AMIGOS
CÂNDIDOS
João Amílcar Salgado
Eu
era aluno do curso médico e nosso instrutor discorria sobre candidíase.
Perguntei quem criou o nome científico para este fungo?.
Resposta: você está querendo muito de mim, por que quer saber isso?
Então eu disse que o nome é um pleonasmo. Resposta: não sei nem o que é “pleonasmo”!...
Desde criança eu me perguntava por que nosso caseiro se chamava Juca Cândido.
Pouco depois descobri que na Vila havia os Cândidos ricos e os pobres,
inclusive os quilombolas do Retiro chegaram a adotar tal sobrenome. Na Faculdade fiquei fraternal amigo do João Cândido,
colega negro, que veio a ser torturado pela ditadura e faleceu precocemente, em
consequência dessa iniquidade. Mais prá frente, descobri outros Cândidos fora
da Vila, a maioria ligada ao Sul de Minas. Acabei amicíssimo de um deles,
apelidado exatamente de uma denominação carinhosa de Cândido, isto é, Cancando,
meu ex-aluno e comparsa de várias façanhas, aliás irmão do Tavito, autor das
canções “CASA NO CAMPO” (1972) e “RUA RAMALHETE” (1979), ambos de origem
cassiense. Trata-se de gente que prima na nobreza, na ciência, nas letras, nas
artes e na política: a) o lavrense barão de Cambuí, João Cândido, b) o
enciclopédico zoólogo José Cândido de Carvalho, de Carmo do Rio Claro, c) o
fabulista Malba Tahan que me encantou na infância com “O HOMEM QUE CALCULAVA” (1938)
e d) meu amigo, o sociólogo Antônio Cândido, autor de “OS PARCEIROS DO RIO
BONITO” (2001); estes dois são sulmineiros nascidos no Rio, e) o governador
Hélio Garcia, filho do Júlio Garcia grande amigo de meu pai, f) Candido Naves,
jurista, com parentesco com nossa família, g) Cânddo Mendes, político imperial,
h) o esplendoroso artista Cândido
Portinari, nascido em região colonizada por sulmineiros, i) o
notabilíssimo mato-grossense Cândido
Rondon e j) dois de origem lusa: José, homônimo do citado, autor magistral de
“O CORONEL E O LOBISOMEM” (1978), e o dicionarista Antônio Cândido de
Figueiredo. Por último, mas não os menores, “INÁCIO DE DENTES CÂNDIDOS” de
Catulo (84-54 aC) e o “CÂNDIDO OTIMISTA PANGLOSSIANO” (1759) de Voltaire.
Magnífica
figura humana, entre todos, é o fazendeiro nepomucenense Saturnino Cândido
Garcia, frequentador assíduo da roda de nossa farmácia. Foi meu professor
informal de ética, inesquecível em seu pensamento seguro sobre o comportamento
humano, no que foi verdadeiramente fidalgo, muito mais que seu parente fidalgo,
e mais sábio que moralistas oficiais, como Voltaire. Deveria ter tido a
longevidade de seu aparentado e homônimo espanhol, Saturnino Garcia de la
Fuente, que, pelo livro Guinness, faleceu aos 112 anos
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