João Amílcar Salgado

sábado, 25 de janeiro de 2025

 


ENVENENAMENTO POR ARSÊNICO E POR AMIANTO

João Amílcar Salgado

Passei a infância em meio ao arsênico e a outros venenos usados na farmácia e na agricultura. Um de nossos brinquedos era rodar a manivela da “máquina de tirar formiga”, que soprava o arsênico nos formigueiros. Cada nome eu procurava na biblioteca de meu pai e com 12 anos eu já podia dar aula de química. Falei ao padre William, na aula de tomismo: “Esse santo que o senhor citou, São Boaventura, foi ele que descobriu como isolar um veneno, o arsênio; santo pode fazer isso?” Ele deu uma gargalhada dizendo: “Essa eu não sabia!...” Mas o uso do arsênio bruto já era dominado pelas civilizações anteriores e com ele foram envenenadas personalidades históricas. Que isso tem a ver com Minas?  A maioria das captações de água das primeiras cidades mineiras e de muitas outras fornecia água de arsênico da mineração para os habitantes. Mais ainda, uma fábrica de arsênico foi instalada em Passagem de Mariana, pelos ingleses. Isso nas próprias margens do histórico Ribeirão do Carmo, onde foi achado o primeiro ouro, o preto. O serviçal da fábrica era apelidado de péla-saco, pois o arsênico depilava seu escroto. A canga ou itabirito é que continha arsênio e nela se faiscava o ouro. Ora, a canga é muito esponjosa e assim geradora de inúmeros olhos dágua, inclusive minas dágua para beber. Diante disso, seria correto captar água do rio das Velhas para Belo Horizonte? Os técnicos da época responderam: “Quem sabe disso? Ninguém, então vamos captar...”

Já o amianto, foi e ainda é um escândalo total. Os donos do negócio sabiam que seria proibido. Trataram de vendê-lo como modernidade para encanamento aos ingênuos prefeitos. Até hoje esses canos estão sob as ruas de cidades de todo o país, chegando a mais de 50 no Ceará, várias também no estado de S. Paulo e também em Nepomuceno. O maior perigo do amianto é inalatório e assim deve ter comprometido o pulmão dos operários que instalaram os canos e de todos os que os manipularem para reparos, inclusive ao eliminá-los. Quem quer beber dessa água? Minha família, por exemplo, vive o drama de consumir uma água assim, que veio para substituir a água que tão generosamente tínhamos oferecido à cidade. A antiga captação da Vila Esméria era de água mineral puríssima, que hoje ainda pode ser bebida na Mina Evangelina, completamente gratuita.

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