João Amílcar Salgado

sábado, 11 de novembro de 2023

 


FRANCISCO PAULO BILICO É UM ESCRITOR DA MELHOR TRADIÇAO MINEIRA

João Amílcar Salgado

Seu livro CONHECIMENTOS PRÁTICOS DE TERCEIROS (2020) é um prolongamento de sua primeira obra A INFLUÊNCIA DA LUA E OS MACETES DO CAMPO, escrita, a partir de 1998, quando foi entrevistado pelo notável jornalista José Hamilton Ribeiro, para o Globo Rural. Esses conhecimentos se prolongam em dois volumes de causos e reflexões adicionais.

Acabam sendo uma homenagem do filho ao sábio pai, o famigerado Zé Bilico, cujo perfil consta de meu livro O RISO DOURADO DA VILA (2020). Quando encontrei  o Zé, o Paulo e o Hamilton, fiquei muito feliz de, por meio deles,  rastrear a RIBEIRADA mineira. Nessa ocasião eu escrevia sobre a biografia do descobridor Carlos Chagas, nascido próximo do Zé, cujo Ribeiro era dali.  Tanto quanto pelo sobrenome, me identifiquei com os Bilicos, quando falamos de galo capão, moinho dagua, laranja natal, doce-de-mamão-macho, mangarito, jacatupé, jacarandá-rosa e o universo do café. Acabei diplomado como lavourista (cafeicultor), depois de ser testado, com perguntas capciosas, em pleno cafezal. Ali, na serra, o Zé me disse: “o doutor é lavourista da beira do Rio Grande; aqui no alto a água escorrendo prá cá vai pro São Francisco e prá lá vai pro Grande, onde dá melhor café”. E derramou um copo cá e um copo lá - para a aula ser prática.

O Xico Paulo é diplomado em filosofia, mas, em vez de Sócrates ou Descartes, seu guru mesmo é o Zé. Um de seus textos filosóficos se intitula FILOSOFANDO NA MAIONESE. Exemplo de suas lembranças é o CASO DA GALINHA CHOCA. O Zé e o Onofre, marido da sobrinha Anita, foram a uma fazenda comprar gado. O dono ofereceu um café na sombra do alpendre. A dona vem com uma galinha. O Zé se apressa em dizer: ”ó minha senhora, num mata não, num mata não, porque não podemos esperar o almoço”. Ela retrucou: “não, sô Izé, essa aqui é galinha choca, que tô levano prá tirá o chôco, mas se o sinh|ô quisé isperá, pego outra e mato”. O Zé, sem graça, finalizou: “muito obrigado, já tamo indo embora”

Na belíssima festa do congado em Itapecerica estávamos numa pizzaria e o relógio marcava uma hora da madrugada. A Leila comentou: “a essa hora o sêo Zé Bilico deve estar roncando”. Do nada, ele passa na rua pitando seu cigarro. O Zé Hamilton perguntou: “ seo Zé  cê não acha que fumar prejudica?”. Ele concorda: “acho sim, olha só minha calça como está toda furadinha, isso é fagulha de pito”.

quinta-feira, 9 de novembro de 2023

 





PIONEIRISMO DE MINAS TAMBÉM EM MEDICINAS RADIOLÓGICA E NUCLEAR

Além dos pioneirismos na nanoscopia e na oftalmologia, Minas também se sobressai nas medicinas radiológica e nuclear. Na cidade de Formiga, onde ainda não havia luz elétrica, o incrível clínico José Carlos Ferreira Pires leu a notícia da descoberta do raio-x e escreveu para o descobridor, pedindo que lhe enviasse a invenção. Assim, meses depois da descoberta, em 1896, chega a ampola à cidade mineira. Foi uma das primeiras, no mundo, utilizadas em atendimento clínico, e a primeira em condições rurais. Em Itamarandiba, MG, menor que Formiga, o incrível francês Afonso Pavie recebeu também, em 1911, um dos primeiros aparelhos radiológicos usados em clínica no Brasil. Pavie foi também o primeiro a prescrever pomada de Radium no país. O polímata juizforano Antônio da Silva Melo foi o primeiro pesquisador mundial a demonstrar o efeito adverso da radiatividade, em 1914 - e absurdamente não recebeu o Nobel. O Instituto do Radium, em 1922, em Belo Horizonte, foi o primeiro das Américas, sendo Eduardo Borges da Costa seu fundador e Mário Goulart Pena, o primeiro curieterapeuta continental. A atual UFMG recebeu Marie Curie e Irene Curie em 1926 e recebeu também Robert Oppenheimer em 1948. A mesma universidade é a primeira no país a criar um laboratório de Medicina Nuclear, organizado por Oromar Moreira, que permitiu o primeiro tratamento de hipertireoidismo com iodo radiativo e o primeiro mapeamento radiativo da tiroide, no Brasil, efetivados por João Amílcar Salgado, Ibraim Heneine e Viriato Magalhães.

O notável professor Francisco de Assis Magalhães Gomes, depois de ter trazido Oppenheimer à atual UFMG, criou, em 1952, o Instituto de Pesquisas Radiativas, que foi expropriado pela ditadura em 1972. Minas tinha rica reserva de urânio e, a seu lado no Espirito Santo, havia areias de tório, as quais deveriam ser pesquisadas pelo Instituto. Paradoxalmente o urânio mineiro foi, a seguir, atribuído à USP e o tório capixaba à UFMG. Os cientistas de tais centros deveriam desenvolver duas bombas atômicas brasileiras, uma de urânio e outra de tório. Oppenheimer chegou aqui já como ativista antinuclear. Magalhães Gomes e Carlos Chagas Filho ajudaram João Paulo II a anistiar Galileu, em 1992.

quarta-feira, 8 de novembro de 2023

 


O PRIMEIRO NANOSCÓPIO MUNDIAL É MINEIRO

João Amílcar Salgado

O primeiro nanoscópio mundial, produzido pela UFMG, está sendo adquirido pela Alemanha, em 7/11/23, fruto de 18 anos de pesquisa, coroada com publicação na revista NATURE. Vencedor de uma corrida internacional, possibilita a visualização e manipulação de matéria molecular e atômica. Nesta data, também, foi anunciado em Petrolina, PE, o potencial revolucionário de nanobolhas de ozônio para sanear esgoto.

O primeiro oftalmologista do Ocidente foi o médico e papa português Pedro Rabelo, parente dos Rabelos de Minas, que em cerca de 1250 escreveu o texto SOBRE OS OLHOS. Este genial alquimista deve ter lido o árabe Alhazen, outro sábio genial, autor do livro TESOURO ÓPTICO de cerca de 1020. Os primeiros bandeirantes com perda da visão devem ter usado o quartzo e o berilo de Minas como pedra-de-ler, tradição de famílias judaicas - e assim puderam ainda faiscar. Minas Gerais é, pois, pioneira na óptica desde tais cristais, passando pela primazia nacional em oftalmologia, oftalmoscopia (inclusive oftalmoscopia veterinária), citoscopia, gastroscopia, estrasbismo, lentes de contato, cerâmicas perioculares, correções refrativas e diversas outras invenções cirúrgicas. Da endoscopia digestiva, participei como estagiário do inventor Rudolf Schindler e quando o Celso Afonso de Oliveira e eu criamos o estadiamento da úlcera péptica. Pela microscopia eletrônica, Washington Tafuri descobriu a neurossecreção autonômica. Nas ciências aplicadas da citologia, neuro-histologia e astronomia, Minas tem igual projeção internacional.

 A oftalmologia brasileira iniciou-se com os mineiros Anastácio Abreu (este pioneiro também em anestesia geral) e Hilário de Gouveia. Prosseguiu com outros mineiros: Penido Burnier, Hilton Rocha, Nassim Calixto, Donato Valle, Amélio Bonfiglioli, Hélio Faria, Raul Soares, Geraldo Queiroga, Eduardo Soares, Henderson Almeida, Emir Soares, Emílio Castelar, Lúcio Almeida, Caio Manso, Roberto Abdalla, Valênio Perez, Paulo Ferrara, Joel Bodeon, Marcelo Costa, Ricardo Guimarães e outros. O nanoscópio acaba sendo esplendorosa adição a tão persistente brilho.

 

 

segunda-feira, 4 de setembro de 2023

 


Ênio Leão – marco internacional Do ensino pediátrico

João Amílcar Salgado

 

Em meu livro de memórias, O RISO DOURADO DA VILA, descrevo como conheci o então assistente da clínica pediátrica Ênio Leão: Da pediatria cada um de nós saiu pediatra acabado, pois, graças à clarividência do professor Berardo Nunan, fazíamos com autonomia um profuso atendimento em ambulatório (inspirador da expansão da pediatria e do ensino ambulatorial em geral em 1975), estimulados por cinco craques do treinamento em serviço: Ênio Leão (formador desde aí da brilhante escola pediátrica mineira e pediatra de meus filhos), Augusto Severo, Mário Moreira, Celso Lobo e Achiles Tenuta.

Já como colegas na docência, o Ênio e eu, seu vice, fomos designados para a comissão destinada a implantar a residência médica no Hospital das Clínicas. Isso significa que os primeiros passos da residência médica na Universidade Federal de Minas Gerais estiveram muito próximos dos ideais inaugurais desta modalidade de treinamento.  Essa concepção influiria a seguir no modelo de internato pré-formatura, inclusive rural, estabelecido em 1975.  Infelizmente a residência sofreu ingerências vindas de cima que a levaram para rumo oposto e em condições degradantes.

 Foram, inicialmente, impostos critérios para impedir a admissão de candidatos considerados subversivos pela ditadura vigente. Posteriormente veio uma espécie de administração própria desvinculada de qualquer diretriz da graduação, obedecendo aí ditames não só oriundos da burocracia ministerial, mas originários das corporações de especialistas.  Para tanto, foi criada uma absurda comissão nacional de residência médica, com dois absurdos adicionais: devia haver nela representantes militares e de hospitais lucrativos.  Assim, a residência, em vez de acrescentar treinamento em pesquisa-e-ensino de alto nível às graduações terminais, foi transformada no monstrengo atual, ou seja, servir de muleta pedagógica a precaríssimos cursos de graduação, com o fim escuso de usar os pobres mal-acabados profissionais como mão-de-obra barata. E as clínicas ou serviços que os recebem como treinandos, pagando-os tão mal, ainda adquirem o título de instituição de ensino pós-graduado!!!

Da discussão daquela residência ideal e decente, surgiu a necessidade de uma comissão de padronização hospitalar, outra novidade, composta de subcomissões para várias áreas, sendo a mais importante a subcomissão de padronização de medicamentos.  E lá fomos o Ênio Leão e eu, seu vice, para a padronização.  Antes tínhamos criado mais outra novidade, a farmácia hospitalar, entregue à competência da farmacêutica Zildete Pereira de Souza, que logo se tornou a maior autoridade nesta área no país. A seriedade decorrente fez surgir um primeiro drama.

Uma grande empresa multinacional estava lançando novo antibiótico. Com base no que antes acontecia, escolheu nosso hospital como trampolim de marketing. Mas nossa comissão deu parecer negativo, assinado pelo presidente Ênio Leão, segundo o qual o produto ainda não contava com estudos isentos sobre sua segurança. O gerente geral veio de São Paulo e ofereceu viagem ao Caribe para nós dois. Não aceitamos. O diretor da Faculdade nos chamou a uma reunião e só aceitamos comparecer sem a presença do gerente geral. O diretor acabou subscrevendo o parecer inicial.

Quase ao mesmo tempo, se esboçam os primeiros mestrados e doutorados. E nosso Ênio, com toda sua imensa cultura clínica e sua admirável sintonia com o progresso científico, se viu desestimulado a não prosseguir na elaboração de sua tese sobre escorbuto infantil. Correu a notícia de que ou a gente se matriculava num mestrado ou desistia da carreira universitária. Leão, não tendo condições para regredir às exigências colegialescas do mestrado, quis jogar ao lixo a tese de livre-docência que preparava. Nós, seus admiradores, discordamos totalmente de sua atitude e recolhemos com carinho o original da pesquisa, pois aquele estudo era único e destinado a grande repercussão.

Tanto fizemos que ele afinal defendeu a tese como doutorado, por crédito de notório saber. O aplauso unânime, inclusive de fora de Minas, o estimulou a ancorar com redobrado entusiasmo quer a referida expansão a seguir ocorrida no Departamento de Pediatria (antes uma pequena disciplina), quer a própria produção científica dos membros, veteranos e jovens, da crescente equipe docente.  Sim, o nosso hoje tão elogiado mestrado-doutorado pediátrico adveio dessas peripécias embrionárias, sendo fruto do esforço e da capacidade do professor Edward Tonelli, outro grande vitorioso sobre as dificuldades daquela época. Agora, ao contrário, a já madura pos-graduação pediátrica chega a influir em projetos congêneres de dentro e fora da saúde e de dentro e fora de Minas.

O crescimento de nossa pediatria foi relatado, com auxílio de pirâmides demográficas comparativas entre o 1º e o 3º mundos, a Vic Neufeld.  Ele é o líder da inovação educacional desenvolvida na universidade canadense de McMaster e passou alguns dias conosco.  Considerou irmãs nossas inovações, mas ressaltou sem precedentes algumas que só conheceu aqui, especialmente o internato rural, o ambulatório periférico e o ensino pediátrico em geral. No afã de explicar-lhe nossa estratégia, usei um neologismo criado para caracterizá-la: nosso esforço era para  pediatrizar o currículo médico E de brincadeira verti a expressão para o inglês, com o neoverbo to pediatrize ou to pediatricize.  Ele passou a usá-lo, preferindo o primeiro, sempre com um sorriso de cumplicidade. E prometeu difundi-lo em suas palestras pelo mundo.

Outra conquista garantida pela liderança de Leão foi a publicação de um manual de pediatria ambulatorial, que compôs o conjunto formado pelos manuais de ambulatório para adulto e de cirurgia ambulatorial.  Embora o projeto inicial, de 1976, pedisse nova concepção de texto, os livros afinal editados foram os possíveis nas circunstâncias de então e o referente à  pediatria foi o de maior impacto, em virtude do ineditismo da nova concepção de medicina geral de crianças..

Houve depois um seminário aqui organizado pelo inesquecível professor Antônio Cândido Melo Carvalho, com a presença de inovadores curriculares dos quatro continentes. Na exposição que fiz de nosso processo curricular, perguntei se algum dos participantes sabia de alguma outra experiência semelhante ou com igual ou maior carga horária em pediatria. Não tinham notícia de nada igual. O mesmo aconteceu em outros encontros no Brasil e no exterior.  

Diante disso, ficou demonstrado que Ênio Leão está na origem e na liderança de tal primazia, ou seja,  representa incontestável marco mundial do ensino pediátrico.

 

segunda-feira, 21 de agosto de 2023

 


O PESSOAL DA PONTE (do TITO)

João Amílcar Salgado

            Estávamos na fazenda da Lavrinha de meu tio Luiz Lourençoni. Minhas tias Rute, Bebete e Iracema alfabetizavam a redondeza. Os jovens filhos do Tito Meneiz também tinham aula ali. A Mariquita era amiga inseparável de minha irmã Maria. Vão chegando o Doca e o Helvécio e apontam os olhos desta, dizendo “gente, essa menina é muito bonita, com esse olho de gato”. A Mariquita corrige: “olho de gato, não – olho de gata”. A tia Rute era a maior amiga da Luzia da Ponte, o Deoclécio namorava nossa prima Carlota e eu era vidrado nas tranças da Maria Ângela, futura colega de aula no ginásio. Mais tarde, eu lembrava esta cena para a dona Alda, procurando acalmá-la pois já estava sendo levada pela Aparecida até a sala de cirurgia. O dr. Arnaldo ia retirar-lhe a vesícula, auxiliado pelo dr Rubem, sendo anestesistas o dr Décio e eu.  A morte tão inesperada da Mariquita fez a cidade inteira chorar. Minha irmã inconsolável chegou com um ramo do jardim da amiga e disse: “não quero nem olhar para isso” e o jogou perto do muro. Dias depois o ramo surpreendentemente brotou e ficou sendo a flor eternizada da Mariquita (Maria Isabel Menezes). .

 

domingo, 20 de agosto de 2023

 

HELVÉCIO MENEZES – SAUDOSO COMPANHEIRO TRANSBORDANTE DE HUMOR

João Amílcar Salgado

Hoje, 20/8/23, vimos na tv uma bela homenagem prestada pela prefeita Iza a seu pai, Helvécio, meu querido amigo de juventude. Era finíssimo humorista, virtude herdada pelo Helvécio Filho. Sim, minha gente, a bela e desenvolta burgomestra deu um show culinário com o prato paterno, da tradição Piraquara. Inclui ingredientes fundamentais, como a banha, e, nela banhados, o pé e a orelha suínos. Acrescidos de feijão branco, sem racismo. Junto com o queijo e o fumo Frade, são patrimônios da história da Vila, que os remetia, a partir do Congonhal e do Morembá, para o Rio, na porfia dos tropeiros.  A banha nunca foi má, mas difamada pelos industriais da soja. Quando li em Pedro Nava a defesa da feijoada como de origem mineira, lhe relatei esse passado. Ele se entusiasmou e hoje juro que o memorialista se deliciaria com a iguaria da Iza. E as mulheres nepomucenenses, estrelas de nosso café, também brilharam, nesta mesma reportagem, em sua emocionante iniciativa, digna dos mais pomposos de nossos aplausos.


quinta-feira, 3 de agosto de 2023

 


O LÍTIO MINEIRO COMEÇA A SER EXPORTADO PARA A CHINA

João Amílcar Salgado

Em 27/7/23, houve a primeira exportação de lítio, produzido no Vale do Jequitinhonha, em Minas, para a China, via  Porto de Vitória, ES. A mina de lítio fica entre as cidades de Itinga e Araçuaí. Em 2021 divulguei o texto “O Lítio e a Petrobrás”, que é o seguinte. A Argentina, o Chile e a Bolívia possuem, juntos, 60% das reservas do planeta, dados são do US Geological Survey.

“Em 1989, propus a Mário Covas, junto com o Almir Gabriel, o Cid Veloso e o Carlos Becker, que incluísse, em sua proposta presidencial, obter da Bolívia que a Petrobrás explorasse suas jazidas de lítio, hoje apelidado de petróleo branco. Pouco antes, tinha havido uma reunião no Departamento de Química da UFMG, onde falei sobre a visita de Marie e Irene Curie a nosso Instituto do Radium. Principiei lembrando que o primeiro livro lusófono de química foi escrito pelo mineiro Vicente Silva Teles e que José Bonifácio de Andrada, cuja família veio de Santos para Minas, foi o descobridor, em 1790, do minério de lítio, a petalita, mas o nome lítio foi dado, pouco tempo depois, pelo genial purificador Humphry Davy. Um dos químicos presentes me perguntou se eu conhecia Gilbert Newton Lewis, descobridor, em 1912, de que o lítio poderia ser fonte de energia elétrica. Respondi que talvez o tenha estudado para o vestibular, mas seu nome se apagou com o tempo. Lembrei-me apenas que estudei o lítio como o mais leve dos metais. Mas, num esforço de memória, perguntei: “não seria Gilbert o tal dos elétrons pareados?” A partir de José Bonifácio, passei a acompanhar a crescente importância do lítio como calmante (1954) e, a seguir (1991), como miniaturizador das pilhas. Em 1980, nos EUA, um cientista me perguntou se o Brasil tinha muita reserva de minério de lítio. Confessei nada saber e ele disse que era bom eu saber, “porque, segundo amigos meus japoneses, isso vai ser uma riqueza estratégica”. Chegando aqui, verifiquei que em Araçuaí, Minas, o lítio era promissor, mas a Bolívia era riquíssima dele, com reservas bastante quantificadas desde 1985. Foi então que fiz a proposta a Covas. Os paulistas que acompanhavam o candidato nesta caravana a Minas, um deles Franco Montoro, descartaram minha sugestão, por causa do risco de que fosse ridicularizada. O risco de fato havia, pela provável relação com o lítio que receitaram para amansar o Ulisses Guimarães.  Covas, já governador, foi sigilosamente informado por Severo Gomes de grossa corrupção em suas obras. Pediu que o próprio Severo e Ulisses sigilosamente verificassem. Quando estão quase esclarecendo tudo, o helicóptero dos dois desaparece no mar. Os tucanos nasceram porque o partido do Ulisses estava corrompido e cada vez mais distante da esquerda - e Ulisses morreu, porque confirmava o mesmo para os tucanos. Mais tarde, verificamos quão fomos ingênuos naquele ano de 1989. A imprensa afinal documentou aquilo que foi apelidado de “privataria tucana”, pela qual Sergio Mota, José Serra e FHC ilustraram muito bem o aforismo do lavrense Carlito Maia, de que “todo esquerdista começa a esquecer sua ideologia, quando começa a contar dinheiro”.

Em 2021, continuávamos no mesmo, ou seja, às voltas com a privataria da mesma Petrobrás, do Banco do Brasil e da Caixa Federal. Hoje, no entanto, estamos esperançosos de que tudo seja decentemente corrigido, desmentindo nosso Carlito Maia. Portanto, a notícia acima deve ser demarcada, para que logo o minério seja beneficiado na própria Minas Gerais, em memória de Carlos Drummond.