João Amílcar Salgado

quinta-feira, 30 de maio de 2024

 

 EM 21/1/21 DIVULGUEI O TEXTO A SEGUIR, QUE ACABA DE SER RATIFICADO HOJE, 30/5/24, QUANDO TRUMP É OFICIALMENTE DECLARADO CRIMINOSO, PELA LEI DE SEU PRÓPRIO PAÍS

João Amílcar Salgado

QUEM FOI TRUMP?

Quando vi e ouvi o Trump pela primeira vez, minha reação foi lembrar-me do Reagan. Enquanto este era sósia do nepomucenense Passata, Trump me evocou o Maluco Beleza. Errei quando o supus apenas uma figura engraçada, mas logo percebi nele algo de sinistro e ameaçador.  Bem antes, em 1986, eu estava nos EUA e, em conversa com um grande cientista, ouvi dele: Peço a você desculpas por termos esta desastrada figura do Reagan como presidente ele é perigosíssimopode acabar com a humanidade inteiraé muito mais perigoso que o Nixon. Tenho vergonha de termos eleito esses dois bandidos para presidentes. Um terceiro foi eleito em 2016.

Minha infância foi vivida em plena 2ª guerra mundial e testemunhei a torcida de meu pai pela derrota do nazismo. O italiano Ambrosio Tagliaferri dizia que nossa farmácia era o Comando Aliado da Vila, onde todos tinham notícia das batalhas. Meu pai admirava muito Franklin Roosevelt, garantindo que ele foi decisivo na derrota de Hitler. Mais tarde, os assassinatos de John (1963) e Bob Kennedy (1968) e de Luther King (1968), me mostraram a verdadeira realidade ianque. Esses acontecimentos, somados à derrota norte-americana no Vietnã (1975), ao ataque às Torres Gêmeas (2001) e à invasão do Capitólio (6-1-1921) hoje me levam a retomar os estudos históricos, que comecei, ainda na universidade, sobre o assassinato de Lincoln (1865).

Meu foco é a contradição entre, de um lado, a ideologia libertária e igualitária da DECLARAÇÃO DE INDEPENDÊNCIA DOS EUA (1776) e, de outro, a tríplice nódoa 1) da manutenção da escravidão, 2) do genocídio indígena e 3) da diplomacia do big stick contra os ibero-americanos. A melhor referência a esse persistente beco-sem-saída foi feita por um brasileiro, Monteiro Lobato, no livro O PRESIDENTE NEGRO (1926), em que prevê um negro como presidente dos EUA, profecia antecipada com Barack Obama (2009-2017). Obama, por sinal, nasceu por influência da admiração de sua mãe pelo ator brasileiro Breno Melo. Em 1980, em viagem aos EUA, procurei dados dos estudos que, em Houston, comparavam as taxas diferenciais de natalidade do país. Quase indignados, os pesquisadores responderam-me que eram estudos sigilosos.

Muitos definem o Trump como um extremista, negacionista e isolacionista, que usou muito bem a comunicação coletiva, inclusive as fake news, para o DISCURSO DO ÓDIO. Esta será uma definição imprecisa, se não for especificado o que significa esse tal de discurso do ódio. A especificação consiste em que todo extremista só será bom extremista se conseguir empurrar para o extremo oposto todas as demais pessoas. Exatamente o apelo ao ÓDIO vem a ser o instrumento adequado para assim constranger os que não participam de sua turma. Para espanto dos historiadores, esse fenômeno obrigou o trumpismo a rotular de esquerdistas e comunistas, desde o Partido Democrata, inclusive Joe Biden e Kamala Harris, os políticos social-democratas europeus, especialmente Emmanuel Macron e Angela Merkel, até os maiores magnatas do mundo, como George Soros, Bill Gates, Larry Page, Mark Zuckerberg, Jack Dorsey e Elon Musk. Nesta lista seria inevitável incluir a maior parte dos 614 bilionários dos EUA e a totalidade dos 456 bilionários da China. Aliás, alguém tem de dizer ao Trump que o atual gigantismo da China, tão temido por ele, foi ingenuamente iniciado e propiciado por Nixon e Reagan, dois presidentes conhecidos pelo fanatismo anticomunista.

 

segunda-feira, 27 de maio de 2024

 


AS BOAS NOTÍCIAS TÊM PRESSA PARA SEREM VERDADEIRAS

João Amílcar Salgado

O aperfeiçoamento de veículos, de combustíveis e de estradas sempre me pareceu muito suspeito. O pneu, o asfalto e o diesel são fósseis tecnológicos. O trem de alta velocidade que substitui os trilhos por levitação magnética já está velho, pois sua concepção foi esboçada no século 19. O hidrogênio como combustível só em 1935. Boas notícias de fato são duas 1) o combustível, semelhante ao diesel de aviação, produzido a partir de vegetais, em vez de petróleo e 2) o etanol fabricado de bagaço. Mas tem de ser verdadeira a declaração do bilionário britânico Richard Branson, no Brasil: “O combustível de aviação sustentável funciona, agora é só produzir”, vangloriando-se de que “O mundo sempre assumirá que algo não pode ser feito, até que alguém o faça”. Urge ser verdadeiro também o anúncio do Parque de Bioenergia Bonfim de Guariba, SP, de que sua produção de etanol de bagaço, iniciada em outubro de 2023, segue prometendo 82 milhões de litros por ano.

 

 

P

 

quarta-feira, 22 de maio de 2024

 


EM TODAS AS FAMÍLIAS HÁ HISTÓRIAS SENSACIONAIS

João Amílcar Salgado

Em 2006, foi exibida a série JK na tevê Globo. Nosso Cememor ficou povoado de técnicos e a roteirista estrangeira me pediu sugestões. Vetou vários aspectos interessantes, enquanto distorceu vários fatos para fins dramáticos.  Um destes foi a atitude do adversário fictício de JK, obrigando seu filho a abandonar o seminário para rapidamente casar-se com sua amante grávida, a tempo de que assumisse a paternidade. Isso era extraído de algo acontecido na região de Diamantina, que relatei fora da biografia de JK. Pois bem, no estudo que faço de meus antepassados ibéricos, encontrei relato muito semelhante.

Um dos homens mais poderosos do reino luso era o frei Álvaro Gonçalves Pereira (1300-1379), arcebispo de Braga e prior da ordem cruzada do Hospital. Era amante de Teresa Peres Vilarinho e com ela teve um filho que se tornou legendário, inclusive personagem de Camões. Trata-se de Nuno Álvares, de rara habilidade militar. Ao longo do tempo, Nuno foi anistiado de sua condição de filho sacrílego e acabou recentemente canonizado por Bento 16 (2009). Seu pai o retirara ainda jovem do convento, onde estava para ser monge, e o fez casar com outra de suas amantes. Sua vocação religiosa era tão forte que, depois de ter filhos e se enviuvar, voltou ao convento e daí hoje é santo, com o nome canônico de São Nuno de Santa Maria.

Mais recentemente na Vila, um primo de minha mãe, quase repete tal história. Uma de suas amantes mais belas seduziu seu filho, dizendo-se perdidamente apaixonada. O plano dela era ficar sob o teto do amante e, mais ainda, sua herdeira. O riquíssimo fazendeiro percebeu a jogada e vetou a pretensa nora.

 

domingo, 12 de maio de 2024

 


OLHOS NEGROS DA NEUSA VILELA SALGADO:

 

OLHOS NEGROS

João Salgado Filho

 

Olhos negros

Como noites

 De procela,

Sem estrelas,

 Sem luar...

 

Que maravilha

 Os olhos dela!

Que lindos olhos!

Que meigo olhar!

 

Numa capela

Muito branquinha

A Virgem Santa,

A mãe de Deus

Os olhos tinha

Tais quais os seus...

 

Se indaga alguém:

- “Olhos de quem?”

Confesso a medo,

Quase em segredo:

- “Que maravilha

 Os  olhos lindos

De minha filha!”

 

 

[Publicado em 4/8/1946 no no 18 do jornal 29 De Outubro, Nepomuceno.

 A Neusa, inspiradora do poema,  tinha cinco anos]

 

Minha irmã sempre foi de uma meiguisse infinita. Meu pai a apelidou de Caçulinha. Alguém perguntava seu nome e ela respondia: “Caiolinha”, toda orgulhosa. Passava as horas vigiando seu tabuleiro de magníficas mangas de nossos pomares. Todos contribuíamos para sua coleção. Ela não conseguia comer tanta manga. Gritava: “mãe, o Zeca tá robano minhas mangas”. Ou então: “mãe, a Ia tá me chamando de Chaniquinha”. Seu feitiço de andaluza teve uma explicação: se a Ia era sueva, como o avô João, a Neusa era sevilhana, como a avó Chanica. Acontece que tínhamos uma prima anã, exatamente a Chaniquinha. Chamar a garotinha no diminutivo era choro soluçado e com beicinho, na certa.

 

[NESTE  DIA DAS MÃES HOMENAGEM À NEUSA, MÃE MARAVILHOSA]

 

 

domingo, 28 de abril de 2024

 


ZULMIRA VILELA TEIXEIRA

João Amílcar Salgado

Suprema  sacerdotisa do bem, da música e do humor.

Nunca ninguém suportou tanta adversidade, com tanta candura e serenidade.

Mais que prima, irmã.

 

[Rosa-de-maio, canção com que fazia sucesso ainda menina: https://youtu.be/YrqKXWvyh6c]                    

 

 

sábado, 27 de abril de 2024


 

A FARMACOBRÁS E A INSULINA

João Amílcar Salgado

Em 1963, o presidente João Goulart passou a defender as chamadas reformas de base, propostas desde 1962. Foram reunidas, em estudo de San Tiago Dantas, em reformas agrária, educacional, tributária, administrativa, urbana e da remessa de lucros das multinacionais. Estudantes e docentes de medicina da UFMG, se reuniram, ainda em 1963, para exigir a inclusão da reforma farmacêutica entre aquelas propostas. Inspirada na criação, 10 anos antes, da PETROBRÁS, foi proposta a FARMACOBRÁS, que estabeleceria o monopólio estatal da importação dos insumos farmacêuticos, bem como a fabricação estatal de medicamentos essenciais, mas permitiria a fabricação privada de medicamentos. Tal reunião surgiu de um debate entre os estudantes e o professor Carlos Ribeiro Diniz, promovido por mim. Dela participaram, entre outros, os docentes e residentes Carlos Diniz, Marcos Luiz dos Mares Guia, João Amílcar Salgado, Zigman Brener, Wilson Beraldo, Lineu Freire Maia, Arnaldo Elian, Luís Cisalpino Carneiro, Cid Veloso, José Ribeiro de Paiva, Paulo Madureira de Pádua e Rubem Simões – e os estudantes, entre outros, Henrique Santillo, Philadelpho Siqueira, Wilson Almeida, Lúcio Almeida, Antonio Dilson Fernandes, Edward Tonelli, Naftale Katz e Evilázio Ferreira. O Betinho, presidente da UNE, pediu para ser informado do resultado da reunião. Com o advento da ditadura, a Farmacobrás foi modificada para Biobrás, restrita afinal a fabricar insulina. A Biobrás foi fundada em 1976 por Marcos dos Mares Guia e por Guilherme Emrich. Desenvolveu brilhantemente a insulina recombinante (insulina humana produzida em bactérias transgênicas). Em 2001 Marcos fez acordo da Biobrás com a empresa dinamarquesa Nordisk. Em 2010 esta comprou aquela por 75 milhões de dólares, quando o laboratório brasileiro faturava mais de 50 milhões de reais ao ano. A Nordisk veio para aqui em 1990, especializada em diabete, e faturou 3,8 bilhões de dólares em 2002. Os ex-controladores ficaram com a patente da insulina recombinante e fundaram a Biomm, capaz de incorporar qualquer novidade tecnológica.

Desde 1956 o Marcos e eu já tínhamos iniciativas conjuntas: começamos com um grupo para estudar alemão, que incluía o Guilherme Cabral e o Emir Soares, e criamos o curso pré-médico gratuito para vestibulandos carentes. Trabalhei e debati tudo isso com seu pai, o notável pediatra José Maria, na previdência estadual. Outra cooperação entre nós foi a liberação da vacina para leishmaniose. Outra foi a criação da Fapemig. Quando reclamei que nossas criatividades sempre acabavam desviadas para o lucro (o pré-médico para o cursinho Pitágoras, e a Farmacobrás para a Biobrás) ele sorria e justificava: mas o ideal nacionalista é o mesmo. Carlos Diniz me dizia que as coisas seriam outras se nelas fossem envolvidas a recuperação da atual Funed e a própria Fapemig. Se vivos, Diniz e Marcos teriam sido personagens decisivos no drama das vacinas para covide.

 

quinta-feira, 25 de abril de 2024

 


A REVOLUÇÃO DOS CRAVOS E NEPOMUCENO

João Amílcar Salgado

Em 1974, ocorreu a Revolução dos Cravos em Portugal, pela qual a ditadura vigente foi substituída pela atual democracia. A ditadura de inspiração nazista foi implantada em 1933 pelo extremista de direita e colonialista Antônio Salazar. Em 2024 comemoramos os 50 anos desse acontecimento feliz. A canção TANTO MAR do genial musicista brasileiro Chico Buarque, composta para homenagear o fato, tornou-se clássica. Nepomuceno entra indiretamente nesta história, através de meu encontro com o sociólogo Gilberto Freyre, dois anos depois, em Londres. Salazar, diante do declínio de seu poder, agarrou-se desesperadamente ao prestígio mundial de Freyre, alegando que sua sociologia justificava a manutenção das colônias lusas. Em minhas conversas com o sociólogo, cobrei dele sua insustentável amizade ao ditador.

 Meu argumento era de que ele decepcionou logo a mim que o tinha como ídolo de juventude. E mostrei a ele sua frase lapidar, citada em meu discurso de orador da turma de médicos pela UFMG, em 1960.  Gilberto Freyre a escreveu, quando fez parte da universidade revolucionária, criada, em 1935, pelo médico Pedro Ernesto, de esquerda, conhecida como UNIVERSIDADE DO DISTRITO FEDERAL - por sua vez logo fechada por outro ditador, Getúlio Vargas.  A citação refere-se ao extraordinário Antônio da Silva Melo, outro ídolo, seu companheiro ali, tendo como reitor o inovador Baeta Viana, liderando seletíssimo corpo docente.  Ele a ouviu comovido:

“Vós [mestres homenageados] que, para usar palavras de Gilberto Freyre, em vez do lugar macio e de honra entre os triunfadores, prefer(is) ficar de pé ao lado dos estudantes, não para adula-los mas para adverti-los, de pé ao lado dos brasileiros de vinte anos e contra os falsos mestres de sessenta, os maus políticos de cinquenta, os ministros ineptos de quarenta, que cada dia acrescentam, sorrindo ou discursando, alguma coisa de nova e de definitiva à desorganização do ensino superior do país.”