João Amílcar Salgado

terça-feira, 21 de setembro de 2021

 CENTENÁRIO DE UM GIGANTE


João Amílcar Salgado

Hoje, 19/9/2021, completaria 100 anos de idade o recifense Paulo Freire, fulgurante figura da pedagogia de todos os tempos. Sou testemunha in loco de que Paulo, o baiano Anísio Teixeira e o mineiro Darcy Ribeiro são educadores brasileiros reconhecidos internacionalmente. Freire tem 29 títulos de Doutor Honoris Causa concedidos por universidades tanto europeias como da América do Norte e também o prêmio EDUCAÇÃO PELA PAZ da Unesco (Nações Unidas). A London School of Economics o classifica como o terceiro pensador mais citado do mundo.

Ao ser apresentado por Fernando Figueira, ilustre professor pernambucano, para abrir um congresso educacional em Recife, fui cognominado por ele de PAULO FREIRE DA EDUCAÇÃO MÉDICA BRASILEIRA. De fato, sua proposta de alfabetização derivada da realidade social e minha concepção de treinamento clínico derivado da realidade de saúde são afins, como se pode ler em meu livro ENSINO DA MEDICINA NO BRASIL E EM MINAS GERAIS (2013).

Este homem extraordinário recebe, em seu centenário, homenagens quase unânimes, ao lado de ataques hediondamente injustos, originários de mentes doentias. Seus detratores podem ser divididos em dois grupos: os irrecuperáveis de má-fé e aqueles que são enganados por conceitos e informações absurdos, perfidamente forjados e propalados pela internete. Aos recuperáveis de boa-fé, seria útil aproveitar esta comemoração para conhecer honestamente as ideias cristalinas e o valor inextinguível desse genial educador.

terça-feira, 14 de setembro de 2021

 

ASPECTOS DA RELIGIÃO, DA CIÊNCIA E DA SAÚDE NA AMAZÔNIA

João Amílcar Salgado


O escrivão PEDRO VAZ DE CAMINHA em 1/5/1500 relata a descoberta do Brasil, parecendo simpático aos índios brasileiros. Diz deles que “A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Nem fazem mais caso de encobrir ou deixa de encobrir suas vergonhas do que de mostrar a cara. Acerca disso são de grande inocência. Ambos traziam o beiço de baixo furado e metido nele um osso verdadeiro, de comprimento de uma mão travessa, e da grossura de um fuso de algodão, agudo na ponta como um furador. Metem-nos pela parte de dentro do beiço; e a parte que lhes fica entre o beiço e os dentes é feita a modo de roque de xadrez. E trazem-no ali encaixado de sorte que não os magoa, nem lhes põe estorvo no falar, nem no comer e beber.”

O frade dominicano ANTÔNIO DE MONTESINOS: Todos vós estais em pecado mortal. Nele viveis e nele morrereis, devido à crueldade e tiranias que usais com estas gentes inocentes. Dizei-me, com que direito e baseados em que justiça, mantendes em tão cruel e horrível servidão os índios? – Sermão do Advento de 21-12-1511, na Ilha de São Domingos.

ANTÔNIO VIEIRA em 1634, ao fazer os três votos exigidos para o sacerdócio jesuíta, acrescentou um quarto voto: o de dedicar a sua vida aos escravos, negros e índios, do Brasil. Para tanto, passou a falar as línguas tupi-guarani e quimbundo. Em 1652 percorreu a floresta amazônica e, por discordar da escravidão de indígenas e africanos, foi forçado a embarcar do Maranhão para a Europa, em 1661.

O cientista CHARLES-MARIE DE LA CONDAMINE, de 1719 a 1735, com a missão de medir os três primeiros graus do meridiano, percorre a Amazônia e numa aldeia às margens do rio, cuida de uma epidemia de varíola.

O geógrafo ALEXANDER VON HUMBOLDT  e o botânico AIMÉ BONPLAND iniciam em 1799 sua célebre viagem pelas Américas.

O naturalista galês ALFRED WALLACE descobriu, em 1858, que cada margem dos rios amazônicos possuía sua população peculiar do mesmo macaco. Essa descoberta é anterior ou concomitante às conclusões de Darwin sobre a origem das espécies.  

Em 1861, o imigrante alemão FRITZZ MUELLER confirma, em crustáceos do litoral catarinense, no Brasil, a teoria de Darwin e se corresponde com ele; Darwin então o cita nas edições posteriores de A Origem das Espécies.

Em 1861 o poeta ANTONIO GONÇALVES DIAS percorre o Rio Negro e escreve diário e relatório dessa viagem.

O sábio mineiro DOMINGOS SOARES FERREIRA PENNA, em 1883, funda o Museu Paraense, depois denominado Emilio Goeldi.

O zoólogo suiço  EMÍLIO GOELDI, executa completa organização no Museu Paraense, a partir de 1894.

Em 1906, três anos antes de descobrir a doença de Chagas, Carlos Chagas descobre a transmissão intradomiciliária da malária, em viagem pela Amazônia.

Em 1907, Euclides da Cunha descreve a Amazônia como PARAISO PERDIDO.

Em 1912 o paraense Gaspar Vianna descobre a cura da leishmaniose – o primeiro tratamento quimioterápico da história da medicina.

Em 11/11/1936 surge o INSTITUTO EVANDRO CHAGAS (nome dado em homenagem ao filho do descobridor Carlos Chagas) em Belém, Pa

Em 1937, o sábio mineiro Afonso Arinos de Melo Franco publica o livro O ÍNDIO BRASILEIRO E A REVOLUÇÃO FRANCESA - AS ORIGENS BRASILEIRAS DA TEORIA DA BONDADE NATURAL

O alemão Curt Nimuendajú publica, em 1944,  o MAPA ETNO-HISTÓRICO DO BRASIL E REGIÕES ADJACENTES

Em 1967 o médico mineiro Antonio da Silva Melo publica o livro A SUPERIORIDADE DO HOMEM TROPICAL

Em 1979 Eduardo e Heloisa Manzano criam as CARTILHAS COMUNITÁRIAS de PORTO NACIONAL

Em 1984 a paraense Maria Deane e sua equipe documentam A URINA DE GAMBÁ como transmissora da doença de Chagas.

Em 1985 o paraense Wladimir Lobato Paraense é reconhecido como a maior autoridade mundial em malacologia aplicada à saúde.

Em 1990 Jeremy Wade documenta a tribo amazônica dos Matis como IMUNE AO PORAQUÊ.

Em 30 de março de 2005 ficou confirmado que 26 pessoas foram contaminadas por doença de Chagas, após a ingestão de SUCO DE AÇAÍ, na localidade de Igarapé de Fortaleza, próxima a Macapá, AP.

Em 14/9/21 Sebastião Salgado apresenta sua exposição internacional AMAZÔNIA.  São 200  painéis fotográficos sobre a região, exibida na 5ª  reunião por videoconferência do Observatório do Meio Ambiente do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), transmitida  até Paris e internacionalmente via YouTube   

 

terça-feira, 7 de setembro de 2021

 


O BELMONDO É O BÔCA

João Amílcar Salgado

Faleceu ontem, 6/9/21, o ator ítalo-francês Jean Paul Belmondo. Homenageio-o com a seguinte lembrança.

De entremeio a meus estudos sobre a origem do encanto das mulatas, concluí que as mulheres ruivas eram irresistíveis aos vikings (e aos mouros), que, quando conquistaram os celtas, escolhiam as ruivas para escravas, o que faz das ruivas celtas as mulatas dos vikings (e daí as mulatas reversas dos mouros). O fruto final dessa atração está celebrizado na Carmen de Bizet. Recomendei aos amigos que descobrissem o viking que havia em cada um, revendo filmes de ruivas, a começar por Maureen O'Hara.

Agora é a vez dos galãs. Entre nós, o médico Clovis Alvim foi pioneiro entre os sedutores feios. Nos anos dourados prevaleceu o estereótipo do homem bonito veiculado pelo cinema, estampado pelos galãs Tony Curtis nos EUA e Alain Delon na Europa. Depois vieram os feios, representados pelos galãs Charles Bronson e Jean Paul Belmondo. Postulo que a primazia mineira de Alvim seja reconhecida.

Já na Vila, em O Riso Dourado da Vila, listei o Bôca (Clécio Felicori) como sósia de Belmondo. Quando o Sérgio Almeida operou o Bôca, me disse ao telefone que acabara de operar um meu conterrâneo, colega de ginásio e amigo, o Clécio. Deu gostosa gargalhada, depois de adverti-lo de que atendera não o Clécio, mas o Bôca ou melhor o Belmondo.

 

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

 

INCÊNDIO AMAZÔNICO



JOÃO AMÍLCAR SALGADO

Estudo do periódico NATURE, considerado a publicação científica mais importante do mundo, mostra que o fogo já afetou 95% das espécies do bioma Amazônia nos últimos 20 anos. 83 das 85 espécies de pássaros, assim como 53 das 55 espécies de mamíferos foram atingidos pelas queimadas desde 2001. Mais especificamente, o fogo causado pela ação humana, nos últimos 20 anos, danificou o habitat de 85,2% das espécies de plantas e animais ameaçados de extinção; 64% do habitat de espécies não ameaçadas de extinção; 53 das 55 espécies de mamíferos ameaçadas de extinção; 5 das 9 espécies de répteis ameaçadas de extinção; 95 das 107 espécies de anfíbios ameaçadas de extinção; e 236 das 264 espécies de plantas ameaçadas de extinção. Esse dano é multiplicado pelo fato de que o conhecimento sobre o bioma está em andamento, pois, a cada ano, espécies novas denotadoras de sua biodiversidade são descritas.

sábado, 28 de agosto de 2021

 

PAULO MAIA É UM AMIGO DE RARA CULTURA, QUE FAZ IMPORTANTE REGISTRO SOBRE PERSONAGENS HISTÓRICAS QUE CLAMAM POR SEREM MAIS CONHECIDAS


JOÃO AMÍLCAR SALGADO

“Em 24/9/1978, na penúltima semana de seu breve pontificado de 33 dias, Albino Luciani, o "Papa sorriso", tomou posse da Basílica de São João de Latrão, cátedra e diocese do bispo de Roma. Em seu discurso, lembrou que estavam se completando 30 anos da morte de Bernanos, e narrou um trecho do "Diálogo das Carmelitas", do escritor francês que viveu alguns anos de exílio em Barbacena, MG, fugindo do nazismo.

As dezesseis freiras carmelitas de Compiègne foram condenadas à morte em julho de1794, durante a revolução francesa, por "fanatismo religioso". Uma delas, camponesa simplória, perguntou ao juiz o que significava "fanatismo". " - Mulher tola - gritou o carniceiro revolucionário - fanatismo é esse agarramento idiota que vocês têm ao tal Jesus Cristo!". Exultante, a condenada se voltou para as outras: "Que alegria, irmãs! Vamos morrer pela fé que temos no nosso Senhor!". Na manhã seguinte, as monjas foram levadas da prisão da Conciergérie à guilhotina, numa carreta com grades, o mesmo tratamento já dispensado a Maria Antonieta, rainha de França e de Navarra, em outubro do ano anterior. Foram decapitadas uma a uma, e a madre superiora, a última, profetizou: "Tanta violência vai dar em nada. Só o amor pode tudo". De fato, os sedentos de sangue da revolução acabaram cortando as cabeças uns dos outros, "como Saturno a devorar seus filhos", e seu movimento resultou na ditadura militar de Napoleão Bonaparte e, afinal, na restauração da monarquia absoluta.

A casa onde Georges Bernanos morou em Barbacena é preservada como museu no atual bairro Vilela. Ali ele escreveu, em "Le Chemin de la Croix des Âmes" (O caminho da Cruz das Almas):  "Je n’ai jamais rien prédit, mais je veux aujourd’hui, comme d’habitude, dire tout haut ce que chacun pense tout bas". (Nunca predisse nada, mas hoje quero, como de hábito, dizer bem alto o que todos pensam baixo demais).”

 

 

 

 

terça-feira, 17 de agosto de 2021

 



OS FIASCOS GEOPOLÍTICOS DOS EUA

João Amílcar Salgado

Em 1979 o governo afegão aceitou que o exército soviético entrasse no país para conter os mujahidins, guerrilheiros fundamentalistas islâmicos, depois denominados talibãs. Em contraposição aos soviéticos, os ianques passaram a financiar os rebeldes em quantia calculada entre 2 e 20 bilhões de dólares. Em 1983 Ronald Reagan recebeu os guerrilheiros no Salão Oval da Casa Branca. Foram armados e treinados mais de cem mil insurgentes. A retirada soviética (1987-9) foi um dos antecedentes da queda do muro de Berlim, em 1989. Nesse vácuo, os extremistas impuseram implacável ditadura, brutalmente opressiva às mulheres. Isso, até que veio o ataque às torres gêmeas em 2001. G. W. Bush então determina a invasão do Afeganistão na caça aos autores do atentado e em dezembro anuncia a vitória sobre os antigos aliados. Duas décadas após, em 29/2/2020, Donald Trump ordena que Zalmay Khalilzad, seu diplomata de origem afegã, assine a reconciliação com Abdul Baradar, representante talibã. No ano seguinte, em 15/8/2021, os talibãs reassumem o poder em Cabul.

Observação no 1:

Trump, na reconciliação, teria perguntado a Baradar se o novo talibã seria democrático. Abdul teria garantido que o novo regime em nada seria diferente do regime saudita.

Observação no 2:

Em 1971, Mao apertou a mão de Nixon. Muitos consideram esse episódio como o início do agigantamento chinês. Se o gesto propiciou uma rasteira de Mao em Nixon, arquitetada por Xu Enlai, este fiasco geopolítico supera qualquer dos citados e qualquer outro na história ianque.

sábado, 14 de agosto de 2021

 



A LEGENDA DO CHAPÉU SUL-MINEIRO

João Amílcar Salgado

Três personalidades ligadas a Nepomuceno são legendárias no uso do chapéu: Francisco Negrão de Lima, João Salgado Filho e Santos Dumont. Por sinal, Chico e João foram amigos desde seu tempo de universitários. Influenciado por eles, sou adepto de chapéus. Com isso ganhei um prêmio extra.  Usando o chapéu, fui eleito, por um grupo de brincalhões de Ipanema, sósia de outro adepto: Tom Jobim. Demais, como historiador, tive a grande alegria de saber que o Sul de Minas inaugurou o chapéu europeu no Brasil.

            Desde os primórdios humanos, nossas cabeças receberam proteção contra o sol e contra o frio.  Por sua ligação com o cultivo do milho, nasceu no México o chapéu de palha. No Brasil,  Minas foi cedo o lugar natural do chapéu de palha, enquanto o Nordeste é o do chapéu de couro cru. Com a vinda da côrte imperial, todos aqueles que queriam parecer importantes copiavam a indumentária dos nobres e não havia fábrica de chapéu europeu aqui. O mineiro João Antônio de Lemos, o Barão do Rio Verde, inaugurou a industrialização de chapéus no Brasil, em 1825, em São Gonçalo do Sapucaí, com tecnologia francesa. Enviou seu filho Lúcio para, disfarçado de operário da melhor fábrica do mundo, em Paris, copiasse os procedimentos, sendo, portanto, pioneiro também na espionagem industrial.  Os herdeiros suspenderam a confecção no final do século 19. Nesta época ocorria a construção do Canal de Panamá. Desde 1904, intensifica-se a moda do chapéu de palha equatoriana, já elogiado em 1824, que então passa a ser denominado do Panamá. Sua elegância conquistou - desde aí até o presente - personalidades políticas, cientificas e artísticas mundiais, como Santos Dumont, Churchill e principalmente os astros do cinema. O chapéu passou assim a cobrir a cabeça de gente como Valentino, Humphrey Bogart e Clark Gable e músicos, como Carlos Gardel, Tom Jobim, Sinatra, Michael Jackson e Waldick Soriano, além de compor o traje da máfia e da malandragem carioca.

            O Barão foi colega de Antônio Gomide na Constituinte de 1823 e era amigo de José Bonifácio. Em sua consanguinidade, figuram a primeira-dama Sarah Kubitschek (prima dos Negrão de Lima), Amélia Lemos (esposa do líder nacionalista Gabriel Passos e irmã da Sarah), Nassim Calixto Silveira (renome mundial em glaucoma), o competente neurologista e professor Sérgio Lemos (meu ex-aluno), Madre Teresa Vilela (nome de hospital belorizontino), Randas Vilela Batista  (o cardiocirurgião da “Operação de Batista”), Gabriel Vilela (genial teatrólogo), a recente amiga Mayli Brasil de Andrade, bem como múltiplos Vilelas de Carmo do Rio Claro, Passos, Prata, Ituiutaba, Campo Belo, Boa Esperança, Lavras,  Nepomuceno - e vizinhança. O Barão foi assassinado em 1864, aos 76 anos, pelo médico seu parente Joaquim Gomes de Souza, casado com sua sobrinha Adelaide e acometido de quadro psicótico. Fiz o estudo desse rumoroso caso, sendo Joaquim condenado à morte, que passou a prisão perpétua e enfim à reclusão psiquiátrica. Estudei também a polêmica entre médicos e homeopatas, os primeiros acusados pelos segundos de causadores iatrogênicos da morte do mencionado Lúcio, filho do Barão, que acabava de chegar da Europa.  Nessas pesquisas fui apoiado pelos historiadores Roberto Macedo e Celeste Noviello e pelos colegas médicos e fraternais amigos Marcio Ibraim, Romeu Ibraim, Maurício Noviello, Nassim Calixto e Cláudio Almeida de Oliveira.

 

[APERITIVO PARA O LANÇAMENTO DA 2ª ED. DE “O RISO DOURADO DA VILA”, onde são citados,  referente a Passos, Tião e Garon Maia, José Amorelli, Selton e Danton Melo, João Mulato e Mário Palmério]