João Amílcar Salgado

sexta-feira, 14 de maio de 2021

 


PORTUGAL E A MEDICINA

João Amílcar Salgado

            Dirigentes do futebol europeu anunciaram que a final da Liga dos Campeões, em 2021,  entre Chelsea e Manchester City, será na cidade do Porto, porque Portugal é o lugar mais seguro na pandemia. Vale lembrar que, na época da chegada dos lusos ao Brasil, Portugal possuía uma das melhores medicinas do mundo, principalmente pela presença de médicos de origem judaica, que eram formados em Salamanca e em outros centros de excelência. Um desses médicos foi Garcia de Orta, provavelmente aparentado a nossos Garcias, que revelou ao Ocidente a medicina oriental, muitas vezes à frente da europeia. Seu livro COLÓQUIO DOS SIMPLES E DROGAS E COISAS MEDICINAIS DA ÍNDIA (1563) jamais seria autorizado em Portugal, mas foi publicado em Goa. Segundo uma versão, foi chancelado pelo governador em estado de embriaguez, na comemoração de seu aniversário.  Outro médico genial foi Francisco Souza Sanches, cujo livro AQUILO QUE NÃO SE SABE (1581) teria sido plagiado por Descartes, em seu cogito. Muito antes, Pedro Julião Rebelo, que veio a ser o papa João 21, já era o primeiro oftalmologista do ocidente, com seu livro DA CURA DOS OLHOS (c. 1250). Francisco e Pedro são também provavelmente aparentados aos nossos Souza e Rabelo.

Quando João 6º chegou ao Brasil, a corte lusa estava envolvida em três questões médicas: a varíola de seu irmão, a loucura de sua mãe e a necessidade de que o Brasil oferecesse pelo menos cursos de cirurgia. O príncipe José, irmão mais velho de João 6º, seria o herdeiro do trono, mas sua morte, em 1788, aos 26 anos, causada pela varíola, exigiu que João passasse a herdeiro. A data da morte do príncipe José indica que este sofreu a varíola um ano antes da publicação sobre a vacina feita por Jenner em 1798. Mas antes da vacina de Jenner já havia o recurso à variolização, prática milenar oriental, divulgada na Europa por Lady Montagu, desde 1721. Tal recurso poderia ter salvo o príncipe José que foi educado e preparado para assumir o poder. Com sua morte, o príncipe João teve de ser improvisado para a missão difícil de governar aquele vasto reino, mais ainda naquelas circunstâncias históricas.

Já Maria 1ª foi a primeira rainha reinante de Portugal, filha de pai português, o rei D. José, e de mãe espanhola, Mariana de Bourbon. Este casal não teve filhos homens e daí Maria se tornou herdeira. Casou-se com um tio, Pedro 3º, e acompanhou a morte de vários filhos, inclusive a do príncipe herdeiro José, falecido dois anos após o pai (este também casado com uma tia). Os biógrafos apontam como circunstancia de sua loucura, além da consanguinidade, a mudança de uma vida inicial de mulher despreocupada, para o exercício súbito, em 1777 (um ano após a guerra de independência dos EUA), de pesadas responsabilidades masculinas, sob um céu existencial de terríveis nuvens ameaçadoras. Estas se compunham das mortes citadas, dos movimentos de independência nas Américas, do triunfo da revolução francesa, com reis guilhotinados, e do remorso pela aplicação da pena de morte a Tiradentes e a outros e pelas perseguições promovidas por Pombal, contra aristocratas suspeitos de judaismo e contra os jesuítas. Tudo isso era mais fanatizadamente aterrador e mais demonizadamente angustiante em consequência da exploração de seu pietismo infantil por seu confessor, o inquisidor José Maria de Melo, bispo do Algarve. Em outras palavras, Maria estava esmagada entre, de um lado, a força do pombalismo, com pressões para ser simples déspota, se possível déspota esclarecida e se possível ainda “déspota constitucionalista”, e, de outro lado, a versão católica do pietismo, de devoção ao Sagrado Coração, pregada por prosélitos da Visitação e inspirada em Santa Margarida Maria. A corte chegou a mandar vir o padre e médico Francis Willis que teria curado a loucura do rei inglês George 3º e que nada pôde fazer no caso da rainha, apesar dos honorários regiamente cobrados. A cura de George 3º, diante da terapêutica ministrada por Willis, levou alguns historiadores a levantar a suspeita de psicopatia orgânica reversível, como porfiria ou envenenamento. A idade avançada de 82 anos com que morreu Maria 1ª faz supor que sua loucura não era grave. O diagnóstico proto-nosológico de melancolia, mencionado na época, é interessante, pois continua em moda, hoje com a tentativa de moderniza-lo como síndrome depressiva, componente ou não da síndrome bipolar. 

[AGUARDEM “O RISO DOURADO DA VILA” 2ª ED]

domingo, 9 de maio de 2021

 

OS 4 MANOEIS DE ABREU

JOÃO AMÍLCAR SALGADO


Dos 4, o mais engraçado era o Nelico. Ele gostava muito de meu pai, mais ainda depois que este lhe disse que eram parentes pelo lado Abreu. E mais ainda depois que meu pai o colocou entre 4 Manoeis de Abreu famosos. Ele ficou surpreso: Por que sou famoso?  - Por quatro razões: é humorista popular, é sósia do José Maria Alkmin, é nome de praça na Vila e é inventor!  - O que é que inventei? – Esqueceu que inventou um galo que toca trombone! – Eu tinha esquecido, é verdade...

O segundo é o Nequinha da Vargem, famoso como galã na juventude e elegante pela vida toda, além de ilustre educador e dono de uma das melhores prosas da região.  O terceiro é o notável clínico e escritor Dr. Campanário, diplomado em 1931 pela Ufmg, colega de turma, entre outros, do nepomucenense Sócrates Veiga Costa, do trespontano Sebastião Mesquita e do lavrense Abdon Hermeto Pádua Costa. Manoel de Abreu Campanário ficou conhecido pelo livro A MEDICINA DO INTERIOR (1936), pelo qual foi acusado de se passar pelo inventor da abreugrafia. O inventor é o quarto Manoel de Abreu, paulista, ao lado de 3 mineiros. Foi injustiçado pela medicina do primeiro mundo, por deixarem de usar o termo abreugrafia, preferindo roentgenfotografia. ao mesmo tempo, seu xará memorialista foi injustiçado pela imprensa paulistana, acusado de identidade falsa.  Quando o mineiro provou que nascera antes do suposto fraudado, este não apenas se esforçou para sanar a injustiça, mas se tornou amigo pessoal do suposto fraudador.

[APERITIVO DO LANÇAMENTO DA 2ª EDIÇÃO DO LIVRO O RISO DOURADO DA VILA]

quinta-feira, 6 de maio de 2021

 


OS OUTROS PRIMOS GARCIAS E O OUTRO SETE ORELHAS

Como especialista em doença de Chagas, passei a estudar uma região vizinha a Nepomuceno, pouco antes e depois de minha formatura. Examinei pessoas em Calciolandia e em Pratápolis e fiquei impressionado com os sobrenomes correspondentes aos de minha cidade. Interessei-me pela história regional e correlacionei a expansão do Quilombo do Ambrósio com a expansão dessa doença. Troquei ideias com o Luiz Garcia Pedrosa, meu professor na UFMG, que, para provar que era parente dos Garcias Frades da Vila, me presenteou com o livro IGUATAMA, HISTÓRIA E GENEALOGIA (1983) de seu tio Djalma Garcia Campos.

A similaridade entre os Garcias é tal que os nossos tiveram o SETE ORELHAS, personagem de meu livro O RISO DOURADO DA VILA (2003), e os de lá tiveram o também famoso Luiz Garcia, personagem principal do filme FAROESTE (2014), dirigido em Pains, por Abelardo de Carvalho.

Para coroar tudo isso, o livro NOSSA HISTÓRIA (2019), de meu querido amigo José Aleixo Garcia de Carvalho, faz o documentário pormenorizado da genealogia dos sobrenomes que tanto chamaram minha atenção. Para os cinco anos dessa gigantesca investigação, o autor visitou 39 cidades, onde entrevistou 196 pessoas, cobrindo 140 anos do nosso passado e chegando a citar doze mil nomes.

É obra que honra os Garcias e brinda os admiradores dessa gente formidável.

 

 

terça-feira, 27 de abril de 2021

 


LETÍCIA CESARINO EM DESTAQUE EM SANTA CATARINA

A família Costa-Ribeiro-Lima e a família Veiga de Nepomuceno brilham na Universidade Federal de Santa Catarina, com a projeção da professora LETÍCIA CESARINO, doutora pela Universidade de Berkeley, EUA. Acabo de ler sua publicação sobre  ANTROPOLOGIA MULTISITUADA, pela qual percebo toda sua competência no estudo de fenômenos transnacionais, do ponto de vista antropológico. Apoia-se na obra MULTI-SITED ETHNOGRAPHY de Marilyn Strathern, focalizando o trânsito entre escalas micro e macro. Essa perspectiva permite relacionar o trabalho de campo e a escrita etnográfica, envolvendo o acionamento de escalas, contextos, domínios e analogias.  Minha prima Letícia está de parabéns, bem como sua mãe Vera, toda orgulhosa desta proeminente cientista.

quinta-feira, 22 de abril de 2021

 

SEBASTIÃO BRAGA - PAI DA PRIMA RILMA

JOÃO AMÍLCAR SALGADO


Conheci de perto o Sebastião Braga no final de 1954. Eu tinha 16 anos e fui aplaudido de pé, prolongadamente, pelo cine Capitólio lotado. Era a entrega das medalhas anuais promovida pelos maristas. Ele me abraçou comovido e disse: se seu pai estivesse aqui, estaria com a mesma emoção que sinto. A seu lado estava seu filho Toninho, depois meu colega como pedagogo e historiador. Seus dois filhos eram externos no colégio e nossa conversa, no intervalo das aulas, eram coisas da Vila. A Rilma era linda. Seus admiradores diziam que ela era a Rita Hayworth de Varginha, enquanto o Luizinho era o Marlon Brando

Já o Sebastião, só recentemente descobri um sósia seu: trata-se do cantor peruano Diego Flores. Braga era educadíssimo, elegante e conversador. Ficou lendário na Vila quando chegava para ir ao Limoeiro, onde ia noivar com a encantadora Ica. Ele deixava na cidade seu belíssimo cavalo Tupi. O corcel ficava vadio e fogoso. Quando o Tião punha o pé no estribo, o animal já se despachava para a fazenda. O João Meneiz, meu guru, dizia que o noivo só acabava de montar quando já estava no destino.

https://youtu.be/Q7yfsNFoUvk

 

 

domingo, 18 de abril de 2021

 


SEBASTIÃO SALGADO E O INSTITUTO TERRA

Todo Salgado da Vila e de Minas e todos os amigos dos Salgados, devem conhecer e se orgulhar do maior de todos: o mineiro SEBASTIÃO SALGADO.

Nasceu na vila de Conceição do Capim, viveu sua infância em Expedicionário Alício, graduou-se em Economia pela Universidade Federal do Espírito Santo (1964-1967) e realizou pós-graduação na Universidade de São Paulo. No mesmo ano, casou-se com a pianista Lélia Deluiz Wanick. Depois de emigrar em 1969 para Paris, ele escreveu uma tese em ciências econômicas, enquanto a sua esposa ingressou na École Nationale Supérieure des Beaux-Arts de Paris para estudar arquitetura. Salgado inicialmente trabalhou como secretário para a Organização Internacional do Café (OIC). Em suas viagens de trabalho para a África, muitas vezes encomendado conjuntamente pelo Banco Mundial, fez sua primeira sessão de fotos, nos anos 70, com a Leica da sua esposa.[1] Fotografar o inspirou tanto que logo depois ele tornou-se independente em 1973, como fotojornalista e, em seguida, voltou para Paris.

Em 1979, depois de passagens pelas agências de fotografia Sygma e Gamma, entrou para a Magnum. Encarregado de uma série de fotos sobre os primeiros 100 dias de governo de Ronald Reagan, Salgado documentou o atentado a tiros cometido por John Hinckley, Jr. contra o então presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan no dia 30 de março de 1981, em Washington.[2] A venda das fotos para jornais de todo o mundo permitiu ao brasileiro financiar seu primeiro projeto pessoal: uma viagem à África.[3]

Seu primeiro livro, Outras Américas,[4] sobre os pobres na América Latina, foi publicado em 1986. Na sequência, publicou Sahel: O "Homem em Pânico" (também publicado em 1986), resultado de uma longa colaboração de doze meses com a organização não governamental Médicos sem Fronteiras cobrindo a seca no Norte da África. Entre 1986 e 1992, ele concentrou-se na documentação do trabalho manual em todo o mundo, publicada e exibida sob o nome "Trabalhadores rurais", um feito monumental que confirmou sua reputação como foto documentarista de primeira linha. De 1993 a 1999, ele voltou sua atenção para o fenômeno global de desalojamento em massa de pessoas, que resultou em Êxodos e Retratos de Crianças do Êxodo, publicados em 2000 e aclamados internacionalmente. Segundo WIKIPÉDIA

 

INSTITUTO TERRA DO SEBASTIÃO SALGADO

https://youtu.be/EUOHdDRB76g

https://youtu.be/SkDPyrRWbKY

https://youtu.be/YAQxp-rkFVM

 

 

 

 

domingo, 11 de abril de 2021

 



EDUARDO VILELA –BRILHO DO BANCO ALFA AO BIOBANCO

Nós nepomucenenses estamos aplaudindo a façanha de Eduardo Garcia Vilela, pelo primeiro trabalho científico resultante da Criação do Centro de Transplante de Microbiota Fecal do Instituto Alfa de Gastroenterologia, do Hospital das Clínicas da UFMG, integrado ao BIOBANCO de Tecidos e Tumores - primeiro e único do Brasil.

O livro NEPOMUCENO – SÍNTESE HISTÓRICA (2018) documenta as realizações cientificas da gente desta Vila e agora a realização alcançada pelo professor Eduardo vem abrilhantar ainda mais este respeitável conjunto.

De minha parte o aplauso é maior porque o cientista é meu ex-aluno e primo. Adiciono mais quatro motivos:

1)     O Instituto Alfa da Ufmg nasceu das pesquisas realizadas por mim, Celso Afonso de Oliveira, José de Souza Andrade, Geraldo Lima e Luiz Gonzaga Coelho, com a coordenação de Luiz de Paula Castro, sobre o tratamento da úlcera péptica, sob o critério inovador do estadiamento endoscópico das lesões.

2)     Obtivemos o apoio do gastroenterologista e banqueiro Aloysio Faria (de cujo nome fez-se a sigla ALFA), diplomado pela Ufmg em 1945.

3)     A decisão sobre esse apoio ocorreu em 2002, em reunião presidida por mim no Centro de Memória da Medicina.

4)     Abraço no neto Eduardo seu avô Saturnino Cardoso Garcia, inesquecível frequentador da farmácia de meu pai – amigos para sempre.