João Amílcar Salgado

quinta-feira, 6 de maio de 2021

 


OS OUTROS PRIMOS GARCIAS E O OUTRO SETE ORELHAS

Como especialista em doença de Chagas, passei a estudar uma região vizinha a Nepomuceno, pouco antes e depois de minha formatura. Examinei pessoas em Calciolandia e em Pratápolis e fiquei impressionado com os sobrenomes correspondentes aos de minha cidade. Interessei-me pela história regional e correlacionei a expansão do Quilombo do Ambrósio com a expansão dessa doença. Troquei ideias com o Luiz Garcia Pedrosa, meu professor na UFMG, que, para provar que era parente dos Garcias Frades da Vila, me presenteou com o livro IGUATAMA, HISTÓRIA E GENEALOGIA (1983) de seu tio Djalma Garcia Campos.

A similaridade entre os Garcias é tal que os nossos tiveram o SETE ORELHAS, personagem de meu livro O RISO DOURADO DA VILA (2003), e os de lá tiveram o também famoso Luiz Garcia, personagem principal do filme FAROESTE (2014), dirigido em Pains, por Abelardo de Carvalho.

Para coroar tudo isso, o livro NOSSA HISTÓRIA (2019), de meu querido amigo José Aleixo Garcia de Carvalho, faz o documentário pormenorizado da genealogia dos sobrenomes que tanto chamaram minha atenção. Para os cinco anos dessa gigantesca investigação, o autor visitou 39 cidades, onde entrevistou 196 pessoas, cobrindo 140 anos do nosso passado e chegando a citar doze mil nomes.

É obra que honra os Garcias e brinda os admiradores dessa gente formidável.

 

 

terça-feira, 27 de abril de 2021

 


LETÍCIA CESARINO EM DESTAQUE EM SANTA CATARINA

A família Costa-Ribeiro-Lima e a família Veiga de Nepomuceno brilham na Universidade Federal de Santa Catarina, com a projeção da professora LETÍCIA CESARINO, doutora pela Universidade de Berkeley, EUA. Acabo de ler sua publicação sobre  ANTROPOLOGIA MULTISITUADA, pela qual percebo toda sua competência no estudo de fenômenos transnacionais, do ponto de vista antropológico. Apoia-se na obra MULTI-SITED ETHNOGRAPHY de Marilyn Strathern, focalizando o trânsito entre escalas micro e macro. Essa perspectiva permite relacionar o trabalho de campo e a escrita etnográfica, envolvendo o acionamento de escalas, contextos, domínios e analogias.  Minha prima Letícia está de parabéns, bem como sua mãe Vera, toda orgulhosa desta proeminente cientista.

quinta-feira, 22 de abril de 2021

 

SEBASTIÃO BRAGA - PAI DA PRIMA RILMA

JOÃO AMÍLCAR SALGADO


Conheci de perto o Sebastião Braga no final de 1954. Eu tinha 16 anos e fui aplaudido de pé, prolongadamente, pelo cine Capitólio lotado. Era a entrega das medalhas anuais promovida pelos maristas. Ele me abraçou comovido e disse: se seu pai estivesse aqui, estaria com a mesma emoção que sinto. A seu lado estava seu filho Toninho, depois meu colega como pedagogo e historiador. Seus dois filhos eram externos no colégio e nossa conversa, no intervalo das aulas, eram coisas da Vila. A Rilma era linda. Seus admiradores diziam que ela era a Rita Hayworth de Varginha, enquanto o Luizinho era o Marlon Brando

Já o Sebastião, só recentemente descobri um sósia seu: trata-se do cantor peruano Diego Flores. Braga era educadíssimo, elegante e conversador. Ficou lendário na Vila quando chegava para ir ao Limoeiro, onde ia noivar com a encantadora Ica. Ele deixava na cidade seu belíssimo cavalo Tupi. O corcel ficava vadio e fogoso. Quando o Tião punha o pé no estribo, o animal já se despachava para a fazenda. O João Meneiz, meu guru, dizia que o noivo só acabava de montar quando já estava no destino.

https://youtu.be/Q7yfsNFoUvk

 

 

domingo, 18 de abril de 2021

 


SEBASTIÃO SALGADO E O INSTITUTO TERRA

Todo Salgado da Vila e de Minas e todos os amigos dos Salgados, devem conhecer e se orgulhar do maior de todos: o mineiro SEBASTIÃO SALGADO.

Nasceu na vila de Conceição do Capim, viveu sua infância em Expedicionário Alício, graduou-se em Economia pela Universidade Federal do Espírito Santo (1964-1967) e realizou pós-graduação na Universidade de São Paulo. No mesmo ano, casou-se com a pianista Lélia Deluiz Wanick. Depois de emigrar em 1969 para Paris, ele escreveu uma tese em ciências econômicas, enquanto a sua esposa ingressou na École Nationale Supérieure des Beaux-Arts de Paris para estudar arquitetura. Salgado inicialmente trabalhou como secretário para a Organização Internacional do Café (OIC). Em suas viagens de trabalho para a África, muitas vezes encomendado conjuntamente pelo Banco Mundial, fez sua primeira sessão de fotos, nos anos 70, com a Leica da sua esposa.[1] Fotografar o inspirou tanto que logo depois ele tornou-se independente em 1973, como fotojornalista e, em seguida, voltou para Paris.

Em 1979, depois de passagens pelas agências de fotografia Sygma e Gamma, entrou para a Magnum. Encarregado de uma série de fotos sobre os primeiros 100 dias de governo de Ronald Reagan, Salgado documentou o atentado a tiros cometido por John Hinckley, Jr. contra o então presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan no dia 30 de março de 1981, em Washington.[2] A venda das fotos para jornais de todo o mundo permitiu ao brasileiro financiar seu primeiro projeto pessoal: uma viagem à África.[3]

Seu primeiro livro, Outras Américas,[4] sobre os pobres na América Latina, foi publicado em 1986. Na sequência, publicou Sahel: O "Homem em Pânico" (também publicado em 1986), resultado de uma longa colaboração de doze meses com a organização não governamental Médicos sem Fronteiras cobrindo a seca no Norte da África. Entre 1986 e 1992, ele concentrou-se na documentação do trabalho manual em todo o mundo, publicada e exibida sob o nome "Trabalhadores rurais", um feito monumental que confirmou sua reputação como foto documentarista de primeira linha. De 1993 a 1999, ele voltou sua atenção para o fenômeno global de desalojamento em massa de pessoas, que resultou em Êxodos e Retratos de Crianças do Êxodo, publicados em 2000 e aclamados internacionalmente. Segundo WIKIPÉDIA

 

INSTITUTO TERRA DO SEBASTIÃO SALGADO

https://youtu.be/EUOHdDRB76g

https://youtu.be/SkDPyrRWbKY

https://youtu.be/YAQxp-rkFVM

 

 

 

 

domingo, 11 de abril de 2021

 



EDUARDO VILELA –BRILHO DO BANCO ALFA AO BIOBANCO

Nós nepomucenenses estamos aplaudindo a façanha de Eduardo Garcia Vilela, pelo primeiro trabalho científico resultante da Criação do Centro de Transplante de Microbiota Fecal do Instituto Alfa de Gastroenterologia, do Hospital das Clínicas da UFMG, integrado ao BIOBANCO de Tecidos e Tumores - primeiro e único do Brasil.

O livro NEPOMUCENO – SÍNTESE HISTÓRICA (2018) documenta as realizações cientificas da gente desta Vila e agora a realização alcançada pelo professor Eduardo vem abrilhantar ainda mais este respeitável conjunto.

De minha parte o aplauso é maior porque o cientista é meu ex-aluno e primo. Adiciono mais quatro motivos:

1)     O Instituto Alfa da Ufmg nasceu das pesquisas realizadas por mim, Celso Afonso de Oliveira, José de Souza Andrade, Geraldo Lima e Luiz Gonzaga Coelho, com a coordenação de Luiz de Paula Castro, sobre o tratamento da úlcera péptica, sob o critério inovador do estadiamento endoscópico das lesões.

2)     Obtivemos o apoio do gastroenterologista e banqueiro Aloysio Faria (de cujo nome fez-se a sigla ALFA), diplomado pela Ufmg em 1945.

3)     A decisão sobre esse apoio ocorreu em 2002, em reunião presidida por mim no Centro de Memória da Medicina.

4)     Abraço no neto Eduardo seu avô Saturnino Cardoso Garcia, inesquecível frequentador da farmácia de meu pai – amigos para sempre.

quinta-feira, 8 de abril de 2021

 


MAIS LUZ E MENOS CALOR

João Amílcar Salgado

O falecimento do físico japonês Isamu Akasaki, em 2021, nos lembra o tema dos fosseis tecnológicos, que abordo em meu livro O RISO DOURADO DA VILA, a ser lançado breve, em 2ª edição. A lâmpada incandescente é um fóssil tecnológico que sobreviveu até hoje. Foi inventada em 1802 por Humphry Davy e passou ao uso prático em 1888, pela invenção da corrente alternada por Nicola Tesla. Estudo dois gênios: Giordano Bruno e Tesla, porque ambos exibiram um tipo de capacidade mental ainda não bem avaliado. Parece que suas mentes são assustadoras para pedagogos e psicólogos comuns.

Tesla deve ser homenageado sobretudo pelos nepomucenenses, pois ele era um emérito catador-de-risco, enquanto Nepomuceno é a capital mundial da catação-de-risco. Já o Akasaki deve ser aplaudido não só pelos ecologistas, mas pelos pacifistas. Pelos ecologistas, por causa da invenção da lâmpada azul (led), de baixo consumo de energia. Pelos pacifistas, porque a lâmpada incandescente gera mais calor do que luz e sua lâmpada gera mais luz e menos calor.

[Diante disso, Biden fracassará se não conseguir vitória significativa em substituir a energia suja pela limpa, em desarmar os cidadãos e em neutralizar o discurso de ódio]

quarta-feira, 7 de abril de 2021

 


MEDICINA NO EGITO ANTIGO

Obtive grande sucesso com textos divulgados pelo periódico do Conselho Federal de Medicina. O conselho estadual paulista então me convidou para escrever algo apropriado para a edição de natal de 2002 de seu periódico. Pedi que sugerissem o tema e me encomendaram uma síntese da medicina faraônica. Achei que ficou um belo resumo, bastante substancial, com requintada ilustração. Recebi elogios de toda parte. Aconteceu, entretanto, que um médico lhes enviou um protesto contra o trecho final. Ali declaro que o episódio bíblico no qual Isaque escapa da morte é uma transposição de escape similar de Obaluaê, na mitologia africana. Como uma das escravas de Abrão era africana sugiro ser esta a circunstância da transposição religiosa. O periódico disse que entre tantos aplausos houve apenas este protesto. Pediu que eu respondesse e me limitei a sugerir que publicasse o protesto, deixando o julgamento por conta dos leitores.  

Eis o texto:

MEDICINA NO EGITO ANTIGO

João Amílcar Salgado

O atendimento clínico socializado, a vigilância sanitária, a puericultura, a cirurgia, a farmacoterapia, o hospital e o ensino universitário encontrados hoje podem ser identificados, em espantosa contemporaneidade, na medicina egípcia.

A história da medicina no Egito faraônico passa a sofrer hoje completa revisão, que advém não da descoberta de novos registros, mas da correção dos vieses eurocêntricos e até racistas verificados nos primeiros estudos arqueológicos e históricos. A primeira retificação é geográfica, pois tudo indica que o Golfo Pérsico e não o Mar Vermelho é o limite entre a África e o Oriente.

Os primeiros homens a saírem da África para os demais continentes provavelmente migraram em fluxo descontínuo, de modo a permitir a diferenciação das raças. Ao mesmo tempo, a raça negra, como tal, manteve fluxo relativamente contínuo para além do Golfo Pérsico, antes da origem da civilização egípcia. De fato, o deslocamento oriental de populações negras se deu, desde tempos imemoriais, ao longo da faixa litorânea que bordeja o Oceano Índico até a Austrália ou até mesmo a América. Isso significa que a chegada da cultura egípcia até o Cáucaso, por terra ou pelo Mar Mediterrâneo, foi apenas mais uma, e não a única, entre as contribuições africanas à evolução tecno-cultural da humanidade.

A domesticação de plantas e animais, em vários locais do mundo, levou à divinização do sol, que então substitui a divindade panteísta dos catadores-caçadores. No Egito, o sol, fecundante das cheias do Nilo, é Amon-Ra, deus também da medicina. A Grécia, onde aquela domesticação não teve o mesmo significado, copiou Amon-Ra como Hélios, por sua vez copiado pelos romanos como Apolo. Em virtude da especialização requerida pela maior complexidade social, um semideus, Inotepe, filho ou descendente de Amon-Ra, se torna o deus específico da medicina. Inotepe é copiado na Grécia como Asclépio e em Roma como Esculápio. O ensino médico, ao processar-se sigilosamente de pai para filho, implica a vinculação genealógica de qualquer médico ao semideus e ao próprio deus. Ela decorre da simbolização em que o deus encarnado Imotepe é germinado pelo pai divino Amon-Ra, fecundador de sementes. Em outros termos, Imotepe ressurge da mortalidade subterrânea para a imortalidade individual – triunfo que é recorrente em todas as religiões e almejado pela medicina de todos os tempos.

Um médico histórico eminente passa a ser identificado como a encarnação desse deus da medicina. No caso egípcio, Imotepe, médico do rei Zoser (2980 aC), era tão notável que foi pioneiro quer no uso da escrita, quer na arquitetura de pirâmides. De fato, um dos estímulos à escrita foi o registro da crescente farmacopéia, fruto da expansão civilizatória. Culturas ágrafas dominam farmacopéias importantes, mas a escrita permite, sobretudo, a fusão delas. Já a arquitetura traduz o papel da medicina como ponte entre a religião e o desenvolvimento de todas as ciências, inclusive a matemática e a astronomia, na qual Amon-Ra é o astro fundamental, regente de ciclos climáticos e de pragas agrícolas e humanas. O papiro Ebers, de 1550aC (descoberto em Luxor, em 1873), e os outros papiros médicos constituem, portanto, apenas o episódio final de longa história daquela medicina conservada oralmente, com auxílio de rima, música, lendas e tabus.

Sociologicamente, a cultura faraônica é profundamente médica, no sentido de que persegue o sonho médico da imortalidade corpórea, não só de faraós, mas de pessoas comuns e até de animais – daí seu politeísmo médico. A mumificação compõe tal medicina e implica conhecimentos da anatomia à farmacologia e à cosmética, referente ao homem e aos demais animais (com a respectiva veterinária), especialmente da bacteriologia virtual implícita na vitória contra a putrefação e no domínio da fermentação. Coerentes com isso e diferentes de outros, são os primeiros a considerar vitais a respiração e o batimento cardíaco.

A proximidade do deserto, da savana e da selva trouxe peculiaridades. A valorização da água e os procedimentos mumificantes geram a teoria médica da limpeza externa e interna do corpo. O banho do próprio médico devia repetir-se duas vezes de dia e duas de noite, além da roupa branca e da cabeça raspada a cada três dias, origem da ligação entre barbeiros e cirurgiões. O vento arenoso do deserto induz à prática da circuncisão (desde 5000 aC), como profilaxia de gangrena peniana - hábito que de cirúrgico passa a litúrgico. A biodiversidade da savana e da selva permite correlacionar doença com peçonha e vermes, originando desde produtos antissépticos, que se transformam em culinários, até o consumo de subprodutos animais, como o mel, o leite e o sangue.

O atendimento clínico socializado, a vigilância sanitária, a puericultura, a cirurgia (os bisturis de pedra e de bronze precedem o de ferro, este presente em 1600 aC), a farmacoterapia, o hospital e o ensino universitário e médico encontrados hoje podem ser identificados, em espantosa contemporaneidade, na medicina egípcia. Essa verificação está patente no R modificado, ideograma do olho de Hórus, que subsiste na folha atual de receituário.

Tanta conquista não mais pode ser atribuída a uma espécie de milagre antropológico ocorrido às margens do Nilo. Por exemplo, seja a metalurgia, seja a mumificação ou grande parte da medicina surgiram da cultura núbia. Os ritos lustrais são predominantemente líbios (os líbios primitivos eram também negros, tanto como os egípcios e os núbios). Para evidenciar a difusão de traços culturais, exemplifiquemos com a superação do infanticídio economicamente necessário. Todas as subculturas da África o superaram, quando a economia tribal se desenvolveu a ponto de comportar a sobrevida de crianças defeituosas (e também de idosos e de adultos incapacitados). No Brasil é conhecido o rito do Omulu-Obaluaê, originário do lado Atlântico da África. Omulu é o orixá da medicina e Obaluaê é Omulu jovem. Sendo criança defeituosa (aleijada, variolosa ou leprosa), Obaluaê deveria ser lançado ao lago. Sobreviveu quando o orixá feminino Nana o resgatou do infanticídio. Assim, não é nada surpreendente que Abraão, que era negro e escravizava uma africana, resgate seu filho Isaque de morte semelhante, no poético episódio bíblico que relatou aos membros de sua tribo.