SEPÚLVEDA E O
INESQUECÍVEL NEPOMUCENENSE TONINHO CORDOVIL
João Amílcar Salgado
Muito me honra
compor o grupo de contemporâneos de José Paulo Sepúlveda Pertence no Colegio
Estadual, educandário referido por ele como berço de boa parte da elite
política mineira. São ex-alunos do Estadual dessa época, além de Sepúlveda, o
Betinho (Herbert José de Souza), Guido de Almeida e José Anchieta Correa (ambos
lentes de filosofia, exilados políticos), Modesto Justino de Oliveira (fino
administrador, irmão mais novo do José Aparecido de Oliveira), Marie Louise
Stein (raro talento, egressa do gueto de Varsóvia), Sérgio Gomes Vasconcelos
(ilustre engenheiro, primo de Sara Kubitschek), José Guilherme Vilela (orador
perante o paraninfo governador JK, brilhante jurista, tragicamente
assassinado), Mauro Tostes Ferreira (médico erudito, célebre pela memória
fotográfica), Paulo Raimundo Dias (obstetra da equipe de Clóvis Salgado), Décio
Tolentino (clínico admirável), Ernesto Lentz e Acácio Rocha Filho (ambos
renomados cirurgiões). Já na Faculdade de Direito, Sepúlveda foi contemporâneo
de meu dileto primo José Maria Ribeiro, de Lúcio Urbano, meu colega em história
da cidade natal, e do cartunista Ziraldo, criador na época de “A Turma do
Pererê”.
Sepúlveda e eu fomos
companheiros no movimento estudantil. Provavelmente estivemos no memorável
enterro simbólico de JK, contra a nomeação de Roberto Campos (Bob Fields) para
embaixador nos EUA, bem assim na tentativa consensual de eleger o Betinho
presidente da UNE. Lado a lado, sem dúvida, presenciamos os concorridos júris
em que Pimenta da Veiga digladiava com Pedro Aleixo. Mas nossa maior
convergência está na ligação a Tancredo Neves. Se tivesse havido o governo
federal de Tancredo, Sepúlveda e eu seríamos devotados auxiliares do estadista,
ele na área jurídica e eu na saúde e na educação. E nosso ativismo prosseguiu
com a Constituinte e depois desta: Betinho com a Fome Zero, eu com o SUS, os
Conselhos Nacionais de Saúde e de Educação e ainda a ampliação do ensino
superior federal - e Sepúlveda com o Ministério Público e sua retificação.
Quando lancei “O
RISO DOURADO DA VILA” em 2004, meu outro não menos querido primo Antônio
Cordovil de Freitas, fã de Pertence como o maior saber jurídico do país,
presenteou-o com um exemplar, dizendo-lhe para matar as saudades juvenis. Ele
agradeceu, mas disse temer ler ali “as traquinagens” de que participara. Mal
sabia ele que os documentos secretos da ditadura, ora disponíveis, mostram 75
relatórios sigilosos sobre o mineiro José Paulo Sepúlveda Pertence. Em um dos
primeiros registros, já em 1965, o araponga escreve que ele era “conhecido
elemento de extrema esquerda e acaba de ser nomeado assessor de Evandro Lins e
Silva, ministro do STF”. Em 1969, foi, pelo AI-5, cassado do Ministério Público
e Lins do STF.