A
LEGENDA DO CHAPÉU SUL-MINEIRO
João Amílcar Salgado
Três
personalidades ligadas a Nepomuceno são legendárias no uso do chapéu: Francisco
Negrão de Lima, João Salgado Filho e Santos Dumont. Por sinal, Chico e João
foram amigos desde seu tempo de universitários. Influenciado por eles, sou
adepto de chapéus. Com isso ganhei um prêmio extra. Usando o chapéu, fui eleito, por um grupo de
brincalhões de Ipanema, sósia de outro adepto: Tom Jobim. Demais, como
historiador, tive a grande alegria de saber que o Sul de Minas inaugurou o chapéu
europeu no Brasil.
Desde os primórdios humanos, nossas
cabeças receberam proteção contra o sol e contra o frio. Por sua ligação com o cultivo do milho, nasceu
no México o chapéu de palha. No Brasil, Minas foi cedo o lugar natural do chapéu de
palha, enquanto o Nordeste é o do chapéu de couro cru. Com a vinda da côrte
imperial, todos aqueles que queriam parecer importantes copiavam a indumentária
dos nobres e não havia fábrica de chapéu europeu aqui. O mineiro João Antônio
de Lemos, o Barão do Rio Verde, inaugurou a industrialização de chapéus no
Brasil, em 1825, em São Gonçalo do Sapucaí, com tecnologia francesa. Enviou seu
filho Lúcio para, disfarçado de operário da melhor fábrica do mundo, em Paris,
copiasse os procedimentos, sendo, portanto, pioneiro também na espionagem
industrial. Os herdeiros suspenderam a
confecção no final do século 19. Nesta época ocorria a construção do Canal de
Panamá. Desde 1904, intensifica-se a moda do chapéu de palha equatoriana, já elogiado
em 1824, que então passa a ser denominado do Panamá. Sua elegância conquistou -
desde aí até o presente - personalidades políticas, cientificas e artísticas
mundiais, como Santos Dumont, Churchill e principalmente os astros do cinema. O
chapéu passou assim a cobrir a cabeça de gente como Valentino, Humphrey Bogart
e Clark Gable e músicos, como Carlos Gardel, Tom Jobim, Sinatra, Michael
Jackson e Waldick Soriano, além de compor o traje da máfia e da malandragem
carioca.
O Barão foi colega de Antônio Gomide
na Constituinte de 1823 e era amigo de José Bonifácio. Em sua consanguinidade, figuram
a primeira-dama Sarah Kubitschek (prima dos Negrão de Lima), Amélia Lemos
(esposa do líder nacionalista Gabriel Passos e irmã da Sarah), Nassim Calixto
Silveira (renome mundial em glaucoma), o competente neurologista e professor
Sérgio Lemos (meu ex-aluno), Madre Teresa Vilela (nome de hospital
belorizontino), Randas Vilela Batista (o
cardiocirurgião da “Operação de Batista”), Gabriel Vilela (genial teatrólogo), a
recente amiga Mayli Brasil de Andrade, bem como múltiplos Vilelas de Carmo do
Rio Claro, Passos, Prata, Ituiutaba, Campo Belo, Boa Esperança, Lavras, Nepomuceno - e vizinhança. O Barão foi
assassinado em 1864, aos 76 anos, pelo médico seu parente Joaquim Gomes de
Souza, casado com sua sobrinha Adelaide e acometido de quadro psicótico. Fiz o
estudo desse rumoroso caso, sendo Joaquim condenado à morte, que passou a
prisão perpétua e enfim à reclusão psiquiátrica. Estudei também a polêmica
entre médicos e homeopatas, os primeiros acusados pelos segundos de causadores
iatrogênicos da morte do mencionado Lúcio, filho do Barão, que acabava de chegar
da Europa. Nessas pesquisas fui apoiado
pelos historiadores Roberto Macedo e Celeste Noviello e pelos colegas médicos e
fraternais amigos Marcio Ibraim, Romeu Ibraim, Maurício Noviello, Nassim
Calixto e Cláudio Almeida de Oliveira.
[APERITIVO PARA O
LANÇAMENTO DA 2ª ED. DE “O RISO DOURADO DA VILA”, onde são citados, referente a Passos, Tião e Garon Maia, José Amorelli,
Selton e Danton Melo, João Mulato e Mário Palmério]