João Amílcar Salgado

sexta-feira, 14 de junho de 2024

 


JOÃO SEBASTIÃO E ARI ANTUNES – a Vila não pode esquecê-los.

João Amílcar Salgado

Eu tinha 17 anos e me preparava para o vestibular. Então houve uma conversa, em nossa farmácia, sobre as pessoas da Vila que lamentavelmente não tiveram oportunidade de prosseguir depois do grupo escolar.  Em dado momento o Ari Antunes disse que os três homens mais inteligentes da cidade eram Joões: o João Vilela, o João Salgado e o João Sebastião. Alguém acrescentou: “está faltando um que não é João, é o Ari”. Acho que este foi um dos dias mais felizes de sua vida. O Ari misturava uma velocíssima agilidade mental com uma incrível habilidade manual. Um receptor de rádio, um sapato zero km ou qualquer geringonça ele desmontava e os punha muitas vezes mais aperfeiçoados. Um dia ele pegou um relógio vagabundo e o transformou em automático.

 O Zé Sebastião, por sua vez, chegou a se achar tão inteligente como o João Sebastião, seu irmão. Infelizmente não era. O Zé tinha chegado de São Paulo, donde trouxera um omega de luxo, não automático. Ele falou que, se o Ari conseguira, ele faria com que aquela máquina perfeita ficasse automática. “Não faça isso”, todos disseram. Aí é que o Zé enfezou e a desmontou. O Lazinho Mendonça, seu auxiliar ainda menino, mexeu nas peças e na recontagem faltava uma. O Zé tentou recompor aquela joia, não conseguiu e começou a passar mal. A dona Linda pediu socorro ao Ari, que remontou o relógio e a máquina ficou melhor do que antes, mas sem a pecinha perdida. O João Salgado relatou isso à fábrica na Suíça e os técnicos de lá convidaram o Ari para repetir o conserto na Europa. Ele não foi porque sua esposa estava grávida. Pelos anos afora, a fábrica não conseguiu esclarecer o show do Ari.

Já o João Sebastião morreu aos 19 anos de apendicite supurada, embora operado pelo maior cirurgião de Minas, Borges da Costa. Faltou luz e nada pôde ser feito. Antes, o João, o Dr. Décio e outros foram ao Baeta Viana pedir para estagiar com o mestre, que era o maior cientista do Brasil.  “Quem aqui lê alemão?”, perguntou o Baeta. Ninguém. Ele emendou: “voltem quando souberem; e pela minha experiencia vão levar de um a três anos”. Apenas uma semana depois, o João Sebastião voltou. O Baeta não acreditou, mas teve de acreditar quando o jovem pegou um livro da estante ali atrás, traduziu o título e ia lendo o prefácio.  O João desapareceu do laboratório, o cientista mandou procurá-lo e lhe relataram a morte daquele gênio que o Brasil perdeu.

FOTO DO JOÃO SEBASTIÃO

quinta-feira, 13 de junho de 2024

 

MACHADO DE ASSIS EM INGLÊS TRADUZIDO POR UMA TRADUTORA BRASILEIRA

Posthumous Memoirs of Brás Cubas (translated also as Epitaph of a Small Winner), the ghost of a decadent and disagreeable aristocrat decides to write his memoir. He dedicates it to the worms gnawing at his corpse and, in 160 brief chapters, tells of his failed romances and halfhearted political ambitions, serves up harebrained philosophies, and complains with gusto from the depths of his grave. Wildly imaginative, wickedly witty, and ahead of its time, the novel has been compared to the work of everyone from Cervantes to Sterne to Joyce to Nabokov to Borges to Calvino, and has influenced generations of writers around the world.

This new English translation is the first to include extensive notes providing crucial historical and cultural context and also includes excerpts from previous versions of the novel never before published in English. KINDLE 2021

quarta-feira, 12 de junho de 2024

 

PRISÃO POR ATAQUES RACISTAS CONTRA VINI JR

10/6/24 (Redação Terra)

Três torcedores do Valencia foram condenados pela Justiça espanhola nesta segunda-feira, 10, por ataques racistas ao atacante brasileiro do Real Madrid, Vini Jr., durante jogo no ano passado. Eles foram sentenciados a oito meses de prisão, além de ficarem dois anos sem entrar em estádios de futebol e pagar multas. O presidente de La Liga, Javier Tebas, comemorou a sentença: "É uma ótima notícia para a luta contra o racismo na Espanha, pois repara os danos sofridos por Vinicius Jr. e envia uma mensagem clara para aquelas pessoas que vão a um estádio de futebol para insultar que a Liga irá detectar, denunciar, e haverá consequências penais para eles", afirmou, em comunicado ao jornal Marca.

 

DO MANOEL JACY PARA O JOÃO AMÍLCAR

Oi primo, boa tarde

Essa sua postagem sobre racismo no futebol me fez lembrar de um jogo do meu querido Galo x Cruzeiro. Antes o Cruzeiro tinha feito um jogo pela Libertadores em um desses países da América do Sul, onde os torcedores além de vaiar o jogador Tinga, imitavam macaco com gestos e vozes do animal, cena deprimente. Antes de iniciar o jogo, a torcida do Galão da Massa pegou no pé do Tinga e até ensaiou vozes racista, fiquei gelado, sabendo que a multidão tem comportamento de manada e infantilizada.

Eis que o Ronaldinho, vendo a situação, foi até onde o Tinga estava e o abraçou e foram abraçados rodar o campo, cumprimentando a torcida e daí foram só aplausos. ficou até bonito a mudança de atitude Fiquei aliviado. Salve e VIVA o Ronaldinho, pessoa maravilhosa. Ah ia me esquecendo: o Galo ganhou o jogo.

DO JOÃO AO MANOEL: ESTE REGISTRO GANHA IMPORTANCIA DAQUI EM DIANTE, PARABENS, ABRAÇÃO

segunda-feira, 10 de junho de 2024

 


TORCEDORES DO VALENCIA SÃO CONDENADOS À PRISÃO POR ATAQUES RACISTAS CONTRA VINI JR

10/6/24  (Redação Terra)

Três torcedores do Valencia foram condenados pela Justiça espanhola nesta segunda-feira, 10, por ataques racistas ao atacante brasileiro do Real Madrid, Vini Jr., durante jogo no ano passado. Eles foram sentenciados a oito meses de prisão, além de ficarem dois anos sem entrar em estádios de futebol e pagar multas. O presidente de La Liga, Javier Tebas, comemorou a sentença: "É uma ótima notícia para a luta contra o racismo na Espanha, pois repara os danos sofridos por Vinicius Jr. e envia uma mensagem clara para aquelas pessoas que vão a um estádio de futebol para insultar que a Liga irá detectar, denunciar, e haverá consequências penais para eles", afirmou, em comunicado ao jornal Marca.

sexta-feira, 7 de junho de 2024

 


APLAUSO A CARMEN E CLÁUDIA

João Amílcar Salgado

A mineira ministra Carmen Lúcia Antunes Rocha tomou posse como presidenta do Supremo Tribunal Eleitoral. Coincide que outra mulher, Cláudia Sheinbaum, de ideias e carreira similares, acaba de ser eleita a primeira presidenta do México, sendo que este país e o Brasil são as duas maiores nações da América Ibérica. Ambas estão diante de desafios nada tranquilizadores. O maior deles é a avassaladora expansão da comunicação coletiva, pervasiva em tudo, principalmente depois do reforço da inteligência artificial, cujos limites técnicos e éticos são desconhecidos. Como principais armas, as recém-eleitas prometem a denúncia também inteligente e o combate implacável contra a falsidade. A mendacidade dissimulada e o discurso de ódio estão a serviço dos piores interesses – e serão cada vez mais ferozes se o Brasil se aproximar do 7º PIB mundial.  Para isso será necessária criatividade infinita.

            Carnen Lúcia foi minha contemporânea na pós-graduação da UFMG, exatamente quando um grupo brilhante de docentes do direito buscava implantar sólido e respeitadíssimo direcionamento na área. Os Antunes lusos e brasileiros são figuras de projeção em muitas vertentes do saber e das artes. Sou ligado a eles desde a infância, pela amizade ao genial artista Jarbas Juarez Antunes, documentada em meu livro O RISO DOURADO DA VILA (2020). Inesquecíveis são seu tio Eurico César, fino humorista, e seu irmão Joaquim (Bembém), pioneiro documentarista ecológico.  Outro seu irmão, Júlio Bolivar, meu colega no ginásio, se casou com minha irmã Maria e me deu queridíssimos sobrinhos e sobrinhos-netos. Na medicina, dois fraternos amigos: o prefeito de Diamantina, João Antunes, colega de turma dos nepomucenenses Adauto, Alberto, Aprígio e Oscarzinho, que muito me ajudou na pesquisa da doença de Chagas, e meu próprio colega de turma Armando Gil, prodigioso discípulo de Baeta Viana.

segunda-feira, 3 de junho de 2024

 



NEPOMUCENO E OS GAÚCHOS

João Amílcar Salgado

Fiz uma conferência em Florianópolis e meus amigos da universidade federal de lá ficaram surpresos e emocionados, quando pedi que arranjassem minha visita à comunidade açoriana. Justifiquei: “sou descendente de açorianos vindos para Nepomuceno”.  Hoje acompanhamos a tragédia de Porto Alegre, cidade que começou, em 1752, com a chegada de 60 casais açorianos, sendo seu primeiro nome Porto dos Casais. Quando mudaram o nome para Porto Alegre, talvez não considerassem que os casais estavam ali provisoriamente, mas quiseram ficar em definitivo. Sim, depois da dificílima viagem, aquilo ali era um alegre paraíso: alimentavam-se, com o mínimo esforço, de pato, peixe e camarão da lagoa em frente. Entre os casais encaminhados ao sul, havia, por exemplo, Garcias e Corrêas, primos dos nossos.

A viagem até aqui significava dias e dias incrivelmente angustiados, em veleiros sucedâneos de barcos negreiros, de higiene e alimentação péssimas, principalmente para as mulheres, confinadas no porão, onde só entravam o capelão e o capitão. Adoeciam quase todos de diarreia, tosse e dermatoses, sendo o escorbuto o pior mal. Pelo menos dois navios naufragaram. Apesar do mundão de terras, as famílias, em vez de premiadas com sesmarias, recebiam sítios, onde deviam plantar trigo, cevada, hortaliças, uva e outras frutas, além de criar ovelha. Uma fruta era a laranja serra-dágua então chamada “da ilha” ou “ilhoa”.  O trigo não deu certo e passaram para o tabaco, o queijo, o boi e o porco, além das aves, como ocorreu aqui na Vila. A renda maior provinha do couro, da banha e do queijo. 

A diáspora açoriano-madeirense envolveu a suposição de que seus habitantes, descendentes de colonos ibéricos e flamengos, estavam pré-adaptados ao trópico. O encaminhamento ao sul era resultado do Tratado de Madrid (1750), conquistado pelo habilíssimo diplomata brasileiro Alexandre de Gusmão, que afastou a linha de Tordesilhas rumo aos Andes. Ele é irmão do também genial Bartolomeu de Gusmão, pioneiro aeronauta. Os migrantes vieram, também, para a reposição populacional do planejado massacre das reduções guaranis-jesuíticas (7 Povos), perpetrado, aliás, por bandeirantes, genocidas, dos quais descende gente da Vila, inclusive eu.

 

 

 

quinta-feira, 30 de maio de 2024

 

 EM 21/1/21 DIVULGUEI O TEXTO A SEGUIR, QUE ACABA DE SER RATIFICADO HOJE, 30/5/24, QUANDO TRUMP É OFICIALMENTE DECLARADO CRIMINOSO, PELA LEI DE SEU PRÓPRIO PAÍS

João Amílcar Salgado

QUEM FOI TRUMP?

Quando vi e ouvi o Trump pela primeira vez, minha reação foi lembrar-me do Reagan. Enquanto este era sósia do nepomucenense Passata, Trump me evocou o Maluco Beleza. Errei quando o supus apenas uma figura engraçada, mas logo percebi nele algo de sinistro e ameaçador.  Bem antes, em 1986, eu estava nos EUA e, em conversa com um grande cientista, ouvi dele: Peço a você desculpas por termos esta desastrada figura do Reagan como presidente ele é perigosíssimopode acabar com a humanidade inteiraé muito mais perigoso que o Nixon. Tenho vergonha de termos eleito esses dois bandidos para presidentes. Um terceiro foi eleito em 2016.

Minha infância foi vivida em plena 2ª guerra mundial e testemunhei a torcida de meu pai pela derrota do nazismo. O italiano Ambrosio Tagliaferri dizia que nossa farmácia era o Comando Aliado da Vila, onde todos tinham notícia das batalhas. Meu pai admirava muito Franklin Roosevelt, garantindo que ele foi decisivo na derrota de Hitler. Mais tarde, os assassinatos de John (1963) e Bob Kennedy (1968) e de Luther King (1968), me mostraram a verdadeira realidade ianque. Esses acontecimentos, somados à derrota norte-americana no Vietnã (1975), ao ataque às Torres Gêmeas (2001) e à invasão do Capitólio (6-1-1921) hoje me levam a retomar os estudos históricos, que comecei, ainda na universidade, sobre o assassinato de Lincoln (1865).

Meu foco é a contradição entre, de um lado, a ideologia libertária e igualitária da DECLARAÇÃO DE INDEPENDÊNCIA DOS EUA (1776) e, de outro, a tríplice nódoa 1) da manutenção da escravidão, 2) do genocídio indígena e 3) da diplomacia do big stick contra os ibero-americanos. A melhor referência a esse persistente beco-sem-saída foi feita por um brasileiro, Monteiro Lobato, no livro O PRESIDENTE NEGRO (1926), em que prevê um negro como presidente dos EUA, profecia antecipada com Barack Obama (2009-2017). Obama, por sinal, nasceu por influência da admiração de sua mãe pelo ator brasileiro Breno Melo. Em 1980, em viagem aos EUA, procurei dados dos estudos que, em Houston, comparavam as taxas diferenciais de natalidade do país. Quase indignados, os pesquisadores responderam-me que eram estudos sigilosos.

Muitos definem o Trump como um extremista, negacionista e isolacionista, que usou muito bem a comunicação coletiva, inclusive as fake news, para o DISCURSO DO ÓDIO. Esta será uma definição imprecisa, se não for especificado o que significa esse tal de discurso do ódio. A especificação consiste em que todo extremista só será bom extremista se conseguir empurrar para o extremo oposto todas as demais pessoas. Exatamente o apelo ao ÓDIO vem a ser o instrumento adequado para assim constranger os que não participam de sua turma. Para espanto dos historiadores, esse fenômeno obrigou o trumpismo a rotular de esquerdistas e comunistas, desde o Partido Democrata, inclusive Joe Biden e Kamala Harris, os políticos social-democratas europeus, especialmente Emmanuel Macron e Angela Merkel, até os maiores magnatas do mundo, como George Soros, Bill Gates, Larry Page, Mark Zuckerberg, Jack Dorsey e Elon Musk. Nesta lista seria inevitável incluir a maior parte dos 614 bilionários dos EUA e a totalidade dos 456 bilionários da China. Aliás, alguém tem de dizer ao Trump que o atual gigantismo da China, tão temido por ele, foi ingenuamente iniciado e propiciado por Nixon e Reagan, dois presidentes conhecidos pelo fanatismo anticomunista.