SÉRGIO ALEXANDRE E
DEMÓCRITO
João Amílcar Salgado
Demócrito (460-370 aC) é consagrado na
medicina e na filosofia, sendo célebre por defender a terapia pelo riso.
Heráclito (540-470 aC), por outro lado, não era médico, mas como filósofo,
também muito celebrado, chorava sem parar. Bramante (1444-1514) representou um
chorando e o outro rindo. Antônio Vieira (1608-1697) disse: “Se Demócrito era
um homem tão grande entre os homens, e um filósofo tão sábio, e se não só via
este mundo, mas tantos mundos, como ria? Poderá dizer-se que ele ria, não deste
nosso mundo, mas daqueles seus mundos. ... A matéria de que eram compostos os
seus mundos imaginados, toda era de riso. É certo, porém, que ele ria neste
mundo, e que se ria deste mundo. Como, pois, se ria ou podia rir-se Demócrito
do mesmo mundo e das mesmas coisas que via e chorava Heráclito? A mim,
senhores, me parece que Demócrito não ria, mas que Demócrito e Heráclito ambos
choravam, cada um a seu modo.”
Há o relato de que os moradores de
Abdera prezavam por demais seu incomparável clínico Demócrito. Passou por ali
outro exímio médico, Hipócrates (460-377 aC), a caminho de debelar uma peste.
Pediram a este que examinasse seu colega, pois suspeitavam de que estivesse
louco, pois insistia em usar a terapia do riso como panaceia. Depois do exame,
o visitante disse “que loucura que nada!, eu era fã dele, agora mais ainda - e
vou passar a aplicar como meu seu aforismo:- SE ESTÁ DOENTE, RIA, QUE A CURA
SERÁ MAIS RÁPIDA; SE NÃO ESTÁ DOENTE, RIA PARA CONTINUAR SADIO”. Lamentavelmente
em conventos e em escolas, o riso chegou a ser considerado pecado ou loucura.
Tudo issso significa tremendo elogio
aos médicos humoristas, como Osvaldo Costa, Ângelo Machado, Jota Dângelo, LOR, Julio
Anselmo, Wilson Abrantes, Adelmar Cadar, Cancando, Valênio Perez, Gilberto Lino, João Cândido, Jairo Guerra,
Ernesto Lentz, Antônio Dilson Fernandes, Cláudio Sales, Sebastião Gusmão, Luiz
Eduardo Gonzaga, Luiz Gonzaga Carvalho, Geraldo Barroso, José Silvio Resende,
Carlos Alberto Barros Santos, Rubens Simões, Paulo Madureira, Lúcio Almeida, Zé
Boid, Filadelfo Siqueira, Paulo Pimenta, Nelson Lobo, Edward Tonelli, Manoel
Jacy, Décio Lourenção, Rubem Ribeiro,
Carlos Amílcar, João Vinícius, Maurício Martins, Pedro Nava, Rabelais e tantos
outros. Muito me honra estar nesta refinada companhia. Aproveito para lembrar
um colega admirável pela habilidade cirúrgica e pelo singular senso de humor:
Sérgio Alexandre da Conceição, meu companheiro no estudo da doença de Chagas. Seus livros: NOSOCÔMICO (1997), NOSOCRÔNICAS
(2009), NOSOCASOS (2017), REMINISCÊNCIAS (2023) e outros para breve. São muito
bem escritos e indesgrudáveis. Com eles, nosso Sérgio ocupa definitivo lugar de
honra na linhagem de Demócrito.
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