PAI
QUE MUITO CEDO FUI
João Amílcar Salgado
No
aconchego mais carinhoso da família cultivamos três caçulinhas: a meiguice
formosa da Vange e da Neusa e a rara vivacidade do Lívio. A perda do pai aos
seis anos foi para o Livio uma brincadeira sem-graça do pai brincalhão. Bem que
o Malasarte, herói de ambos, poderia, em mais uma arte, a maior de todas,
trazê-lo de volta... Enquanto eu, sob a perda invencível, me fiz pai muito
cedo. Eu que fora criança-prodígio feliz, era agora o pai suplente da
criança-prodígio infeliz. Em meu zelo constante de pai adolescente, me fiz
preceptor do elogiado futebolista-mirim, do orador infantil, do poliglota, do
repetidor do irmão no vestibular, do eminente engenheiro, do meticuloso
fruticultor e do campeão da Vila em mangarito. Ao incorrigível humorista Lívio
pergunto: que brincadeira sem graça é esta, de nos deixar assim, todos e tantos
tão desolados?
28/7/23
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