João Amílcar Salgado

domingo, 9 de julho de 2023

 


SEPÚLVEDA E O INESQUECÍVEL NEPOMUCENENSE TONINHO CORDOVIL

João Amílcar Salgado

Muito me honra compor o grupo de contemporâneos de José Paulo Sepúlveda Pertence no Colegio Estadual, educandário referido por ele como berço de boa parte da elite política mineira. São ex-alunos do Estadual dessa época, além de Sepúlveda, o Betinho (Herbert José de Souza), Guido de Almeida e José Anchieta Correa (ambos lentes de filosofia, exilados políticos), Modesto Justino de Oliveira (fino administrador, irmão mais novo do José Aparecido de Oliveira), Marie Louise Stein (raro talento, egressa do gueto de Varsóvia), Sérgio Gomes Vasconcelos (ilustre engenheiro, primo de Sara Kubitschek), José Guilherme Vilela (orador perante o paraninfo governador JK, brilhante jurista, tragicamente assassinado), Mauro Tostes Ferreira (médico erudito, célebre pela memória fotográfica), Paulo Raimundo Dias (obstetra da equipe de Clóvis Salgado), Décio Tolentino (clínico admirável), Ernesto Lentz e Acácio Rocha Filho (ambos renomados cirurgiões). Já na Faculdade de Direito, Sepúlveda foi contemporâneo de meu dileto primo José Maria Ribeiro, de Lúcio Urbano, meu colega em história da cidade natal, e do cartunista Ziraldo, criador na época de “A Turma do Pererê”.

Sepúlveda e eu fomos companheiros no movimento estudantil. Provavelmente estivemos no memorável enterro simbólico de JK, contra a nomeação de Roberto Campos (Bob Fields) para embaixador nos EUA, bem assim na tentativa consensual de eleger o Betinho presidente da UNE. Lado a lado, sem dúvida, presenciamos os concorridos júris em que Pimenta da Veiga digladiava com Pedro Aleixo. Mas nossa maior convergência está na ligação a Tancredo Neves. Se tivesse havido o governo federal de Tancredo, Sepúlveda e eu seríamos devotados auxiliares do estadista, ele na área jurídica e eu na saúde e na educação. E nosso ativismo prosseguiu com a Constituinte e depois desta: Betinho com a Fome Zero, eu com o SUS, os Conselhos Nacionais de Saúde e de Educação e ainda a ampliação do ensino superior federal - e Sepúlveda com o Ministério Público e sua retificação.

Quando lancei “O RISO DOURADO DA VILA” em 2004, meu outro não menos querido primo Antônio Cordovil de Freitas, fã de Pertence como o maior saber jurídico do país, presenteou-o com um exemplar, dizendo-lhe para matar as saudades juvenis. Ele agradeceu, mas disse temer ler ali “as traquinagens” de que participara. Mal sabia ele que os documentos secretos da ditadura, ora disponíveis, mostram 75 relatórios sigilosos sobre o mineiro José Paulo Sepúlveda Pertence. Em um dos primeiros registros, já em 1965, o araponga escreve que ele era “conhecido elemento de extrema esquerda e acaba de ser nomeado assessor de Evandro Lins e Silva, ministro do STF”. Em 1969, foi, pelo AI-5, cassado do Ministério Público e Lins do STF.

 

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