AMEAÇAS SOFRIDAS
João Amílcar Salgado
A
notícia, nos EUA, de tentativa de assassinar Trump e do assassinato de um
chefão de plano de saúde teve sequência, no Brasil, na notícia de tentativa de
assassinar o presidente Lula e no sucesso do filme sobre o assassinato de
Rubens Paiva, estrelado pelo nepomucenense honorário Selton Melo, Isso tudo me fez
lembrar ameaças que sofri na ditadura. Em um debate sobre a inovação do ensino
da medicina na UFMG, fiz um comentário pelo qual fui metralhado por vários
colegas, inclusive alguns diletos amigos. Eu disse que as inovações nunca dão
certo, porque não são propostas por clínicos; os proponentes costumam ser
psiquiatras, pedagogos, sanitaristas ou legistas, que acabam dizendo aos
clínicos o que, como e quando devem ensinar. Depois eu soube que um legista meu
ex-aluno confessou que tinha porte de arma e que, se ouvisse outra vez esta
minha declaração, não poderia se conter e eu seria alvejado. Isso foi falado
numa reunião de legistas e um deles, que era confesso idólatra de Hitler, neo-guru
do próprio, pediu a primazia de atirar antes dele. Outra ameaça que sofri na
ditadura foi de outro ex-aluno que era belga e era auxiliar de tortura no DOPS.
Ele foi o principal redator de uma lista de inimigos do governo, que deviam ser
assassinados, caso o general Sílvio Frota assumisse os rumos do regime. Eu
estava na lista. Infelizmente, estudantes fanáticos, desequilibrados ou
financeiramente carentes eram recrutados para funções de “arapongas” e de
“cachorros”, bem como outras missões criminosas.
Mais
tarde, protestei junto ao CRM pela censura que seu antiético diretor me fez, impedindo
a publicação de um texto meu. Mas exigi que meu protesto fosse levado ao
colegiado. O diretor era tremendo mau-caráter. Em vez de encaminhar minha
comunicação diretamente ao colegiado, pediu o parecer daquele citado legista. Este
não apenas engavetou a coisa, mas vasculhou os arquivos e “inventou” um débito
meu, que, corrigido, somou certa importância. Procurei dois conselheiros,
Valênio e Ajax, para que anulassem a cobrança. Ambos me advertiram: “esse cara
é perigoso, faça o pagamento e finja que nada estranho aconteceu”. Fiz.
Note-se
que um dos fundadores do atual IML-MG, logo após a Revolução de 30, foi o primo
de minha mãe, o nepomucenense Oscar Negrão de Lima, catedrático de Medicina
Legal da UFMG. Sua biografia foi escrita por meu querido amigo, legista e
historiador Cristobaldo Mota, inclusive com subsídios que carinhosamente lhe
forneci.
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