João Amílcar Salgado

terça-feira, 26 de dezembro de 2023

 


REVISTA MÉDICA CONFESSA RACISMO

João Amílcar Salgado

Em 7/12/23 o New England Journal of Medicine (NEJM), referência minha e de todos os cientistas, publicou minucioso texto sobre a relação desta revista médica com o racismo. Apresentamos aqui nossos parabens a seus editores, por este mea-culpa.

Os colonizadores britânicos trouxeram os primeiros escravos africanos para os futuros EUA (Virginia), em 1619. Em 1810 havia 1,2 milhões de escravos, que atingiram 4 milhões em 1860. Um quinto  ou um sexto  deles morriam anualmente. Os médicos da época possuiam escravos, serviam em navios negreiros, possuiam fazendas com escravos e usaram os corpos de escravos para ensinar anatomia e para pesquisa. O NEJM foi fundado em 1812 por dois médicos de Boston, John Warren e James Jackson, acrescidos de Walter Channing. Pertenciam a familias enriquecidas, inclusive com a escravidão, no negócio de rum, açúcar, melado, algodão e madeira. Os primeiros artigos do periódico eram depreciativos aos negros e abertamente racistas. Publicou relato de viagens de médicos, um deles até Nova Orleans, que encontrou no Alabama um colega que lhe disse que os mulatos eram híbridos degenerados e inviáveis, os quais deviam ser submetidos ao trabalho mais duro, antes que a própia natureza os matasse. Assim o NEJM e a literatura médica de então  normalizavam e muitas vezes justificavam o racismo.

E aqui no Brasil, neste mesmo mês de dezembro, revela-se que a população brasileira ousou, no recente censo, também fazer uma confissão análoga: somos mulatos.

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