João Amílcar Salgado

terça-feira, 21 de janeiro de 2025

 


AMEAÇAS SOFRIDAS

João Amílcar Salgado

A notícia, nos EUA, de tentativa de assassinar Trump e do assassinato de um chefão de plano de saúde teve sequência, no Brasil, na notícia de tentativa de assassinar o presidente Lula e no sucesso do filme sobre o assassinato de Rubens Paiva, estrelado pelo nepomucenense honorário Selton Melo, Isso tudo me fez lembrar ameaças que sofri na ditadura. Em um debate sobre a inovação do ensino da medicina na UFMG, fiz um comentário pelo qual fui metralhado por vários colegas, inclusive alguns diletos amigos. Eu disse que as inovações nunca dão certo, porque não são propostas por clínicos; os proponentes costumam ser psiquiatras, pedagogos, sanitaristas ou legistas, que acabam dizendo aos clínicos o que, como e quando devem ensinar. Depois eu soube que um legista meu ex-aluno confessou que tinha porte de arma e que, se ouvisse outra vez esta minha declaração, não poderia se conter e eu seria alvejado. Isso foi falado numa reunião de legistas e um deles, que era confesso idólatra de Hitler, neo-guru do próprio, pediu a primazia de atirar antes dele. Outra ameaça que sofri na ditadura foi de outro ex-aluno que era belga e era auxiliar de tortura no DOPS. Ele foi o principal redator de uma lista de inimigos do governo, que deviam ser assassinados, caso o general Sílvio Frota assumisse os rumos do regime. Eu estava na lista. Infelizmente, estudantes fanáticos, desequilibrados ou financeiramente carentes eram recrutados para funções de “arapongas” e de “cachorros”, bem como outras missões criminosas.

Mais tarde, protestei junto ao CRM pela censura que seu antiético diretor me fez, impedindo a publicação de um texto meu. Mas exigi que meu protesto fosse levado ao colegiado. O diretor era tremendo mau-caráter. Em vez de encaminhar minha comunicação diretamente ao colegiado, pediu o parecer daquele citado legista. Este não apenas engavetou a coisa, mas vasculhou os arquivos e “inventou” um débito meu, que, corrigido, somou certa importância. Procurei dois conselheiros, Valênio e Ajax, para que anulassem a cobrança. Ambos me advertiram: “esse cara é perigoso, faça o pagamento e finja que nada estranho aconteceu”. Fiz.

Note-se que um dos fundadores do atual IML-MG, logo após a Revolução de 30, foi o primo de minha mãe, o nepomucenense Oscar Negrão de Lima, catedrático de Medicina Legal da UFMG. Sua biografia foi escrita por meu querido amigo, legista e historiador Cristobaldo Mota, inclusive com subsídios que carinhosamente lhe forneci.

 


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