João Amílcar Salgado

domingo, 4 de maio de 2014

BAETA VIANA, A BALEIA E O ZEBU
João Amílcar Salgado
            Em 2014/15 comemoram-se os 80 anos da Exposição de Zebu no Brasil e 70 anos do Hospital da Baleia. Entre os principais pioneiros do zebu em Uberaba, encontram-se descendentes de famílias de Nepomuceno e região, como os Costa (colonizadores da região de Uberaba, Desemboque, Ituiutaba, Franca, Mococa e Barretos), os Carvalho, os Andrade e os Borges. Ali se uniram aos Prata, aos Rodrigues da Cunha e a outros.
Há interessante dupla relação histórica entre o zebu e Baeta Viana. Por sinal, o professor José Baeta Viana, o maior bioquímico brasileiro, foi mestre de conhecidos médicos ligados a Nepomuceno: Rubem Ribeiro, Décio Lourenção, João Pereira Neto, João Sebastião (estudante de medicina), Aprígio de Abreu Salgado, Adauto Barbosa Lima, Alberto e Maurício Sarquis, Oscar Resende Lima, João Batista Veiga Sales, Geraldo Lima, José Elísio Correa Lima, Edward Tonelli e Waltenir Salgado. Honra-me pertencer a este grupo, razão que me leva a fazer o presente relato. Vale lembrar também que o Hospital da Baleia, idealizado por Viana, se localiza junto à fazenda Taquaril, da família Veiga de Nepomuceno
Em 1943 houve o Manifesto dos Mineiros, forte golpe contra a ditadura Vargas. Em 1944 estava programada a inauguração do Hospital da Baleia e o serviço de informação da ditadura esperava que neste evento Baeta Viana fizesse violento discurso contra Getúlio Vargas. O interventor Benedito Valadares tramou fazer uma exposição de zebu no parque da Gameleira em Belo Horizonte, como pretexto para trazer Vargas à cidade. No momento da inauguração do Hospital da Baleia, chegam “de surpresa” Benedito e Getúlio. O esperado discurso do Baeta não ocorreu, ele falou sobre a obra e, de hostil, apenas deixou de cumprimentar o ditador.

Anos depois, Baeta Viana foi padrinho de casamento de um ex-aluno em Uberaba. Os fazendeiros orgulhosamente exibiram seus bois ao cientista. Baeta os chocou com seu comentário: o zebu parece ótimo negócio, mas do ponto de vista bioquímico é um erro.  E explicou que o boi ocupa a todos para transformar vegetal em carne e melhor seria plantar diretamente um vegetal equivalente à carne. Perguntaram quase em coro: e este vegetal existe? Ele respondeu que era um feijão oriental chamado soja, que então todos ali ignoravam.  O noivo foi interpelado por que arranjara um padrinho de idéias tão absurdas!... Décadas depois grande parte dos pastos foi coberta pela soja.

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