se eu sabia como
foi a primeira conversa entre Kissinger e Mao, já que a versão do primeiro no
livro ON CHINA (2011) pode não ser crível. Respondi que não sabia, mas
tinha para mim o provável pensamento de Mao. O desabusado guerrilheiro
considerou que os chineses inventaram o jogo de xadrez e competia aos
inventores formular uma jogada vencedora, não diplomática mas econômica,
tremendamente eficaz, um xeque-mate – implodindo o capitalismo por dentro. E
isso aconteceu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário