João Amílcar Salgado

segunda-feira, 14 de julho de 2014

BOLINHO DE ESPINAFRE COM OVO – IGUARIA NEPOMUCENENSE
Leila Lobo Faria Salgado
Cleusa Lourenço
Evangelina Salgado
1. Um molho de espinafre picado como couve
2. Cebolinha e salsinha picadas como couve
3. Uma cebola ralada
4. Um ovo
5. Uma pitada de pó-royal
6. Uma xícara de queijo ralado
7. Uma xícara de farinha de trigo
8. Pimenta malagueta, se quiser
9. Misturar tudo

10. Retirar a mistura com uma colher, colocando separadamente cada colherada  para fritar em óleo não muito quente

segunda-feira, 7 de julho de 2014

GUILHERME CABRAL


Os familiares e amigos do Prof. Dr. Guilherme Cabral Filho estamos em profundo pesar por seu falecimento. Sendo o mais eminente neurocirurgião de Minas, nasceu sulmineiro de Muzambinho e se fez uma das mais proeminentes figuras do distinto clã Vieira da Silva – Ferreira de Brito, povoador da região. Além de pertencer ao mesmo clã, me liguei a ele desde os primeiros dias na Faculdade. Ele tinha sido o primeiro no vestibular do ano anterior e veio ser meu monitor de histologia, ao lado de Ângelo Machado. Logo me juntei a ele, ao Marcos de Mares Guia e ao Emir Soares na aprendizagem da língua alemã. Depois de sua volta da Alemanha, fomos, pela vida toda, colegas de docência na UFMG. Num carnaval não muito distante, a Leila (muito amiga da Solange, sua esposa) e eu fomos passear em sua fazenda, com um grupo de companheiros, em convivência inesquecível. Tenho certeza de que a Sociedade Brasileira de Neurocirurgia vai fazer-lhe a mais justa e a melhor das homenagens. 

terça-feira, 1 de julho de 2014

CATAÇÃO  DE  RISCO

João Vinícius Salgado
João Amílcar Salgado

Na cidade sulmineira de Nepomuceno, logo após a ditadura Vargas, a tensão política ficou alta. Era a conseqüência natural do entusiasmo pela redemocratização. Assim se reuniram as condições para que um dentista, Sílvio Veiga, e um farmacêutico, João Salgado Filho, caracterizassem uma entidade clínica: a CATAÇÃO-DE-RISCO. 
O Sílvio Veiga entrou de cheio na disputa eleitoral, dirigindo o jornal 29 de Outubro. Dirigia também o serviço de alto-falante onde o locutor era o Nadinho-do-Sô-Bem. O Nadinho leu: - Soubemos que o delegado Júlio Lima andou dizendo que nosso  serviço de alto-falante é bobagem, já que a prefeitura de Nepomuceno é um abacaxi. Nosso diretor, dr. Sílvio Veiga,  responde que, se é abacaxi, deve ser um muito doce, porque o dr. Rubem Ribeiro chupou esse abacaxi durante  quinze anos e não largou um minuto
Depois dessas e outras, o Sílvio chega à farmácia do Salgado e diz estar alarmado com ele próprio. Não conseguia andar sem evitar pisar nos riscos do passeio. O farmacêutico deu-lhe um frasco com drágeas de complexo de vitamina B (remédio em moda), dizendo que, depois da medicação e das eleições, o aguerrido odontólogo estaria ótimo. Quinze dias depois, o Sílvio voltou, porque a coisa piorou. Agora era o  contrário: só conseguia caminhar se fosse catando os riscos para pisar neles. 
- Salgado, você já leu em algum livro sobre estes sintomas, que será o que eu tenho?  - Já li sim, se você começou catando os riscos  para evitar pisá-los e agora os está catando, exatamente para pisá-los, o diagnóstico está completo! -  E que doença é essa? - Já foi muito estudada e não é grave, chama-se CATAÇÃO-DE-RISCO, cada um de nós, alguma vez na vida,  já catou risco – continue com a vitamina...
Tempos depois, o filho do farmacêutico, então estudante de medicina, acompanhava sua tia em  consulta ao professor Lucas Machado.  - Que a senhorita sente?  - Ah doutor, estou numa catação de risco danada! - O quê?!..., a senhorita está no quê?!... 
E o estudante teve de dar uma aula ao consagrado mestre sobre a endemia nepomucenense.  Ele ouviu de olhos arregalados, achou tudo interessantíssimo e acabou recordando que a expressão não lhe era estranha. De fato, tinha várias clientes nepomucenenses.
O Sílvio Veiga, depois de ter parado de catar risco, perguntou onde o Salgado lera sobre catação-de-risco. O farmacêutico, que era um tremendo humorista, disse que nada ainda havia sido publicado e nem o nome da doença constava de livro ou revista. Mas, para provar que aquilo não era pura invenção, citou o caso mais impressionante de catação-de-risco de que tivera notícia. Ocorreu no consultório do Dr. Matias de Vilhena, que foi o maior clínico de São Paulo e era campanhense.
Um homem chegou para consultar porque, dia e noite, parecia ter um passarinho dentro do ouvido. O minucioso exame revelou que não havia lesão, nem no ouvido, nem no cérebro. Mesmo assim, o hábil médico disse que ia operá-lo e deu-lhe um remédio para dormir.  Quando o paciente acordou,  o doutor estava com um passarinho na mão e lhe disse: Agora o senhor está livre deste bichinho!
Para surpresa do próprio Dr. Vilhena, o homem ficou de fato completamente curado.  Passados cinco anos, o clínico encontrou, por acaso, o ex-cliente e, por ser muito escrupuloso, sentiu necessidade de revelar seu truque. Contou-lhe que aquilo fora simulado. Resultado: o passarinho voltou a cantar no ouvido do pobre coitado...
            Recentemente o filme MELHOR IMPOSSÍVEL ganhou o Oscar, exibindo vergonhoso plágio, pois o ator Jack Nicholson vive ali personagem atormentada por quadro literal de catação-de-risco. Pelo enredo, ele é um novaiorquino que se vale da catação para blindar o coração contra a ternura.  Diante disso, o eminente cirurgião e clínico José Maria Veiga Azzi, sobrinho do Sílvio, e os presentes autores, neto e filho do farmacêutico, estão estudando como entrar com processo de direito autoral contra os produtores da fita.
Mais recentemente, também, o Guga, tenista brasileiro campeão do mundo, apareceu no vídeo evitando pisar nos riscos da quadra, ao sair de um jogo. Tal catação-de-risco explica a inconstância de seu desempenho E não é a primeira vez que nossa gente é remedada, pois no filme O ÜLTIMO TANGO EM PARIS, o ator Marlon Brando comete outro plágio, desta vez contra o Passata, pretenso tanguista nepomucenense, que muitos anos antes de Brando, viveu, no cabaré Montanhês, a cena final da fita.  Nossa querida cidade não pode continuar tolerando isso.
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O primeiro autor é mestre pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e doutor pela Universidade de São Paulo, em neurociências,  e  o segundo  é professor titular de Clínica Médica e pesquisador em História da Medicina da UFMG.  

sábado, 10 de maio de 2014

DOUTORA ADRIANA OLIVEIRA VILELA

Nesta 6ª feira, 9-5-14, em memorável defesa de tese de doutorado, na Escola de Engenharia da UFMG, foi aprovada a Adriana Oliveira Vilela, filha do querido casal Ramilc - Maria Helena. Tive a enorme satisfação de estar presente, ao lado de familiares, amigos, estagiários e docentes, não só por ser acontecimento que faz transbordar de orgulho qualquer nepomucenense, mas pela oportunidade de apreciar como a Adriana se sairia em tão alto desafio. Deve ter sido muito raro que uma moça tão linda, ainda mais de aparência adolescente, tenha protagonizado uma etapa final de doutoramento, ainda mais em engenharia. E, para aumentar a excepcionalidade do fato, sua tese é também rara, tanto no mundo acadêmico como empresarial. Trata de inovação tecnológica para os fornos de carbonização, desenvolvida não em laboratório universitário, mas nas dependências de uma empresa privada. É o momento, pois, em que a universidade e a empresa de abrem uma para a outra, sem qualquer transgressão da independência e da liberdade de cada qual. Por mais de uma evidência, estamos diante de uma invenção destinada a repercussão internacional, inclusive por sua validade ecológica. Quem lucra com isso é o país, que necessita disso: saltar sobre variados e sucessivos fossos tecnológicos. Estão igualmente de parabéns os habilitados especialistas da banca examinadora, que souberam reconhecer esta afortunada convergência entre pertinaz dedicação e reiterada criatividade. Mil felicitações à Adriana e a seus familiares.

domingo, 4 de maio de 2014

BAETA VIANA, A BALEIA E O ZEBU
João Amílcar Salgado
            Em 2014/15 comemoram-se os 80 anos da Exposição de Zebu no Brasil e 70 anos do Hospital da Baleia. Entre os principais pioneiros do zebu em Uberaba, encontram-se descendentes de famílias de Nepomuceno e região, como os Costa (colonizadores da região de Uberaba, Desemboque, Ituiutaba, Franca, Mococa e Barretos), os Carvalho, os Andrade e os Borges. Ali se uniram aos Prata, aos Rodrigues da Cunha e a outros.
Há interessante dupla relação histórica entre o zebu e Baeta Viana. Por sinal, o professor José Baeta Viana, o maior bioquímico brasileiro, foi mestre de conhecidos médicos ligados a Nepomuceno: Rubem Ribeiro, Décio Lourenção, João Pereira Neto, João Sebastião (estudante de medicina), Aprígio de Abreu Salgado, Adauto Barbosa Lima, Alberto e Maurício Sarquis, Oscar Resende Lima, João Batista Veiga Sales, Geraldo Lima, José Elísio Correa Lima, Edward Tonelli e Waltenir Salgado. Honra-me pertencer a este grupo, razão que me leva a fazer o presente relato. Vale lembrar também que o Hospital da Baleia, idealizado por Viana, se localiza junto à fazenda Taquaril, da família Veiga de Nepomuceno
Em 1943 houve o Manifesto dos Mineiros, forte golpe contra a ditadura Vargas. Em 1944 estava programada a inauguração do Hospital da Baleia e o serviço de informação da ditadura esperava que neste evento Baeta Viana fizesse violento discurso contra Getúlio Vargas. O interventor Benedito Valadares tramou fazer uma exposição de zebu no parque da Gameleira em Belo Horizonte, como pretexto para trazer Vargas à cidade. No momento da inauguração do Hospital da Baleia, chegam “de surpresa” Benedito e Getúlio. O esperado discurso do Baeta não ocorreu, ele falou sobre a obra e, de hostil, apenas deixou de cumprimentar o ditador.

Anos depois, Baeta Viana foi padrinho de casamento de um ex-aluno em Uberaba. Os fazendeiros orgulhosamente exibiram seus bois ao cientista. Baeta os chocou com seu comentário: o zebu parece ótimo negócio, mas do ponto de vista bioquímico é um erro.  E explicou que o boi ocupa a todos para transformar vegetal em carne e melhor seria plantar diretamente um vegetal equivalente à carne. Perguntaram quase em coro: e este vegetal existe? Ele respondeu que era um feijão oriental chamado soja, que então todos ali ignoravam.  O noivo foi interpelado por que arranjara um padrinho de idéias tão absurdas!... Décadas depois grande parte dos pastos foi coberta pela soja.
AINDA O CENTENÁRIO DE CARLOS LACERDA
João Amílcar Salgado
            No livro O RISO DOURADO DA VILA (2003) relato minha primeira aula de dermatologia. O professor Osvaldo Costa, o maior dermatologista das Américas, entra e encontra, logo na frente, dois alunos lendo jornais: o Paulo Dias lia a ÚLTIMA HORA (do getulista Samuel Wainer) e eu lia a TRIBUNA DA IMPRENSA (do antigetulista Carlos Lacerda). Ele arrebatou ambos os jornais, abriu sua maleta, retirou o ESTADO DE MINAS e o exibiu, para nos ensinar: por esses dois jornais aí o mundo vai acabar depois de amanhã, vocês devem ler este aqui - por este o mundo está indo às mil maravilhas. E acrescentou: a medicina exige estudo diário, em tempo integral, e este jornal aqui nos dá tranquilidade para isso – é esse meu truque para ser o que sou.
            O Lacerda escrevia uma coluna no CORREIO DA MANHÃ chamada “Tribuna da Imprensa”, daí derivou seu jornal, no qual também brilharia o Hélio Fernandes, irmão do Millor Fernandes, dois irmãos geniais. Com a morte de Lacerda, Hélio ficou com a TRIBUNA. Além de ler seu jornal, os estudantes acompanhavam os discursos de Lacerda pelo rádio precário da época. Que espetáculo seria hoje, pela tevê, ao vivo! [Ver www.youtube.com/watch?v=gc4Z4hj_g1M e www.youtube.com/watch?v=kB7UpY-aP7Q]
            Os estudantes de direito, medicina, engenharia e outros eram fãs dos grandes oradores ou locutores e os comparavam: Lacerda versus Afonso Arinos, Pimenta da Veiga (pai) versus Pedro Aleixo, Evandro Lins versus Aliomar Baleeiro, Paulo Pinheiro Chagas versus Adauto Lúcio Cardoso, Tancredo Neves versus JK ou César Ladeira versus Paulo Gracindo. Na faculdade de medicina comparávamos Hilton Rocha e José Feldman. Este possuía bela voz mas só depois de grande esforço autodidático passou a notável expositor.
            Eu, que venho sendo orador desde os dez anos, queria falar como o Lacerda, enquanto meu primo José Maria Ribeiro queria falar como o Pimenta da Veiga. Eu conseguia imitar o Pimenta e o Hilton Rocha, mas achava o Lacerda inimitável. Além de procurar imitar tais astros, sugeri ao Zé Maria treinar com a teatróloga portuguesa Esther Leão. Ela cobrava caro, mas ele achou que, para seu futuro, valia a pena - e teve aulas com ela. Nisso foi colega do Lacerda, de Helder Câmara e outros famosos. O Lacerda aprendeu dela emitir tão bem seu vozeirão que dispensava microfone, como verifiquei em palestra que fez na Associação Médica. Nessa época, eu tinha cara de menino e ele me deu carinhosamente seu autógrafo.

A oratória do José Maria Ribeiro era admirada por mim, pelos demais nepomucenenses, por seus contemporâneos na faculdade e pelos juristas. Entre tantos, lembro os desembargadores Celso Alves de Melo e Lúcio Urbano, além de seu mestre e primo João Pimenta da Veiga. 
CARLOS LACERDA E SEUS DOIS ÊMULOS NA UDN MINEIRA
João Amílcar Salgado
Em 2014 acontece o centenário de Carlos Lacerda, que disputa com Rui Barbosa o título de maior orador brasileiro.  Por meio do jornalismo, tornou-se um dos principais políticos do país, após a segunda guerra mundial. Muitos o apontam como maior inimigo do ditador Getúlio Vargas, mas Baeta Viana, professor da Faculdade de Medicina da hoje UFMG, o antecedeu e concorre com ele por este título. Na política, seu rompante e sua fluência foram armas poderosas, mas não era bom em estratégia eleitoral. O melhor estrategista de seu partido era o mineiro Oscar Dias Correa.  Lacerda, Baeta e Oscar eram muito influentes na União Democrática Nacional (UDN), partido antiditadura. O notável orador Adauto Lúcio Cardoso, era o udenista mineiro que mais se aproximava do estilo lacerdista.
Carlos Lacerda é neto do jurista e ministro Sebastião Lacerda, cujos filhos se tornaram líderes do movimento comunista brasileiro, um deles, Maurício, pai de Carlos.  Este herdou e superou a flamejante oratória do pai, tornando-se grande promessa da juventude comunista. Sendo fluminense, era também Werneck, família de origem mineira. Refugiou-se em fazenda de Minas, onde teve vagar para escrever uma análise marxista do vale do rio São Francisco. Mais tarde asilou-se numa república de estudantes de medicina de Belo Horizonte.  
No fim da segunda guerra, moveu-se rumo aos ideais democráticos da UDN. As frustrações eleitorais desta o levaram, junto com os principais udenistas, para o caminho antidemocrático, em lamentável declive, até chegar à extrema direita, apoiando e participando do golpe de 1964.  Os grandes beneficiários da ditadura emergente procuraram livrar-se de Lacerda, de JK e de qualquer outra liderança civil. Assim, restou a Lacerda unir-se a seus antigos adversários JK e Jango. Como Lacerda, JK e Jango morreram em seguida, surgiu a suspeita de que foram eliminados planejadamente.

Oscar Dias Correa tinha levado a UDN a surpreendente triunfo eleitoral em Minas, em 1947. Se, em vez de Lacerda, Oscar fosse ouvido no plano nacional, teria havido um governo verdadeiramente udenista, isto é, democrático, na sucessão de JK -  em vez do desatino representado por Jânio Quadros. E o Brasil teria sido poupado do abismo que durou 20 longos anos: de arbítrio, brutalidade e obscurantismo.