João Amílcar Salgado

sexta-feira, 28 de julho de 2023

 


PAI QUE MUITO CEDO FUI

João Amílcar Salgado

No aconchego mais carinhoso da família cultivamos três caçulinhas: a meiguice formosa da Vange e da Neusa e a rara vivacidade do Lívio. A perda do pai aos seis anos foi para o Livio uma brincadeira sem-graça do pai brincalhão. Bem que o Malasarte, herói de ambos, poderia, em mais uma arte, a maior de todas, trazê-lo de volta... Enquanto eu, sob a perda invencível, me fiz pai muito cedo. Eu que fora criança-prodígio feliz, era agora o pai suplente da criança-prodígio infeliz. Em meu zelo constante de pai adolescente, me fiz preceptor do elogiado futebolista-mirim, do orador infantil, do poliglota, do repetidor do irmão no vestibular, do eminente engenheiro, do meticuloso fruticultor e do campeão da Vila em mangarito. Ao incorrigível humorista Lívio pergunto: que brincadeira sem graça é esta, de nos deixar assim, todos e tantos  tão desolados?

28/7/23

 

 

quarta-feira, 26 de julho de 2023

 

LUÍS MALTA E BRENO GOMES - PARTIDÁRIOS DAS SUTILEZAS NA MEDICINA

João Amílcar Salgado

Ao longo de largos anos no agradável ofício de ensinar semiologia médica, a boa relação médico-paciente foi minha diuturna lição.  Este apostolado não está perdido. A observação do conjunto de meus ex-alunos me mostra profissionais do mais alto desempenho, quer técnico, quer no trato com os pacientes. Tanto que fez surgir um livro sobre o tema: “Clínica Médica Vol. 2 - Nº 1 - Relação Médico Paciente”, de autoria de Eduardo Costa Ferreira, Maria Mônica Ribeiro e Sebastião Soares Leal (Medsi, 2002). Desde minha militância pedagógica e desde esta publicação, a relação medico-paciente, em vez de aprimorada, paralelamente ao aperfeiçoamento tecnológico, vem sendo posta em questão, muitas vezes desrespeitada, atropelada e aviltada. Nada mais oportuno que surja um livro com o feliz título “AS SUTILEZAS DA MEDICINA”, de autoria de Breno Figueiredo Gomes e Luís Augusto Silva Malta, a quem aplaudimos de pé. Deve ser lido reflexivamente por todos os profissionais de saúde. E aproveito a oportunidade para solicitar a segunda edição do primeiro. Nele o João Vinícius Salgado é o principal autor do capítulo inicial, intitulado “A Relação Médico-Paciente na História da Medicina”.
 

 

 

 

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terça-feira, 25 de julho de 2023

 


A EPIGENÉTICA É IMPORTANTE NOVIDADE CIENTÍFICA

João Amílcar Salgado

Os nepomucenenses que acompanham as novidades da ciência têm o dever de saber sobre as conquistas na área da genética, porque foi o lavrense-nepomucenense João Batista Veiga Sales quem deu enorme contribuição à química do DNA, como auxiliar de Severo Ochoa, na conquista do prêmio Nobel, em 1959. Pois bem, uma novidade genética é o novo ramo da epigenética. Desde Darwin, os cientistas defendem que a evolução biológica ocorre por seleção natural e mutações aleatórias, ligadas ao DNA. A epigenética reúne um conjunto de evidências de que mudanças evolutivas persistem através de gerações, sem envolvimento do DNA. Nosso principal epigeneticista é o notável geneticista Edson Coelho de Morais, da Ufmg. Ele acaba de divulgar importante texto do especialista italiano Corrado Spadafora, publicado na revista  “Progress in Biophysics and Molecular Biology”, março de 2023 - excelente introdução à epigenética. [ver em português em Amircasal.blogspot.com]

 

 

EVOLUÇÃO BASEADA NA EPIGENÉTICA

Enviado por Edson Coelho Morais

Cientista italiano Corrado Spadafora propõe novo modelo de evolução baseado na epigenética

EVOLUTION

Marjorie Hecht  Jun 12, 2023

A visão de síntese moderna de que mutações genéticas aleatórias e a seleção natural impulsionam a evolução tem predominado na ciência por quase um século. Mais recentemente, evidências experimentais, possibilitadas por métodos tecnológicos avançados, estão desafiando essa visão.

Em vez de uma teoria centrada no gene, novas evidências apontam para a epigenética como desempenhando um papel importante como base para a herança. Epigenética são aquelas mudanças que persistem através de gerações, mas não envolvem mudanças nas sequências de DNA.

Em uma revisão abrangente de linhas independentes de evidências que desafiam a síntese moderna, o cientista italiano Dr. Corrado Spadafora propõe um novo modelo evolutivo baseado em novos dados epigenéticos emergentes.

Especificamente, ele relata evidências experimentais de que informações baseadas em RNA produzidas em células somáticas em resposta ao estresse ambiental são transmitidas por meio de vesículas extracelulares que as entregam à corrente sanguínea. As vesículas extracelulares transmitem essa "carga" extracromossômica para os espermatozóides e daí para os ovócitos com potencial para "novidades fenotípicas no embrião" que podem ser transmitidas por gerações.

Seu trabalho aparece na revista Progress in Biophysics and Molecular Biology, março de 2023

O efeito do ambiente - Para explicar a evolução de genes e fenótipos, Spadafora diz, uma visão estendida "considera os efeitos do ambiente nos organismos e o papel dos mecanismos epigenéticos na adaptação, e vê processos de desenvolvimento, herança não baseada em genes, epigenética, construção de nicho e as condições ambientais como forças motrizes multifatoriais na evolução."

Os fatores ambientais observados em diferentes espécies incluem nutrição, temperatura, luz, toxinas e estresse. Spadafora cita evidências mostrando que tais gatilhos ambientais podem "ser transmitidos por meio de gametas e ser herdados com frequência variável através de gerações que não foram expostas a esse gatilho".

Pesquisa em andamento - Vários anos atrás, o laboratório de Spadafora no Conselho Nacional de Pesquisa em Roma descobriu a capacidade das células espermáticas de absorver moléculas externas de DNA e entregá-las aos oócitos na fertilização. Eles chamaram o processo de transferência genética mediada por esperma (TGME) e seu laboratório e outros têm estudado o fenômeno e trabalhado em possíveis aplicações para modificação genética e terapias contra o câncer.

Resumindo seu modelo, Spadafora disse: "A evolução não é uma coleção de características aleatórias que aumentam com o tempo, nem essas características dependem de eventos contingentes. Pelo contrário, as variações são finamente ajustadas por organismos e são integradas gerando estruturas, formas e funções."

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Corrado Spadafora. "The epigenetic basis of evolution." Progress in Biophysics and Molecular Biology. March 2023. https://doi.org/10.1016/j.pbiomolbio.2023.01.005

Entrevista com Corrado Spadafora

A epigenética impulsiona a evolução

O Dr. Corrado Spadafora é pesquisador do Instituto de Farmacologia Translacional do Conselho Nacional de Pesquisa da Itália. Ele discutiu suas opiniões sobre epigenética e evolução com o Current Science Daily por e-mail.

Discuta como sua hipótese evolutiva desafia a visão de síntese moderna da evolução.

De acordo com o neodarwinismo (ou a teoria chamada “síntese moderna”), a evolução é alimentada por dois processos independentes, mas convergentes: mutações genéticas que ocorrem aleatoriamente e seleção natural. Em resumo, as mutações geram variantes fenotípicas que são então “peneiradas” pela seleção natural, que preserva e fixa aquelas que conferem uma vantagem adaptativa (maior aptidão) e contra-seleciona aquelas com baixo ou nenhum valor adaptativo.

Essa visão foi recentemente contestada por muitas razões com base em evidências de que mutações aleatórias podem causar instabilidade genética e, finalmente, gerar células inviáveis, atuando principalmente como “agentes disruptivos” de informações genéticas pré-existentes, em vez de geradoras de novidade evolutiva.

Além disso, nenhuma evidência paleontológica apoia o surgimento de muitas variantes fenotípicas induzidas por mutações que se esperaria originar de mutações aleatórias.

Quais são algumas das evidências de dados epigenéticos?

Nos últimos anos, dados epigenéticos crescentes mostram que os organismos são sensíveis a uma variedade de estímulos epigenéticos que não causam mutações no DNA genômico, mas alteram a conformação espacial da arquitetura do genoma e reprogramam o perfil de expressão gênica. Dados crescentes sugerem que alterações epigenéticas têm fortes implicações evolutivas.

Na esteira desses estudos, propus que os gametas e os embriões iniciais têm características evolutivamente relevantes intrínsecas.

Primeiro, os espermatozoides, além de carregar o genoma masculino, também acumulam e carregam uma carga de informações extracromossômicas baseadas em RNA que podem ser entregues aos ovócitos na fertilização.

Em segundo lugar, zigotos e embriões muito precoces nos estágios de uma e duas células – isto é, logo após a fertilização ou apenas emergindo da primeira divisão celular que se segue à fertilização – oferecem um contexto altamente permissivo, capaz de aceitar e transmitir as informações transportadas pelo RNA do esperma junto com o pool genético dos embriões em desenvolvimento.

Nesse ambiente crucialmente permissivo, o RNA espermático pode exercer todo o seu potencial para reprogramar o desenvolvimento, induzindo variações micro e/ou macro-evolutivas. Além disso, o acúmulo, em várias gerações, de informações baseadas em RNA fornecidas após cada fertilização pode aumentar os efeitos de variação com alcance evolutivo significativo.

O RNA está transmitindo material que não é DNA?

O RNA não está transmitindo material, mas informação extracromossômica que não está codificada no DNA genômico. A maior parte do RNA armazenado nos espermatozoides tem origem somática, provavelmente transcrito nas células somáticas do doador de esperma (o pai) em resposta a estressores e estímulos ambientais, depois acondicionado em vesículas extracelulares (VEs) que são liberadas no sangue circulante.

Parte dos VEs atinge o epidídimo, onde sua carga de RNA é eventualmente absorvida por espermatozoides maduros, que são naturalmente permeáveis a moléculas e vesículas. Assim, as informações baseadas no RNA do esperma não são remanescentes de alguma transcrição aleatória, mas refletem o impacto exercido pelas condições ambientais nas células do organismo.

Os RNAs induzidos pelo estresse, por sua vez, podem afetar a modelagem do organismo em desenvolvimento. Este modelo proposto integra essas linhas de evidência e sugere que o surgimento de novidades de desenvolvimento é amplamente impulsionado pelo RNA contendo informações herdadas por meio de células espermáticas ao longo das gerações. A progressão evolutiva, portanto, é um processo eminentemente epigenético que não requer necessariamente mutações genéticas ou seleção natural, uma visão que contrasta fortemente com a visão genecêntrica neodarwiniana.

Além disso, nenhuma evidência paleontológica apoia o surgimento de muitas variantes fenotípicas induzidas por mutações que se esperaria originar de mutações aleatórias.

E quanto às diferenças reais no DNA que distinguem as espécies?

Existem várias diferenças quantitativas e qualitativas que distinguem os genomas de diferentes espécies: o tamanho do genoma varia entre as diferentes espécies; o conteúdo gênico varia porque espécies diferentes têm números diferentes de genes; o rearranjo gênico varia porque os genes são distribuídos diferencialmente nos cromossomos.

No entanto, nenhuma dessas diferenças mostra correlações claras com a progressão evolutiva das espécies. Em vez disso, uma paisagem diferente e mais interessante surge quando as sequências de DNA codificantes e não codificantes são comparadas. As sequências codificantes, também conhecidas como éxons, são as sequências codificadoras de proteínas, enquanto as não codificantes são constituídas predominantemente por sequências que exercem funções regulatórias genômicas.

É justo dizer que seu modelo proposto flui da teoria evolutiva tradicional e faz uso de novos dados experimentais?

Sim, está correto. Como qualquer outro ramo da ciência, a biologia evoluiu ao longo do tempo e agora é hora de incorporar novas descobertas experimentais e conceitos teóricos em um novo cenário evolutivo. Estudos têm revelado que um amplo espectro de fatores e mecanismos contribui para os processos evolutivos.

Entre outros, surgiram papéis fundamentais para a biologia evolutiva do desenvolvimento (fundindo-se no novo campo de pesquisa denominado evo-devo), que visa identificar mecanismos de desenvolvimento que geram a vasta diversidade de morfologias em organismos dentro e entre populações e espécies. Esses incluem:

• Herança epigenética, ou herança não baseada em genes, que consiste na capacidade de reprogramar a expressão gênica, sem alterar a sequência de DNA subjacente, e transmitir de forma estável a informação reprogramada ao longo das gerações;

• Plasticidade do desenvolvimento, ou seja, a capacidade de um organismo modificar seu próprio fenótipo para se adaptar ao ambiente em resposta a estímulos externos.

Novamente, esses processos indutores de variações são de natureza epigenética, não exigindo mutações nem seleção natural.

Seu laboratório fez algumas descobertas importantes em relação à epigenética.

O trabalho do meu laboratório tem se concentrado principalmente na biologia reprodutiva e do desenvolvimento. Nossa principal descoberta foi que os espermatozoides de praticamente todas as espécies animais, inclusive a humana, têm a capacidade espontânea de captar moléculas estranhas, como DNA e RNA, e partículas, como vesículas e vírus, e internalizá-las em seus núcleos.

Essa carga extracromossômica é entregue ao oócito na fertilização e tem o potencial de introduzir novas características no embrião em desenvolvimento. Essa capacidade espontânea das células espermáticas forneceu a base funcional para o desenvolvimento do modelo evolutivo proposto em meu artigo.

Onde os fatores ambientais entraram em jogo?

Esta não foi nossa descoberta exclusiva, mas contribuímos para ela juntamente com o trabalho de muitos outros laboratórios que descobriram que a composição da carga de RNA em VEs é fortemente influenciada pelas condições ambientais às quais as células/tecidos originários foram expostos. Por essa razão, a composição da informação que flui das células estressadas é variável e expressa sua adaptação a mudanças ambientais específicas.

No modelo, as VEs desempenham um papel crucial como vetores da informação baseada em RNA extracromossômico das células somáticas [não reprodutivas] originárias para os espermatozoides do epidídimo. [O epidídimo é onde os espermatozoides amadurecem e são armazenados.] Ao fazer isso, eles atravessam a “barreira de Weissman”, uma barreira metafórica tradicionalmente considerada como a fronteira intransponível que separa as células somáticas das células germinativas.

Você propôs esta transferência de esperma como um projeto baseado em RNA que pode "religar os circuitos genéticos nos embriões".

A carga de RNA do VE proveniente de células somáticas e captada por espermatozoides epididimários é essencialmente constituída por RNAs “reguladores”, muitas vezes pequenas moléculas de RNA que controlam a expressão de genes-alvo e modulam perfis de transcrição. Na fertilização, a carga de RNA do esperma é entregue aos zigotos. Nesse sentido, modula a expressão de genes embrionários e redefine o perfil de transcrição dos embriões pré-implantação em desenvolvimento inicial. Isso pode levar ao surgimento de novidades fenotípicas.

Em outras palavras, as mudanças evolutivas não são causadas por mutações progressivas, mas emergem de uma malha funcional.

As variações evolutivas estão diretamente correlacionadas com o RNA espermático entregue na fertilização, cuja composição depende dos estímulos e da resposta às condições ambientais nas células somáticas originárias. Nesta perspectiva, o RNA do esperma pode ser considerado como seu “projeto”. Este mecanismo tem um valor adaptativo específico porque transmite informações ambientais relevantes para os embriões em desenvolvimento.

Como você espera que seu modelo para uma "linha de montagem" promotora da evolução epigenética mude o estudo da evolução?

A evolução é um processo extremamente lento que se desenvolve ao longo de eras geológicas e não é observável durante a vida humana. Consistente com isso, nenhuma abordagem experimental pode estudar a evolução. A trajetória da evolução é geralmente reconstruída com base em estudos retrospectivos “para trás”, usando remanescentes paleontológicos deixados ao longo das eras, enquanto mecanismos moleculares básicos podem ser recapitulados a partir de características fenotípicas, genômicas e epigenéticas de organismos vivos.

Além disso, a evolução está intimamente relacionada ao problema da origem da vida, uma questão importante cuja resposta permanece envolta em profundo mistério. Essa falta de dados experimentais diretos deixa grandes lacunas em nosso conhecimento que, não surpreendentemente, foram preenchidas com uma variedade de especulações filosóficas, referências ideológicas e implicações religiosas. Com base nisso, a evolução tornou-se um amplo campo de batalha, no qual as visões contrastantes da evolução como um fenômeno aleatório não direcionado versus um processo conduzido teleologicamente são duramente opostas.

Todas essas razões tornam a evolução uma área de estudo complexa e desafiadora. A principal intenção do modelo que proponho é reunir dados experimentais sólidos, conceitos e hipóteses de várias áreas da biologia e integrá-los em um modelo multifacetado de evolução global.

O que é a "linha de montagem"?

As seguintes etapas principais podem ser reconhecidas.

1) Os espermatozóides absorvem o RNA contendo informações de origem somática e o entregam aos oócitos na fertilização.

2) Os zigotos, embriões de uma e duas células, são altamente “permissivos” e, portanto, fornecem contextos capazes de assimilar as informações extracromossômicas baseadas em RNA.

3) As assimetrias funcionais são estabelecidas em oócitos e embriões iniciais, com base na distribuição de miRNAs e morfogênios, e representam um modelo natural de “pontos quentes” que conduzirão o desenvolvimento futuro.

4) O RNA liberado pelo esperma age como um agente de quebra de simetria, capaz de modificar o projeto natural e redirecionar a trajetória da evolução.

5) A redistribuição de redes genéticas pré-existentes e a readaptação de estruturas pré-existentes propensas a aceitar inovações morfológicas são, portanto, fundamentais para o surgimento de variantes fenotípicas evolutivas, independentemente da ocorrência de mutações.

Conclusão

Esse maquinário gerador de informação/inovação é continuamente acionado nos organismos em resposta a estímulos ambientais aos quais estão expostos. No geral, o processo fornece condições que favorecem a evolução e a canalizam ao longo de trajetórias específicas, restringindo a miríade de variantes possíveis que poderiam ser potencialmente geradas por mutações aleatórias. Nesse sentido, o acaso desempenha pouco papel na evolução e, como tal, pode ser definido como um “processo orientado por objetivos” e, porque não, também repetível.

Spadafora concluiu, '"Nada na biologia faz sentido exceto à luz da evolução' é a famosa declaração do biólogo Theodosius Dobzhansky que poderia ser parafraseada como 'Nada na evolução faz sentido exceto à luz da mente humana.'''

A base epigenética da evolução

The epigenetic basis of evolution

Corrado Spadafora 1

Review Prog Biophys Mol Biol. 2023 Mar;178:57-69.

Abstrato - Um crescente corpo de dados está revelando papéis-chave da epigenética nos processos evolutivos. O escopo deste manuscrito é reunir em um quadro coerente evidências experimentais que apoiem o papel de fatores e redes epigenéticos, ativos durante a embriogênese, na orquestração de fenômenos indutores de variação subjacentes à evolução, vistos como um processo global. Esse processo se desdobra em dois níveis cruciais: i) um fluxo de informações baseadas em RNA - predominantemente pequenos RNAs regulatórios liberados de células somáticas expostas a estímulos ambientais - captados por espermatozoides e entregues aos oócitos na fertilização e ii) o altamente permissivo e variador- ambientes propensos oferecidos por zigotos e embriões precoces totipotentes. Os embriões totipotentes fornecem uma variedade de ferramentas biológicas que favorecem o surgimento de novidades fenotípicas evolutivamente significativas impulsionadas pela informação do RNA. Sob esta luz, nem mutações genômicas aleatórias, nem o papel criterioso da seleção natural são necessários, pois a carga de RNA entregue pelo esperma transmite informações específicas e atua como "indutor fenotípico" de características adquiridas no ambiente definidas.

Palavras-chave: Totipotência embrionária; Epigenética; Evolução; LINHA 1; Herança transgeracional mediada por espermatozoides.

A hipótese do "campo evolutivo". Herança transgeracional não mendeliana medeia diversificação e evolução

The "evolutionary field" hypothesis. Non-Mendelian transgenerational inheritance mediates diversification and evolution

Corrado Spadafora

Review Prog Biophys Mol Biol. 2018 May;134:27-37

Abstrato - A epigenética é cada vez mais considerada como um potencial fator contribuinte para a evolução. Com base em resultados aparentemente não relacionados, proponho aqui que as nanovesículas contendo RNA, predominantemente pequenos RNAs reguladores, são liberadas de tecidos somáticos na corrente sanguínea, atravessam a barreira de Weismann, atingem o epidídimo e são eventualmente absorvidas por espermatozoides; doravante, a informação é entregue aos ovócitos na fertilização. No modelo, uma atividade de transcriptase reversa codificada por LINE-1, presente em espermatozoides e embriões iniciais, desempenha um papel fundamental na amplificação e propagação desses RNAs como estruturas extracromossômicas. Pode-se conceber que, ao longo de gerações, os efeitos cumulativos dos RNAs entregues pelo esperma cruzariam um limiar crítico e superariam a capacidade tampão dos embriões. Como um todo, o processo pode promover a geração de uma plataforma contendo informações que impulsiona a remodelação da paisagem epigenética embrionária com potencial para gerar mudanças ontogênicas e redirecionar a trajetória evolutiva. Ao longo do tempo, variações evolutivamente significativas e adquiridas de forma estável podem ser geradas através do processo. A interação entre esses elementos define o conceito de "campo evolutivo", uma plataforma autoconsistente e abrangente contendo informações e uma fonte de novidade evolutiva descontínua.

Palavras-chave: Embriogênese; retrotransposões LINE-1; Nanovesículas; Transcriptase reversa; Espermatozoides; Herança transgeracional; Barreira de Weismann.

 

 

 

domingo, 23 de julho de 2023

 


A LUCIANA BRILHOU HOJE NA TEVÊ

João Amílcar Salgado

Em todas as manhãs de domingos, o canal de tevê SBT exibe agradável programa sobre as coisas de Minas, apresentado pelo competente Otávio Toledo, dublê de jornalista e historiador. Hoje, 23/7/23, ele entrevistou a competente Luciana Vilela Procópio Alvarenga, dublê de farmacêutica e museóloga.  A tradicional farmácia Universal da Floresta, rua Itajubá 553, é um lugar muito querido de BH, hoje dirigida pela Luciana, 3ª geração de dois clãs de farmacêuticos mineiros, os Procópio de Itabira e os Vilela de Nepomuceno. Ela deu um show para alegria de itabiranos, nepomucenenses e moradores da Floresta e de Santa Teresa.

sexta-feira, 21 de julho de 2023

 



LANÇAMENTO DO FILME “OPPENHEIMER”

João Amílcar Salgado

Em 20/7/23 foi lançado o filme “OPPENHEIMER” de Christopher Nolan, com grande repercussão mundial. Os leitores de meu livro “O RISO DOURADO DA VILA” (2020) certamente leram o trecho sobre a vinda de Robert Oppenheimer a Minas Gerais. Um deles, o Luiz Fernando Maia, acaba de dizer: “mais uma confirmação do umbigo do mundo, pois esse  Oppenheimer está no riso da Vila. Nepomuceno em peso vai ver o filme e vai conferir com o que está no livro.

Em 2015 resumi essa historia:

BOMBA DE HIROSHIMA E QUE MINAS TEM COM ISSO?

Neste agosto de 2015 completam-se 70 anos de um dos maiores crimes de guerra de todos os tempos, cometidos pelo presidente Truman dos EUA. Trata-se do assassinato coletivo de quase 300 mil pessoas inocentes, somados a número incalculável de sobreviventes lesados, inválidos ou que vieram a morrer mediatamente. Truman ordenou o lançamento das duas primeiras e únicas bombas atômicas, usadas em situação de guerra, sobre as cidades japonesas de Hiroshima (6-8-1945) e Nagasaki (9-8). Após o morticínio, Truman, em vez de ser submetido a julgamento pelo hediondo crime, foi glorificado e continuou impune até sua morte - e não foi julgado até hoje.

            Minas Gerais tem relação com isso porque veio para Belo Horizonte o cientista Julius Robert Oppenheimer, diretor do “PROJETO MANHATTAN”, criado pelo presidente estadunidense Franklin Delano Roosevelt, para desenvolver a bomba atômica.  O terrível projeto se iniciou a partir de 9-10-1941, com a participação de Albert Einstein, Enrico Fermi e outros. Roosevelt morreu subitamente em 12-4-1945 e Truman assumiu a presidência.

            Na hoje UFMG era professor Francisco Magalhães Gomes, que propunha o desenvolvimento da bomba atômica brasileira. Seu apelido de Chico Bomba Atômica, implica a tentativa, por parte de docentes e estudantes, de interpretar como ridícula sua pretensão.  Todos os que assim pensavam ficaram de riso amarelo quando ele traz, em 1955, nada menos que Robert Oppenheimer para apoio a seu laboratório. O professor Francisco, além disso, ajudou o papa a anistiar o ex-estudante de medicina Galileu Galilei, em 2000, ocasião em que eu o trouxe para falar no curso de História da Medicina. Se o professor Márcio Quintão não escreve afinal sua biografia eu a teria escrito, pois ele vinha sendo um dos notáveis homens e mulheres da UFMG ainda não biografados.

Percebe-se certo silêncio medroso em torno da estada entre nós do extraordinário cientista nuclear Oppenheimer, que, aliás, se apaixonou por nossa cachaça. Era uma época em que ele era vigiado pelos macartistas, acusado de comunista. Entre suas frases, a mais famosa é Tornei-me a morte, a destruidora de mundos, adotada por ele da bíblia hindu Bhagavad-Gita. Outra frase, esta dele mesmo: O gênio vê a resposta antes da pergunta.

            E Nepomuceno tem curiosa relação com o tema, pois um cidadão nepomucenense tem o nome de Franklin Delano Roosevelt de Almeida Antunes, em homenagem ao presidente ianque, prestada pelo cantor e técnico-eletricista Tarzan Almeida Antunes. Perguntei ao Tarzan, como brincadeira, se ele tinha autorização do FBI para colocar esse nome no filho. Ele respondeu que se meu pai me colocou o nome de Tarzan sem nenhuma permissão, achei que nada de mal ia me acontecer...

 

Em 2022, volto ao Oppenheimer, conforme o seguinte:

LINUS PAULING - SOU FÃ DELE DESDE VESTIBULANDO

Citei o Pauling a propósito de meu conceito de muletas sucessivas em educação. Quero complementar com os demais dados de minha admiração por ele, por sinal ligada ao mundo farmacêutico. Para começar, ele e eu somos filhos de farmacêuticos. Fiz um estudo de importantes clínicos, cirurgiões e cientistas filhos de farmacêuticos ou que foram ex-aprendizes de farmácia. Muito do que aconteceu ao Pauling atribuo a isso. Por outro lado, fui aluno de química do farmacêutico Elias Murad, que, como eu, foi aluno dos maristas em Varginha e se formou médico na UFMG, no final de meu primeiro ano ali. Enquanto foi meu professor no Colégio Estadual e sextanista de medicina, morou na célebre República Nepomuceno da rua Tomé de Souza. Quando publicou seu livro didático de química, deduzi que ele nos trouxe a experiencia de Pauling como docente pré-universitário nos EUA. A partir daí acompanhei as façanhas do genial cientista ianque. Quando soube que Robert Oppenheimer veio parar em Belo Horizonte e verifiquei que ele trabalhou com Pauling, fiquei maravilhado. Ambos se tornaram pacifistas, mas se distanciaram, porque este desconfiou que o colega se apaixonara por sua esposa, Ava Helen. E não é que fato semelhante tinha acontecido aqui em Coqueiral, quando um compadre se apaixonou pela mulher do outro, mas neste caso foi morto. E coincidentemente este último era farmacêutico. Uma de minhas maiores alegrias ocorreu em 1962, quando Pauling recebeu um segundo prêmio Nobel. Recebeu antes o de química, em 1954 (exatamente em meu ano de vestibulando), e o segundo foi da paz. Ele teve um final de vida infeliz, pois uma indústria farmacêutica explorou sua perturbação senil, para fazer dele mero balconista de vitamina C.

 2a foto de FRANCISCO MAGALHÃES GOMES

 

 

 

 

 

domingo, 9 de julho de 2023

 


SEPÚLVEDA E O INESQUECÍVEL NEPOMUCENENSE TONINHO CORDOVIL

João Amílcar Salgado

Muito me honra compor o grupo de contemporâneos de José Paulo Sepúlveda Pertence no Colegio Estadual, educandário referido por ele como berço de boa parte da elite política mineira. São ex-alunos do Estadual dessa época, além de Sepúlveda, o Betinho (Herbert José de Souza), Guido de Almeida e José Anchieta Correa (ambos lentes de filosofia, exilados políticos), Modesto Justino de Oliveira (fino administrador, irmão mais novo do José Aparecido de Oliveira), Marie Louise Stein (raro talento, egressa do gueto de Varsóvia), Sérgio Gomes Vasconcelos (ilustre engenheiro, primo de Sara Kubitschek), José Guilherme Vilela (orador perante o paraninfo governador JK, brilhante jurista, tragicamente assassinado), Mauro Tostes Ferreira (médico erudito, célebre pela memória fotográfica), Paulo Raimundo Dias (obstetra da equipe de Clóvis Salgado), Décio Tolentino (clínico admirável), Ernesto Lentz e Acácio Rocha Filho (ambos renomados cirurgiões). Já na Faculdade de Direito, Sepúlveda foi contemporâneo de meu dileto primo José Maria Ribeiro, de Lúcio Urbano, meu colega em história da cidade natal, e do cartunista Ziraldo, criador na época de “A Turma do Pererê”.

Sepúlveda e eu fomos companheiros no movimento estudantil. Provavelmente estivemos no memorável enterro simbólico de JK, contra a nomeação de Roberto Campos (Bob Fields) para embaixador nos EUA, bem assim na tentativa consensual de eleger o Betinho presidente da UNE. Lado a lado, sem dúvida, presenciamos os concorridos júris em que Pimenta da Veiga digladiava com Pedro Aleixo. Mas nossa maior convergência está na ligação a Tancredo Neves. Se tivesse havido o governo federal de Tancredo, Sepúlveda e eu seríamos devotados auxiliares do estadista, ele na área jurídica e eu na saúde e na educação. E nosso ativismo prosseguiu com a Constituinte e depois desta: Betinho com a Fome Zero, eu com o SUS, os Conselhos Nacionais de Saúde e de Educação e ainda a ampliação do ensino superior federal - e Sepúlveda com o Ministério Público e sua retificação.

Quando lancei “O RISO DOURADO DA VILA” em 2004, meu outro não menos querido primo Antônio Cordovil de Freitas, fã de Pertence como o maior saber jurídico do país, presenteou-o com um exemplar, dizendo-lhe para matar as saudades juvenis. Ele agradeceu, mas disse temer ler ali “as traquinagens” de que participara. Mal sabia ele que os documentos secretos da ditadura, ora disponíveis, mostram 75 relatórios sigilosos sobre o mineiro José Paulo Sepúlveda Pertence. Em um dos primeiros registros, já em 1965, o araponga escreve que ele era “conhecido elemento de extrema esquerda e acaba de ser nomeado assessor de Evandro Lins e Silva, ministro do STF”. Em 1969, foi, pelo AI-5, cassado do Ministério Público e Lins do STF.

 

sexta-feira, 7 de julho de 2023

 

AMIGOS CÂNDIDOS

João Amílcar Salgado



Eu era aluno do curso médico e nosso instrutor discorria sobre candidíase. Perguntei quem criou o nome científico para este fungo?. Resposta: você está querendo muito de mim, por que quer saber isso? Então eu disse que o nome é um pleonasmo. Resposta: não sei nem o que é “pleonasmo”!... Desde criança eu me perguntava por que nosso caseiro se chamava Juca Cândido. Pouco depois descobri que na Vila havia os Cândidos ricos e os pobres, inclusive os quilombolas do Retiro chegaram a adotar tal sobrenome.  Na Faculdade fiquei fraternal amigo do João Cândido, colega negro, que veio a ser torturado pela ditadura e faleceu precocemente, em consequência dessa iniquidade. Mais prá frente, descobri outros Cândidos fora da Vila, a maioria ligada ao Sul de Minas. Acabei amicíssimo de um deles, apelidado exatamente de uma denominação carinhosa de Cândido, isto é, Cancando, meu ex-aluno e comparsa de várias façanhas, aliás irmão do Tavito, autor das canções “CASA NO CAMPO” (1972) e “RUA RAMALHETE” (1979), ambos de origem cassiense. Trata-se de gente que prima na nobreza, na ciência, nas letras, nas artes e na política: a) o lavrense barão de Cambuí, João Cândido, b) o enciclopédico zoólogo José Cândido de Carvalho, de Carmo do Rio Claro, c) o fabulista Malba Tahan que me encantou na infância com “O HOMEM QUE CALCULAVA” (1938) e d) meu amigo, o sociólogo Antônio Cândido, autor de “OS PARCEIROS DO RIO BONITO” (2001); estes dois são sulmineiros nascidos no Rio, e) o governador Hélio Garcia, filho do Júlio Garcia grande amigo de meu pai, f) Candido Naves, jurista, com parentesco com nossa família, g) Cânddo Mendes, político imperial,  h) o esplendoroso artista Cândido Portinari, nascido em região colonizada por sulmineiros, i) o notabilíssimo  mato-grossense Cândido Rondon e j) dois de origem lusa: José, homônimo do citado, autor magistral de “O CORONEL E O LOBISOMEM” (1978), e o dicionarista Antônio Cândido de Figueiredo. Por último, mas não os menores, “INÁCIO DE DENTES CÂNDIDOS” de Catulo (84-54 aC) e o “CÂNDIDO OTIMISTA PANGLOSSIANO” (1759) de Voltaire.

Magnífica figura humana, entre todos, é o fazendeiro nepomucenense Saturnino Cândido Garcia, frequentador assíduo da roda de nossa farmácia. Foi meu professor informal de ética, inesquecível em seu pensamento seguro sobre o comportamento humano, no que foi verdadeiramente fidalgo, muito mais que seu parente fidalgo, e mais sábio que moralistas oficiais, como Voltaire. Deveria ter tido a longevidade de seu aparentado e homônimo espanhol, Saturnino Garcia de la Fuente, que, pelo livro Guinness, faleceu aos 112 anos

domingo, 2 de julho de 2023

 


SÉRGIO ALEXANDRE E DEMÓCRITO

João Amílcar Salgado

Demócrito (460-370 aC) é consagrado na medicina e na filosofia, sendo célebre por defender a terapia pelo riso. Heráclito (540-470 aC), por outro lado, não era médico, mas como filósofo, também muito celebrado, chorava sem parar. Bramante (1444-1514) representou um chorando e o outro rindo. Antônio Vieira (1608-1697) disse: “Se Demócrito era um homem tão grande entre os homens, e um filósofo tão sábio, e se não só via este mundo, mas tantos mundos, como ria? Poderá dizer-se que ele ria, não deste nosso mundo, mas daqueles seus mundos. ... A matéria de que eram compostos os seus mundos imaginados, toda era de riso. É certo, porém, que ele ria neste mundo, e que se ria deste mundo. Como, pois, se ria ou podia rir-se Demócrito do mesmo mundo e das mesmas coisas que via e chorava Heráclito? A mim, senhores, me parece que Demócrito não ria, mas que Demócrito e Heráclito ambos choravam, cada um a seu modo.”

Há o relato de que os moradores de Abdera prezavam por demais seu incomparável clínico Demócrito. Passou por ali outro exímio médico, Hipócrates (460-377 aC), a caminho de debelar uma peste. Pediram a este que examinasse seu colega, pois suspeitavam de que estivesse louco, pois insistia em usar a terapia do riso como panaceia. Depois do exame, o visitante disse “que loucura que nada!, eu era fã dele, agora mais ainda - e vou passar a aplicar como meu seu aforismo:- SE ESTÁ DOENTE, RIA, QUE A CURA SERÁ MAIS RÁPIDA; SE NÃO ESTÁ DOENTE, RIA PARA CONTINUAR SADIO”. Lamentavelmente em conventos e em escolas, o riso chegou a ser considerado pecado ou loucura.

Tudo issso significa tremendo elogio aos médicos humoristas, como Osvaldo Costa, Ângelo Machado, Jota Dângelo, LOR, Julio Anselmo, Wilson Abrantes, Adelmar Cadar, Cancando, Valênio Perez,  Gilberto Lino, João Cândido, Jairo Guerra, Ernesto Lentz, Antônio Dilson Fernandes, Cláudio Sales, Sebastião Gusmão, Luiz Eduardo Gonzaga, Luiz Gonzaga Carvalho, Geraldo Barroso, José Silvio Resende, Carlos Alberto Barros Santos, Rubens Simões, Paulo Madureira, Lúcio Almeida, Zé Boid, Filadelfo Siqueira, Paulo Pimenta, Nelson Lobo, Edward Tonelli, Manoel Jacy,  Décio Lourenção, Rubem Ribeiro, Carlos Amílcar, João Vinícius, Maurício Martins, Pedro Nava, Rabelais e tantos outros. Muito me honra estar nesta refinada companhia. Aproveito para lembrar um colega admirável pela habilidade cirúrgica e pelo singular senso de humor: Sérgio Alexandre da Conceição, meu companheiro no estudo da doença de Chagas.  Seus livros: NOSOCÔMICO (1997), NOSOCRÔNICAS (2009), NOSOCASOS (2017), REMINISCÊNCIAS (2023) e outros para breve. São muito bem escritos e indesgrudáveis. Com eles, nosso Sérgio ocupa definitivo lugar de honra na linhagem de Demócrito.