João Amílcar Salgado

segunda-feira, 31 de março de 2025

 


CARLOS AMÍLCAR COLABORA COM  MELHOR SAÚDE PARA MINAS

João Amílcar Salgado

O ministro Padilha veio a BH para providências na saúde em 29/3/25, tendo Carlos Amílcar Salgado em sua equipe. Entre elas, julgo da maior importância a retomada da fábrica de soros da Funed e a implementação da velocidade do telessaúde na UFMG, liderado pelo brilhante especialista Antônio Luiz Pinho Ribeiro. Antônio Dilson Fernandes e eu preparamos o primeiro telessaúde, mas a ditadura vigente em 1981 ordenou que a Telemig vetasse a proposta. Antes, o Centro de Memória da Medicina documentou três experiencias precursoras em Minas: duas com pombos-correio e uma com teco-teco, que lembraremos a seguir.

sexta-feira, 28 de março de 2025

 


A ORATÓRIA VOLTA AO PALCO

João Amílcar Salgado

Em meu livro O RISO DOURADO DA VILA (2020), descrevo a admiração dos estudantes pelos oradores na década de 50. Os grandes astros de então eram o Carlos Lacerda, os irmãos Carlos e Paulo Pinheiro Chagas, os nepomucenenses João Pimenta da Veiga (pai) e Xico Negrão, o Pedro Aleixo, o Adauto Lúcio Cardoso, o Aliomar Baleeiro e o Afonso Arinos (sobrinho), entre outros. As aulas de patologia de Carlos Pinheiro eram assistidas por alunos de direito e engenharia, não obstante o conteúdo. Em qualquer júri, estes e os de medicina se misturavam na plateia. Na Vila, sabíamos que a galeria dos Lima, formada por Alice, Pimenta, Xico, Tio Zezé, Vico, Batista, Assis, Neca Correia, Getúlio, Marcílio, Dario, Léla, Rubem e Celso Lima, junto com o Neca Firmiano eram do mesmo nível.  O Zezé da Leleza, o Marcinho do Soneca, o Carlinho do Sargadinho, o Toninho da Lolô, o Julinho Penha e o Toninho da Samina e eu passávamos horas imitando aqueles, sendo que o Zezé (José Maria Ribeiro, também Lima) gastou o que tinha e o que não tinha com a Esther Leão, a maior treinadora de oradores do país.

 Digo isso porque agora tivemos um desfile de oradores famosos, entre os advogados defensores dos denunciados, no julgamento do STF de 25/3/25. O Brasil inteiro estava focado no que argumentavam e eu, nostálgico, só analisava sua oratória. Matei toda a minha saudade.

Por oportuno, lembro que, na tradição luso-brasileira, refulgem os oradores sacros João 21, João de Deus, Santo Antônio, Padre Vieira e Helder Câmara, estando entre eles, hoje, na mesma altura, o nepomucenense Luís Henrique Eloy. E entre os advogados citados não poderia faltar um Lima: José Luís de Oliveira Lima – conhecido no meio forense como dr. Juca Lima, xará de nome e de apelido de nosso queridíssimo médico dr. Juca.

quarta-feira, 12 de março de 2025

 


LUIGHI – VÍTIMA DE CRIME DOCUMENTADAMENTE IMPUNE

Joáo Amílcar Salgado

O jovem Luighi, jogador juvenil do Palmeiras, foi vítima de racismo em jogo contra o Cerro Porteño do Paraguai, pela Copa Libertadores sub-20, em 6/3/25. Apontou o episódio ao árbitro e aos policiais presentes. Disse que se aproximou do árbitro para denunciar: “ME CHAMARAM DE MACACO! ELE NÃO LIGOU. FUI AOS POLICIAIS E NÃO FIZERAM NADA…!”  O choro de adolescente exibido em todo o Brasil e em todo o mundo escancarou tanto o crime como a impunidade.

Antes denunciamos o racismo no futebol contra o brasileiro Vinícius Jr, quando mostramos que o racismo na Espanha traz o paradoxo de que, num país mestiço, seus racistas traduzem a necessidade de se sentirem brancos, agredindo pessoas acentuadamente pretas. Afirmei que ali a hostilidade aos negros é simbolizada na morte de animais tipicamente pretos, na tourada, espetáculo resultante de dominações negras sob egípcios e árabes.

No Paraguai, a maioria mestiça da população manifesta necessidade análoga. Curiosamente se orgulham do idioma e da cultura guarani. Vale lembrar que esta cultura é abrangente, pois o território guarani original ultrapassava bem mais do que os limites paraguaios, alcançando todo o sul e parte do sudeste brasileiro e ainda todo o sul matogrossense. Isso explica por que muitas de nossas músicas sertanejas e seresteiras são verdadeiras guarânias. Demais, os guaranis dos Sete Povos das Missões viveram uma das maiores experiências igualitárias da humanidade. A severa punição individual dos racistas será uma conquista dos craques brasileiros Luighi e Vinícius e também de todos nós.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

 


OS GALIZZIS SÃO GENTE MUITO QUERIDA

João Amílcar Salgadp

João Galizzi, J. B. Greco e Romeu Cançado estão definitivamente na história da medicina brasileira como líderes dos baetófilos clínicos, discípulos que passaram, a partir do final da década de 30 do século 20, a aplicar na clínica médica os princípios científicos de seu mestre, o bioquímico Baeta Viana.  Esta corrente representou um salto de qualidade na assistência médica, não só em Minas mas no Brasil, inclusive com a pioneira interiorização da tecnologia laboratorial simplificada. Resumi João Galizzi como “retilíneo em ciência e ética; paladino da melhor relação médico-paciente”.  Foi catedrático de Clínica Propedêutica na Faculdade de Medicina da UFMG, onde suas lições de Semiologia Médica, ministrada com o auxílio de seletos seguidores fieis, formou multiplicadores docentes e não-docentes, em sucessivas gerações,  todos testemunhas de que nessa disciplina foi recebida a estrutura nuclear de suas reconhecidas competências.

De minhas conversas com esse meu mestre, soube que a família Galizzi veio da Itália, um ramo para o Brasil e outro para a Argentina. Quando as AVÓS DA PRAÇA DE MAIO receberam o PRÊMIO DAS NAÇÕES UNIDAS de 2003, verifiquei que um dos netos desaparecidos era Galizzi. De cerca de 300 netos só 139 foram encontrados. A remanescente das “abuelas” Mirta Acuña de Baravalle faleceu aos 99 anos, em 2024. Durante 48 anos lutou para conhecer o destino da sua filha Ana Maria, grávida de cinco meses, e o do seu genro Júlio Cesar Galizzi, sequestrados em 1976 pela brutal ditadura do Cone Sul.   Aquela criança, se sobreviveu, hoje deve ter outro sobrenome e não sabe que pertence à ilustríssima família dos Galizzi.

Este registro é homenagem às avós de netos desaparecidos, a vó Mirta, à família Galizzi, à família de Rubens Paiva e a todas as vítimas de todas as ditaduras.

domingo, 23 de fevereiro de 2025

 


CAMPO DE AVIAÇÃO DA VILA

João Amílcar Salgado

            A ligação mais umbilical de Nepomuceno com a aviação vem do parentesco do inventor Santos Dumont com a família local Ribeiro Costa Lima. Ao mesmo tempo, a família Veiga exibe vários vínculos com a aviação, a começar pelo local oferecido por ela para a construção do campo de pouso. O notável cientista João Batista Veiga Sales é o membro desta família que mais se identificou com a aviação, tendo sido piloto esportivo e paraquedista. E tem sido seguido por primos seus, como o brigadeiro da aeronáutica Adalberto de Rezende Rocha e o piloto comercial Helvécio da Veiga Rezende. Por outro lado, as relações de parentesco entre o governador Kubitschek e a família nepomucenense Negrão de Lima era propícia à criação de um aeródromo local, dentro do binômio juscelinista de “energia e transporte”, lema de seu governo estadual. Mas a pista de pouso só foi construída na época do governo federal de JK. Dois dos primeiros usuários foram o engenheiro Zé Barati e o governador Chico Negrão.  Sem dúvida teria sido completada com hangar e demais requisitos, em 1965, se JK, em vez de exilado do país pela ditadura, tivesse sido reeleito presidente.  Por outro lado, a Usina de Furnas, iniciada pelo mesmo JK em 1958, ergueu sua rede ao RJ passando junto ao campo da Vila, impondo sua desativação. Hoje é hangar avícola.

Já o aeroclube de Lavras foi fundado em 1940, no clima da 2ª guerra mundial, mas o campo de aviação só foi inaugurado em 1943. Entre 1956 e 60 a empresa comercial Aerovias-Real chegou a utilizá-lo, com aviões DC3, de um dos quais desembarquei, pela primeira vez de um avião, em 1956. Vários episódios marcam a aviação nas proximidades de Nepomuceno. Em 1942 o oficial da FAB Eduardo Mendes fez, de emergência, o pouso incólume de um monomotor NA, numa várzea de Boa Esperança (há a foto), sendo depois brindado com um baile.  Em 1956, logo após a inauguração do campo de pouso de Três Pontas, o jovem Tarley Vilela saltou sem paraquedas de voo demonstrativo, e nada sofreu.  Mais tarde, no Pantanal Matogrossense, Tarley repetiu o  salto de um avião maior, salvando-se a nado. Nos anos 50, a FAB cogitou construir uma base onde hoje é o novo cemitério da Vila. Finalmente, houve o pouso de caça supersônico Phantom F5 da FAB numa reta da rodovia entre Boa Esperança e Três Pontas, em 14/8/1980, quando trombou com um fusca. Além disso, o Lair Rolino, no 1º salto de paraquedas na Vila, chegou ao solo são, mas desmaiado (segundo ele dormindo), o Mudinho Jorge Mudesto imitou o Lair usando um guarda-chuva e se deu mal, o primeiro voo rasante da Vila derrubou de susto o artífice Caco de sua alongada escada de pintor, o Zico do Miceno desapareceu no alto da Serra em surto delirante de astronauta, enquanto o borracheiro-inventor José Fernando Pedro construiu um helicóptero no quintal de sua casa.

IMPORTANTE. No livro O RISO DOURADO DA VILA (2020) relato a versão popular circulante em 2003, sobre o pouso do avião F5. Aproveito para atualizar a informação sobre o dono do fusca (amassado pelo caça) José Francisco Spinelli, falecido em 2023, consanguíneo do nosso Fausto, que depõe no vídeo https://youtu.be/xzZXPFjVRHo

 

 

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

 


CRIME DE MORTE NA SAÚDE

João Amílcar Salgado

Em 2009 fui um dos primeiros a contestar a criação dos cursos de biomedicina no Brasil. Divulguei uma advertência contra a criação desse absurdo na UFMG. Dizia então: “A biomedicina é uma grilagem ocupacional. Acabamos de tomar conhecimento pela televisão de triste e inacreditável notícia: A UFMG ESTÁ CRIANDO UM CURSO DE BIOMEDICINA! Se for verdadeira e se a diretoria da Faculdade de Medicina e sua Congregação nada fizeram contra tamanha leviandade, então a memória da instituição e das pessoas omissas estará irreversivelmente manchada. Isso se aplica igualmente à Associação Médica de Minas Gerais, ao Conselho Regional de Medicina, ao Sindicato dos Médicos e à Academia Mineira de Medicina – extensivamente a cada um e a todos os respectivos membros.”  Diante disso, os proponentes esperaram a poeira baixar e, com o acovardamento do diretor Xico Pena, tal curso foi criado, em 2010, na Faculdade de Farmácia da UFMG e outros tantos pelo país afora.

Restou que minha advertência hoje equivale a melancólica profecia de lesões e mortes cometidas por egressos instigados ao exercício ilegal da medicina. Exemplo é uma morte que deveria ser abafada, mas chegou ao noticiário. Foi o assassinato da jovem Iris Martins cometido pela biomédica Lorena Marcondes, em Divinópolis, em 8/5/23.  A imprensa assinalou que o Conselho Regional de Biomedicina admitiu que sabia, há mais de um ano, que a criminosa trabalhava com procedimentos proibidos e confirmou que, apesar de constatar o exercício ilegal da medicina, os fiscais não tomaram nenhuma atitude efetiva para coibi-lo.

Como historiador da medicina, afirmo que o exercício da medicina por não-médicos sempre ocorreu em locais carentes de médicos ou com médico inacessível. Os profissionais habilitados eram substituídos por boticários, barbeiros, dentistas, veterinários, fisioterapeutas, esteticistas e curandeiros, com algum ou nenhum treinamento. A autonomia da indústria de cosméticos, as novas tecnologias, a população crescente de idosos sadios, a valorização da beleza feminina e masculina, os procedimentos anti-obesidade,  o transplante de cabelo e outros novos procedimentos de cirurgia plástica multiplicaram as “trambiclínicas”, gambiarras mais do que improvisadas, desprovidas de gente e recursos apropriados. Obviamente, desgraças como a descrita continuarão acontecendo, sendo ocultada a maioria.

Os cursos de biomedicina foram criados antes da indecorosa liberação total da criação de cursos de medicina no Brasil e países vizinhos. Ora, depois destes aqueles perderam o sentido. Cumpriria, pois, aos ministérios da educação, da saúde e do planejamento a missão óbvia de disciplinar este fundamental setor profissional, por exemplo transformando os cursos já existentes de biomedicina em cursos decentes de medicina e reciclando seus egressos.

domingo, 16 de fevereiro de 2025


 

MILTON SIMAS – APÓSTOLO DA CALISTENIA

A farmácia do Milton ficava na rua Direita, em frente ao Clube, e diariamente às 6 da manhã os vizinhos, entre eles nós, passavam a ouvir, em alto volume, o programa radiofônico de ginástica. O Milton seguia as instruções em sua sacada no quintal, mas quando era correr, pular-corda ou na bicicleta ele vinha pela rua afora. Certo dia ele pulava corda em nossa frente, quando ouviu que nosso rádio também irradiava sua ginástica. Feliz, entrou rápido pelo jardim e surpreendeu meu pai espichado na cadeira de balanço, ouvindo os enérgicos comandos. O esportista disse: “mas você está apenas escutando, não está executando!”. E o João Sargado, sorrindo: “executo sim, mas apenas mentalmente!” E o mais fiel dos discípulos do Miltom sou eu, inclusive na execução, por mais que reconheça o mérito de meu pai, como inventor da calistenia virtual.

O que mais eu invejava no Milton era pular corda. Com perfeição, ele a zunia cada vez com maior velocidade e nós, em volta boquiabertos, lhe causávamos enorme satisfação. Outra inveja, esta apreensiva, era quando ele recebia uma cobra capturada nalguma fazenda e a aprisionava numa gaiola especial, a ser remetida ao Butantan ou ao Ezequiel Dias. Uma terceira inveja era quando ele e sua esposa, a querida e sempre animada Dagmar, davam show de dança no clube em frente. Uma quarta não inveja, mas admiração, era o garbo dele e dos estudantes nos desfiles do ginásio

Ele perdeu o pai muito cedo e meu pai o ajudou a se diplomar na profissão paterna. Sua mãe, a guerreira dona Carminha, prima de minha mãe, queria vender a farmácia como último recurso para sustentar e educar as crianças. Ninguém a quis comprar. Meu avô era diretor do grupo escolar e sumariamente a contratou. E ainda pediu que meu pai, recém-formado, viesse de Lavras para dividir a renda da farmácia com ela. O estabelecimento ficou muito popular e deu tudo certo.

Quem quiser conhecer a família da Dagmar leia o ótimo livro “NO MEU ENTARDECER - RICAS LEMBRANÇAS” de sua irmã Beatriz de Abreu Chaves. Já os filhos e netos do casal Milton-Dagmar são gente muito querida, culta e finamente educada, com destaque todo especial para minha maravilhosa amiga de juventude Consuelo Simas.