ENVENENAMENTO POR ARSÊNICO E POR
AMIANTO
João Amílcar Salgado
Passei
a infância em meio ao arsênico e a outros venenos usados na farmácia e na
agricultura. Um de nossos brinquedos era rodar a manivela da “máquina de tirar
formiga”, que soprava o arsênico nos formigueiros. Cada nome eu procurava na
biblioteca de meu pai e com 12 anos eu já podia dar aula de química. Falei ao
padre William, na aula de tomismo: “Esse santo que o senhor citou, São
Boaventura, foi ele que descobriu como isolar um veneno, o arsênio; santo pode
fazer isso?” Ele deu uma gargalhada dizendo: “Essa eu não sabia!...” Mas o uso
do arsênio bruto já era dominado pelas civilizações anteriores e com ele foram
envenenadas personalidades históricas. Que isso tem a ver com Minas? A maioria das captações de água das primeiras
cidades mineiras e de muitas outras fornecia água de arsênico da mineração para
os habitantes. Mais ainda, uma fábrica de arsênico foi instalada em Passagem de
Mariana, pelos ingleses. Isso nas próprias margens do histórico Ribeirão do
Carmo, onde foi achado o primeiro ouro, o preto. O serviçal da fábrica era
apelidado de péla-saco, pois o arsênico depilava seu escroto. A canga ou
itabirito é que continha arsênio e nela se faiscava o ouro. Ora, a canga é
muito esponjosa e assim geradora de inúmeros olhos dágua, inclusive minas dágua
para beber. Diante disso, seria correto captar água do rio das Velhas para Belo
Horizonte? Os técnicos da época responderam: “Quem sabe disso? Ninguém, então
vamos captar...”
Já
o amianto, foi e ainda é um escândalo total. Os donos do negócio sabiam que
seria proibido. Trataram de vendê-lo como modernidade para encanamento aos
ingênuos prefeitos. Até hoje esses canos estão sob as ruas de cidades de todo o
país, chegando a mais de 50 no Ceará, várias também no estado de S. Paulo e
também em Nepomuceno. O maior perigo do amianto é inalatório e assim deve ter
comprometido o pulmão dos operários que instalaram os canos e de todos os que
os manipularem para reparos, inclusive ao eliminá-los. Quem quer beber dessa
água? Minha família, por exemplo, vive o drama de consumir uma água assim, que
veio para substituir a água que tão generosamente tínhamos oferecido à cidade.
A antiga captação da Vila Esméria era de água mineral puríssima, que hoje ainda
pode ser bebida na Mina Evangelina, completamente gratuita.
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