João Amílcar Salgado

quarta-feira, 21 de junho de 2023

 

TIME DA VILA COM SOFREU E GELEMIA

João Amílcar Salgado

A Vila é campeã de apelidos e é o único lugar que teve dois craques denominados SOFREU e GELEMIA.  Exibo aqui ambos, ao lado de outros, para que todos sejam identificados. O Sofreu foi nosso estimado sapateiro e o Gelemia foi meu colega de peladas no recreio do grupo-escolar. O pai deste, João Rosalino, por sua vez, foi nosso fornecedor de picolé e sorvete, como balconista do Bar do Michel Mansur. Segundo o barbeiro Malico, ele se imortalizou, quando exterminou a lombriga-de-coleira expelida pelo repórter Valdemar.

domingo, 18 de junho de 2023

 


ANTÔNIO DA CUSTÓDIA

João Amílcar Salgado

Em meu livro “O RISO DOURADO DA VILA”, relato três episódios referentes ao Antônio Afonso, esposo da Custódia, muito amiga de minha mãe. Ele era dono de pequena venda de secos e molhados e em qualquer matança de capado em nossa horta, uma das bandas era disputada por ele e pelo rival vizinho, o João Antunes. Em direção a nossa casa, o Zé Veiga se aproximava, parecendo querer dizer algo importante, mas meu pai o interceptou perguntando: “Foi bom cê chegar, estou apertado, precisando saber qual é o nome da mulher do Antônio da Custódia”. – “Ora, Sargado, sou homem ocupadíssimo com meus negócios, lá vou saber o nome dessa mulher!” Isso muito nos divertia e a pergunta era repetida a outros passantes, fato que influenciou o garoto Zeca do Sargado. Ele e eu vendíamos peras pela cidade. Na porta do Antônio meu irmão perguntou: “ô sô Antonio da Custódia, qué comprá pera?” O homem grande e gordo retalhava uma banda, apontou enorme faca pro Zeca e gritou: “Ô minino, meu nome é Antônio Afonso, oviu? some daqui!”. Só mais tarde descobri que meu pai e o Zeca foram injustos com o bom homem. Eu mesmo achava esquisito um prenome no lugar de sobrenome e, na verdade, não era nada disso. Afonso é um sobrenome histórico de nobres ibéricos e deveria ser referido com a cerimônia desfrutada por qualquer fidalgo, apesar de seus escândalos. Vejam meus textos sobre os Correas, Afonsos e Garcias, nos quais me refiro a Afonso 6º (fratricida), o primeiro monarca espanhol, e Afonso Henriques, trineto bastardo daquele e o primeiro monarca luso.

sexta-feira, 16 de junho de 2023

 


A VILA E A AVIAÇÃO

João Amílcar Salgado

            Nepomuceno tem ligação interessantíssima com a aviação. Para começar, Santos Dumont, o inventor do avião, tem parentesco com os Ribeiro daqui. Na guerra mundial, no telhado do grupo escolar foi escrito NEPOMUCENO, para ser lido no patrulhamento aéreo. Há a lenda de que o campo de aviação construído na fralda de nossa Serra de São João teria sido impulsionado pelo nepomucenense Chico Negrão de Lima. Isto porque sua esposa Ema cultivava um pavor doentio da poeira vermelha, afinal responsável pelo apelido de os bunda-vermeia atribuído aos locais.  Sim, a ilustre Ema abominava o perigo de, na viagem ao lugar, ficar com as nádegas rubicundas.

Este aeródromo gerou outras consequências: 1) seu terreno veio da família Veiga e vários deles se tornaram admirados aviadores: o cientista João Batista Veiga Sales foi piloto esportivo e paraquedista, seguido por seus primos, o brigadeiro da aeronáutica Adalberto de Rezende Rocha e o piloto comercial Helvécio da Veiga Rezende; 2) o espetacular salto de paraquedas do Lair Rolino; 3) o também sensacional salto de guarda-chuva pelo jovem Mudinho (Jorge Mudesto), ao imitar o Lair; 4) a queda, incólume, do alto de sua longa escada, sofrida pelo pintor Caco (Joaquim Militani), no susto pelo voo rasante de um dos citados aviadores; 5) a construção de um helicóptero no quintal do inventivo José Fernando Pedro; 6) o engenheiro José Barati foi o primeiro a pousar aqui a passeio, no avião de um amigo; 7) o parentesco entre os Negrão e JK era promissor e a FAB cogitou de uma base aérea na Vila; 8) a linha de transmissão de Furnas condenou o uso da pista (premonição da morte de Marília Mendonça).  Além disso, ocorreram, perto daqui, fatos de grande repercussão: 1) o pouso de emergência de um monomotor NA, em Boa Esperança, em 1942; o oficial da FAB Eduardo Mendes, também incólume, foi recepcionado com um baile (!); 2) Tarley Vilela, na inauguração do aeródromo de Três Pontas, em 1956, saltou sem paraquedas de um voo demonstrativo e nada sofreu, sendo que mais tarde, no Pantanal Matogrossense, repetiu o feito num avião maior, saindo ileso. 3) o pouso de um caça F5 na estrada de Santana da Vargem a Três Pontas, em 1980, do qual ficaram famosos o habilíssimo piloto e o dono de velho fusca. 4) O engenheiro Júlio Ferreira Pinto, de Boa Esperança, deixou dramático diário, antes de falecer por inanição, após queda de avião na floresta amazônica. Para completar, anexos aos campos de pouso foram fundados aeroclubes e existiu uma oficina para aviões em Varginha, da qual ficaram célebres o mecânico Fritz e o genial marista francês Mário Esdras. E, entre 1956 e 60, a Aerovias-Real fez linha entre BH e Lavras, sendo eu um dos passageiros. Para coroar tantas efemérides, cito a formidável façanha do engenheiro nepomucenense José Soares Ferreira, graduado pelo ITA, guindado da fábrica de Itajubá para Marseille na França, como o mais experiente especialista brasileiro em helicópteros.

No plano astronáutico assinalo: 1) o Zico Miceno chegou, em vida, ao céu; 2) o campo-belense Aladim Félix, esposo da nepomucenense Tarsila Cardoso, foi o primeiro, neste planeta, a propor que os deuses eram astronautas, 3) um extra-terrestre teria desembarcado em Varginha, 4) o Joaquim Lucinda antecipou as Jornadas nas Estrelas, no uso do teletransporte quântico. Tudo isso está em meus livros “NEPOMUCENO – SÍNTESE HISTÓRICA” e “O RISO DOURADO DA VILA”. Esta mensagem homenageia as heroicas crianças resgatadas vivas da floreta amazônica colombiana no dia 9/6/23, 39 dias após desastre de avião.

domingo, 28 de maio de 2023

 



A AGRESSÃO A VINÍCIUS JR SE SOMA A TRAGÉDIAS

João Amílcar Salgado

            O fascínio que a Espanha exerce sobre o resto da Europa e do mundo é composto de ingredientes incrivelmente belos e de episódios incrivelmente trágicos. O que aconteceu ao extraordinário craque Vinícius Jr é uma tragédia espanhola exemplar.  De Fernando Cortez e da Inquisição a Francisco Franco e à Guernica, sobreleva o fratricídio inaugural de Afonso 6º. De Aranjuez à Lenda do Beijo sobreleva a sedução (ambígua, por francesa), de Carmen e do Bolero. Ambíguos também são a devoção morena, gitana e flamenca. A tourada, contra touros bravos negros, simboliza ibéricos nórdicos a sangrar dominadores bérberes, também negros. Uivar contra Vinícius Jr é gritar olé contra os ancestrais do magnífico atleta. Fui educado no culto, entre outros, a Salamanca, Cervantes, Teresa d´Ávila, João da Cruz, José de Anchieta, Cajal, Jimenez Diaz, Marañon, Rodrigo Vidre, Albéniz, Velázquez, Goya, Picasso e (espanhol adotivo) Hemingway. Tenho ascendentes galegos, sevilhanos e castelhanos, o que me autoriza a exprimir o mais entranhado asco por aqueles que, em vez de honrados antirracistas, se esbaldam em crime hediondo e reiterado contra os que supõem indefesos. Heróico Vinícius, imponha o silêncio aos vociferantes, recitando o “SONHO IMPOSSÍVEL”.

https://youtu.be/XduuNoqwE3w

 

 

segunda-feira, 22 de maio de 2023

 


VINÍCIUS JÚNIOR – HERÓI BRASILEIRO

João Amílcar Salgado

Desde a antiguidade, se sabe que um mestiço produto de dominador e dominado (ou um cativo excepcionalmente liberto), é o mais eficiente repressor de escravos ou de qualquer dominado – é a síndrome do capitão-do-mato. Muitos racistas (brutais ou refinados ou disfarçados) exibem esta síndrome. Ontem, 21/5/23, tivemos o caso da cidade de Valência, na Espanha, que nos faz lembrar tal síndrome. Esta cidade era de população europeia, mas foi dominada por árabes melanodérmicos do ano de 711 até 1238 e assim ficou com a população miscegenada. Um bando de “capitães-do-mato”, emerso dos arcanos genéticos ibéricos, ofendeu o nosso Vinícius.

 

 

sábado, 20 de maio de 2023

 



ANTÔNIO LÍVIO SALGADO

João Amílcar Salgado

Antônio Lívio Salgado é o somatório feliz do humor crítico de Vilelas e Salgados Seu humor crítico é tão extremo que me levou a defini-lo como o menino-prodígio que concluiu não valer a pena ser prodígio, ou melhor, que ficou com preguiça de continuar sendo prodígio. Com três anos, ele dava show diário na farmácia de seu pai. Era um menino muito vivo e falante, loiro então. O Sargado pedia uma a uma, e ele não errava qualquer capital do mundo.  Agora conte aquela história do Pedro Malasartes. Agora recite “Você sabe de onde eu venho”. E o menino, com o rompante de orador choroso, herdado de seu lado Correa Lima, recitava o poema musicado em CANÇÃO DO EXPEDICIONÁRIO  (www.youtube.com/watch?v=jykf9-egoaA). Eram dias alegres, logo após a 2ª guerra e as pessoas faziam roda para ver o menino ganhar na dama ou no xadrez de qualquer marmanjo, além de peripécias no futebol e no víspora. Seu nome não seria Lívio, mas Asdrúbal. Seu pai pretendia insistir com nomes cartagineses aos filhos.  A mãe Vange achou estranho, mas aceitou mudar para o nome latino Lívio. O Gingin, esposo da Teresa, prima da Vange, aproveitou para dar o nome Asdrúbal a seu filho e tudo ficou em família.

            O João Salgado falece muito jovem, aos 47 anos. Em meio ao pranto geral, o tio Tito levou o menino para o quintal. Mas ele próprio soluçava e ensopava de lágrimas a roupa do sobrinho. A cidade inteira cercou o Lívio de carinho, principalmente seus colegas na escola, amigos pela vida toda. A foto anexa mostra todos eles. Em sua formatura no ginásio, cheguei às pressas de Belo Horizonte, pois ele me aguardava para retocar seu discurso de orador da turma. A Maria da Tiana, nossa querida cozinheira, fritou-lhe em homenagem uma pratada de lambaris. O Lívio exagerou na quantidade ingerida e agi como médico para permitir que o discurso fosse lido sem sustos.  

            Para o curso científico, inscrevi-o para o colégio Estadual e ele ultrapassou o temido exame com impressionante facilidade e calma. Veio morar na pensão da rua Paraíba, onde proseava, entre outros, com o vestibulando Valter Caixeta, depois famoso endocrinologista. O professor suiço Marcel Debrot descobriu que aquele caipira era capaz de conversar com ele em francês e perguntou como aprendera. O Lívio respondeu que ele e o tio Moacir receberam aulas que dei durante o ginasial na Vila. Isso lhe foi útil na França. E coincidiu que sua esposa, Maria do Carmo Barbosa, além de médica, é também excelente professora de francês. No Estadual foi colega do Boris Feldman e contemporâneo da Elke Maravilha, participantes da célebre geração que inaugurou o prédio de Niemeyer. Este prédio foi projetado para que JK obtivesse dos formandos de 1954 aceitá-lo como paraninfo no centenário do célebre ex-Liceu Mineiro. Ironicamente, o Lívio estudou ali, lugar onde antes foi o batalhão em que cumpriu pena um tenente, por ter agredido seu avô em Três Pontas, em 1934.

            Antonio Lívio brilhou no vestibular de engenharia, na UFMG, conquistando o 2º lugar. Fez um curso também brilhante e participou da bela iniciativa dos universitários em qualificar os eletricistas de ofício, mostrando-se excelente e querido instrutor. Candidatou-se a orador da turma, mas preparou um discurso tão emotivo, homenageando o pai, que lhe embargou a voz.  Os colegas aprovaram o discurso exceto o orador e, numa rara decisão, exigiram que o segundo colocado fundisse o primoroso discurso do Lívio com o dele. Fez estágio na Petrobrás, em Salvador, e ali fez vários amigos, um deles o engenheiro de petróleo Alfeu Valença, irmão do notável compositor e cantor Alceu Valença. O pernambucano Alfeu contava seus causos de sua cidade Garanhuns e o Lívio os da Vila. O simpático jovem apreciava tanto o anedotário do Lívio que não resistiu à tentação de conhecer aquela improvável cidade. E de fato na visita que nos fez concluiu que a realidade local era incomparável. Alfeu foi superintendente da Bacia de Campos e presidente da Petrobrás.

            O Lívio fez carreira na CEMIG, onde chegou a dirigente, sendo que na presidência de Carlos Eloy Guimarães, atuou com status de diretor.  Carlos Eloy me confidenciou: seu irmão foi o mais rígido superintendente que tivemos e, como tal, causou reclamações contra seu excessivo zelo ético. A tais queixas a presidência respondeu, não com seu afastamento, mas apontando-o  como exemplo a ser seguido por todos e permanentemente. Disso o Lívio extraiu, depois de aposentado, sua permanente crítica à corrupção hoje generalizada.

            Mas a melhor parte da vida desse mineiro típico -  e nepomucenense irreversível - aconteceu em sua vida de aposentado. Isto porque o enxadrista, o matemático, o competente engenheiro e o severo administrador foram substituídos pelo agrônomo amador. Saudoso dos pomares de seu pai, fez do seu um prolongamento daqueles. Todas as divisas internas e externas de sua fazenda são feitas de amoreiras vivas, em homenagem às trazidas por seu pai de Barbacena, fornecidas pelo sericicultor Amílcar Savassi. Com isso o lugar, já repleto de passarinhos, multiplicou por dez o alarido da avifauna.  E mais: Antônio Lívio ostenta o título de cultivador emérito do mangarito, reintroduzido por ele como iguaria da Vila, em colaboração com o verdureiro Zacarias das 3 Barras, o último a conservá-lo entre nós.

 

sexta-feira, 5 de maio de 2023

 



AS VACINAS PARA HPV E PARA HEPATITES

João Amílcar Salgado

Até 1963, reconhecia-se como hepatite apenas a infecção benigna hoje denominada hepatite A, para ser distinguida das hepatites graves, denominadas B, descoberta por Baruch Bloomberg naquele ano, e a C, descoberta em 1989, por Charles Rice, Harvey Alter e Michael Houghton. A vacina para hepatite B foi elaborada de 1982 a 1986, a da hepatite A em 1991 e a da hepatite C é prevista para 2023. Paralelamente, em 1983, Harald Hausen descobriu a relação entre o HPV e o tumor do colo uterino - e, em 1991, a vacina para o HPV foi descoberta por um australiano, Ian Frazer, e um chinês, Jian Zhou. Zhou faleceu coincidentemente de hepatite, em 1999. A vacina de Frazer & Zhou inaugurou a prevenção de câncer por meio de vacina.

Acrescento que ainda estudante ouvi de um professor que a hepatite infecciosa é assim denominada para distingui-la das hepatopatias tóxicas. Observei que devia ser chamada de hepatite comum, porque hepatites infecciosas eram também, por exemplo, a da febre amarela, a esquistossomótica e a leishmaniótica.

[ESTA MENSAGEM É ENVIADA PARA CORRIGIR A AUSÊNCIA DA VACINA PARA HPV NA CRONOLOGIA ANTES PUBLICADA E PARA HOMENAGEAR OS CIENTISTAS DO HPV E DAS HEPATITES]