João Amílcar Salgado

terça-feira, 29 de março de 2022

 


 

RECEBI DO AFONSO BORGES, ILUSTRE ESCRITOR, JORNALISTA E COORDENADOR DO PROGRAMA “SEMPRE UM PAPO” (sempreumpapo.com.br) a seguinte mensagem de João Cândido Portinari:

18/3/22

 

 

 

 

Caro João Amílcar,

 

Fico-lhe muitíssimo grato por nos trazer este episódio que eu, apesar dos 43 anos pesquisando no Projeto Portinari, desconhecia!

 

Chatô tinha paixão por meu pai, veja este texto, o discurso dele na inauguração da Série Os Músicos, e 7 painéis para a Rádio Tupi do Rio de Janeiro (5 deles destruidos em incêndio anos depois), em 10.12.1942:

 

"...Grandezas e misérias do Brasil, sua sensibilidade, suas tragédias secretas, a contra-revolta obscura das suas classes desafortunadas, o frenesi dos sambas, dos batuques, o desengonço do frevo, a melancolia, sem azedume, dos negros e dos mulatos, que a escravidão policiou, o cavalo marinho e o africano, o enterro dos simples e dos humildes, o tocador de flauta e o malandro dos morros, em toda essa comédia humana a palheta de Portinari deita cores imortais.  Seu estilo não tem sombra de artifício.  Fatigados de tanto academismo, de tanta arte de repetição e de decadência, os brasileiros se volvem para a interpretação mágica desse operário da arte nacional autêntica, que é Portinari. (...) Aqui ele está solto.  Não teve governo, Capanema, admoestações estatais, nada, para o sufocar ou estrangular.  Ficou por conta do demônio interior que o possue, e compôs estas fábulas que sobem pelas paredes acima como labaredas de fogo do gênio infernal que o devora.  Portinari é o maior e mais fantástico pintor de negros que ainda viu a espécie humana.  Ele sente a Africa com sua magia, os seus mistérios, a sua volúpia, como nenhum outro artista do pincel.  É preciso ser florentino de sangue e de centelha como ele é, para produzir estas maravilhas murais que aí estão.  O gênio puro e universal de Florença enterrou olhos, alma, coração nas raízes negras e amarelas do povo brasileiro, e veio, da Baixa do Sapateiro, do morro do Querosene, do bas fond das duas cidades com esses diamantes negros que sacudiu a mancheias por ali além.  Mas não são só o negro e o mulato que ele viu.  Viu também o jangadeiro e viu o gaúcho, isto é, viu o norte e o sul do Brasil, na serena unidade dos materiais que lhe alimentam a força com as suas peculiaridades e o seu rutilante colorido humano.  Deste bazar que nós somos, o turco maravilhoso é Candido Portinari…"

 

Um grato e fraterno abraço do

 

João Candido

 

 

Belo Horizonte, 22/3/22

PREZADO XARÁ,

 Muito agradeço sua atenciosa mensagem. Na internete publiquei o seguinte:

domingo, 20 de março de 2022

 

OS CARVALHOS

João Amílcar Salgado

 

Os Carvalhos nepomucenenses descendem do luso Caetano de Carvalho Duarte, de Silvares, Arcebispado de Braga, que migrou para São Miguel do Cajuru, distrito de São João del Rei, onde se casou com Catarina de São José Fonseca, prima de Mateus Luiz Garcia, fundador de Nepomuceno. São co-fundadores da Vila, já que Mateus os trouxe para apoio na ocupação da imensa propriedade do Congonhal. São também co-fundadores de Campo Belo, pois Mateus atribuiu-lhes especificamente as terras da outra banda do Rio Grande, na Mata dos Carvalhos. Na banda de cá criaram a tradicional fazenda dos Coqueiros.

Entre os Carvalhos que vieram, muitos eram brancos e outros mulatos. Há a lenda de que Caetano era fascinado por mulheres negras e engravidava várias escravas ao mesmo tempo, mas cuidava de todas as crianças como filhos. Os herdeiros legítimos enjeitaram os demais e a ameaça de conflito foi solucionada por Mateus, que trouxe os excluídos para Nepomuceno, sendo que aqui se tornaram muito mais prósperos que os avaros.

Os Carvalhos acompanharam a diáspora sulmineira rumo ao oeste. Visitei em Uberaba a família do médico e compositor Joubert de Carvalho, autor de MaringáMinha CasaDe Papo Pro Ar e Zíngara.  Joubert, em seus hábitos e demais traços da personalidade, parecia-se muito com os primos nepomucenenses. Isso deve ter atraído Cândido Portinari, que nasceu numa região colonizada por gente semelhante. Todo o carinho do artista do pincel para com o artista das notas musicais está traduzido no retrato que o primeiro fez do segundo (anexo). Um gesto grosseiro de Assis Chateaubriand arrebatou a tela da família.

https://youtu.be/LBzSLSHD6YM

https://youtu.be/cJvXfOXhsVA

https://youtu.be/1RiPBLIHD1A

https://youtu.be/XilBNgjV41E

***

O livro onde relato o episódio está esgotado e se intitula O RISO DOURADO DA VILA (2003), mas sua 2ª edição será lançada agora. Minha relação especial com o assunto decorre de minha condição de historiador da medicina, sendo Joubert importante figura da medicina mineira. Sou também historiador de minha cidade, Nepomuceno, no sul de Minas, e sou autor do livro NEPOMUCENO – SÍNTESE HISTÓRICA (2016). Neles me refiro à diáspora de sulmineiros para o oeste. Daí que parentes meus ajudaram a fundar cidades no Triangulo, por exemplo, Uberaba, em São Paulo, por exemplo, Barretos, e em Goiás, por exemplo, Mineiros. Para minha satisfação, Portinari nasceu em Brodowski, incluída nessa área, situada não muito distante de Nepomuceno. Portinari nasceu em 1903, mesmo ano de meu pai, João Salgado Filho, que foi contemporâneo de Carlos Drummond de Andrade, no curso de farmácia na atual UFMG, sendo ambos farmacêuticos e poetas.

        Como historiador da medicina, editei facsimilarmente um livro publicado em 1735, denominado ERÁRIO MINERAL, que é nosso primeiro livro sistemático para os clínicos, em português. Ofereço um exemplar para seu acervo, sendo que a capa é uma obra de arte de nosso artista Jarbas Juarez, que recebeu grande influência de Portinari. Envio também outros livros de minha família. Para isso, rogo indicar-me o endereço apropriado.

        Receba meu entusiástico abraço,

        João

 

 

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