João Amílcar Salgado

domingo, 2 de julho de 2023

 


SÉRGIO ALEXANDRE E DEMÓCRITO

João Amílcar Salgado

Demócrito (460-370 aC) é consagrado na medicina e na filosofia, sendo célebre por defender a terapia pelo riso. Heráclito (540-470 aC), por outro lado, não era médico, mas como filósofo, também muito celebrado, chorava sem parar. Bramante (1444-1514) representou um chorando e o outro rindo. Antônio Vieira (1608-1697) disse: “Se Demócrito era um homem tão grande entre os homens, e um filósofo tão sábio, e se não só via este mundo, mas tantos mundos, como ria? Poderá dizer-se que ele ria, não deste nosso mundo, mas daqueles seus mundos. ... A matéria de que eram compostos os seus mundos imaginados, toda era de riso. É certo, porém, que ele ria neste mundo, e que se ria deste mundo. Como, pois, se ria ou podia rir-se Demócrito do mesmo mundo e das mesmas coisas que via e chorava Heráclito? A mim, senhores, me parece que Demócrito não ria, mas que Demócrito e Heráclito ambos choravam, cada um a seu modo.”

Há o relato de que os moradores de Abdera prezavam por demais seu incomparável clínico Demócrito. Passou por ali outro exímio médico, Hipócrates (460-377 aC), a caminho de debelar uma peste. Pediram a este que examinasse seu colega, pois suspeitavam de que estivesse louco, pois insistia em usar a terapia do riso como panaceia. Depois do exame, o visitante disse “que loucura que nada!, eu era fã dele, agora mais ainda - e vou passar a aplicar como meu seu aforismo:- SE ESTÁ DOENTE, RIA, QUE A CURA SERÁ MAIS RÁPIDA; SE NÃO ESTÁ DOENTE, RIA PARA CONTINUAR SADIO”. Lamentavelmente em conventos e em escolas, o riso chegou a ser considerado pecado ou loucura.

Tudo issso significa tremendo elogio aos médicos humoristas, como Osvaldo Costa, Ângelo Machado, Jota Dângelo, LOR, Julio Anselmo, Wilson Abrantes, Adelmar Cadar, Cancando, Valênio Perez,  Gilberto Lino, João Cândido, Jairo Guerra, Ernesto Lentz, Antônio Dilson Fernandes, Cláudio Sales, Sebastião Gusmão, Luiz Eduardo Gonzaga, Luiz Gonzaga Carvalho, Geraldo Barroso, José Silvio Resende, Carlos Alberto Barros Santos, Rubens Simões, Paulo Madureira, Lúcio Almeida, Zé Boid, Filadelfo Siqueira, Paulo Pimenta, Nelson Lobo, Edward Tonelli, Manoel Jacy,  Décio Lourenção, Rubem Ribeiro, Carlos Amílcar, João Vinícius, Maurício Martins, Pedro Nava, Rabelais e tantos outros. Muito me honra estar nesta refinada companhia. Aproveito para lembrar um colega admirável pela habilidade cirúrgica e pelo singular senso de humor: Sérgio Alexandre da Conceição, meu companheiro no estudo da doença de Chagas.  Seus livros: NOSOCÔMICO (1997), NOSOCRÔNICAS (2009), NOSOCASOS (2017), REMINISCÊNCIAS (2023) e outros para breve. São muito bem escritos e indesgrudáveis. Com eles, nosso Sérgio ocupa definitivo lugar de honra na linhagem de Demócrito.

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